Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 18
Capítulo 15




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Fui acordado por Soraya, que estava ansiosa. Ela disse que eu não ia querer estar dormindo quando Farid chegasse. Me levantei e fomos juntos acordar Sohrab. Ele estava dormindo muito tranquilamente. Soraya chegou de vagar e sentou na cama ao lado dele. Pediu para que ele se levantasse e ele apenas se revirou na cama. Depois chegou mais perto e disse baixinho:

— Farid vai chegar em pouco tempo Sohrab. Acho que você vai querer recebe-lo.

Dito isso Sohrab pulou da cama como se tivesse recebido a noticia de que seus pais estavam vindo para casa. Ele se levantou correndo e disse que tínhamos que deixar tudo pronto para a vinda deles. Farid deveria estar a caminho com sua mulher e seus filhos. Lembrei do que ele contou sobre seu vizinho Zemar e temi que ele os trouxesse junto. Não haveria onde colocarmos tanta gente. Soraya disse que precisaríamos de mais comida e que um de nós deveria ir até algum baazar próximo para comprar as coisas, acompanhado obviamente de um dos guardas. Eu queria sair um pouco então me dispus para fazê-lo. Fui até a alameda peguei as chaves do carro e sai da garagem. Um guarda disse que seria melhor me acompanhar, mas eu disse que queria ir sozinho.

Sai com o carro pelas ruas de Wazir Akbar Khan e atravessei as ruas do bairro. Passei pelas ruas onde antes ficava o velho baazar, no qual Ali ia com Hassan para fazer nossas compras mensais. Percorri com o carro cada uma daquelas ruas e em certos momentos parava para observar alguns prédios. Alguns não passavam de pedaços de concreto caídos sobre os terrenos e outro tinham anúncios rasgados nos quase você só conseguia ler um parte. Eu passava por todas aquelas ruas quando criança. Corria com Hassan entre as barracas dos mercadores e usávamos o dinheiro de baba para comprar doces. Abaixo de um daqueles prédios, como bem me lembrava, ficava a velha loja de pipas do velho Sifio. Eu não pude ir até lá obviamente, pois ficaria soterrado, mas me permiti parar o caro na frente do cubículo para me recordar de todas as pipas que comprei ali.

O carro estava se aproximando do barranco quando eu parei e dei meia volta com o carro. Sabia muito bem qual era o lugar próximo aquele barranco e ele era o único local que eu não visitaria naquela viagem. Eu poderia ir à cada canto de Cabul, porém me recusava terminantemente a ir até aquele maldito lugar. Se entrar na minha casa era de uma dor incomensurável, ir até aquela ruela seria como arrancar meu coração e esmigalhá-lo em mil pedaços. Segurei firme no volante e desviei dali, indo por outra rua, até chegar ao mercado que Soraya me indicou. Comprei tudo quanto achei necessário e voltei para casa. Meu peito doía quando passei pelo baazar no caminho de volta. As más recordações tentavam ganhar espaço em minha mente e aquilo era sufocante. Cheguei em casa e começamos a preparar as coisas para o momento em que nossos amigos chegassem.

A COMIDA JÁ ESTAVA PRONTA E a mesa esta quando avistei o velho carro de Farid dobrando a esquina. Eu estava olhando pela janela d meu quarto, onde agora Sohrab dormia, e olhava para a esquina do lado direito da rua, e avistei seu carro vindo em direção da nossa casa. Desci as escadas correndo e avisei Soraya e Sohrab. Estávamos todos felizes com a chegada deles e ansiosos por falarmo-nos novamente. Fomos para a alameda e esperamos que o carro parasse na frente da garagem. Soraya abriu o portão de ferro e fiquei parado esperando. A mão de Sohrab se ajeitou na minha e segurei a sua. Sorri e ele sorriu de volta. Nós dois estávamos em dívida com Farid e reencontrá-lo aqui seria ótimo. Farid desceu do carro seguido por sua esposa, e seus filhos. Seu vizinho não veio e me preocupei a toa. Ele estava com um sorriso enorme no rosto e foi cumprimentar Soraya.

— Senhor Farid! — ela o cumprimentou estendendo a mão — Prazer, sou Soraya a mulher de Amir. Fico feliz por conhecê-lo. — ela o abraçou e ele retribuiu

— Soraya agha, é um prazer conhece-la! É ótimo saber que vocês chegaram bem aqui. Veja, esta é minha mulher e estes são meus filhos. Meninos cumprimentem a moça. — ao seu comando os três meninos estenderam a mão, e rindo Soraya apertou cada uma e depois abraçou a esposa de Farid. Então este se dirigiu até mim. Seu sorriso preenchia o rosto inteiro e eu via a sinceridade nos seus olhos.

— Amir agha! — ele me abraçou e eu retribui com força. Era bom encontra-lo ali. Nos Estados Unidos eu pensei nele e em sua família e cheguei a imaginar que estavam todos mortos. Mas ele estava ali agora.

— Farid companheiro! — disse eu dando tapinhas em suas costas — Que bom ver você amigo! Que bom saber que estão bem!

— Eu que o diga! — exclamou ele se afastando — Não sabe como roí as unhas de preocupação durante a sua viagem para cá. Não deixei de rezar um só dia pedindo para que vocês ficassem bem!

— Obrigado Farid, creio que suas orações foram ouvidas, pois chegamos sãos e salvos!— disse eu apertando sua mão — Também fiquei apreensivo de te chamar até aqui, sabendo de tudo o que aconteceu... — disse eu, me referindo ao incidente com a sua casa.

— Ora isso não tem importância! Agora estamos num lugar bem melhor! — ele olhou para quem estava do meu lado e sorriu — E como vai você rapazinho? — ele estendeu a mão para Sohrab. Este não levantou sua mão e sim sua cabeça, olhando para mim. Acenei também com a cabeça como quem diz “Vá em frente” e então ele apertou a mão de Farid. Este deteve os olhos por um instante quase imperceptível no pulso dele. Depois abraçou-o deixando nosso amigo surpreso. Farid me olhou espantando e depois retribuiu o abraço de Sohrab — Ah meu amigo! — ele se abaixou na altura de Sohrab e disse ternamente segurando seus braços — Soube do que aconteceu e não sabe como fico aliviado por saber que agora você está bem.

Sohrab ficou meio constrangido pelo último comentário e disse desviando do assunto:

— Estava com saudades Farid agha.

— Também senti sua falta Sohrab.


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