Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 17
Capítulo 14




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A sensação de acordar novamente sob aquele teto era nostálgica e ao mesmo tempo, boa. Abrir os olhos e me deparar com aqueles mesmos móveis tornavam muito mais doce a sensação de estar em casa. O dia anterior fora um tanto desgastante. Vir até a cidade e entrar naquela casa, tudo no mesmo dia, não eram algo que qualquer um poderia aguentar. Me espreguicei e procurei pelo corpo de Soraya ao lado do meu. Ela já não estava mais lá. Deveria te acordado mais cedo que eu. Levantei da cama e ante de qualquer coisa me enfiei em baixo do chuveiro. Passei no meu antigo quarto e constatei que Sohrab também não estava mais na cama. Desci e fui até a sala de jantar. Lá estava posta uma verdadeira mesa de café da manhã. Eram apenas dez horas da manhã, mas os dois já tinham saído para fazer compras e voltado para preparar o café.

— Quando vocês foram? — perguntei eu

—Sohrab acordou umas oito horas e veio me chamar. A ideia de preparar esse café da manhã foi dele. — ela disse sorrindo. Por sua vez, Sohrab corou constrangido e sorriu.

— Uma ótima ideia, aliás. — disse eu também sorrindo, mas o sorriso de desvaneceu a me lembrar de um detalhe — Vocês foram sozinhos? Não é perigoso?

— Não Amir. Quando estávamos de saída já nos deparamos com os guardas na frente do portão. Um deles se voluntariou para ir conosco até algum mercado, porque na verdade eu nem sabia onde tinha um mercado por aqui. Por sorte encontramos um não muito longe e quando voltamos fizemos tudo isso. — disse Soraya fazendo um movimento com as mãos que abrangia tudo o que estava na mesa

Nos sentamos e tomamos aquele delicioso café da manhã que eles fizeram. Naan com vários tipos de geleia e principalmente chá preto preparado por eles, me fizeram lembrar dos velhos tempos, em que eu levantava naquela casa para a minha rotina e encontrava sempre esse mesmo desjejum esperando por mim todos os dias. O almoço foi preparado com igual capricho e dessa vez eu os ajudei. Comemos e depois dei a ideia de sairmos para fazer um passeio. Eu estava me sentindo muito melhor, e aquele choque inicial estava passando aos poucos. Ainda doía um pouco entrar no escritório onde baba passava praticamente todo seu tempo, quando não estava fora a trabalho. Era difícil sentar no sofá em frente a lareira e não pensar nos dias de muito frio em que jogávamos panjpar. Sugeri que fossemos até uma parte mais inteira da cidade, onde havia mais pessoas, lugar onde antes ficavam muitas árvores e podia ser chamado de parque.

Sohrab ia a frente, parece até que ele sabia que eu queria falar com Soraya.

— Convidei Farid e sua família para virem até aqui amanhã. — comecei. Um dos guardas nos seguia de longe, do modo mais discreto possível, para que ninguém pensasse que estávamos sendo perseguidos.

— Quem bom! Vai se ótimo ter a companhia deles. Ainda mais, vai ser ótimo para Sohrab ter a companhia de mais alguém conhecido.

— Tem razão. Na verdade você tem razão sobre tudo. A ideia de vir até aqui era avassaladora. Mas se uma pessoa vive presa no passado, nunca poderá enfrentar o futuro. E vir até aqui foi a forma mais certa de enfrentar o meu passado. Agora eu consigo pensar apenas no que vem pela frente. — segurei em sua mão e andamos lado a lado. Sohrab ia a nossa frente e estancou por um momento. Ele se virou e apontou para alguma coisa. Não era medo nos seus olhos, mas certa curiosidade. Lá na frente, como fui ver, havia um velho com uma sacola, que estava cheia de pipas. Pelo que sabia, já não se empinavam mais pipas em Cabul, o que não queria dizer que não se vendiam mais pipas.

— Vamos comprar uma? — perguntei, ao que ele respondeu com u breve “sim” — Acho que nós já temos pipas azuis suficientes, não? O que aca de uma amarela para variar?

— Verde. — ele disse. De fato, o velho tinha uma bela pipa verde, com as bordas pretas, inteira e sem nenhum rasguinho. Me dirigi até ele e perguntei quanto a pipa custava. Me surpreendi com o preço, que era alto de mais para uma pipa comum. Perguntei se ele não podia baixar um pouco e ele disse que o dinheiro estava sendo juntado para que ele pudesse abrir sua loja. A situação daquele homem me comoveu. Fiquei imaginado como seria sua vida antes de tudo aquilo. Provavelmente ele era um homem pacífico, que tinha sua lojinha, o que lhe foi tomado pelos talibs. Paguei pela pipa e entreguei a Sohrab.

— o que acha de irmos até a colina, e empinarmos essa pipa lá? — ele pareceu empolgado e, segurando a pipa nas mãos, correu na direção que ele pensava ser a da colina. Ele estava certo quanto a direção, e eu e Soraya o seguimos, também correndo, até lá. Claro que eu já não tinha as mesmas condições físicas e toda aquela correria, somada a subida na clina, acabaram com meu fôlego. Não estava necessariamente calor, mas não estava frio. Lá em cima na colina. Eu também comprara a linha e amarrei na pipa. Não passei cerol esta, visto que não tinha nenhuma outra pipa no céu. Ele segurou o carretel e eu a linha. Soraya quis tentar também e se mostrou hábil com o carretel.

— Pode parecer estranho — comentou ela com os olhos no céu e a mão na pipa — Mas quando eu era menina aqui no Afeganistão, eu pedia para meu pai comprar pipas para mim. Não era comum que garotas empinassem pipas, então eu fazia isso no quintal de casa. Depois de um tempo desisti, e me arrependo por isso. É uma coisa que gosto de fazer.

Eu não sabia disso. Soraya conseguia me surpreender cada vez mais. Aquele foi um dos dias mais agradáveis entre as três semanas que passamos em Cabul. Fiquei na colina com Sohrab enquanto Soraya ia buscar uns lanches em casa. Fizemos um piquenique sob a luz do Sol poente e depois nos estiramos sobre a grama. Anoiteceu devagar, e quando já não havia mais Sol, voltamos para casa.


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