Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 22
Viva


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo. Coração acelerado, posso ver a linha de chegada. Obrigada a todos que chegaram aqui comigo.
Boa leitura o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/546126/chapter/22

Os joelhos dela cedem. O corpo dela vai de encontro ao chão, contudo Krad a segura firme com a mão direita, sem mover o outro braço ainda atravessado. Os olhos de pesadelo o fitam vidrados. Parece uma boneca quebrada. Sangue escorre dos lábios escuros somando-se as rachaduras. O buraco abaixo das costelas jorra sangue para pintar de vermelho o corpete costurado em brilhantes e as mangas arregaçadas. A respiração acelerada e entrecortada tenta em vão aumentar o pulso sanguíneo. O nariz do vampiro coça e as presas surgem, ávidas pela presa. Apesar da sede, aguarda com uma paciência hercúlea as íris de Rose lentamente retomar a cor violeta das flores de lavanda. Lindas como ele a conhecia. Em seguida, como se enxugada por uma esponja, a tintura de seus cabelos escorre e volta ao tom natural, e sua pele retorna pálida.

— Krad...

— Olá — mantém a voz tão baixa quanto a dela.

— Dói... — balbucia. Com mãos trêmulas tateia o braço dentro dela com uma expressão de dúvida dolorosa.

— Foi necessário — desculpa-se com o olhar contemplativo. O rosto sofrido dela era mais cortante que qualquer caco de vidro que seu corpo engolia enquanto regenerava-se naquele exato momento. Com tanto poder usado descuidadamente, imagina que ela esteja desgastada física e mentalmente. A dor de cabeça dela deve ser explosiva, e o corpo é como a de uma boneca de pano. No entanto era preciso um pouco mais de esforço por parte dela, para que enfim, tudo acabe. — Sei que se sente fraca, mas preciso que use um pouco mais seu poder — pede com voz macia. — Não posso lhe dar meu sangue para regenerar com o meu braço dentro de você. Por isso preciso que seja rápida em reconstruir-se assim que eu sair, entendeu? De mais vital, atingi apenas o fígado e o intestino, então pense neles primeiro.

Um grunhido assustado escapa dos lábios de Fay.

Krad apoia o corpo dela em seu joelho, cauteloso, igual amparar um passarinho de asa quebrada. Com a mão livre, alisa os cabelos da amada.

— Você consegue, Fay.

O rosto pálido dele fica ainda mais branco ao ver lágrimas brotarem nas bochechas da garota.

— Eu não quero... — a voz sai embargada.

— Por que?

— Ryan... Eu matei ele, de verdade. — contém os soluços. Ela espreme os lábios com extrema angústia.

A simples menção ao rival lampeja ciúmes no estômago do rapaz.

— Os mortos estão gritando... — ela continua entre lárgimas impossíveis de segurar. — Na minha cabeça... Eu matei muitos... E você me odeia.

Finca as unhas nas mangas arregaçadas de Krad. E ele sente toda a dor, angustia e arrependimento inundá-lo como se os sentimentos dela fossem os dele. Havia uma escuridão abraçando-a tão forte que ele ressentia por seu toque não a proteger devidamente. Ela estava desejando a morte que o vampiro desejou todos os dias de sua eternidade. Sua rosa, que sempre estava florida com a esperança jovial, estava disposta a deixar o mundo que dizia amar. A vivacidade de Fay não voltara. E ele precisava trazer isso de volta, assim como Fay o fazia querer viver mais e mais dias ao lado dela, da humana que ele ama. Beija-a com força, ternura e tudo que o vampiro de coração gélido tinha para aquecer a chama da vida da mutante: o Amor dele por ela.

Quando se desprende, Fay está piscando sem parar, espantando as lágrimas para tentar lê-lo.

— Eu não te odeio. — Mordisca a ponta da orelha dela pedindo para que escute bem. — Você é a coisa mais importante. É o meu tesouro. A minha rosa. A minha vida. — a veracidade é perceptível com um só olhar. O amor que sente por ela é capaz de aquecer a fria vida do vampiro. Mostra por fim seu sorriso de demônio sedutor — E eu não lhe dou permissão para morrer.

— Krad — o nome soa melódico vindo da alma da mutante. Entre as feições doídas há finalmente uma felicidade por ser amada pelo seu ser da noite.

— E ele, o humano, não está morto — informa relutante. — Eu o mordi antes de usá-lo como sacrifício. Tem sangue de vampiro correndo nele.

— Sacrifício...? — indaga.

— Sim, era óbvio que Rose acabaria o matando. E... — as palavras seguintes são difíceis de admitir. Ajeita uma mexa do cabelo dela atrás da orelha, e o perfume de rosas lhe dá coragem. — Imaginei que você faria essa cara se algo acontecesse a ele. Sei que ele é um... amigo importante. Será que agora posso tirar o a droga do meu braço de você? Estou começando a achar que você está gostando de ter ele dentro de você.

—Não gosto, dói muito, muito.

—Então se prepare.

Com o assentir dela, Krad vê seu braço sair ensangüentado do corpo da menina. O buraco abaixo das costelas começa a reconstruir em uma velocidade sobre-humana. Partícula por partícula, célula por célula, a telecinese recoloca as partes perdidas e força a união entre elas. Um choque do poder dela é o suficiente para acelerar a produção de novas células, e reconstituir tecidos, músculos e órgãos. Infelizmente, acelera também o fluxo sanguíneo, e o sangue escapa pelos seus poros, boca, orelha e nariz; o coração acelera os batimentos, mas não é o suficiente e começa a falhar. De súbito, o vampiro morde o pescoço de Fay, para manter o fluxo de sangue. Ela reage com dor e bater dos dentes. Está fria e fraca. Entretanto, por ele, por amor dele, e pelo para sempre que desejou ao lado dele, ela insiste. Suga de si até a última gota de força, enquanto Krad lhe empurra o poder de vampiro. A pele dela torna-se branca como papel, presas aparecem junto com o grito de lástima. A reconstrução acelera. O pulso dela lateja, a cabeça parece explodir, o coração bombeia e seu corpo treme como uma possessão. Foca no beijo para não desmaiar. Em todos os beijos. Todos os momentos ao lado de Krad. Ao lado do homem que ela tentou odiar. Porém, descobriu que isso é impossível quando já se ama de corpo e alma.

Quando tudo nela desacelera, o vampiro teme pelo pior. Se apega à respiração dela que persiste e o pulso que seus instintos vampirescos reconhecem.

— Fay? — chama-a.

Ela mantém o corpo restaurado encolhido, tentando expulsar toda dor. Concentra-se apenas em levantar suas pálpebras pesadas para encontrar o olhar do seu vampiro. Ao vê-lo, sorri fracamente,

Eu te amo, Krad.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vejo vocês na linha de chegada (>.0) Aproveite para os pré-comentários finais *u*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando Amanhecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.