– Você queria falar comigo?

Nico virou-se rapidamente. Ainda que apenas a luz do luar o iluminasse, podia ver bem os traços de Percy Jackson, principalmente seus olhos verdes que no momento o fitavam, atônito.

Ele se aproximou ainda mais de Nico, o suficiente para terem uma conversa amigável, mas manteve uma distância que dizia "Não se aproxime muito ou eu não vou conseguir me controlar." Nico engoliu em seco, sua vontade era de quebrar qualquer barreira entre ele e o filho de Poseidon, mas sabia que o outro não aprovaria tal atitude. Ou talvez aprovasse, mas só no momento, porque no outro dia Percy se esqueceria de tudo. Seria como uma ressaca.

Seria como um "Hey, vamos nos beijar hoje à noite. Eu vou dizer que te amo, mas amanhã terei que fazer um esforço para lembrar-me de seu nome" Não, obrigada. Nico di Angelo não aguentaria aquilo.

Pelo menos não de novo.

– Jason disse que você queria falar comigo – retrucou Nico encostando-se na árvore mais próxima dali, porque aparentemente suas pernas resolveram virar gelatina.

Percy revirou os olhos, Nico notou que ele evitava a todo custo encara-lo de fato.

– Maravilha. Fui enganado. – resmungou – E Jason Grace acha que pode resolver os problemas alheios.

Nico assentiu.

– Tudo bem. – disse afastando-se da árvore – Jason é um babaca. Agora eu estou indo embora. – dizendo isso, começou a afastar-se dali, o problema é que Nico tinha que passar por Percy para chegar ao seu destino e, enquanto ele andava, foi segurado pelo cotovelo. – o que é? – perguntou sem importar em soar rude. Pela primeira vez desde muito tempo, Percy o olhou fundo nos olhos.

– Me desculpe. – as palavras saíram de seus lábios de forma tão rápida que Nico quase não pode ouvir, mas foi suficiente para que entendesse o que significava.

Duas palavras.

Me desculpe.

Me desculpe.

Me desculpe.

Nico ficou repetindo aquelas duas palavras em sua mente, como se elas fossem algum tipo de cura para sua dor. Como se tudo aquilo resolvesse seus problemas.

Duas palavras tão simples, tão fáceis de saírem dos lábios de alguém, mas ao mesmo tão difíceis de serem ditas e com um significado tão grande.

Os dois jovens ficaram se encarando, Nico com um olhar penetrante de quem não acreditava no que ouvia e Percy parecendo prestes a chorar ou se ajoelhar para pedir perdão.

A mente de Nico começou a fervilhar com lembranças.

*

Ele realmente não sabia o que sentir, Nico podia ouvir as batidas de seu coração. Era como estivesse sonhando.

E ele não queria acordar.

Não. Definitivamente não. Podemos congelar o momento.

Podemos ficar aqui para sempre. Somos tão jovens. Tão inconsequentes.

Nico sentia seu corpo arder em chamas. Ele via só Percy. Era só ele e a pessoa que amava. Os dois presos no próprio mundo, como se fossem apenas um.

Seus lábios doíam de tanto que Percy os pressionava, e Nico ainda não sabia como não tinha morrido de tanto tesão.

Porque sinceramente, não era todo dia que ele era pressionado contra a areia úmida da praia do acampamento Meio-Sangue, muito menos se alguém estivesse deitado por cima de si. Ainda mais se essa pessoa for Percy Jackson.

Quando o filho de Poseidon o beijou naquela noite, Nico achou que estava louco. Meio minuto depois ele tinha certeza disso. Percy cheirava a vinho, não o suficiente para se estar bêbado de cair, mas o suficiente para causar algum impacto em sua consciência.

O corpo todo de Nico estremeceu quando sentiu que o zíper de sua calça era aberto.

*

– Te desculpar pelo o que?

*

– Você realmente não se lembra de nada?

– Me lembrar de que?

– Urgh, nada.

– Acho que eu bebi um pouco ontem.

– É, talvez seja isso.

– Ah, ali está Annabeth. Te vejo depois, Nico.

*

– Você sabe.

– Não. Não sei, Perseu, por que está pedindo desculpas?

Percy mordeu o lábio inferior e soltou o braço de Nico. A partir daí começou a encarar o chão.

– Você não tem absolutamente mais nada pra me dizer? – Nico perguntou. Sentia como se um bolo estivesse em sua garganta.

Percy ergueu o olhar, Nico se surpreendeu ao notar que havia lágrimas em seus olhos.

– Eu não consigo lidar com isso.

Nico soltou uma risada nasal.

– É claro que não consegue. Por isso eu estou dizendo adeus. Então, adeus Jackson.

Quando terminou de dizer, virou de costas. Ele já esperava que nenhuma voz lhe chamasse para voltar, mas mesmo assim não conseguiu impedir que seus olhos se enchessem de água quando tudo o que ouviu foi o som que o vento fazia ao balançar os galhos das árvores.

Nico continuou a andar. Um pé após o outro. Ele tinha que sair dali o mais rápido possível. Não confiava em si mesmo quando se tratava de Percy Jackson, seu ponto fraco.

Porque ele nunca se lembrava de esquecê-lo.