Destrua-me escrita por David JV


Capítulo 3
Não somos amigos.


Notas iniciais do capítulo

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Destrua-me

Capítulo 3: Não somos amigos.

–Eu quero que você jogue o lixo fora. –minha mãe pediu enquanto lavava os pratos do jantar.

–Não posso deixar pra amanha? –perguntei, guardando mais uma xícara no armário.

–Allan eu quero o lixo fora, agora. –ela olhou feio pra mim ao pronunciar as palavras, depois voltou sua atenção aos pratos.

Fui até o quintal e peguei o saco preto de lixo. Os vizinhos da casa ao lado estavam empolgados brigando, digo isso pela quantidade de palavras impublicáveis no meio das frases.

Agarrei o saco com as duas mãos e voltei para dentro de casa, passei pela cozinha e parei na sala onde meu pai estava assistindo televisão.

–Mamãe pediu que eu te chamasse pra ajudar a lavar os pratos. – menti, mas ele nunca perguntaria a ela se era verdade, e minha mãe acharia o gesto espontâneo. Sendo assim, de uma forma um pouco torta eu estava fazendo algo de bom.

Caminhei com o lixo pra frente de casa, enquanto a televisão era desligada atrás de mim. Coloquei o saco no latão e me virei para entrar em casa, foi quando eu vi Erik sentado no meio-fio, olhando o asfalto. Eu podia entrar em casa e fingi que não o tinha visto, o que seria o mais sensato a se fazer. Mas em vez disso eu caminhei até ele e sentei ao seu lado. Essa é uma daquelas coisas que a gente não pensa antes de fazer, e quando se dá conta do que fez e tarde de mais pra voltar atrás.

–Você tá legal? –perguntei, fazendo-o se virar pra mim.

–Pensei que você não fosse muito de falar. –ele sorriu sem humor.

–Estou abrindo exceções. –dei de ombros.

–Legal. –essa foi à única palavra que ele pronunciou, enquanto eu tentava iniciar um diálogo. De qualquer forma se ele continuasse quieto eu usaria como deixa para ir embora. ­–Sabe a gritaria ai atrás? –mas algumas coisas tendem a não sair como eu quero.

–São seus pais? –contive o impulso de olhar para trás.

–São. –ele começou a amassar um pedaço de grama. –Isso explica meu estado de desolação? –ele me olhou esperando que eu respondesse.

–Meus pais nunca brigaram entre si na minha frente, acho que eles perdiam muito tempo brigando comigo pra que isso acontecesse. –falei.

–E por que eles brigavam com você?

–Notas ruins, mau comportamento, tentativas de suicídio, esse tipo de coisa. –puxei a manga do me casaco pra cima expondo meu pulso enfaixado.

–Wow! –ele arregalou os olhos.

–Tenho que entrar antes que minha mãe venha me procurar. –levantei-me pra ir embora.

–Espera. –ele segurou o meu braço. –Eu vou sair com um pessoal, você não quer vir com a gente? –ele mordeu o lábio inferior e soltou o meu braço quando eu olhei a mão dele ainda em cima de mim.

–Deixa pra próxima.

–Por que eu tenho a impressão de que da próxima vez que eu te convidar você também vai recusar? –ele cruzou os braços sobre o peito.

–Talvez porque você é um cara inteligente. –dei de ombros e voltei pra casa.

+++++++

No dia seguinte a conselheira da escola me tirou da sala de aula no meio do segundo horário gritando meu nome nos alto-falantes. Para me deixar esperando em sua sala.

A sala era pequena, com duas poltronas marrons de frente para uma mesa de vidro, provavelmente o móvel mais caro dali.

–Me desculpe por deixa-lo esperando Allan. –uma mulher de meia idade entrou esbaforida na sala, arrumando os fios de cabelo que tinham se desvencilhado de um coque mal feito no topo da sua cabeça.

–Eu sei que a terapia foi uma das condições para minha matricula, mas minha mãe não vai gostar de saber que elas são realizadas durante minhas aulas. –e eu também não estava gostando desse lance do meu nome ser gritado aos quatro ventos.

–Eu peço desculpas por interromper sua aula. –a forma como ela falava eu fiquei supresso dela não querer dar as mãos. –Mas eu tenho que lhe dar um aviso importante.

–Estou ouvindo. –cruzei os braços.

–Eu vou ter que me afastar temporariamente por razões pessoais. –ele sorriu no, “razões pessoais”.

–E o que eu tenho haver com isso? –tentei não revirar meus olhos.

–Para que nossas seções não serem canceladas eu resolvi te integrar em um programa experimental, criado por mim. –ela abriu uma gaveta e puxou uma pasta bege de dentro.

–E como seria esse programa experimental? –perguntei.

–Você teria um de nossos professores em tempo integral, pra conversar, ter aconselhamentos, realizar qualquer outro tipo de atividade. Seria como um amigo de aluguel. –ela bateu a palma da mão na outra, empolgada.

–Você acha que eu não tenho capacidade de arrumar um amigo sozinho? –a essa altura o meu rosto já devia estar vermelho de raiva.

–Você tem algum? –ela perguntou parecendo interessada no que eu iria responder.

–Pessoas te decepcionam num momento ou em outro, por isso eu prefiro manter distância. –atirei.

–Então, é por causa disso os quadros depressivos e as tentativas de suicido? – ela começou a batucar a mesa com os dedos.

–Me diagnosticaram com bipolaridade você se esqueceu de citar. –apontei.

–O diagnostico estava errado, segundo os três outros médicos com quem você se consultor. –ela devia ter a minha fixa atualizada.

–Que seja. Quem se importa? –dei de mãos.

–Além do mais, você não precisar criar vínculos com o professor que vai te auxiliar, vocês só precisam se encontrar três vezes por semana ou mais se preferir. –ela ergueu as mãos.

–Se eu me recusar?

–Você não pode, não segundo os papeis que sua mãe assinou, além do mais ela já está ciente. –Marize, o nome dela provavelmente, por está bordado no bolso direito do seu blazer, abriu a minha pasta. –Quer saber quem vai ser seu amigo de aluguel? –ela abriu um sorriso amarelo pra mim.

–Amigo de aluguel é um nome péssimo para o seu programa. –adverti.

–Anotado. –ela não pareceu se importar com a minha opinião.

–Uma pergunta. Eu posso pedir a ajuda do meu “Amigo de aluguel”, a qualquer hora e lugar? –talvez eu pudesse me divertir um pouco em cima disso.

–Sim. –ela respondeu. –O professor escolhido também vai dar relatórios semanais do que você aprontou. Vale a pena lembrar.

–Considerando a gravidade do que eu aprontar, eu sou retirado do programa?

–Não, mas pode levar uma bela suspensão. Mais alguma pergunta? –neguei com a cabeça.

–O seu amigo de aluguel, –revirei os olhos– vai ser professor Vicente, a matéria que ele leciona é química se eu não me engano.

–Eu sei quem ele é. – e vou lembrar por um bom tempo depois do que ele me fez responder a noite passada, apesar de todas as respostas terem saído do Google.

–Há, se você estiver pensando em fazê-lo desistir, espero que se empenhe. –ela avisou.

–Por que você esta me dizendo isso? – questionei.

–O desempenho dele nesse programa equivale a uma bela carta de recomendação. Vicente é estagiário, ele daria a vida por isso. Então, boa sorte. –ela me soprou um beijo antes que eu desse o fora dali.

++++++

Passei direto pela minha sala, já que eu não tinha vontade alguma de assistir os últimos minutos de uma aula que eu não entenderia nada.

Minha ideia inicial era dar uma passada pelo ginásio, onde ficava a piscina olímpica, mas uma monitora de aparência nada feliz me fez mudar a rota para o campo externo de futebol. O tempo estava nublado, então pelo menos a paisagem seria bonita.

Continuei arrastando o meu tênis pelo chão de linóleo, e me distrair observando um mosquito voar ao redor dos bastões fluorescentes no teto, isso por falta de algo melhor para olhar. O que quase me resultou um nariz quebrado, porque não vi que estava indo de cara para uma porta aberta. Por coincidência Erik estava saindo dessa porta, fechando o zíper da calça.

–Er... Oi. –ele acenou.

–Oi. –desviei dele e continuei caminhando.

–Você não vai voltar pra sala de aula? – ele perguntou atrás de mim.

–Não. –respondi parando quando notei que o único som no corredor era o dos meus tênis. Virei para Erik, ainda parado no meio do corredor. –Não vai se convidar para vim comigo? –Provoquei.

–Você me faria ficar de boca fechada de novo? –ele retrucou, enfiando as mãos nos bolsos.

–Não, dessa vez eu te deixo tagarelar o quanto quiser. Até deixo você contar uma piada, mas isso não faz da gente amigos. –avisei.

–Ok. –ele ergueu as mãos. –Um passo pra frente, dois pra trás.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Deixem comentários.
Nos vemos no próximo capítulo. :D



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