Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 3
Amor


Notas iniciais do capítulo

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo suporta. O amor nunca perece.”

*Revisado em 04/03/2016.



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Dois meses depois.

Primeiro dia de aula. Já se passaram dois meses desde o dia em que Rael decidiu ser meu guarda-costas. A partir dali, não tive mais paz! Quero dizer, aquilo durou uns três dias. Durante aquelas 72 horas em que eu mal podia ir ao banheiro sem que ele me seguisse, mandei-o ir ver se não tinha nenhuma tarefa em Casa para fazer. Isso para não mandá-lo para o raio que o parta. Ele foi. Mas antes me fez prometer que eu não faria nada até as aulas começassem.

E promessas de anjos… Bem, digamos que não se pode cruzar os dedos.

— Está pronta? – Rael pergunta, sobressaltando-me.

— Eu estaria, se você não me interrompesse! – reclamo. Por causa dele, ou melhor, do susto que ele me deu, fiz um traço gigantesco no rosto com o lápis de olho.

— Para que você está usando esse treco? – indaga, olhando estranho para minha maquiagem.

— Este treco se chama lápis de olho. E serve para destacar os olhos das mulheres e deixá-las mais bonitas.

— Anjos não usam lápis de olho. – Cruza os braços.

— Anjos não têm anjos da guarda, e você está aqui. Você não pode falar muito de regras. – Passo meu gloss fraquinho. – Além disso, aqui eu não sou um anjo. Eu sou uma caloura. Lembra-se?

Levanto e deixo-o falando sozinho.

Olho pela janela do ônibus quando estamos chegando à faculdade. Observo os sorrisos, as expressões ansiosas, a expectativa no ar. Para dezenas de alunos que estão aqui, é tudo novo. Uma nova etapa, uma nova vida. É agora, está começando, é o que passa pela mente deles. Está começando para a maioria deles.

E está terminando para uma pessoa especial.

— Olhe, você precisa parar com isso! – reclamo. Rael me segue para todos os lugares possíveis e impossíveis. – Vá circular, se enturmar, conhecer garotas.

Ele faz uma careta. Paro diante das listas com os nomes dos alunos, as turmas e as salas, procurando a letra S.

— Não quero conhecer garotas. Sabe que nós…

— Tá, tá, anjos não namoram e se apaixonam por humanos, blábláblá… Mas pode fazer amizades. Não custa nada. E é super saudável, te garanto.

— Amizades, sei – resmunga. Para um momento e completa: – Você tinha muitas amizades?

Reviro os olhos.

— Tinha não, tenho. E você já me ouviu falando milhares de vezes com elas.

— Vi você xingando elas, isso sim!

— Entenda uma coisa, anjinho: eu posso xingar minhas amigas. Outras pessoas, não. Entendeu? Eu chamo de vaca, bitch, louca, do que eu quiser. Outra pessoa, não.

— E isso é normal?

Balanço a cabeça.

— Você realmente não sabe viver aqui, não é? Não sabe nada sobre o…

— Amor? – completa. - Sei, sim! O Pai é Amor. Conheço o Amor do Pai e é o mais sincero e o único existente.

Suspiro e viro-me para ele.

— Escute, Rael. O amor do Pai é o maior e o mais sincero. O Pai é Amor, e toda forma de Amor vêm dele. “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo suporta. O amor nunca perece.” É o que diz em Coríntios 1, capítulo 13.

— Sim, tudo isto eu sei de cor.

— Não, você não sabe. O Pai abençoa todo tipo de amor, Rael. Eu aprendi isso aqui, entre os humanos. Vi o amor sincero em uma amizade. Vi e senti na pele tudo isso que está Escrito. Vi esse amor em famílias e até em estranhos. Este amor, Rael, vêm do Pai. Nasce nos humanos por meio Dele. E abençoados são os amam desse jeito.

— Não se pode confiar nos humanos, Samantha. Eles erram, pecam, fazem escolhas erradas.

— Como você disse, eles são apenas humanos. Não são perfeitos, assim como nós, anjos, não somos. Somente o Pai é perfeito. E, no final, Rael, eles pedem perdão, arrependem-se.

— E do que o arrependimento serve?

— Eu não sei. Mas eu ainda não desisti da humanidade.

Começo a andar e ele me segue.

— Todos os dias, vemos sangue derramado, pais maltratando filhos e filhos matando pais. Pessoas se odiando, se ferindo. Como pode ainda acreditar nestes seres?

Paro em frente a um jardim e observo. Seria lindo, se a grama não estivesse morta, a árvore sem folhas, o chão sujo. Seria lindo se cada um fizesse sua parte.

— Olhe este jardim, Rael. Está todo queimado, sujo e sem vida. – Faço uma pausa. – Agora olhe ali, bem ali adiante, perto daquele banco. Está nascendo uma flor. Ela não desistiu. Ela sabe que está nascendo em um lugar ruim, que talvez se fira e que venha a morrer. Mas, mesmo assim, ela tem esperança. Ela quer fazer a diferença. – Viro-me. – Acredito na humanidade porque ainda há pessoas boas aqui. Possa existir mil ruins… Mas, se existir um bom, ainda haverá esperança.

Rael só me olha, incapaz de falar qualquer coisa.

Sigo para minha aula, de cálculo. Eu não sou muito boa nessa disciplina. Aliás, eu não sou muito boa em matemática e física; escolhi este curso porque preciso completar minha missão. Ok, não é bem uma missão, porque não foi o Pai que me deu, mas mesmo assim.

— Bom dia – cumprimento ao professor quando passo correndo para a carteira. Sento-me e observo o homenzinho que está na minha frente, as pernas absurdamente abertas, as mãos atrás do corpo, a carinha redonda de bebê olhando-nos atentamente.

— JOVENS! – ele grita, do nada. Dou um pulo na cadeira. Eu me assusto muito fácil, eu sei. – BOM DIA, jovens!

Eu rio. Ele é exatamente como me lembro.

— Meu nome é Romualdo Neto. Titio Netinho. Anotem aí – ele se vira e escreve na lousa, falando: – disciplina do titio Netinho. – Então se vira pra gente. – O QUE ESTÃO ESPERANDO, JOVENS? ANOTEM! Como vocês sabem, e eu espero que saibam mesmo, senão chuto-os porta a fora, sou professor de cálculo avançado.

Pegamos os cadernos rápido, os olhos de todos nós não querendo desgrudar deste espetáculo que é este professor. Eu, principalmente.

— A minha CLASSE... tem regras! NADA de conversas paralelas! NADA de sair para o BANHEIRO! Faça suas necessidades antes ou faça NAS CALÇAS! – Ele para em pé, as pernas exageradamente abertas. – E na minha classe, TODOS devem ter um parceiro. JOVENS! ACORDEM JOVENS! VOCÊS NÃO TOMARAM CAFÉ, NÃO, FOI?!

Neto olha para nós, a boca meio aberta, a cabeça balançando num movimento engraçado de questionamento. Até que seu olhar cai sobre um cara que está sentado a algumas cadeiras de distância de mim.

— Você aí, jovem! Qual o seu nome? - pergunta.

— Klaus, senhor - o garoto responde.

— Hmmm, senhor... Gostei! – diz e aponta para outra menina. – Muito bem, Klaus. Sente-se ali, ao lado daquela jovem.

Fico encarando Neto, bebendo cada segundo daqueles momentos. A aula vai passando e, no final, eu sou a única que fica na sala, as lágrimas escorrendo pelo rosto e o coração apertado.


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Notas finais do capítulo

Heeeey, demorei para postar hoje? Desculpem! Tive momentos bastante ruins hoje e quase não conseguia escrever. Mas promessa é dívida, e aqui está um capítulo. Obrigada a Biia Potter Duchannes e a Nath por comentarem. Espero que este capítulo corresponda às expectativas de vocês. Mas, se eu decepcioná-las, prometo melhorar no próximo! Beijoos



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