Advertência escrita por Fernando Cabral


Capítulo 5
Capítulo 5 — Ailã


Notas iniciais do capítulo

Este demorou, mas saiu! Pra quem achou que eu tinha morrido, aviso que pretendo de agora em diante postar semanalmente, já que estou trabalhando, e tenho tempo para postar do trabalho.
Pra quem não curte ou não aguenta mais capítulos de apresentação, tenho uma notícia boa e uma ruim: a boa é que depois dos próximos dois capítulos acabam as apresentações; e a ruim é que ainda tem dois capítulos de apresentação hahaha Desculpa!
Espero que você goste do capítulo novo. Boa leitura!



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Acordou sem entender onde estava. Sua pele, mesmo que molhada de suor, estava gelada. Estendeu as mãos à frente e observou sua incrível brancura por alguns segundos. Ainda deitada, olhou em volta e percebeu que estava sobre uma cama, dentro de um quarto.

Não sabia como reconhecia o nome de tudo o que estava a seu redor, mas tentou não deixar esse pensamento se tornar uma espiral, pois uma crise existencial era o que menos precisava no momento.

Sabia que se chamava Ailã, mas não tinha lembrança alguma de sua vida.

A janela demonstrava que o tempo do lado de fora estava ensolarado. E tudo estava um pouco embaçado. Não sabia por quê, mas achou que o quarto tinha um cheiro estranho.

Percebeu que ao lado da cama havia uma cabeceira com um óculos de grau em cima, então o pegou, e, colocando-o, pôde enxergar com mais clareza.

Ailã se sentou e passou a mão direita pela testa, para se livrar do suor e dos fios de cabelos que se encontravam grudados ali. Vestia uma saia antiga, que cobria seus joelhos, e uma blusa bege claro que pinicava.

Se levantou e caminhou até um espelho que havia na parede. Não reconhecia o rosto e os cabelos muito brancos, nem as bochechas cheias, as sobrancelhas grossas, também brancas, os olhos castanhos com um brilho avermelhado, nem nenhuma de suas feições.

Respirou fundo, se mantendo calma, tentando recuperar sua memória, mas nada veio a sua mente. Encarou a porta do quarto. Teria que lidar com o que quer que estivesse do outro lado, então seria melhor se o fizesse com a mente clara, e não anuviada por stress.

 

Ao atravessar a porta, se deparou com uma mulher de estatura e feições parecidas com as suas. Ela aparentava ser um pouco mais velha e levava consigo um copo feito de madeira. Parecia ir em direção ao quarto, mas interrompeu seus passos ao avistar Ailã, que não pôde deixar de perceber que, mesmo sendo parecida consigo, a mulher tinha cores diferentes. Seus cabelos, e olhos eram escuros, e sua pele era amarronzada, um pouco clara.

— Eu estava indo levar essa água pra você — a mulher disse. — Como você está se sentindo?

— Bem. — Ailã não pretendia revelar que não sabia quem ela era. Sondaria primeiro.

— Então bebe essa água e senta aí no sofá. Vou fazer alguma coisa pra você comer. — Ofereceu o copo à Ailã.

— Obrigada — respondeu, pegando o recipiente e o levando à boca. Acabara de perceber que estava mesmo com sede.

A mulher se retirou para outro cômodo, trazendo uma espécie de sanduíche ao voltar, que a menina mordiscou, e não teve vontade de continuar a comer.

— Jessyca, você sabe que precisa comer. Estou achando que seu desmaio ontem à noite aconteceu porque você não está comendo muito bem. Você por acaso colocou na cabeça que quer emagrecer?

 

Jessyca?... Jessyca?! Ela não se chamava assim! Mas isso não podia atrapalhá-la. Não agora, pelo menos. Não deveria deixar sua confusão transparecer. Precisava falar alguma coisa logo.

— Não — respondeu, tentando manter um tom natural. — Só não estou com fome mesmo.

Quando Ailã terminou de falar, uma senhora adentrou a sala, caminhando devagar. Ela tinha as mesmas cores que a outra mulher.

— Jessyca, você sonhou alguma coisa estranha essa noite? — perguntou, falando devagar, mas com a voz firme.

 

Não sou Jessyca, sou Ailã. É a única coisa da qual tenho certeza agora. Não posso começar a ter dúvidas em relação a isso, porque vou enlouquecer.

 

— Hum, não que me lembre. — Ailã direcionou o pensamento, analisando quem poderiam ser essas pessoas. Aparentemente eram familiares, pois todas se pareciam, mas precisava de informações concretas e não suposições.

— Mãe — disse a mulher, que era mais velha que Ailã, mas mais nova que a outra —, a senhora não acha melhor a gente dar um banho de ervas na Jessyca? Pra prevenir, sabe…

Ailã se convenceu de que a mulher era sua mãe, e a senhora, sua avó. Seus nomes não eram muito importantes, já que as chamaria de “mãe” e “vó”. E o que era esse tal “banho de ervas”? Esperava que não fosse nada que pudesse fazer mal a ela.

— A gente dá quando ela voltar da escola e você do trabalho, Cátia — a avó respondeu, voltando pelo corredor de onde tinha vindo.

— Cadê a Jennyfer? — Cátia perguntou, enquanto levantava e se dirigia para outro cômodo.

Essa parte sobre a escola seria complicada. Ailã não fazia ideia de como chegar lá e nem queria saber como seria encontrar várias pessoas que a chamariam de Jessyca e esperariam que ela agisse como tal. Além de tudo, agora tinha essa Jennyfer. Foi atrás de sua suposta mãe, para descobrir quem era.

Caminhou com curiosidade, e parou logo antes da entrada do cômodo onde estava Jennyfer. Espichou a cabeça para a frente, a fim de bisbilhotar seu interior.

Jennyfer era uma menina mais nova que Ailã, com os mesmos traços das outras duas mulheres da família.

Minha irmã, Ailã pensou. Ou a irmã de Jessyca

— Jessyca, tá se sentindo bem, minha filha? — perguntou Cátia, vendo Ailã.

— Sim. Um pouco.

Jennyfer, que estava sentada em sua cama, entortou a cabeça para olhar para Ailã, pois Cátia tampava sua visão direta.

— Então vai se arrumar — continuou a mãe —, pra ir com a Jennyfer pra escola.

Essa era uma boa oportunidade para sair daquele apartamento e ver se reconhecia algo do lado de fora. Ailã só precisava de uma desculpa para deixar Jennyfer na escola e seguir para qualquer outro lugar. Precisava explorar as redondezas.

 

Ailã não encontrou dificuldades para se arrumar. Suas roupas estavam no armário do seu quarto, e seu uniforme se dispunha em um lugar de destaque entre as outras roupas. Depois de arrumada, se juntou a Jennyfer e saiu para a escola.

Ao deixar o apartamento, percebeu que o prédio possuía elevadores, mas Jennyfer seguiu em direção às escadas de incêndio. Não sabia o motivo de não os usarem. Guardou na mente para descobrir em outra ocasião.

Já fora do prédio, Ailã estranhou os corredores por onde passavam. Eles eram de certa forma estreitos, sempre tendo paredes em pelo menos um dos lados; encontravam-se incrivelmente limpos e tinham a aparência de ser recém-construídos; quando olhava para o lado, via vidros, que seguiam até muito alto; se direcionasse o olhar para cima, avistava um teto cinza, ao invés do céu. Ali onde se encontrava era uma espécie de cidade completamente fechada. Será que estava presa? Pois era assim que se sentia.

 

Notou que Jennyfer a olhava de esguelha de vez em quando, mas fingiu que não percebeu. Não diria nada até que a menina falasse. As chances de cometer alguma gafe eram altas demais.

— Você lembra do que aconteceu ontem à noite? — Jennyfer finalmente falou.

— Na verdade, não. E estou me sentindo estranha por isso. Não quis falar em casa, pra não estranharem. — Quem sabe Ailã não conseguisse algumas informações com a irmã caso demonstrasse um pouco de fragilidade e confiança.

— Você fez a Passagem e desmaiou logo depois que começou. A vovó disse que isso costumava acontecer quando pessoas eram possuídas por algum deus na antiga aldeia dela.

Ailã mal começara a pensar sobre o que se tratava essa Passagem, quando Jennyfer perguntou:

— Você acha que agora que a mamãe mudou de emprego e tá trabalhando na confecção de roupas, vamos ter mais facilidades de conseguir blusas que não fiquem coçando?

Ailã fingiu que estava pensando na resposta e então disse:

— Acho que sim, mas ninguém garante, n...

— Quem é você?

A pergunta pegou Ailã de surpresa. A menina parou de caminhar, encarando, com espanto, Jennyfer, que não a encarava de volta, mas também havia parado.

— Como assim? — Ailã perguntou, tentando pensar rapidamente no que fazer.

— A mamãe continua trabalhando no correio, e todos aqui recebem as mesmas roupas. A Jessyca sabe de tudo isso, então quem é você? — Jennyfer disse com naturalidade, finalmente encarando Ailã.

— Eu… não esperava que você fosse tão boa — admitiu, sem ter outra alternativa.

Ailã contou o que sabia para Jennyfer, e isso envolvia muita coisa que ela mesma desconhecia. Ficou positivamente surpresa pela sua suposta irmã não ter tido uma atitude agressiva e ter se mantido calma enquanto a ouvia.

Antes que Jennyfer pudesse começar sua parte na conversa, chegaram ao portão da escola. Ailã disse que não entraria, pois precisava dar umas voltas, para olhar o lugar, Pyr, como Jennyfer havia lhe contado. Jennyfer seguiu para a sua aula, deixando claro que depois que voltasse para casa as duas conversariam mais.

 

Ao começar a se afastar do portão da escola, Ailã avistou um banco, que ficava bem próximo ao vidro, do outro lado de uma pequena praça, que, por sua vez, ficava de frente para o prédio da escola. A vista daquele lugar chamou sua atenção, e foi até o banco, para se sentar e observar o lado de fora um pouco.

Quando viu a floresta,  que estava iluminada pelo sol da manhã, se espantou, pois o lugar era, de certa forma, familiar para ela, e gerou uma forte nostalgia, que fez Ailã sentir um vazio no peito. A saudade de um lugar onde nunca estivera era uma sensação nova e estranha para ela. Pyr era um lugar feio e frio, enquanto aquela floresta, que parecia quente e aconchegante, era atraente.

ATENÇÃO, TEMOS NOTÍCIAS PARA DAR À POPULAÇÃO EM RELAÇÃO AO CASO DO HOSPITAL — disse uma voz muito alta, relativamente próxima a onde estava Ailã, assustando a menina, que percebeu que o som vinha de um alto-falante preso a uma viga.

UMA EXPEDIÇÃO SERÁ MONTADA PARA RESGATAR OS POLICIAIS QUE SAÍRAM — continuou a voz. Havia outras vozes por trás, como se estivesse uma confusão no local. — NÓS, DAS FAMÍLIAS DOS DESAPARECIDOS, NÃO VAMOS DEIXAR NOSSOS PARENTES DESAMPARADOS! LIBERDADE J… — O sinal foi interrompido.

Depois que o alto-falante se calou, Ailã ficou pensativa por um tempo, até que, distraidamente, voltou a olhar para a floresta.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou? A história tá muito lenta? Não aguenta mais apresentações? Quer mais? Pode falar à vontade nos comentários :)
Até semana que vem!



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