Advertência escrita por Fernando Cabral


Capítulo 7
Capítulo 7 — Jefferson


Notas iniciais do capítulo

Bem, seguindo com a proposta de postar um capítulo por semana, vos apresento mais uma parte da minha história.
Espero que você esteja curtindo até aqui.
Comentários são sempre bem-vindos. Quero saber o que você está achando. Tá muito parado? Lento? Tá ótimo? Tem alguma dúvida?
Sou todo ouvidos (ou melhor, olhos) :)



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Foi da escola para casa para verificar se havia alguma notícia sobre seus pais. Chegando lá, ligou o rádio, enquanto procurava o comunicador da polícia que seus pais deixavam em casa para lhe mandar alguma mensagem num caso de urgência. Enquanto o locutor dizia notícias irrelevantes para os ouvintes, Jefferson voltou à sala, segurando o comunicador.

— Nada. Sem sinal — disse, ainda olhando para o objeto em mãos, pensativo.

Ligou para a casa de Ricardo, mas o amigo ainda não tinha chegado. Não o via desde que saíra no meio da aula, sendo chamado, juntamente com outros colegas, pela diretora. O trabalho da polícia já tinha custado duas faltas a Ricardo.

Passou alguns minutos sem saber o que fazer, até que seu telefone tocou. Era o amigo, o chamando para que se encontrassem no Hospital Raphael Schlecht. Jefferson estranhou e perguntou o motivo, mas Ricardo preferiu não explicar por telefone, insistindo para que ele fosse até lá.

Sem ter outra opção, Jefferson arrumou suas coisas e saiu.

Em uma hora chegou no hospital.

Havia um pequeno número de curiosos lá. Alguns agentes da polícia, em sua maioria agentes juvenis, estavam perto da entrada do hospital, enquanto outros se encontravam mais para a frente, na rua, onde havia um grande rombo na parede de vidro de Pyr, o que assustou Jefferson.

Ricardo se encontrava ao lado das portas automáticas do hospital, com expressão de tédio.

— Alguma notícia? — Jefferson surpreendeu o amigo, que estava distraído.

— Nossa, nem te vi chegar! Até que você veio rápido. — Ricardo olhou em volta, como se estivesse se certificando de que ninguém poderia ouvi-lo. — Descobri algumas coisas e esperei você sair da escola para te contar — falou, quase sussurrando.

Jefferson não respondeu nada, esperando que o amigo continuasse a falar. O agente juvenil estava claramente desconfortável com a situação.

— Recebeu alguma notícia dos seus pais?

— Não nesses dois dias que você faltou. Falando nisso, tem prova de matemática daqui a duas semanas. Cheguei hoje em casa e verifiquei o comunicador dos meus pais, mas ele está sem sinal, não sei por quê. Agora me fala o que você tem pra me contar.

Ricardo respirou fundo.

— Então… Preciso que você não se exalte, porque eu descobri informações confidenciais da polícia e posso ir preso caso alguém descubra que estou te contando.

Jefferson meneou a cabeça afirmativamente, concordando em se comportar, então o amigo continuou:

— A polícia acredita que o acidente ocorrido aqui, há três noites, foi na verdade um ataque. Alguém fugiu do hospital estourando a parede e depois o vidro de Pyr.

— Como fizeram isso?! Foi a garota-bruxa-malvada-que-foi-enviada-do-lado-de-fora de quem todo mundo tá falando? — Jefferson estava realmente surpreso, mas não perdia a chance de fazer um comentário sarcástico.

— Ninguém sabe ainda. — Ricardo se manteve sério. — Alguns curiosos que passaram por aqui estão espalhando sobre essa garota, outros falam que há uma organização por trás dela. Nada disso parece muito real, então nem considero. Os boatos dentro da polícia são de que a Frente de Libertação, o grupo de pessoas que quer o direito de sair de Pyr, instalou algum tipo de bomba no hospital e no vidro, permitindo que a tal garota saísse na frente, para outros poderem sair em seguida. Isso já está mais próximo da realidade.

— E você me chamou aqui pra contar isso? Podia ter falado por telefone. Vou embora...

— Espera, Jeff. — Ricardo o segurou pelo braço, com a expressão mais séria. — Tenho mais coisas pra te contar.

Jefferson já estava ficando impaciente.

— Lembra de quando eu pedi pra você não se exaltar? É agora que vou precisar disso. — Ricardo abriu as mãos, apontando as palmas para Jefferson, num movimento que pedia calma.

— A polícia decidiu perseguir a menina, que pulou daqui para a área desértica e seguiu para a Grande Floresta. E quem foi atrás dela foram seus pais, juntamente com uma equipe de agentes.

Jefferson arregalou os olhos em surpresa. Era por isso que o comunicador estava sem sinal. Seus pais haviam saído dos limites de Pyr. Tentou manter a calma, para colocar os pensamentos em ordem.

— Você pode ir comigo até o buraco na Pirâmide? — perguntou, com a voz tremida.

— Acho que sim…

Ricardo chamou outro agente juvenil e pediu que ficasse em seu lugar, dizendo que já voltava. Seguiu então com Jefferson pelo corredor.

— Eles vão voltar, eu tenho certeza. — Era o único apoio que Ricardo podia dar ao amigo.

— A minha tia e a polícia me contaram que meus pais estavam aqui dentro, acampando em corredores secretos, atrás dos culpados pelo ocorrido aqui. — Jefferson pareceu nem ouvir o que Ricardo tinha dito.

— E eu não acho isso justo, por isso vim te contar a verdade.

— A polícia tem alguma notícia sobre o campo de força? Comprovaram se ele existe mesmo, ou se já não existe mais?

— Pelo que sei, a dúvida ainda persiste. O fato dos policiais estarem incomunicáveis pode ser tanto por causa do campo de força quanto pela distância. Acho que vão mandar agentes até o limite da área desértica para checarem. As pegadas dos policiais ainda devem estar na areia, né. Não venta muito por aqui...

Nesse ponto da conversa, chegaram ao lugar onde havia o rombo no vidro. A área estava isolada por agentes adultos da polícia, pois oferecia mais risco a curiosos.

Olharam, da menor distância permitida, e perceberam o quão alto ainda estavam. Era impossível alguém pular dali e chegar vivo, mesmo caindo sobre areia.

Um grande cano de ferro havia sido estourado juntamente ao vidro, ficando torto na direção oposta à do corredor onde estavam. Sacos de lixo saíam do cano de vez em quando, caindo na direção da areia.

— Acho melhor voltar — Ricardo disse. — Vem.

Jefferson ainda não tinha dito nada. Seu rosto demonstrava quanta coisa passava por sua cabeça.

— Você não está pensando em fazer nenhuma besteira, né? — Ricardo estava preocupado.

— Não sei. Alguma coisa tenho que fazer.

— Mas voc…

O agente juvenil foi interrompido pelos alto-falantes do corredor, que tinham sido aumentados pela polícia, embora estivessem perto do hospital, onde deveria haver silêncio.

Atenção para o boletim extraoficial — anunciou uma voz feminina.

Informantes do quartel-general da polícia disseram que o ocorrido no Hospital Raphael Schlecht não foi acidente e sim um atentado. O responsável fugiu de Pyr, saindo de seus limites. Possivelmente encontra-se em algum lugar da Grande Floresta neste momento.

Há relatos de pessoas que testemunharam uma figura atravessando a área desértica na noite do ocorrido, logo depois do suposto atentado.

Pessoas que estavam na recepção, no primeiro andar do hospital, na hora da explosão, informaram ter visto uma estranha garota que quebrou os vidros da parede da Pirâmide, próximo ao hospital, e depois pulou.

Alguns agentes foram delegados para checar se todas os dados estão corretos e há informações de que houve confronto. Uma equipe policial já foi enviada em missão de perseguição da suspeita, mas perdeu o contato com a central. Outra equipe, esta de busca, já foi preparada e em breve entrará em ação.

Será que estamos prestes a presenciar uma mudança na história de Pyr, Alberto? Será que vamos descobrir se o tão famoso escudo protetor existe de fato?

 

A voz mudou.

 

Eu não sei, Ana, mas tudo indica que sim! Fiquem ligados porque a qualquer momento voltamos com notícias atualizadas em nossos boletins!

Ricardo e Jefferson se encararam.

— Como eles descobriram? — Ricardo estava chocado. — E agora?

— Eu vou atrás deles.

— Tá maluco? Lá fora, na floresta? A gente nem sabe o que tem lá! E você ouviu, uma equipe de busca já está sendo preparada.

— Eu vou fazer o quê? Ficar aqui parado? Você não precisa ir comigo.

— Não. Você não pode ir sozinho. Não quer esperar pelo menos o primeiro relatório da equipe de busca? Prometo te manter informado. — Ricardo segurou Jefferson pelos ombros.

Jefferson pensou por um tempo e então resolveu aceitar a proposta do amigo. Ricardo ficou no hospital, para terminar seu turno de trabalho, e o amigo seguiu para casa.

 

Chegando em seu apartamento, Jefferson recebeu uma ligação. Era um agente da polícia, avisando sobre seus pais. O garoto pediu para que fosse avisado sobre todos os relatórios da equipe de busca, recebendo uma resposta positiva do policial, mas não acreditando em sua palavra. O assunto sobre o lado de fora era um tabu em Pyr e eles provavelmente não passariam todas as informações a um adolescente.

O policial informou que já havia avisado à tia de Jefferson, que estava disposta a recebê-lo enquanto seus pais estivessem fora. O garoto não gostou nem um pouco da notícia, mas reconhecia que não teria como passar mais dias sozinho, pois não sabia cozinhar.

Arrumou sua mochila e partiu para o apartamento de sua tia, de quem não gostava muito, mas estava sem opções.

 

— Deus te abençoe, meu filho — disse ela ao recebê-lo na porta de seu apartamento.

Deu um forte abraço em Jefferson e beijou seu rosto moreno.

— Não se preocupe, meu querido, seus pais logo voltarão. Deus sabe o que faz. Ele não acabou com o mundo, nos dando uma chance num mundo melhor, para que sofrêssemos.

Jefferson mal chegara e já estava cansado da pregação de sua tia.

Jantou, enquanto a mulher ainda falava, e depois foi para o quarto de hóspedes.

A tia, que se chamava Andreia, foi até o quarto onde Jefferson estava, levando uma carta nas mãos. O menino percebeu que ela chorava.

— Escrevi essa carta quando fui no casamento dos seus pais. — Fungou. — Eles estavam tão lindos!

Ela secou os olhos com as costas das mãos e sentou ao lado do sobrinho na cama.

— Seu pai tinha dado pra sua mãe uma aliança feita de folha da mangueira central de Pyr, porque ele gosta de seguir a tradição de vez em quando. — Sorriu entre lágrimas. — Ah, no casamento nós dançamos tanto! E comemos muito também. Nunca tinha visto seu pai tão feliz…

Jefferson ficou triste com a lembrança da tia. Pela primeira vez pensou que poderia nunca mais ver seus pais de novo.

Se despediu de Andreia, dizendo que estava cansado e com sono, devido ao avançado da hora, mas com cuidado para não soar grosseiro. A tia lhe deu um beijo molhado de lágrimas no rosto e saiu, o deixando sozinho.

 

No dia seguinte, Jefferson acordou mais tarde do que estava acostumado, mas já levantou ansioso para ir para a escola. Almoçou, se arrumou e partiu para o colégio.

Entrou na sua sala de aula e olhou em volta, mas Ricardo ainda não havia chegado. Jefferson torceu para que o amigo não faltasse, senão morreria de tanta expectativa.

A aula de biologia começou, e nada de Ricardo aparecer. Jefferson não prestou atenção em uma palavra sequer que a professora disse, pois não desgrudava os olhos da porta, apreensivo.

Ricardo se atrasou, mas chegou, para alívio de Jefferson. Tratou logo de se dirigir para o lado do amigo.

— E aí? — Jefferson perguntou mais alto do que pretendia. A professora chamou sua atenção e ameaçou mudar Ricardo de lugar.

— As notícias não são legais — Ricardo afirmou, sussurrando. — A equipe de resgate não encontrou nada nos arredores da área desértica e também perdeu o contato assim que saiu dos limites de Pyr.

Jefferson pareceu ter perdido todo o sangue do rosto.

— Podemos esperar mais um pouco, Jeff.

— Não, eu vou dar um jeito de ir atrás deles!

Ricardo passou as mãos no rosto, nervoso.

— Vamos pelo menos bolar um plano com calma,  para não corrermos risco de sermos pegos.

Então os dois passaram o resto da aula conversando sobre o assunto, sem prestar atenção no que a professora ensinava. Ricardo explicou que havia algumas saídas de Pyr que ficavam em corredores proibidos a civis, e que a polícia mantinha sempre trancadas. Eles precisavam do acesso a uma dessas saídas, e, mais importante, uma maneira de não serem seguidos.

Jefferson insistiu para que Ricardo não fosse com ele, mas o amigo teimou que não poderia permitir que ele saísse sozinho para a Grande Floresta.

Depois de terminarem o que tinham para conversar, Ricardo foi falar com Rafaela, sua amiga. Jefferson pensou que eles colocariam as conversas em dia.

No intervalo, um assunto se espalhou rapidamente pela escola: estava havendo outra manifestação, juntando as pessoas que queriam a abertura dos portões de Pyr com as famílias dos policiais que estavam sem contato. Jefferson percebeu que não tinha visto alguns colegas durante o dia. Eles deveriam estar no protesto.

Ricardo se juntou a ele antes que o intervalo acabasse.

— Os arquitetos devem fazer alguma coisa. A população tá muito revoltada.

— Se nada for feito hoje mesmo, vou bolar um plano pra esta semana ainda. — Jefferson encarou o amigo, sério. — Já faz muito tempo que meus pais saíram e também a equipe de resgate não dá, e nem dará, sinal. Além disso, não vou aguentar a casa da minha tia por muito tempo. Então eu vou essa semana, e se você não for comigo, volto ao meu plano inicial de sair sozinho.

— Você tá maluco! É claro que vou sair com você! Só não quero fazer uma loucura, porque senão a gente vai preso, e é aí que não vamos conseguir sair mesmo.

Depois que Ricardo tocou nesse ponto, Jefferson ficou pensativo, passando o resto do dia assim.

Na saída, passando pelos portões da escola, Jefferson saía com Ricardo, quando Karú, que Jefferson conhecia pouco, passou gritando para todos que estavam saindo do colégio:

— Vamos todos para a passeata em prol da liberação das portas de Pyr! Não podemos mais tolerar que a polícia controle nosso direito de ir e vir! As famílias dos policiais perdidos na Grande Floresta exigem o direito de ir atrás de seus parentes! Tá quase todo mundo nas ruas! Vamos!

Jefferson, que seguia à frente de Ricardo na multidão de alunos, virou para trás, falando próximo do ouvido do amigo:

— Se está mesmo todo mundo na rua, a polícia toda deve estar atenta a essa manifestação. Taí nossa chance de sairmos sem sermos notados!


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Notas finais do capítulo

O que está achando da história até aqui?
Se quiser saber o que acontece em seguida, só precisa aguardar até a semana que vem!
Você pode me encontrar sempre nos comentários.
Até o próximo capítulo!



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