Quando a festa acabou, a trupe infantil apareceu com a ideia de que queriam passar a noite todos juntos. Mesmo após os pais tentarem persuadi-los, não houve jeito. Como Ana Luz estava gripada e Karina tinha uma bagunça para arrumar, a casa da vez seria de Mari e Jeff.

Duca ajudou o casal de amigos a levar os pequenos; Gael levou João e Fabi para casa, já que a nora começava a sentir dificuldade para dirigir; Cobra e Jade já haviam saído havia um tempo, já que Anabelle estava exausta após o dia cheio. Na festa, restaram apenas Pedro, Karina, Tomtom, Dandara e Delma, já que Marcelo havia saído levar Lincoln para Marechal.

“Bom, gente, se me derem licença, eu já vou.” Pediu Tomtom. “Estou exausta. Tive uma prova enorme ontem e não durmo direito há dias.”

“Pode ir, tampinha. Descansa.” Pedro beijou o rosto da irmã. “E mais tarde vou querer saber mais desse tal namorado, ouviu?”

“Jura que você acha que, aos vinte anos, eu nunca namorei antes?” Ela gargalhou. “Deve achar que eu ainda sou virgem também.”

“Você o quê?” Ele gritou, enquanto a irmã saia correndo. Karina, ao seu lado, passava mal de tanto rir. “Por favor, me lembra de proibir nossa filha de chegar perto dos meninos antes dos 30.”

“Ela tinha um namoradinho lá no Rio, chamava Luiz. Eles ficavam de mãos dadas no intervalo e davam selinhos.” O queixo do guitarrista quase chegou ao chão. “Ela herdou seu charme, fazer o quê?”

“Hum... Então eu sou charmoso?” A lutadora revirou os olhos.

“Pedro, para com essas insinuações. Nós namoramos por quatro anos, então eu acho sim você charmoso, bonito e tudo mais. Mas isso não quer dizer que eu vou voltar para você.”

“Você também me escorraçou bastante antes de namorarmos.” Ele lembrou.

“Mas eu não sou mais aquela menina de 16 anos que não sabe nada da vida, Pedro. Agora eu tenho uma pessoa que depende inteiramente de mim, que é a nossa filha. Ou melhor, que depende de nós dois. E isso quer dizer que não podemos arriscar magoá-la com...”

“Com nós dois estando juntos?” A loira confirmou. “Karina, nós damos certo.”

“Não, Pedro, nós já demos certo, mas tudo desandou. E não tenho nenhuma garantia que não vá desandar de novo.” Ela secou os olhos discretamente, apanhando uma caixa. “Eu vou embora. Dá tchau para a sua mãe por mim.”

E saiu andando, deixando Pedro com cara de tacho. Ele suspirou, ouvindo a voz da mãe e de Dandara. Fungou baixinho, apanhando algumas coisas.

“Cadê a K?” Perguntou a professora de canto.

“Já foi, estava cansada. E eu também já vou indo... Tenho que responder as perguntas para o Orelha ainda hoje. Tchau, mãe. Tia Dandara.” Beijou o rosto das duas mulheres, saindo em direção ao carro.

Assim que ele sumiu, Tomtom reapareceu, séria. Trocou olhares com as duas mulheres, pegando o celular e discando:

“Todo mundo para a casa do Gael, já. O Pedro tem que saber a verdade hoje.”

~P&K~

Já em seu apartamento, o guitarrista sentou em frente ao computador. Devido à falta de tempo, a ideia de Orelha era que os fãs enviassem as perguntas que quisessem e ele selecionaria (com uma bela revisada de Morgana depois) as que Pedro deveria responder.

Munido de uma latinha de Coca-Cola e um pacote de Ruffles, ele sentou em frente ao computador. Depois de tudo o que havia acontecido, sequer cerveja ele bebia, abolindo de sua dieta absolutamente tudo que contivesse álcool.

Uma rápida olhada nas perguntas e pode identificar que a maioria tinha um teor semelhante, e mais: quase todos os nomes continham “Perina”. Suspirou, já se preparando para digitar a mesma coisa várias vezes e a ler muito o nome de uma certa esquentadinha.

JPerina: Como descobriu que você tinha uma filha?

Pedro: Hã, isso é uma coisa complicada de dizer, porque diz respeito principalmente a minha família. Então não vou entrar em detalhes sobre como aconteceu essa descoberta, só direi que foi um momento maravilhoso na minha vida.

Rayssa Morais: Você já conquistou uma carreira incrível, qual é seu próximo sonho?

Pedro: Passar cada segundo possível com a minha filha e viver tudo que eu não vivi nesses sete anos. Parece besteira, mas eu quero ensinar ela a andar na bicicleta sem as rodinhas, ver as apresentações de balé e os campeonatos de luta (sim, a Clarinha já pratica); e eu quero, mais do que tudo, chegar na fase de espantar os namorados.

Babygama9613: Alguns fãs viram você, a Karina e a sua filha em um passeio no shopping. Podemos entender esse ‘passeio’ como uma reconciliação entre vocês?

Pedro: Eu e a Karina temos uma filha, que é um vínculo mais forte e eterno do que qualquer outro que exista. Nós estamos sim juntos, no que diz respeito ao cuidado e bem estar da nossa filha. Sempre sairemos com ela, a levaremos passear... Nossa intenção é fazer o possível para que a Clarinha tenha uma família.

Gabriela C Rosário: Pedro, como você se sentiu quando viu a Ana Clara pela primeira vez? Pedro Ramos por Pedro Ramos?

Pedro: Eu me senti sem chão, essa é a melhor expressão. Eu sempre achei que minha filha havia morrido no acidente, isso não era mentira ou brincadeira. Os motivos que levaram a Karina e minha família a esconderem isso, como eu já disse, só dizem respeito a nós; mas descobrir que a Clarinha estava viva foi um grande choque, seguido de uma alegria sem tamanho.

E eu por eu mesmo? Bom, eu sou brincalhão (às vezes um pouco demais), simpático, amigo... Atualmente trabalho em ser um bom pai também. E acho que estou conseguindo me sair bem.

Angel Beatriz: Qual foi sua maior conquista até hoje?

Pedro: Se você me perguntasse há um mês, eu diria sem pestanejar que o sucesso que a banda atingiu. Afinal já foram tantos shows internacionais, estamos a caminho do quinto álbum em estúdio, temos fãs maravilhosos... Mas hoje, especialmente hoje, posso dizer que minha maior conquista foi o direito de fazer parte da vida da minha filha e o amor dela. A Ana Clara foi a melhor coisa que eu já fiz na vida, sem dúvida alguma.

Bianca in love: Você pretende ter mais filhos?

Pedro: Calma aí, gente, estou aprendendo a cuidar de uma (risos). Mas sim, filhos sempre estiveram nos meus planos; e eu estou adorando ser pai, preciso confessar. Daqui alguns anos, quem sabe...

Leitora Anônima: O que mais gosta na Ana Clara? E o que acha que ela tem de mais parecido com você?

Pedro: Hum... Preciso dizer que eu amo os olhos da Clarinha, são maravilhosos. Quanto a personalidade, sou apaixonado pela doçura dela, mesclada à marrentice. Ela consegue mesclar os dois muito bem, e eu me divirto com isso.

Quanto às semelhanças, nós dois somos muito divertidos, e temos o mesmo sorriso. Quando ela sorri, os olhinhos dela fecham, igual os meus. É bem divertido de ver.

Perina4ever: Foi a Ana Clara que o fez voltar definitivamente ao Rio?

Pedro: Não, a Clarinha acabou sendo uma consequência dessa volta. Meu melhor amigo, o João, está bastante doente, e eu voltei para ficar ao lado dele nesse momento difícil.

ILovePerina: Como você e a Karina estão administrando o tempo da Ana Clara?

Pedro: Como minha agenda é um tanto inconstante, graças aos shows e eventos da banda, nós decidimos pela guarda compartilhada, com a Clarinha morando com a mãe. Eu estou adequando meu apartamento ainda, para ela passar alguns dias a noite comigo. Mas todos os dias, eu a busco na escola na hora do almoço e fico com ela até a Karina sair da academia. E ela é bem tranquila, se eu e a Clarinha quisermos sair ela não grila... Está sendo bem tranquilo.

BelieveSongs: Você vai abandonar a banda?

Pedro: Não, claro que não. Minha ausência nos últimos shows da turnê foi pelo João: assim que soube da doença, voltei direto para o Rio, para estar junto com ele. Mas não pretendo me afastar da banda de jeito algum. Todos eles já conhecem a Clarinha e a adoram; ela inclusive esteve conosco no primeiro dia do estúdio, essa semana.

Nós vamos entrar no estúdio definitivamente no próximo mês, e temos alguns shows ocasionais marcados. Mas demoraremos algum tempo para sair novamente em turnê devido, principalmente, a gravidez da Sol. E também, nenhum de nós teve realmente férias nos últimos cinco anos, pelo menos. Acho que merecemos um descanso com nossas famílias, não é?

Algumas das questões seguintes eram invasivas demais, fora dos limites impostou por ele à Orelha. Decidiu então que não as responderia e enviou as respostar ao nerd por e-mail. Resolveu dar uma fuçada na internet antes de dormir, se prolongando um tempo em frente ao computador.

Quando já se preparava para desligar, o e-mail apitou uma mensagem de Orelha.

“Uma última pergunta, muito importante.” Ele leu o e-mail, com um suspiro. Abriu o arquivo em anexo, lendo em voz baixa e arregalando os olhos. “Como você se sente sabendo que a Karina acordou do coma ouvindo você cantar a música que compôs para a filha de vocês? Assinado, UmAmigo.”