Steve P.O.V

— Ainda aqui? — entro na Ala Médica, onde Clem olha pela janela. Ela vira o olhar a mim e sorri, enquanto desce da mesa aonde estava sentada.

— Ainda aqui. — ela responde. — Ninguém aqui parece querer a minha presença, então...

— Não se importam com a sua presença, é diferente. — eu digo e ela ri.

— Ajuda muito.

— Muda de um monte de patadas pra nada, é um avanço. — dou de ombros — Todo mundo na cozinha, inclusive o seu primo.

— Eu quero ficar aqui. — diz ela.

— Não vai ficar que nem a Skyler que não queria sair do lado do túmulo do Ashton por nada, você vem.

— Aqui eu não atrapalho ninguém.

— Venha não atrapalhar ninguém na cozinha então. — puxo o braço (que ainda existe) dela até o cômodo ao lado do refeitório. Todos estão lá, inclusive Skyler, que alguém conseguiu milagrosamente mover até aqui.

— O que vamos fazer? — pergunta Dave — É um tédio aqui todos os dias. Sons de tapa são os únicos que eu escuto.

— Dave tem razão, esse luga tá monótono — diz Pandora. — Fechado, nada pra fazer...

— Melhor que arriscar as nossas vidas todos os dias. — diz Clementine.

— Ainda acho que esse lugar precisa de animação. — digo. — Sei lá, algo diferente do que costuma ser.

— Eu achei um violão na sala dos funcionários. — diz Will — Que tal fazermos como adolescentes clichês e cantar em uma fogueira?

— Parece melhor que vegetarmos na cozinha, o que vocês acham? — diz Sky.

— Acho digno. — diz Tris.

— Vamos? Vamos. — diz Matthew

+++

Estávamos todos sentados em volta de uma fogueira no pátio. Will pegara o violão e dedilhara algumas notas, pedindo uma música aleatória. Depois de alguns minutos discutindo ele resolveu tocar "Time Of Dying", do Three Days Grace, dizendo que combinava com a situação.

— I will not die, I'll wait here for you, I will not die when you are beside me... — cantarolava Pandora.

— In my time of dying... — continua Skyler.

— On this bed I lay, loosing everything... — continua Tris

— I can see my life passing me by — continua Zoe.

— Was it all too much, or just not enough — canta Matthew.

— Wake me up, I'm living a nightmare — Natasha continua.

Estávamos até nos divertindo. Era legal fazer nada enquanto tocávamos alguma coisa, até que ouvimos um zumbido alto. Era algo extremamente alto, digno de "venha até mim para podermos te apunhalar pelas costas".
Outro zumbido.

— Temos que ver o que é isso — diz Pandora.

— É perigoso demais — digo.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu não recebo ordens de crianças? — pergunta ela.

— Então vai, as mortes lentas e dolorosas não são da minha responsabilidade. — digo.

— Esse som é do... — começa Tris.

— Aparelho de choque. — diz Skyler

— Alguém aqui viu a Clem? — pergunta Ben.

Disparamos em direção ao quarto do tratamento de choque. Chegando lá a porta estava emperrada, então foi preciso que todo mundo empurrase para abrirmos. Lá dentro, Clem usara barbante com fita isolante para deitar na maca e puxar a alavanca. Skyler desliga o aparelho imediatamente,tirando tudo dela e a tirando de lá. Ela a entrega a Dave.

— Leve ela pra Ala Médica, Natasha, Jesse, cuidem dela! — grita Sky.

— Quem deixou ela subir pra cá? — pergunta Ben, irritado. — Quem deixou ela subir?!?!

— Ninguém, Ben! — Skyler o contém segurando seus ombros. — Escuta, ela subiu sozinha. Ela subiu sem vermos. Ninguém teve culpa.

Ele se acalma. Ele para de se debater e respira fundo.

— Me deixa ir vê-la. — pede ele.

— Vai.

Ele desce as escadas correndo.

— É só falar em tédio que as desgraças começam. — comenta Matthew.

— O que ela tem na cabeça? — pergunta Skyler, colocando as mãos no colchão. Completamente molhado.

— Talvez ainda se sinta culpada. — digo.

— O quê? Não, não é pra ela se sentir...Ai deuses. — Skyler prende as mãos no cabelo.

— Você tem que falar com ela, Skyler. — digo.

— Assim que ela melhorar, tá bem? — diz ela — Eu estou cansada de perder gente, Steve.

— Skyler — chama Natasha — Vem aqui.

As duas descem as escadas o mais rápido que podem, e nós tentamos a seguir, mas de acordo com Natasha todo mundo ir até lá fará mal a ela.

— Ela ficou literalmente em choque por muito tempo, ainda está tremendo. — ouço Natasha dizer por trás da porta. — Ela precisa de remédios, agora. Os daqui estão completamente esgotados.

— Quer que vamos buscar? — pergunta Skyler.

— Preciso. — diz Natasha.

— Eu vou. — diz Ben. — Preciso ajudar de algum jeito.

Me afasto da porta enquanto os dois saem. — Precisamos de três pessoas para buscarem as coisas que Clementine precisa. Eu e Ben vamos, precisamos de mais uma.

— Eu vou — levanto a mão.

— Vamos. — diz Ben.

+++

— Precisamos de tudo o que Natasha anotou aqui.

— Certo.

— Depois nos encontramos aqui de novo. — diz Skyler.

Passo no meio e pego com dificuldade o pedaço da lista que me passaram. Enfio tudo em uma mochila pequena e volto ao lugar onde eu, Sky e Ben combinamos de nos encontrarmos.

— Pegaram tudo? — pergunta Skyler — Ótimo, porque essa cidade não fica muito perto de Briarcliff, como notaram, então corram!

+++

— Pegaram tudo o que ela precisava? — pergunta Jesse. Jogamos as mochilas a ela e ela as leva a Natasha.

— Você acha que ela vai sobreviver? — pergunta Ben à Skyler.

— Ela vai, acredite, experiência própria — diz Skyler — Vai ficar tudo bem, agora é só torcer pra que o tédio volte a dominar, não é?

Ela quase sai andando quando Ben a para, a segurando pelo ombro. — Obrigado.

Ela balança a cabeça e sai andando.

— Agora é torcer pra que o tédio volte — comento — E que tenhamos sorte uma vez na vida.

— Nós e a sorte somos dois ímãs negativos. — diz Tris.