Eu acordei com uma dor de cabeça terrível. Sentia que havia aquele mesmo debate de anjo de demônio, sabe? Um anjinho do seu lado diz para fazer a coisa certa, o demônio no outro lado diz o contrário, etc. Sentia como se o anjinho tivesse pego um pequeno martelinho e estivesse batendo na caminha cabeça continuamente, causando mais e mais dor...
Reparei na minha falta de roupas, e encontrei meu vestido(na verdade,o vestido é da Megan) atirado no chão. Olhei para o lado e encontrei Thomas dormindo. O lençol cobria parte de seu corpo, mas seu incrível abdomem estava a mostra.

Acabei gritando, e ele se sentou na cama assustado.

– Hm? O que aconteceu? Ah...Alice, caramba. Que susto.

– SEU PERVERTIDO! SAIA DA MINHA CAMA AGORA! - peguei meu travesseiro e bati nele com força, e ele caiu da cama.

– AI! DROGA! ISSO DOEU, CARAMBA!

– ESSA ERA A INTENÇÃO! AGORA SAIA AGORA DO MEU QUARTO, SEU PERVER... - não pude terminar a frase, pois parei para olhar melhor para o local onde estávamos. O quarto era arrumado e masculino demais para ser o meu - tido...Esse é o seu quarto...né?

Ele começou a rir.

– Thomas...isso não teve graça.

– Teve sim.

– Para...não teve.

– Eu que caí aqui, e você que briga.

Acabei rindo também.

– Seu idiota.

– Eu mesmo. - Ele ria, enquanto se vestia, e eu observava seu corpo bem malhado. Não. Chega. Saí da cama e me vesti rapidamente, já pegando meu celular para ligar para a Megan, quando Thomas me interrompeu.

– Eu te dou uma carona.

– Ok... - Concordei, um tanto desconfiada.

– O que foi? Não vou fazer nada! - Ele ergueu os braços, rendendo-se, e gargalhou. Não pude deixar de dar um sorriso.

Depois de Thomas me forçar a tomar um café, eu desci com ele pela sua casa (um apartamento comum com dois quartos) até a saída, onde ele pegou a chave do carro e me levou para casa.

No caminho ficamos em silêncio, mas quando chegamos diante do prédio onde eu morava e ele estacionou, Thomas se aproximou de mim e tentou me beijar. Eu queria aceitar, mas no exato instante em que nossos lábios iriam se tocar eu me afastei.

– Thomas...melhor não. - Falei, tentando sair do carro. Thomas, porém, não deixava.

– Por quê?

– Aquilo não deveria ter acontecido. Eu não estava lúcida, quer dizer, não exatamente.

– Alice, eu não te forcei a nada. Eu nunca faria isso.

– Eu sei, mas... Somos apenas...amigos, Ok? - falei, mesmo sem ter total certeza de que aquilo fosse verdade - Vamos apenas continuar nossas vidas, fazendo de conta que essa noite nunca aconteceu.

– Está me dizendo para esquecer uma das melhores noites da minha vida? - Senti meu rosto ficar vermelho com essa declaração - Alice, não posso esquecer isso.

– Não pode, mas precisa. Somos amigos, Thomas.

– Alice , me dá uma chance...por favor...

– Thomas, eu estou tão...confusa. Me perdoe, mas a minha cabeça está bagunçada demais. Eu preciso pensar. - Claro que não era verdade. Eu queria Thomas. Mas tinha medo de algo.

– Te darei todo o tempo do mundo para pensar. - Falou ele, constrangido.

– Certo, até mais. - Respondi, saindo do carro o mais rápido possível.

Desci do carro em silêncio. Cheguei no apartamento exausta, e me deparei com a Megan sentada no sofá, chorando.

– Megan? - Corri até ela, e me sentei ao seu lado. - O que houve?

– Charlie terminou comigo.

– Meu Deus! Mas por quê?

– Porque eu saí ontem sem avisar...e agora? - ela estava chorando pra caramba, e eu a abracei de forma protetora, como ela sempre fez comigo.

– Calma Megan...Calma. O que ele disse?

– Que eu sou uma irresponsável. Uma idiota, e que nós nunca daríamos certo. Eu o amava, Alice. Eu o amo.Estou disposta a mudar por ele.

– Diga isso à ele.

– Não dá. Ele não me atende. - Megan pareceu chorar ainda mais, abraçando-me com força.

– Uma hora ele vai atender, e você poderá falar isso para ele. Mas não pode ficar aqui chorando, não vai adiantar.

– Ah, claro. Como se eu conseguisse me divertir agora. - Disse ela, amarga. Era difícil vê-la assim, e isso me deixou desanimada.

– Espera Megan. - Falei, tentando sorrir - Eu tive uma idéia. Que tal sairmos um pouco, nos distrair?

– Não quero saber de boates. - Ela já foi se adiantando.

– Eu não falei em boates.

– Onde então?

– Que tal o shopping?

– Parece ser uma boa idéia... - Ela ficou encarando a TV desligada, pensando. Tentou até sorrir. - Acho que vou.

– Viu? Se troque,eu vou fazer isso também. - Corri para o meu quarto.

Em geral eu odeio isso, mas iria fazer tudo para ver Megan feliz novamente. Tomei um banho, e só então reparei na marca de uma mordida no pescoço. Também haviam algumas pela barriga e pernas. Imediatamente pensei em Thomas, e odiei o fato de ter estado bêbada aquela noite e não me lembrar de nada. Afastei tudo aquilo com dificuldades em minha mente, enquanto me vestia. Pelo menos Megan estava triste demais para perguntar onde eu passei a noite.

Já era começo de primavera, e eu usava o vestidinho que Emily me deu, junto com os sapatinhos. Acabei passando alguma maquiagem e deixei o cabelo solto , e saí com Megan, que mantinha os cabelos sempre soltos, usando uma regata escura e um jeans. Caminhamos pelo shopping por um tempo naquela bela tarde de sábado, e Megan pareceu ter se acalmado.

Nos sentamos em uma lanchonete no shopping mesmo, e ela finalmente perguntou sobre a noite. Criei coragem e comecei a contar da minha noite com o Thomas, com Megan rindo o tempo todo. Nos encontramos com Emily e Lily em passeio, e voltamos com ela juntas para casa, onde ela ficou por um tempo, antes de se despedir.

E, à noite,comendo pipoca ao lado de Megan assistindo algumas séries antigas na TV, permiti a mim mesma um pouco de orgulho, por ajudar Megan como ela sempre me ajudou. Ela encostou a cabeça no meu ombro e adormeceu. Após o término da pipoca, eu desliguei a TV e a abracei, sem coragem para acordá-la. Juntas, dormimos no sofá.