Voltei ao trabalho segunda, e Michael me recebeu sorridente. Os dias passaram normalmente. Nunca mais falei com Thomas, e ele vivia me ligando, mandando mensagens. Sempre que uma nova chegava eu ficava com o coração na mão, mas me recusava a ler. Não as lia e ignorava suas ligações. Precisava de um tempo, definitivamente, embora as lembranças vagas daquela noite voltassem volta e meia, e eu quase chore.

Mas estava insegura demais. E ainda tinha Pattrick. Ele nunca mais tentou me ligar, e eu o entendo. Afinal terminamos. Mas era isso mesmo que eu queria? O medo que eu tinha com Thomas sumia ao lado de Pattrick. Ele era meu porto seguro. Jamais me abandonaria.

Em pleno março, e, em um belo fim de semana, Emily me chamou para ficar em sua casa. Ela iria ajudar suas amigas e eu fiquei cuidando de Lily. A garotinha não parava de chorar por um instante sequer, e eu finalmente descobri que não tenho jeito com crianças, definitivamente.

Já eram 22h e nada de Emily. Sabia que Lily precisava dormir, e não parava de chorar. Então eu me lembrei da música que minha mãe cantava para que eu acabasse dormindo. Respirei fundo:
Se essa rua, essa rua fosse minha
Eu mandava, eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,
Para o meu, para o meu amor passar.

Comecei a me balançar suavemente no ritmo da música, ainda cantando:
Nessa rua, nessa rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão.
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração.

Lily aos poucos parava de chorar, olhando para mim curiosa, enquanto eu ainda cantava:
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque , é porque te quero bem.
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque, tu roubastes o meu também.

Lily entrou em um sono profundo, e eu sorri ao vê-la adormecida em meus braços. Ficamos assim, juntinhas e em silêncio. Alguns minutos depois, vi que Emily entrou em casa, e sorria ao me ver com Lily nos braços. Ela viu que nossos ''laços de tia e sobrinha'' estavam agora firmes, e que nada, mas nada mesmo, poderia destruí-los.

Depois desse acontecimento,eu visitava mãe e filha com frequência, e Lily quase sempre queria dormir no meu colo.
~Escritório de Michael, 09 de Março, 9h22min, Kitty Hawk~

Como sempre, estava cheia de trabalho.

Megan e Charlie voltaram a se falar, e eu me senti feliz com isso. Eles até irão se casar, quer dizer, bem, não noivaram ainda, mas Megan disse que é por pouco tempo, que eles já estão começando a planejar tudo. Ela parou de visitar boates, e agora fica mais em casa. Fiquei muito contente em ver que ela está mudando, para melhor. Charlie já não fala tanto em casamento e filhos, mas fica animado do mesmo jeito.

Perdi total contato com Thomas e Pattrick. Aliás, já encontrei Thomas passeando com outra garota, de mãos dadas. E minha mente ainda está confusa. Eu sinto o mundo girar, e um enjoo tomou conta de mim nos últimos dias. Levantei várias vezes para tomar água ou ir no banheiro.

Enquanto estava sentada trabalhando, senti um rápido enjoo, e sabia o que estaria por vir. Saí correndo até o banheiro, e lá vomitei o que podia. Lucy, que esteve o tempo todo ao meu lado, se assustou diante do meu estado:

– Calma Alice.

– Não aguento mais. Isto me persegue.

– Enjoo, tontura...tem certeza de que você não está grávida?

– O quê? Claro que não! A última vez que eu transei eu usei...preservativo - Me lembrei da última noite que tive; foi com Thomas. E estávamos bêbados, ninguém se lembraria de usar qualquer tipo de preservativo - Ah, droga. Não. Não...

– O que foi?

– Existe essa possibilidade.

– E agora?

– O jeito é fazer o teste né? - Olhei para ela, nervosa.

No final do expediente de manhã, tive tempo de comprar alguns testes e fiz no banheiro da casa de Lucy. Verifiquei com os três que eu tinha comprado, e os entreguei à Lucy.

– Alice,o resultado é...

– Não quero saber, não agora. Ainda tenho que trabalhar, não acho que eu esteja preparada para receber o resultado agora. - Falei, amaldiçoando-me interiormente pelo que aconteceu, o motivo de estar ali.

– Mas Alice...

– Por favor, deixe-me só o expediente da tarde para pensar. Na saída me conte o resultado.

–Tudo bem. A escolha é sua.

Tudo isso foi inútil. Eu mal parei para pensar no trabalho, só na possibilidade de realmente ter um filho, e o que faria se isso fosse verdade. Me lembrei de Thomas, e de que eu o vi com outra garota no shopping, isso me deixou ainda mais nervosa. Se fosse positivo, como eu contaria a ele? Ele seria o pai, claro que deveria saber. Na saída, encontrei Lucy, que estava com um sorriso no rosto. Ela ergueu os testes e simplesmente disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo:

– Você está grávida. Parabéns, mamãe.