Já era madrugada e estava frio.

Jace estava bem desconfortável sozinho no banco de trás do carro de Demian. Ele não conhecia muito bem o cara, mas não era o maior fã do jeito quietão dele. Na verdade, ele só tinha ido naquele carro porque Kenny estava lá.

— Pra onde vamos? — Jace perguntou um pouco insatisfeito.

— Por enquanto só estamos indo atrás do Will — respondeu Demian com frieza.

Então Jace se calou de novo e procurou algum passatempo, não queria dormir e ter pesadelos macabros, ele odiava isso.

Olhar para os pingos de água que começavam a cair no vidro do carro começou a parecer bem interessante, parecia que eles estavam tentando se salvar correndo para o fim do vidro, mas o limpador de para-brisa sempre aparecia para acabar com a alegria deles.De repente, ao olhar pela janela, viu Cale ensopado e não conseguiu deixar de rir.

— Acho melhor pararmos assim que tivermos chance — ele disse sorrindo — Cale é um pé no saco quando está gripado.

Por coincidência o carro de Will parou logo a frente, em um posto de gasolina que parecia estar abandonado.

— Ah cara, que droga! — dizia Cale enquanto retirava o capacete — Esses deuses só podem estar de brincadeira com a minha cara.

— Vasculhem o lugar, cada cantinho — dizia Will com ar de autoridade.

Jace pensou em mandá-lo relaxar e apreciar um pouco mais a vida, mas desistiu e resolveu que seria melhor só fazer o que ele dizia.

Os semideuses se separaram e fizeram como o líder havia dito, procuraram em cada canto possível, mas não acharam nada além de revistas masculinas antigas e restos de comida mal mastigada.

— Me parece seguro o suficiente para passarmos a noite — Will disse ainda analisando o local com — Alguém vai ficar acordado de guarda e partimos ao amanhecer.

— Eu fico de guarda — Ashley se ofereceu rapidamente — Digo, afinal, sou melhor à noite.

Seus cabelos prateados brilhavam sob a luz do luar, o que deixou alguns dos meninos do grupo boquiabertos por alguns segundos. Era com certeza uma menina muito bonita.

— Eu não confio em caçadoras... — a filha de Ares interveio — Também ficarei de vigia.

— E o que a gente faz se não confiar em nenhuma das duas... — sussurou a filha de Hermes para Kenny, que respondeu com uma risadinha.

Não passou muito tempo até que a maioria deles pegasse no sono, porém alguns estavam tendo dificuldade devido ao ronco de Nina.

— Estamos cercados! — a caçadora disse sacando seu arco — Inimigo mais próximo a aproximadamente 50 metros.

— Hã? O que? — Melissa deu um salto espantada enquanto analisava o lugar — Não tem mais ninguém aqui.

— Estão em baixo de nós. — comentou Will que já estava em pé. Suas expressões não eram nem assustadas, nem calmas. Continuava sem demonstrar emoção nenhuma.

— Vamos acordar todo mundo? — a filha de Ares estava meio estonteada, não entendia como tinham percebido os inimigos.

— Nós seis somos o bastante, não precisamos acordar aquelas duas — Ashley disse com uma pequena risada ao final da frase.

— Seis? — Melissa estava cada vez mais confusa.

Jace, Cale e Demian se levantaram. Eles não tinham dormido por um segundo sequer assim como Will.

Algumas mãos e cabeças brotaram do chão terroso. Eram zumbis

Ashley foi a primeira a atacar, atirou uma flecha na cabeça de um zumbi que estava ainda tentando empurrar o corpo para fora da terra.

Jace também matava os zumbis antes que saíssem do chão, mas eram muitos. Aos poucos o lugar já estava infestado.

Demian bufou, não gostava de enfrentar inimigos fracos, mas ele tinha que matar zumbis agora. Desembainhou seu gládio de ferro estígio, tocou seu bracelete para “ativar” seu escudo de ouro imperial e partiu para cima dos zumbis. Demian lutava com a ferocidade dos romanos usando golpes perfurantes e também usando o escudo como uma arma. Cada zumbi em sua frente teve sua cabeça perfurada ou totalmente amassada.

Jace era diferente, gostava de brincar com os mortos-vivos abusando de seus poderes para enlouquecê-los e colocar uns contra os outros. Os poucos que o alcançavam tinham suas cabeças decepadas pelo poder de sua lança.

Cale só não queria perder a pose. Materializou uma foice do nada e começou a partir os zumbis em picadinhos. O sorriso sádico em seu rosto indicava o prazer que ele sentia em suas ações.

Will preferiu a briga segura. Como não usava armas e precisava bater na cabeça, tomou bastante cuidado para não ser mordido.

Melissa e Ashley entraram no jogo juntas, enquanto Melissa pegava as armas dos zumbis que já tinham caído para matar aqueles que já estavam próximos, Ashley atirava flechas nos que estavam distantes como uma cobertura.

Cerca de meia hora depois não restavam mais zumbis, apenas destroços da carnificina.

— A chuva já cessou — Will comentou olhando pra cima — Sejam eles quem forem, sabem que estamos aqui. Vamos dar o fora.

Jace correu para acordar as meninas, mas sabia o quanto Kenny ia ficar irritada por não terem acordado ela.

— Kenny, Nina. Acordem, estamos partindo. — ele disse com calma.

—Que horas são? — Nina começou a se levantar e olhar ao redor ainda um pouco desnorteada — ZUMBIS! — ela arregalou seus olhos e caiu sentada no chão.

— O QUE DIABOS ACONTECEU AQUI? — Kenny gritou com muita raiva enquanto ajudava Nina a se levantar de novo.

— Eu meio que impedi vocês de acordarem enquanto a gente lutava com uns zumbis — Jace disse passando a mão atrás da cabeça.

— Por que você fez isso? — ela perguntou com um tom triste — Como você fez isso?

— Ah, você sabe... Baco... Loucura, perda de identidade... — ele começou a explicar — Você tava muito estressada com essa missão e eu sei que a Nina tem medo de zumbis. Mas vamos deixat isso pra depois, precisamos ir agora.

Apesar de ainda estar com um pouco de raiva do amigo, Kenny o perdoou. Não era do tipo que guardava rancor e sabia que não era por mal. Por outro lado Nina estava muito grata, morria de medo de zumbis e a última coisa que ela queria era enfrentar uma penca deles.

— Vamos pra Califórnia — disse Will — Tenho uma péssima impressão que tem algo ruim lá que precisa ser resolvido.

Com isso dito, os semideuses subiram a bordo de seus respectivos veículos e partiram rumo ao desconhecido.