Melody Pond nunca viu o quanto ela estava perdida até conhecer o Doutor.

Antes disso, sua vida só tinha um propósito: Matar o tal homem. E ela se sentia bem com isso, jurava que sentia. Fora treinada em sua vida inteira para se sentir assim. Por um tempo, ainda uma criança, lutou contra isso, tentou fugir de tal destino. Mas, afinal, ela era só uma garotinha, e garotinhas não demoravam muito para quebrar.

Então, ela se deixou levar. Ela iria matar ele. Ela vivia para matá-lo. E logo a submissão forçada se tornou desejo, raiva, tudo instigado por eles. No final, se tornou uma obsessão, um desejo interno que devia ser saciado.

No entanto, sempre havia aquele vazio dentro do peito. Como se ela estivesse oca. Incompleta. Melody iria olhar para outras meninas, ainda criança, e se perguntar como seria crescer com seu pai e sua mãe, brincar de boneca e ter piqueniques no parque. Por alguns segundos até se ousaria imaginar em um desses cenários, mas logo sua mente se desviaria daquilo. Machucava muito, lamentar por algo que ela nunca poderia ter.

E então, ela se encontrou com o Doutor, vivendo o momento pelo qual havia sido treinada em toda a sua vida. E Melody sabia que teria de matá-lo, claro que sabia. Mas ela se sentia leve, seu peito quente e, por mais que tivesse de completar sua missão, remediou aquilo por algum tempo. Flertou, levou um tiro. Se regenerou. Ela sabia que era a hora, mas… não ainda. Ela não podia ter mais alguns segundos daquele sentimento? Não merecia aquilo?

Mas teve de fazê-lo, empurrando a tristeza para o lado num movimento praticado. E ali estava ele, a beira da morte, murmurando somente um nome: River. Por um momento, Melody se sentiu melancólica, talvez um pouco invejosa. Queria ser capaz de ser o alguém em quem ele pensaria agora, em seu último suspiro.

E então, medo nos olhos, ela pediu para que o Teselecta a mostrasse quem era a tal River, e encarou em choque enquanto ele se transformava na imagem de sua mais nova regeneração, cabelos rebeldes e olhos claros. Subitamente, tudo fez sentido. Tudo estava claro.

Talvez tivesse sido ali que ela percebeu que o amava, e fez o primeiro numa longa linha de atos de coragem por ele, dando todas as suas regenerações restantes para que ele pudesse viver.

Seu amor estava solto, correndo selvagem, e para River — seu nome agora, River — parecia a coisa mais maravilhosa do mundo.