O Circo do “Fantástico Mirabolli” estava na cidade, com suas atrações costumeiras de palhaços, malabaristas e pirotécnicos. As famílias se reunião em multidão para ver os incríveis truques e mágicas dos artistas no picadeiro e arredores. No entanto, um certo grupo de três pessoas não estava lá para se divertir.

Mugen, Harumi e Tohma observavam tudo, tentando encontrar qualquer irregularidade. Foi Tohma quem abriu a boca primeiro, desconfiado.

– Você tem certeza de que era aqui?

– Os sensores da Gall estão melhores do que nunca – respondeu Harumi, apreensiva. – É aqui. Só temos que procurar melhor.

Eles se espalharam, indo cada um para um canto. Mugen logo avistou uma cena que o fez sorrir: uma garotinha recebia um balão bem vermelho de presente de um gentil palhaço. Foi quando um barulho específico acabou com seu sorriso.

– CUIDADO! – ele saltou, agarrando a menina antes que pudesse pegar o balão. – Corra pros seus pais o mais rápido que puder, ok? – a menina assentiu, confusa. – Não vai me enganar, Zalloss!

– Ho-ho-ho, do que está falando? Sou apenas um pobre palhaço com meus balões...

– Corta essa, melhoramos nossos radares – ele apontou para o Soul Changer, que bipava na direção do palhaço. – Não vai mais conseguir se esconder, Genma-Monstro!

– Maldito! – o palhaço começou a pegar fogo, e rapidamente sua “pele” desapareceu, deixando apenas uma forma feminina monstruosa, com uma voz estranhamente doce. – Ia usar meus balões para sugar a energia pouco a pouco, mas agora sou obrigada a atacar diretamente! LASER WEB!!

– Gaishin! – gritou, enquanto se transformava e desviava da fina linha de teia eletrificada disparada pelas mãos do monstro. – Gai Arm, Horn Javelin!

A criatura saltou contra Gai Red, que ativou seu Horn Crane para interceptá-la ainda no ar, jogando-a contra uma árvore.

– Hoje não é o seu dia, Zalloss! – ele ativou seu Soul Charge. – Land Volution! – com um grito, a criatura explodiu sem deixar rastros. – Soul End.

No topo da tenda, com uma ótima visão do acontecimento, Doham sorria satisfeito.

***

– Não acredito que você destruiu o monstro antes de chegarmos! – reclamou Tohma, enquanto os três já faziam o caminho de volta. – E eu achando que o elefante era Zalloss...

– Vocês não acham isso meio esquisito? – Harumi soava preocupada. – Os ataques estavam ficando mais fortes e agora, do nada, ficam tão fracos assim?

– Deixa disso, Harumi! Acho que nós é que estamos bem mais poderosos, isso sim!

– Acho que prefiro acreditar no Tohma! – riu Mugen. – Bom, como só eu fiz alguma coisa hoje, acho que mereço mais descanso. Vou tomar um banho e dormir. Até mais!

Mugen entrou no prédio da G-Pro, e foi até um dos cômodos da base secreta. Desde que se tornara um Gairanger começou a passar mais tempo ali do que em casa, então decidiu simplesmente se mudar pra lá de uma vez. Não é como se houvesse alguém esperando por ele em casa depois que seu pai e Ryuusei se foram.

Ryuusei. Em meio a tantas batalhas Mugen as vezes quase esquecia que continuava sem saber o destino do irmão. O que ele fez foi imperdoável, mas ainda assim era a única família que lhe restava.

– Um dia vou descobrir – Mugen pegara a única foto do irmão que não havia jogado fora. Ficou olhando pra ela por algum tempo, até que ouviu algo.

– Mugen... Mugen...

– Ryuusei!? – não havia dúvida, aquela era a voz dele. Mugen correu para fora do quarto, olhando para o corredor. Uma figura acabar de passar por lá. – RYUUSEI!

– Darling? – Gall-A respondeu apreensiva. – Está tudo bem?

– Gall... Deixa pra lá. Achei que fosse... Não é nada. Vou tomar banho.

“Estou ficando completamente maluco?”, pensou o jovem enquanto saía.

***

Mugen estava enxugando seu cabelo depois de um longo banho, onde refletiu sobre o que acontecia. Deveria estar muito estressado com a batalha, começara a imaginar coisas. Seu irmão não podia estar ali, era óbvio. Ele olhou para o espelho de rosto e limpou o vidro embaçado.

– Irmão! – o reflexo de Ryuusei falou claramente. Mugen virou para trás, mas não encontrou ninguém além de vapor. E o espelho novamente só mostrava seu próprio rosto.

– O que está acontecendo comigo? – enquanto perguntava à sua própria imagem refletida, ouviu seu celular começar a tocar. Ele caminhou calmamente até o quarto, atendendo-o sem ver quem era. – Alô?

– Não quer mais falar comigo, Mugen?

– AH! – assustado, ele largou o celular no chão, pegando-o novamente em seguida. – Ryuusei? Como? Onde você está!?

– Mugen? – a voz de Harumi respondia as estranhas perguntas do amigo. – Do que você está falando? Gall me avisou que você estava meio estranho, liguei pra saber se está bem... O que o Ryuusei tem com isso?

– Não... Você... – ele se acalmou, percebendo que respirava com dificuldade. – Acho que estou só cansado. Vou dormir e nos falamos depois.

***

Era um imenso pátio descoberto, e a chuva caía pesada. Mugen estava completamente ensopado, tremendo de frio – mas também estava frente a frente com seu irmão.

– Você é fraco, Mugen – começou Ryuusei. – Sempre foi. Não é à toa que nosso pai depositou todas as esperanças em mim. Ele entendia que apenas os fortes merecem sobreviver!

– RYUUSEI! Você está vivo, eu sabia!

– Vivo? Estou muito mais do que vivo – ele ergueu seu braço esquerdo, mostrando que usava o Soul Changer no lugar de Mugen. – Você andou se divertindo bastante com isso aqui, não é? Roubando o meu lugar... Acha que nosso pai gostaria disso?

– Roubando? Você nos abandonou, não havia outra escolha!

– Bom, agora há. Gaishin.

Ryuusei se transformara em Gai Red, e a chuva ficara ainda mais pesada. Ele sacou seu Gai Laser, atirando nas pernas do irmão. Com um grito, ele foi ao chão.

– Você é fraco, Mugen – ele apontava a arma no centro da testa do irmão. – Sempre foi.

– R-Ryuusei, por favor. Você era meu herói.

– ADEUS!

Mugen acordou num sobressalto, gritando o nome do irmão na escuridão de seu quarto. Estava encharcado em seu próprio suor frio. Ele vestiu rapidamente sua jaqueta e saiu pela noite para tentar tirar da cabeça o que havia sonhado.

***

– O que pensa que está fazendo, irmão? – a Sacerdotisa da Criação Lamarg surgiu no quarto escuro. – Quando criei Kumo Genma, você me disse que...

– Minha irmã, entenda – começou a explicar Doham, observando os movimentos de Mugen através de uma imagem flutuante aos seus pés. – Acho que finalmente decidi tentar fazer as coisas do seu jeito. Um ataque mais indireto.

– Mas você não está acumulando nenhuma energia vital! Nossa mãe...

– Já está muito bem alimentada. E ficará muito satisfeita quando eu tiver esmigalhado um dos Gairanger. Espere e verá – depois que Lamarg saiu, ele voltou a olhar para a imagem, sussurrando. – Minha vingança ainda vai piorar, humano.

***

Mugen andava rápido, as vezes esbarrando em alguém pelo caminho. Todo “desculpe” ou “cuidado!” que ouvia saíam com a voz de Ryuusei. Depois de muitos passos, até as pessoas começaram a tomar a forma dele.

– FIQUEM LONGE DE MIM!

Mugen gritou e começou a correr, sem nem saber pra onde. Tampava seus ouvidos e fechava os olhos, tentando fingir que nada estava acontecendo. Mas era em vão, a imagem de Ryuusei continuava como um fantasma, perseguindo-o onde quer que fosse.

Ele parou em um descampado onde não havia mais ninguém. Caiu de joelhos ainda bloqueando seus olhos e ouvidos, apenas repetindo:

– Fique longe, fique longe, fique longe...

– Mugen – a voz de Ryuusei era mais nítida d que nunca.

– Fique longe, fique longe, fique longe...

– MUGEN! – ele agora podia sentir que seu irmão o levantava pelos ombros.

– Fique longe, fique longe, FIQUE LONGE!

– MUGEN, ACORDE! – Tohma deu um forte tapa no rosto do amigo. – Sou eu! Ryuusei não está aqui, nunca esteve!

– Você está assim desde que enfrentou aquele monstro sozinho! – Harumi também estava lá, e chegou abraçando Mugen. – O que aconteceu?

– E-Eu estou ouvido, vendo... Meu irmão está por toda parte!

– Zalloss deve ter feito algo com você.

– Não, a luta foi fácil! Não tive nenhum problema! O novo radar funcionou perfeitamente...

Mugen se afastou alguns passos, e então começou a ouvir o som familiar. Olhando pra trás, viu os dois amigos apontando seus Soul Changer na direção dele. Eles apitavam no mesmo ritmo.

– Pessoal... Vocês não acham que eu sou um Genma-Monstro, não é?

– Não, não é você – completou Harumi, sacando seu Gai Laser. – É ele!!

Com um disparo certeiro a garota atingiu o amigo ainda de costas na altura do pescoço. Mugen sentiu um imenso peso sair de seus ombros quando a minúscula aranha negra que lá estava caiu para longe.

– Hihihi, não esperava ser descoberto tão cedo – a aranha se metamorfoseou numa verdadeira cópia da Kumo Genma anterior, mas com marcações azuis ao invés de magenta e uma voz masculina estridente. – Vou ter que exercer a vingança de minha mãe de outra forma!

– Você estava mexendo com a minha cabeça! – constatou Mugen, chocado.

– Os corações humanos são muito frágeis! Foi fácil procurar o maior ressentimento em sua mente e usá-lo contra você, hihihi. Mas agora os três vão morrer! LASER WEB BOMBING!!

O filhote, ao contrário da mãe, disparava a teia como uma esfera, que explodiu com o impacto. No entanto, três figuras surgiram da fumaça dissipada.

– Raging Earth, Gai Red! Dancing Wave, Gai Blue! Crossing Wind, Gai Yellow!

– Com o poder sagrado, alcançaremos a vitória! Guerreiros da Luz Gairanger!!

– Soldados Zazer, ataquem! – um grupo de Zazer surgiu indo contra os heróis. Gai Red saltou a onda e foi contra Kumo Genma, com um sólido “Ele é meu!”.

Enquanto Blue e Yellow lidavam com os Zazer, Red invocou seu Horn Javelin e partiu para o ataque. Esse monstro, no entanto, conseguia desviar sem muitos problemas.

– Hihihi, a missão de minha mãe era ser destruída! Você jamais a derrotaria tão facilmente se não fosse por isso – explicou o novo Kumo Genma. – Vou mostrar-lhe, LASER WEB!! – a teia elétrica envolveu o corpo de Mugen, paralisando-o.

– Isso. Não é. NADA! – flexionando seus músculos, Gai Red se livrou de sua prisão. Ele agora apontava para o inimigo. – Vai aprender a não brincar com a imagem de meu irmão!

Ele avançou com sua lança mas antes que o contato fosse feito, o Sacerdote da Destruição surgiu, segurando a arma com apenas uma mão.

– Mestre Doham! Veio me ajudar?

– Seu trabalho já está cumprido – Doham golpeou o Genma-Monstro, que foi ao chão. – Desapareça da minha frente! PREDATOR STRAIGHT!

Kumo Genma foi jogado para longe, e Blue e Yellow se reagruparam com seu líder.

– Doham, foi você quem planejou tudo isso?

– Se eu disser que sim... O que farão?

Gai Red agora segurava o Anima Buster, apontando diretamente para o sacerdote. Este apenas retirou suas espadas, segurando-as na posição defensiva.

– ANIMA BUSTER!!!

– IDIOTAS! – mesmo sendo empurrado muitos metros para trás, ele segurou o impacto da bazuca. Em seguida, voltou a guardar as espadas e saltou para o topo da única árvore que havia ali. – Não vou perder meu tempo com vocês hoje. Evolução Zalloss!!

Doham sacou um par de agulhas finíssimas, e as atirou com precisão: elas acertaram os pontos exatos sobre os ombros de Kumo Genma, fazendo-o crescer até se tornar um gigante sem consciência. O sacerdote tornou a desaparecer enquanto seu monstro começava a destruição.

– Daigaioh, em ação!

***

Mesmo em sua nova forma imensa, Kuma Genma ainda era ágil como um aracnídeo deve ser. Daigaioh estava tendo problemas para se manter no mesmo passo.

– Assim nunca vai dar certo, precisamos parar o movimento dele!

O monstro urrou e disparou suas teias instintivamente. Elas grudaram no braço esquerda do robô, transmitindo uma carga elétrica que os pilotos sentiam com muita dor. Em alguns segundos, o painel de comando também começou a faiscar.

– Esperem, é isso! Essa era a chance que precisávamos! Daigaiken!

A espada gigante surgiu na mão direita do gigante, que flexionou seu outro braço e puxou Kumo Genma pela teia. Quando eles estavam com a distância mínima um do outro...

– VICTORY SLASH! – com uma só estocada, o monstro recebeu toda a Soul Energia e foi destruído. – Soul End.

***

Mugen estava no seu lugar secreto no teto da G-Pro. Pela primeira vez, no entanto, tinha a companhia de Harumi e Tohma.

– Vocês ouviram o que o Genma-Monstro disse, não é? – começou, sério. Havia algo em sua mão direita, mas os dois amigos não conseguiam identificar o que era. – Sobre a fragilidade do coração humano. Sobre meu próprio ressentimento.

– Mugen, você não... – antes que Harumi pudesse continuar, Mugen a silenciou com um dedo.

– Não, ele estava coberto de razão. Sobre mim, quero dizer. Eu me deixei levar pelos meus sentimentos mais uma vez. Antes foi a raiva, agora a saudade. Não vai acontecer de novo. Isso aqui – ele mostrou o que tinha na mão, uma foto. – É a última foto que guardei do Ryuusei.

Mugen rasgou a fotografia em muitos pedaços, surpreendendo Tohma e fazendo Harumi levar as mãos à boca.

– Você não precisava ter feito isso! – exclamou Tohma, ainda espantado com ocorrido.

– Precisava sim! As memórias que tenho com meu irmão nunca vão me deixar, mas ele preciso aceitar que ele se foi. E não falo isso por não sabermos o que aconteceu com ele... Ryuusei já não era o meu irmão no momento em que traiu vocês.

Mugen esticou seu braço esquerdo e abriu a palma da mão.

– Nossa missão está longe de acabar, mas eu prometo nunca abandonar nenhum de vocês. Podem ter certeza que estou 100% nisso!

– Então são duzentos por cento – Harumi colocou sua mão sobre a de Mugen. Ela tinha os olhos marejados.

– Mude isso pra trezentos por cento então! – Tohma fez o mesmo que a amiga, sorridente. – Até o fim!

Os três amigos, renovados, davam sorrisos convictos. E os pedaços da última fotografia de Ryuusei voavam com o vento.

***

– ESTOU DECEPCIONADA– a soturna voz de Grandoria preenchia todo o salão, onde apenas os dois sacerdotes estavam prostrados.

– Estou plenamente disposto à aceitar qualquer punição, minha mãe! – respondeu Doham, ainda olhando para o chão. Ele já esperava uma dor terrível, que não veio.

– SEUS FRACASSOS SUCESSIVOS PEDEM POR UMA PUNIÇÃO ADEQUADA. A MÃO DE GREPHISTO.

Todo o corpo de Doham estremeceu. Até mesmo Lamarg sentiu um arrepio. O único que já recebera esse castigo fora o maior traidor do Clã Zalloss. Era absurdo pensar que poderia ter esse mesmo destino.

– M-Minha mãe, reconsidere – a voz de Doham saía tremida, talvez pela primeira vez. – M-Meus serviços ainda...

– CALE-SE – uma onda de dor percorreu o corpo do sacerdote, a ponto de derrubá-lo. – SEUS IRMÃOS TAMBÉM CHEGARÃO EM BREVE. ESTEJAM PREPARADOS PARA RECEBÊ-LOS.

– Nossos irmãos!? Mas mãe, nós...

Doham não concluiu sua linha de raciocínio, pois percebeu que já falava sozinho.

A Mão de Grephisto e os dois sacerdotes restantes. Doham entendia muito bem que essa era sua última chance. Seus pensamentos voaram para longe, lembrando fracamente de um céu muito azul e risos. Mas essas memórias não poderiam ser dele, não havia espaço para felicidade em Zalloss.