Os portões do colégio estavam reforçados com força policial para impedir depredações e ataques nesse dia. Vários estudantes que foram aprovados chegavam, procuravam informações e se espantavam com o tamanho do colégio. Já no portão, haviam pessoas se estranhando.

??? P.O.V

– Seus olhos são lindos, menino. Você é o primeiro Luniano que eu vejo... - A mulher do guichê falou para mim, encarando meus olhos, eu evitava qualquer contato visual com ela. - See Wholeing, 13 anos... Pronto, aqui estão seus documentos, o livro com as regras do colégio e uma cópia das chaves do seu quarto. Quando entrar, é só ir no quadro de mensagens e ver onde é.

– Valeu. - Me levantei e saí o mais rápido possível.

Fiz questão de entrar no campus com olhos abertos e cabeça erguida, impondo a minha presença para os Terráqueos. Quase todos os Lunianos estavam ou de olhos fechados ou com a cabeça baixa; os que não, se distraiam conversando com outros Lunianos. É assim que eu gosto de ver, não podemos se misturar com essa escória.

Nós somos reconhecidos pelo brilho de nossos olhos.

Infelizmente, assim como a maioria, eu andava em passos duros e arrastados por causa da gravidade da terra. Não demorou muito para alguns Terráqueos começarem a andar de uma maneira cômica, nos imitando.

– Que patético esses lunáticos! Voltem para a lua logo! - Os autores da palhaçada e vários outros terráqueos caíram na risada.

– Dá vontade de voltar mesmo para a lua! Por que para aguentar esse cheiro de animal dos terráqueos é difícil, hein?! - Respondi prontamente, tapando meu nariz com a minha camisa e fazendo a expressão de quem acabou de sentir um cheiro de muito ruim. Vários outros Lunianos seguiram o meu gesto, outros ficaram na deles.

– Ah tá, o pirralho invade o nosso planeta e ainda se acha com direito de dar uma de espertinho? - Os terráqueos, mais velhos que eu, me encararam.

– Vamos ver quem prende a respiração por mais tempo? Se eu ganhar, vocês imitam um porco, que tal? Quer dizer, vou precisar de outra penalidade, já que vocês Terráqueos já são porcos desde que nasceram...

Parece que o feitiço virou contra o feiticeiro. Eles iam me bater, mas os outros Lunianos começaram a jogar coisas nos porcos e me saltaram. Fui com as mãos na cabeça e sorrindo na direção do quadro para ver onde era o meu quarto.

Já ganhei o dia por essa.

??? POV

Acredite, mesmo eu achando o menino um pouco grosseiro com os terráqueos, eu ri com aquela réplica. Parece que esse colégio vai ser um agitado, e divertido.

Enquanto saía do posto de saúde improvisado depois de tomar as vacinas que precisava, ouvi alguns gritos vindos do ginásio da natação. Por mera curiosidade, resolvi conferir. A cena era violenta e me assustou; um Luaniano enforcando um terráqueo com um mata-leão e também enforcando outro com os pés.

Quero deixar bem claro que apesar de eu ser uma Luniana, eu não tenho nada contra os terráqueos, diferente da maioria. Para mim somos todos humanos e foda-se. Apesar do garoto batendo parecer ser o mais novo, pulei em cima dele e o arremessei na piscina, enquantos os humanos tossiam.

– Ficou louco, moleque?! - Perguntei assustada, o garoto não subiu, mas não me preocupei; ele é um Luaniano, pode ficar até dias debaixo d' água se quisesse. - O que foi que aconteceu??

– E-Ele... Ele... - Ainda estavam recuperando do fôlego. - Esse menino atacou a gente do... do nada... quando estávamos se inscrevendo para a natação... A gente tentou lutar mas não deu, a gravidade pesada fazia ele ficar feito pedra...

– Seus...! - O garoto finalmente subira, e provavelmente ouviu a conversa. Chutei a cabeça dele e o fiz afundar de novo.

– Você fala como se tivesse algum direito! - Reclamei novamente. - Enfim, acho prudente vocês dois irem para a enfermaria, eu deixo o pivete preso aqui para vocês se vingarem. O nosso ponto mais fraco é a cabeça, então ele deve estar vulnerável agora.

– Já estamos melhor. - Um deles falou, depois de respirar fundo. - Pode deixar a gente aqui... Qual é o seu nome, moça?

– Ayesha Zabadar. - Dei as costas, me retirando, mas me lembrei de falar algo importante. - Ah, e não nos julguem pelos nossos olhos. Como vocês viram, nem todos os Luanianos são preconceituosos.

– Sim! Obrigado! - Os dois se despediram de mim, e eu me retirei satisfeita.

3º Pessoa

– Hoje, no mesmo dia da abertura do colégio interno destinado a Terráqueos e Luanianos, já foi registrada uma tentativa de assassinato por parte de um Luaniano de doze anos, que tentou estrangular dois terráqueos de treze e quatorze respectivamente. Por enquanto, ele está de volta a lua, e está banido da terra por tempo indeterminado. - Um dos repórteres do jornal anunciou.

– Em sua defesa, o Luaniano alegou que os dois haviam tentado prendê-lo no fundo da piscina. A justiça determinou de que, mesmo que se o que o Luaniano falasse fosse verdade, a ação foi desproporcional, uma vez que diferente dos jovens que tentou estrangular, ele não morreria.

– Essa ação serviu para alimentar mais aqueles que estão lutando pelo fechamento do colégio. A autoridade da Lua retirou alguns alunos ligados aquele que foi banido, temendo represálias, e se pronunciou a respeito.

"A culpa não foi do nosso garoto! Seria irracional para qualquer um de nós atacar o outro do nada apenas por preconceito, além deste banimento sumário que ele recebeu por um incidente que nem investigado a fundo foi! Vocês terráqueos ficam pintando que não tem preconceito, então por que um banimento do nosso menino só com base no depoimento de dois terráqueos? Medida de proteção?
Eu peço para os Luanianos que estão nesse colégio fiquem! Não aceitem nenhum desaforo dessa raça que se acha maior só porque se diz mais avançada! Se precisarem, usem da violência e humilhem eles devolta!
Somos o berço da civilização, temos consciência do que é certo e do que é errado! Mas não vamos levar desaforos e não seremos atingidos por ataques da mídia terráquea que insiste em apenas noticiar preconceito cometido por nós! E o preconceito dos terráqueos contra nós, Luanianos? Vão dizer que não existe?!
Somos Luanianos com orgulho!"

Isso já aconteceu no primeiro dia... Nós não engolimos que aquele cara tenha feito aquilo do nada. Mas já temos certeza de uma coisa.

A convivência será difícil.