Sua cabeça doía. Mas ele não sabia dizer o motivo. Talvez fosse cansaço. É, poderia ser.

Nico di Angelo caminhara sem rumo por pelo menos duas horas. Não sabia dizer onde estava talvez em na Itália? Veneza?

Ugh

Tanto faz.

A única coisa que saberia dizer é que estava em uma praça pública, sentado em um banco qualquer, sozinho, claro, mas vamos partir para as novidades.

Na sua frente, em outro banco, um casal se beijava. A mulher usava um vestido que certamente mostrava mais do que devia; seios fartos, batom vermelho sangue, vestido preto colado no corpo, coturnos também pretos. Havia também um brinco de argola. Seu cabelo louro estava preso em um coque frouxo, feito sem muito cuidado, e sua maquiagem estava borrada, talvez pela fina garoa que caía. Mas o homem não parecia se importar muito com isso, pelo contrário, tinha coisas muito melhores para reparar, aparentemente. E ele também estava ocupado demais engolindo a mulher.

O homem finalmente pareceu perceber que era observado, ele virou-se na direção de Nico e lhe lançou um olhar intimidador. Mal ele sabia que Nico havia enfrentado monstros maiores que estes.

O indivíduo desconhecido pelo filho de Hades franziu o cenho. Nico notou que ele tinha uma tatuagem de uma flor muito estranha no pescoço, que era acentuada pela sua pele branca e os ossinhos proeminentes. O homem virou-se novamente para sua companhia e sussurrou algo em seu ouvido.

Em menos de dois minutos Nico estava sozinho novamente.

Como aquilo era irônico.

As quatro da matina, sentado em um lugar qualquer.

Ainda era possível ouvir os ecos de sua voz, naquela última noite em que conversaram.

"Eu vou voltar, Nico. Eu sempre volto, não volto?"

Aquele era um golpe baixo, já que Percy sempre voltava de suas missões, assim como qualquer outro semideus. A diferença é que Percy não é/ era um semideus qualquer.

"Eu sei, Perseu. Sei que você vai fazer de tudo para voltar mas, por favor, não vá. Não dessa vez."

"Qual é o problema, afinal? Está tudo..."

"Pare. Eu juro que se você disser que está tudo bem, vou enfiar meu punho na sua boca" "Mas..."

"Você não pode pedir pra alguém ir no seu lugar?"

"A missão é amanhã, Nico. Falta menos de quatro horas. Prometi a Quiron que iria, não vou decepciona-lo. Agora que tal me dizer qual é o problema?"

"Eu não sei dizer... só... algo mudou."

"Pode ser mais específico?"

"..."

"Me escute, eu vou sair amanhã. Mas será só uma viagem, certo? Vou retornar e nós poderemos fazer panquecas de banana com gotas de chocolate eternamente. Sabe que estou indo pra voltar e estar tudo certo. Mas preciso que você fique aqui, seguro. Onde nenhum monstro vai te perseguir mais."

"Eu posso me cuidar sozinho. E também poderia ir com você."

"Eu sei. Eu sei. Droga, eu sei. Você é o semideus mais poderoso que conheço, mas preciso que fique aqui, onde ninguém pode te fazer mal. Faria isso por mim?"

"Só... não me abandone."

"Jamais."

Isso, é claro, havia sido meses atrás. Percy realmente havia voltado da missão. Novamente ele havia ganhado. E estava tudo bem. Pelo menos é o que diziam. Porque não estava nada bem, pelo menos não para Nico di Ângelo. Percy não parecia saber dizer o que estava errado, mas Nico sabia bem.

Seu pesadelo tinha nome, endereço e cabelos loiros.

"Percy..." Nico sussurara noite passada.

"Me desculpe, ai meus deuses, me desculpe" sua voz estava embolada e ele visivelmente não estava em seu estado mais são.

"Não me chame novamente. Eu conheço seus erros, conheço seus passos. Não há nada de novo nisso. E você não vai me fazer acreditar que tudo será diferente.”

Mas tudo isso, claro, aconteceu em outra noite, e as noites nunca se repetem.