Naquele ponto Percy já tinha perdido as contas de quantas vezes havia aberto a geladeira, apenas pana lembrar-se de que nada de comestível tinha-se ali há dias. Ele realmente sentia falta de morar com sua mãe.

Acordar e se deparar com deliciosas panquecas azuis para o café da manhã era apenas lembranças, agora devia contentar-se com um pão dormido e margarina. Ele tinha que arcar com as responsabilidades que era morar sozinho.

Mas é claro que Percy sentia falta de sua mãe, ele só queria se tornar mais independente, como era algo natural com o passar do tempo. E no momento ele se sentia tentado a ligar para Sally Jackson, apenas para pedir um abraço.

Percy suspirou, passando as mãos pelos seus cabelos. Seu quarto estava uma verdadeira bagunça, mas isso não era novidade. Jogou algumas peças de roupas que estavam em cima da cama e deixou-se cair no móvel. Ele estava impaciente, já passara muito de sua hora normal de dormir, e andara em círculos pelo quarto todo. O motivo? Um certo filho de Hades.

Nico di Angelo era seu problema, o motivo de seus sonhos nada decentes, dos desejos mais profundos de seu coração, e também de seus maiores pesadelos.

Ele já havia enfrentado monstros muito piores do que um semideus filho do deus da morte, ora, ele derrotou Cronos e Gaia! Isso sem contar o Minotauro e tantos outros piores que este. Mas por que expressar seus sentimentos era algo tão difícil? Ah, claro. Ele poderia ser rejeitado. Mas a filosofia de vida de Percy era “Você não irá saber se não tentar.” Mesmo assim, as coisas se mostravam tão complicadas.

Sim, as pessoas mudam com o tempo, afinal. Nico era um ótimo exemplo disso. Ele estava mais... sociável. Todos diziam que Jason Grace era “culpado” por isso. Percy discordava secretamente. E também o invejava secretamente.

Não é qualquer um que pode ter a honra de ser a razão da felicidade de Nico, pensava. Apesar de Percy conversar bastante com o filho de Hades e ultimamente os dois estarem bem próximos, não era o suficiente. Não, nem de longe. Principalmente depois da noite passada.

Como se fosse mecânico, Percy levou a ponta de seus dedos até os lábios, exatamente onde os lábios de Nico haviam tocado, apenas por um segundo, mas foi o suficiente para seu coração quase sair pela boca. Ainda mais de, logo em seguida, Nico sussurrar que aquilo era errado. É claro que era errado, e Percy sabia bem disso, uma vez que os dois eram comprometidos.

Tantas noites os dois conversaram juntos, contando casos e besteiras de suas vidas. Não teve como evitar. Por que Nico tinha que ser tão apaixonante assim?

Percy não aguentava mais ver outra pessoa com o braço em volta do que era seu, não sentia mais prazer em ver aquela outra pessoa e dizer que não havia nada de errado. Porque tudo estava fora dos eixos. Não queria mais ter que estampar um sorriso no rosto quando na verdade queria gritar aos quatro ventos e o puxar contra si para o abraço mais longo da história da humanidade. Ele simplesmente se cansou de fazer o que é certo, quer fazer apenas o que acha certo.

“Siga seu coração.”

– Eu preciso dizer que o amo. – sussurrou para o nada. – Deuses, eu preciso dizer que o amo tanto.