Talvez eu estivesse me preparando mentalmente para acordar em um hospital quando recuperasse a consciência.Entretanto,quando abri meus olhos,vi que estava na minha cama,na casa dos meus pais,deitada.Uma enorme dor de cabeça tomou conta de mim.Me sentei com dificuldades na cama quando minha mãe me abraçou com força.

– Graças a Deus você acordou... - minha mãe gaguejava enquanto falava comigo.

– Mamãe...o que aconteceu comigo?

– Você estava atravessando a rua e não cuidou os lados,um carro estava prestes a te atropelar,mas Thomas te empurrou com força contra a calçada e acabou sendo acertado em seu lugar.

– Thomas?

– Sim,ele estava por perto na hora.

– Ah meu Deus...Onde ele está?

– Internado no hospital.Mas não se preocupe Alice,eu vou lá trazer um chá para você se acalmar,e já volto. - Minha mãe beijou a minha testa delicadamente,e saiu do quarto em silêncio.

Eu não podia ficar ali parada.Thomas estava no hospital,por minha culpa.Notei que estava apenas com a básica de lã que usava no acidente,junto com os jeans.Minha cabeça doía muito,mas eu não tinha o que fazer.Peguei meu par de botas e os calcei,enquanto observava ao redor do meu quarto,à procura do meu casaco.Tudo estava em ordem desde que eu saí de casa: minha cama enorme,meu guarda-roupa velho,minha escrivaninha,e a cômoda ao lado da minha cama.Não achei o meu casaco,então decidi ir sem ele mesmo.

A escrivaninha fica praticamente ao lado esquerdo da minha cama,que fica na parede oposta à da porta.Andei até lá.Iria sem casaco mesmo.Acima da escrivaninha,uma janela enorme.Como a minha casa tem apenas um andar,eu tinha o costume de pular a janela e fugir por ali.

Enquanto eu abria a janela e sentia o vento frio no meu rosto,me lembrei de todas as vezes que eu fugia pela janela; da preocupação dos meus pais,e da minha rebeldia.Sorri quando apoiei o pé na escrivaninha(isso mesmo)e pulei a janela,caindo um belo tombo ao escorregar na neve.Comecei a rir baixinho enquanto me levantava.Fiz o máximo de esforço para fechar a janela,já para não deixar suspeitas.Me virei para caminhar em direção ao muro(que pularia também),e ouvi a voz da minha mãe dentro da casa.Corri o mais rápido que pude,até que me aproximei do muro.

Eu sabia que o portão faria barulho demais,então escalei o muro com certa dificuldade,e caí em pé no outro lado.Saí correndo pela rua,com o vento batendo de forma agressiva no meu rosto,como que me mandando voltar.Mas não o fiz.Pelo contrário,corri mais ainda.

A pouca neve que caía ia se acumulando na minha cabeça,e eu tropecei em alguma coisa e caí no chão.Me levantei dando risada e corri ainda mais.Tudo aquilo me lembrava de quando eu fugia,e isso me animava muito.

Cheguei ao hospital(quase no centro da cidade)e abri a porta devagar.Uma enfermeira que passava por ali me olhou assustada,pelo meu estado: sem casaco,touca,cachecol,nada.E com neve em todo o meu corpo.

– Olá...me perdoe esse meu estado,não pude evitar.

– c-claro.

Sorri para ela de um jeito animador,e ela retribuiu o sorriso.

– Gostaria de encontrar Thomas Moore.Onde ele está?

– Pela pergunta,você seria Alice Williams.Estou correta?

– Isso mesmo.

– Pelo seu estado,você fugiu de casa...

– Exato.

– Você sabe que não deveria... - ela mesma se interrompeu,dando um outro sorriso - ele está no andar de cima,sala 34.

– Obrigada. - sorri e saí correndo para as escadas.

Subi a escada sem problemas e logo encontrei a sala 34.Entrei lá e encontrei Thomas,com algumas faixas na cabeça,sentado na cama,assistindo TV.Fechei a porta delicadamente,e me sentei em uma poltrona amarelada ao seu lado.Ele me olhou e sorriu.

– Thomas,eu...Me desculpa.Foi tudo culpa minha.

– Fui eu quem me intrometi.O único culpado aqui sou eu.

– Mas fui eu que...não cuidei ao atravessar a rua.Me deixou preocupada.

– Não precisa se preocupar.Estou bem - ele sorriu para mim,que sorri automaticamente - olhe o seu estado... - ele começou a rir.

– É...voltei à minha época de adolescente rebelde. - comecei a rir também.

– Percebi.

Ouvi o barulho da porta se abrindo e me deparei com o Pattrick,irritado.Me levantei da poltrona imediatamente.

– Sua mãe me contou que você sumiu,só poderia estar aqui.

– Pattrick,eu...

– Alice só veio aqui para ver como eu estava. - foi o que Thomas disse.

– Alice,poderíamos conversar um pouco? - Pattrick falou,e eu o acompanhei até o corredor.

Quando chegamos lá,ele começou a me lançar um olhar de quem está muito afim de brigar.

– Alice,brigamos por causa desse cara,e você ainda tem a cara de pau de vir aqui ver ele?

– Pattrick,a culpa do Thomas estar nesse hospital é minha.Eu quem causei toda aquela confusão.Não seria justo eu fazer ele sofrer,e ao menos comparecer aqui,nem que seja por um dia.

– Você sabe muito bem que a culpa não é sua,é dele por ter se intrometido.

– Nem ao menos parou para pensar que,se não fosse por ele,quem estaria naquele estado seria eu?Isso se não estivesse morta...

– Alice...

– Escuta,Pattrick.Eu devo essa ao Thomas.Ele me protegeu.Não posso abandoná-lo.Não agora.Mas... - me aproximei de Pattrick - Eu te Amo.Só você.Apenas você. - o abracei enquanto falava em um tom doce - Você é o homem da minha vida.Não precisa ficar com ciúmes - Sorri e beijei ele,que me abraçou pela cintura e retribuiu o beijo.

Voltei ao quarto de Thomas,e disse que precisava ir.Já eram 20h em ponto.Beijei sua testa suavemente e disse que ele ficaria bem.Eu e Pattrick fomos para seu apartamento,e de lá eu usei seu celular para falar com a minha mãe e dizer que tudo estava bem.

Naquela mesma noite,deitada na cama de casal do Pattrick,despindo ele,reparei no modo apaixonado que ele me olhava,e como eu retribuía.Aquela foi uma das melhores noites que tive na vida,e fazia tempos que não tinha um momento tão íntimo com Pattrick.