Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 9
Encontro


Notas iniciais do capítulo

"Rael tem uma força maior, que vem de algum lugar que sequer imagino e, no entanto, quero muito descobrir."

*Revisado em 01/04/2016.



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Perfeito. Perfeito. Mas que diabos que dizer perfeito? O céu azul e sem nuvens é perfeito num lugar que chove todos os dias. Já para um local seco, um dia perfeito seria o de nuvens carregadas anunciando chuva. Perfeito. Que tipo de palavra é essa? É tão… relativa. Tão mentiros Tudo o que é perfeito, mais cedo ou mais tarde, acaba. Então eu proponho a exclusão dessa palavra do vocabulário!

 

— Ele só pode estar de brincadeira! – repito, pela sexta vez, enquanto dou voltas pelo quarto de hospital.

— Dá para você parar? Está me deixando tonto! – Rael reclama.

— Você nem costuma ficar tonto! Deixe de frescura!

— Provavelmente, peguei de você. A frescura, quero dizer. Deve ser contagioso – retruca.

Paro abruptamente e olho para ele. Rael? Sendo desaforado? Talvez isso fosse contagioso!

— Tá, vamos logo cair fora daqui! – exclamo, o que o faz levantar uma sobrancelha. Ai, Pai... – Ir embora.

Balanço a cabeça ao cruzar o portal.


 

Simplesmente desabo na cama. Rael foi ao banheiro tomar uma ducha e eu me deixo relaxar sobre os meus próprios lençóis. Fico ouvindo o som do chuveiro ligado por uns bons dez minutos, até que minha barriga ronca. Levanto-me; comida de hospital é terrível!

Hospital. Rum. Prefiro nem pensar nisso agora.

Dirijo-me à cozinha e roubo qualquer guloseima na geladeira. Parece que o princeso finalmente saiu do banho, já que não ouço mais nenhum ruído. Então decido que é a minha vez de tirar esse cheiro horrível de éter do corpo. Pego minha toalha e rumo ao banheiro.


 

Já reparou como o chuveiro nos torna filosóficos? Ou mais responsáveis? Quero dizer, quando você está ali, se ensaboando ou deixando apenas a água bater no corpo, mil e uma coisas vêm à mente. Pode ser uma lista de afazeres que você se predispõe a fazer naquele dia – e que, geralmente, é esquecida assim que se sai do box – ou uma reflexão sobre a vida, ou qualquer aspecto dela.

Normalmente, eu penso em Netinho, o professor que estou tentando “salvar”, e seu enigma. Por que? Como? Onde? Quando? Mas hoje…

Hoje, eu penso em Rael.

Relembro de quando ele assomou sobre mim, suas asas estendidas… protegendo-me. Lembro como me senti segura naquele momento. Lembro sua força, que jamais imaginei que ele tinha. É claro, ele é meio bombadinho, mas aquela força… Não, não veio de seus músculos. Rael tem uma força maior, que vem de algum lugar que sequer imagino e, no entanto, quero muito descobrir.

E me lembro dos seus braços me amparando quando eu me entregava à escuridão. Braços fortes, seguros e, ao mesmo tempo, carinhosos, cuidadosos.

Mas o que é isso?! Acorde, Samantha! Que horas são?

Batidas fortes na porta indicam que é hora de deixar o chuveiro e meus pensamentos.


 

— Pensei que não fosse sair mais daí! – Rael está na frente da porta, de braços cruzados.

Detalhe: eu ainda estou de toalha. E isso me faz ficar constrangida.

— Dá para você me dar licença? – peço, nervosa. Pelo menos o nervosismo pode disfarçar meu constrangimento.

— Eu quero falar com você.

Olho para ele, exasperada. Será que uma pessoa pode ser tão tapada assim?

— Será que isso não pode ser depois que eu vestir uma roupa?!

Seu olhar rapidamente se desvia para meu corpo, examinando-o de cima a baixo. Instintivamente, encolho-me. O que foi isso que encontrei na expressão dele?! Vergonha, deslumbramento…? Desejo?

E por que meu coração se agitou com essa possibilidade?

— Saia da minha frente, Rael!

— Hãn…? Eu…

Empurro-o e disparo para o meu quarto. Calma, coração, calma.


 

— Sam? - A voz baixa de Rael atravessa a porta do meu quarto. Imagino-o parado ali do outro lado, sem saber onde colocar as mãos, a postura cautelosa. Na segurança do meu quarto, sorrio. Depois me dou um tapa mentalmente.

— Oi – respondo, forçando minha voz a sair normal. – Pode entrar.

Vejo sua silhueta morena parada no portal. Contenho um arquejo. Um anjo lindo desse jeito deveria ser pecado. O Pai não deveria fazer guardas assim, se quer saber.

— Pode se aproximar – digo. - Eu não vou morder.

— Hum – Ele parece desconfortável. – Não, é rápido.

— O que houve?

— Eu queria saber se você aceita sair comigo esta noite. Quero dizer, nem é sair de verdade, não se preocupe. É só… Preparar alguma coisa e sentar no jardim para conversarmos, vermos a noite e…

Observo-o. Rael, aqui na Terra, seria aquele tipo de cara que tem todas e faz o que quer com elas. E essa era a imagem que ele passava mesmo. Mas eu enxergo mais. Eu enxergo sua fragilidade, como seus sentimentos são conflitantes e intensos. Pensar nisso me faz sorrir, e percebo que isso o deixa mais relaxado.

— Claro, pode ser – falo.

Vejo-o soltar o ar baixinho, lentamente.

— Tá, então o que você quer? – pergunta.

— Que tal pipoca Yokitos? Mas eu quero da amarela!

Ele ri.

— Certo. Então eu vou lá comprar.

— Espera! Eu vou com você!


 

Já é noite. Eu e Rael nos ocupamos pouco desde o convite dele. Pensando melhor agora, até que isso pode ser divertido. Um piquenique. Quando a lua aparece, tomamos nossos lugares.

— Hmm… Essa fresca é tão gostosa – murmuro. – Sente esse cheiro. De grama molhada pelo orvalho. É muito bom.

O dia hoje foi estressante. Nada como uma noite tranquila e de temperaturas amenas para relaxar.

Rael e eu conversamos sobre bobagens. Ele me pergunta sobre minhas aulas, e eu respondo. Então pergunto sobre as meninas, e ele ri e começa a falar delas, causando uma pontada engraçada no meu peito. Decido mudar de assunto:

— E meu sangue? – pergunto, abruptamente. Ele para de sorri e pede:

— Hoje não.

— Por que não?

— Só quero relaxar, Sam. Esses dias no hospital foram horríveis. Ficar vigiando você, imaginando mil e uma coisas…

— Imaginando o quê?

— Nada, Sam, nada.

Ficamos ambos contemplando a lua. Depois de um tempo, consigo relaxar no meu lugar. Penso na nossa Casa, e como está tudo por lá. A essa hora, provavelmente, todos estão cantando e rindo. Sorrio.

— Isso é tão lindo…! – suspiro.

— É mesmo.

Viro-me para comentar algo e me surpreendo ao perceber que ele está me encarando. Fico nervosa e riu.

— O que foi?

Seus olhos não deixam os meus nem por um segundo. Vejo-o tomar fôlego.

— Eu gosto de você, Sam. Eu não sei o que é, mas você me chamou atenção. É bonita, inteligente. Eu gostaria que…

— Não.

— Por que não?

— Não podemos. Não quero.

— Você me chamou muito a atenção, desde a primeira vez em que a vi. Não sei. Eu não queria ficar com você antes, eu estava cumprindo… ordens. Mas agora é diferente.

— Não, Rael, eu não quero.

Para me contradizer, meu coração está parecendo uma escola de samba. Droga! Ele não pode insistir mais. Se ele insistir, toda a minha determinação vai para o ralo!

— Tudo bem.

Ficamos os dois em silêncio, porém não há mais clima para continuar aqui. Então levanto-me e digo:

— Vamos?

Ele me olha e apenas se levanta também. Deixamos tudo no jardim e eu sigo na frente. Estou inquieta demais, os pensamentos embaralhados. Estamos quase chegando à porta, quando ele segura meu braço, puxando-me para si. E eu vou.

— Você tem certeza disso? – pergunta. Meu Pai, que voz sedutora é essa?

— Será só desta vez? – pergunto de volta, meio sem ar.

— Tem certeza disso?

— Só desta vez… Eu...

E ele sela minha boca com a sua.


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Notas finais do capítulo

Heey! Eu sei, demorei de postar, mas minha vida está desmoronando. Pensei em desistir da história, parar simplesmente de escrever, porém eu percebi que as histórias salvam as minhas memórias. É aqui onde coloco o que sinto, o que vivi ou o que estou vivendo. Então, decidi continuar.
Agradeço as pessoas que estão acompanhando e a quem comenta. Esta história é por vocês. Perdão pelo capítulo parado, mas espero que tenham gostado ao menos do climinha de romance. Se fui rápida demais, é só dizer!
Beijoos ♥



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