O ambiente estava pesado em um dos dormitórios, eles eram mistos em ambos os sentidos; se misturavam homens com mulheres e Terráqueos com Lunianos. As duas raças estavam separadas, cada uma em um lado da sala, poderia se estourar uma briga a qualquer momento por conta da notícia que fora transmitido.

– Com licença... - Uma Terráquea, aparentando ter dezesseis anos, chegou no lado da sala onde os Lunianos estavam reunídos com um saco de comida. - É que vocês ainda não comeram nada desde que chegaram, por isto achei melhor...

Antes da garota terminar de falar, um dos Luanianos deu um tapão na sacola e a derrubou no chão, fazendo com que todo o seu conteúdo também se espatifasse; era See que havia feito aquilo. A maioria dos Luanianos estavam indiferentes, e a maioria dos Terráqueos estavam surpresos e com raiva.

– Era só o que faltava! Acha que precisamos da ajuda de uma Terráquea?? Se manca, vai! Vocês acabaram de armar para cima de um colega nosso e ainda tentam dar uma de bonzinhos para cima de nós?! - See falou rudemente, e depois se levantou em cima do sofá para conseguir encarar a garota nos olhos. - O que tinha nessa comida, hein? É impossível você ter feito isso só para ajudar! Você é uma terráquea!

– Já chega, See! - Uma Luniana sussurou para ele e o puxou para baixo. - Eles são humanos também!

– Quem o Lunático não evoluído acha que é para falar assim de nós?! - A Terráquea que havia oferecido comida recuou e outros três Terráqueos foram até ele. - É mesmo, você é o moleque de mais cedo! Acho melhor ensinarmos boas lições para você!

– Você pegou pesado demais, See! Eles também são humanos! - A mesma Luaniana continuou a falar.

– FODA-SE!! - See perdeu o controle e gritou. - Foda-se você Leen, foda-se esses bando de animais e foda-se qualquer um que tente defender eles!! Vocês se acham os maiorias só porque são os "donos da terra"! É bem feito que o nosso colega tenha sentado a mão em vocês! - Ele respirou fundo, vermelho de raiva. - Vou para a fonte me acalmar um pouco... Não se misturem com esses animais...

A fonte era uma estrutura feita para conseguir manter os Lunianos na terra. É um fosso de cerca de 10km de profundidade preenchido com água pura, mas que os humanos não poderiam consumir. Por conta da baixa pressão nas partes mais profundas, os Luanianos usavam a estrutura para se recuperarem.

Já estava escuro, eram cerca de dez horas da noite. See passou quase uma hora na fonte e resolveu voltar, pensando na possibilidade dos terráqueos acabarem por fechar a fonte e ele ficar preso lá dentro; felizmente isso não ocorreu. Enquanto See se enxugava, ouviu uma voz familiar.

– Não está com fome? - Era a mesma garota terráquea de mais cedo. - See Wholeing, não é? Seu nome é bem bonito, seus olhos também.

– O que é que tu quer, Terráquea? Pelo amor do espaço, me deixe em paz! - See reclamou.

– Sabe, nem todos os Terráqueos são os demônios que você gosta de pensar que são. Existem aqueles que não tem preconceito, como eu. - A garota começou. - Por que você nos odeia?

– Que Terráquea intrometida! Faz um favor para mim e volta para o chiqueiro! - Ele não queria nem tentar conversar.

– Ei, ei, vocês dois! - Outro Luniano chegou, sorrateiro. - Voltem logo para o dormitório que é quase hora do toque de recolher, e os Terráqueos já estão querendo trancar nós três do lado de fora.

– Beleza, Khal. - See respondeu. - Ei, animal! Está esperando o quê?

– ... - A terráquea não respondeu.

– Me poupe, eu posso odiar vocês, mas também não sou filho da puta a ponto de deixar você ficar trancada do lado de fora.

...

??? POV

Ninguém queria ir dormir cedo naquele primeiro dia, até porque as aulas só começariam dentro de uma semana. A sala voltou a ser dividida em. Lunianos e Terráqueos mas, no centro que deveria ser a "divisória" alguns poucos terráqueos e dois Lunianos conversavam entre si pacíficamente. Incluindo eu.

– Pode parecer engraçado para vocês, mas aqui é só o nosso coração! - Um Luniano chamado Khal bateu no peito e falou para nós.

– Você não tem pulmão? - Perguntei.

– Não, porque é inútil para nós. - A garota Leen respondeu, com uma pequena risada. - Ei, você pretende fazer alguma atividade extracurricular?

– Música, talvez. E astronomia também. - Era legal puxar conversa com dois Lunianos. - E vocês.

– Sei não, mas eu quero fazer muitas! Desde que eu não faça muito esforço! - Leen se espreguiçou.

– Então vamos descartar umas três! - Dei uma pequena risada. - E você, Khal?

– Sei lá... Acho que boxe, para poder me defender dos Terráqueos mal-intencionados.

– Ih, acho melhor não. Talvez eles nem ensinem e os Terráqueos não peguem leve com você por ser um Luniano. - Leen aconselhou o amigo. - E também, não acham engraçado? Todos aqui só estão deixando para conhecer o parceiro de quarto na última hora, já que estão misturados!

– Espero que eu não pegue algum radical... - Falei e os outros dois concordaram comigo. - Ah é. Eu quero perguntar uma coisa para vocês; por que na Lua eles pintam o preconceito em nós? Aqui é porque dizem que vocês não são evoluídos e se recusam a evoluir, principalmente; mas tem vários outros argumentos. E no planeta de vocês?

– Bem, dá para dizer que também é culpa dos satélites e telescópios que vocês mandam... Quando aterrissa na lua destrói nossas plantações, e quando passa perto as ondas eletromagnéticas estragam os alimentos. - Khal pensou um pouco, fiquei com uma dúvida.

– Mas os chefes da Lua e daqui não assinaram um acordo que estabelecia uma distância e proíbia o pouso na Lua?

– Vocês não cumprem esse acordo, sem generalizar. E também tem o fato de que vocês nos abandonaram na Lua, seus antepassados resolveram explorar uma nova terra sem saber das consequências, mas essa é história dos mais conservadores. Mas o principal motivo é porque...

– Ei! Khal e Leen! Suas coisas chegaram! - See chamou os dois, olhando feio para mim, suspirei decepcionada.

– É mesmo, elas ficaram lá na Lua... Até amanhã... ... Qual é o seu nome mesmo? - Leen perguntou um pouco envergonhada.

– Laryssa Mercer. - Respondi fazendo um gesto de que ela não precisava se envergonhar. - Mas podem me chamar pelo nome.

Nisso, os dois Lunianos se separaram e eu voltei para os Terráqueos.