Deixe a neve cair escrita por Snow Girl


Capítulo 34
Layla e o Louco


Notas iniciais do capítulo

Uhul! Possivelmente estou voltando para casa nesse momento. Caso não esteja, nós estamos lascados porque esse é o último capítulo que eu deixei agendado.
Enfim... Espero que gostem.
Ele é levemente mais apimentadinho no final, se é que vocês me entendem, mas ainda eu acho fofo.
Muito em breve a tristeza se abaterá sobre vocês devido às minhas inventonices.
Beijos ♥

"Ele estendeu-me a mão e nós giramos pela saleta ao som do meu presente de natal.
— Obrigada — sussurrei quando a música acabou.
— Eu que agradeço, Layla, por me fazer o homem mais feliz que já pisou nesse planeta.
— Essa é minha meta de vida — prometi. — Fazê-lo feliz sempre.
Ele me abraçou com força.
— Você já faz isso desde o momento em que esbarrou comigo naquele corredor em Illéa — murmurou e me silenciou com um beijo."



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A festa de natal era exatamente como era em Illéa, a única diferença era a data. O rei fez um discurso que foi televisionado, nós dançamos, comemos e algumas pessoas ficaram bêbadas e ficaram loucas.

O banquete foi servido com exatidão às dez da noite, tanto eu quanto Dimitri tentamos — e, muito possivelmente, fracassamos — parecer o mais distante um do outro.

— O que vem a ser isso? — eu apontei para algo que parecia um peru desnutrido diante de mim.

Dimitri analisou a carne que foi servida em meu prato e pegou um pedacinho.

— Pavão.

— Nós vamos comer pavão? — perguntei horrorizada.

Ele assentiu.

— Lembra um pouco faisão, mas é mais dura. — Ele pegou um pouco mais de carne com o garfo e levou até minha boca. — Aqui, experimente.

Pavão não lembrava em nada faisão. A carne era dura e se não estivesse bem temperada pareceria um pedaço de isopor. Mesmo os russos, apaixonados por temperos leves, haviam enchido o pavão de condimentos. Então já se pode ter uma ideia do gosto dele.

— É bonito mas não é gostoso. Seria melhor que esse aí ficasse vivo.

Dimitri riu.

Depois do banquete a festa "de verdade" começou e ele tinha ido ficar com alguns amigos enquanto eu praticava minhas enferrujadas habilidades de socializar mais de trinta minutos com as mesmas pessoas. A senhorita Petrovna era uma mulher engraçada, que era bonita, sabia disso e usava isso. Vários homens haviam aparecido à nossa mesa pedindo para dançar com ela e com um categórico não ela os despachava.

— O segredo dos homens — disse ela — é querer aquilo que não podem ter. Deixe-os desejosos e virão como cães atrás de você, dê o que eles querem e veja-se esquecida.

Eu havia rido e ela deu tapinhas em minha mão quando aceitou o convite do rei para dançar. Não se diz não para o seu soberano.

— Em que você está pensando? — Dimitri sentou a meu lado quando já era quase meia-noite.

— Em nós. Nosso casamento improvável.

Ele sorriu.

— Eu não saberia o que faria se você dissesse não ao meu pedido — disse olhando-me nos olhos e me fazendo agradecer por estar sentada. — Talvez fosse enlouquecer.

Eu ri.

— Sei… você iria para um prostíbulo, isso sim.

Ele me olhou sério. Não havia achado engraçado.

— Nunca mais irei lá, mesmo se você não me quisesse.

— Oh, é? E porque não? — desafiei de brincadeira.

Ele aproximou sue rosto pecaminosamente perto do meu.

— Porque eu amo você não iria até um lugar daqueles pensando em você — sussurrou.

Fiz bico, não querendo demonstrar que achei fofo, mas ele viu e beijou minha mão.

Permanecemos em um silêncio confortável por algum tempo, por fim perguntei algo que não tinha real importância.

— Alguém já te contou a história de Layla e o Louco? — questionei acompanhando com o olhar alguns garçons circulando.

— Layla e o Louco? — repetiu experimentando o nome. — Não, acho que não.

— Ótimo. Você vai gostar dessa! Era uma vez…

— Era uma vez? — ele criticou.

Coloquei as mãos na cintura.

— Vai ficar interrompendo?

— Não, desculpe.

— Foi assim que eu ouvi e é assim que eu vou contar. Era uma vez, dois jovens. Ela se chama Layla e ele é um jovem chamado Qays, mas que ficaria conhecido por toda a eternidade como Majnun, que significa "o louco".

"Uma noite, Majnun cavalgava errante com seu camelo e de repente avistou um grupo de mulheres belíssimas. Entre elas estava Layla, a mulher por quem Majnun dedicaria o resto da sua existência, e bastou um olhar entre os dois para causar um efeito devastador em Majnun, que se apaixonou desesperadamente. Ele acompanhou as mulheres para o banquete ao qual elas se dirigiam e matou seu camelo em contribuição ao festejo. Layla também se apaixonou por Majnun desde o princípio e ele decidiu pedir a mão dela em casamento.

Majnun não sabia, mas o pai de Layla já a havia prometido ao homem de nome Ebn-e Salaam e cujo casamento só não se havia realizado ainda pelo fato de Ebn-e Salaam achar que Layla era muito nova ainda, pedindo ao pai dela para aguardar mais alguns anos.

Ao saber disso Majnun desespera-se largando tudo para viver uma vida miserável junto aos animais selvagens. Durante isso, escreve poemas, sempre exaltando seu amor por Layla. O pai de Majnun, vendo seu filho em tal estado, resolve fazer levá-lo em uma peregrinação para fazer com que ele se esqueça de Layla. Majnun não consegue tirar Layla de sua cabeça e sua loucura por ela apenas aumenta a cada dia que passa.

Perdido, o pai de Majnun tenta convencer o pai de Layla a deixar que os dois jovens se casem, mas o pai de dela é ainda mais irredutível pois os poemas de Majnun são famosos agora e o pai de Layla considera isso uma afronta à reputação de sua filha. "Nem mesmo um vento passa sem sussurar o nome de minha filha Layla... É preferível matá-la a dar a mão dela a ele".

Ebn-e Salaam casa-se com Layla e ao saber disso, Majnun volta a viver em meio aos bichos, com o coração totalmente devastado e completamente insano. Majnun recusa-se a voltar para casa e conviver com o resto da humanidade. Seu pai morre de tanto desgosto, Majnun é filho único e seu pai amava-o demais para vê-lo em tal situação.

Apesar de estar casada, Layla nunca esqueceu Majnun e o ama ainda mais do que antes. Ao saber da morte do pai de Majnun, corre ao seu encontro. Majnun no entanto está irreversivelmente louco e não a reconhece, apesar de todo o esforço que ela dispende para tentar convencê-lo.

O marido de Layla reconhece então que ela nunca o amará e fica doente e morre em pouco tempo. Layla é agora uma viúva, mas segundo a tradição, uma viúva deve se manter incomunicável por dois anos como luto pelo marido que partiu. O amor de Layla por Majnun é maior do que sempre fora e ela não consegue ficar tanto tempo longe se seu amor. Cada instante longe de Majnun é um sofrimento indescritível. Layla não aguenta e morre.

Majnun fica sabendo da morte da Layla e descobre que o mundo não faz o menor sentido sem a existência dela. Ele vai até o túmulo que acredita ser de Layla e chora. Chora e repete desesperadamente o nome dela. Majnun vai se enfraquecendo, até finalmente morrer de tantas lágrimas derramadas e pelo desespero da morte da amada."

Dimitri ficou olhando para mim.

— Isso não é uma história de amor! É uma tragédia.

— Claro que é uma história de amor. Eles não podiam ficar juntos, não é? Pois ficaram juntos no pós-vida.

— Layla, esta é uma história horrível.

— Não é não! É como Romeu e Julieta: eles se amam mas não podem ficar juntos.

— E os finais felizes?

Eu dei de ombros.

— Esse é o mundo real, os finais quase nunca são felizes.

— É isso que o seu nome significa? — resmungou. — "Os finais quase nunca são felizes"?

Eu ri.

— Na verdade significa "linda como a noite" — expliquei. — Minha mãe tinha muito apego a essa história, porque o Louco era algo como um príncipe: era rico, bonito e encantador; ele poderia ter qualquer uma, mas só queria Layla. Mamãe uma vez me contou que, na história que a mãe dela contava, Majnun fala de seu desespero para um amigo e o amigo diz que não entende porquê ele ama tanto à Layla, já que ela não era tão mais bonita que as outras mulheres que o Louco podia casar. Ele virou para o amigo e disse "Para ver é preciso ter os olhos de Majnun. Esses olhos de Majnun são os olhos do amor, os olhos que vêem a beleza".

Agora é uma história de amor!

— Eu gosto dessa história — defendi.

— Agora eu também — disse abraçando minha cintura. — Vamos subir?

Assenti enquanto ele me levava através dos convidados até meu quarto.

— Layla? — ele disse, enquanto me ajudava a tirar os grampos do cabelo. Se notou que eu tremia, não disse nada.

Ele me abraçou por trás.

— Sim?

— Acho que eu sou louco por você.

Eu ri e me virei para ele, puxando seu rosto para o meu.

— E eu sou louca por você, majnun. Mais que deveria.

Ele me beijou com profundidade, os dedos correndo por meus cabelos soltos, passeando por minha bochecha.

Seus olhos escuros queimavam.

— Poucos homens têm o que eu tive a vida toda, mas apenas o mais rico tem o que eu eu consegui essa tarde — disse, rouco, acaricindo-mecom reverência.

Arqueei o corpo corpo enquanto ele beijava meu pescoço.

Mordi seu lábio e Dimitri gemeu, um som primitivo vindo do fundo da garganta. Meus dedos, por vontade própria, agarraram-se ao seu cabelo, puxando-o até não haver nada entre nós além de roupas que precisavam urgentemente serem tiradas.


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Notas finais do capítulo

A história Layla e o Louco é uma lenda árabe que data mais ou menos do século VII e é conhecida por todo o Oriente Médio e tem para eles o que Romeu e Julieta tem para os ocidentais.
É uma história de amor muito bonita e foi de onde eu tirei inspiração para o nome da Layla, essa síntese da história foi tirada do blog As coisas da Lalá.
Espero que tenham gostado.
Até logo ♥