Percy não sabia explicar exatamente o quê lhe chamava tanta atenção em Nico di Angelo.

Talvez fossem aqueles olhos que outrora pensara serem negros, mas acabara descobrindo que, na verdade, são um castanho escuro. Talvez fosse aquela pele branca, ou as olheiras presente no rosto. Percy podia imaginar bem o filho de Hades se remexendo na cama, sem sono, preso nos pesadelos da própria mente, ficando por horas com o desafio e tentar dormir e, por fim, desistindo e se levantando da cama para andar com os pés nus no piso frio, em direção a qualquer outro lugar que tirasse seus pensamentos impróprios da mente. Na verdade Percy se surpreenderia se Nico dormisse mais de 4 horas por dia.

Outro aspecto que chamaria a atenção de qualquer um é o sorriso de Di Angelo. Incrível, não é mesmo? Qualquer um diria que aquele garoto nunca ria, mas basta passar algum tempo com ele para notar que sim, seu sorriso é magnífico. Também se descobriria que ele morde o lábio inferior quando fica envergonhado, no mesmo tempo que encara um ponto fixo no chão. E, é claro, seus cabelos negros sempre despenteados, como se ele abrisse os olhos, se olhasse no espelho e pensasse “Não tem jeito” para então se distanciar dali, convencido de que aquele emaranhado de fios nunca se tornariam algo apresentável.

No fim, Nico era apenas mal compreendido. Se o conhecesse bem, ele mostrava ser bem mais que apenas “o filho gótico de Hades que perdeu a irmã e está preso em um luto eterno”. Mas eram poucos os que entendiam isso. Mas aí surge a pergunta, como Percy Jackson chegou a esse raciocínio? Observando, meu caro. Para ele, Nico era uma pessoa magnífica. Se fosse possível, passaria horas e horas observando-o, só para, ao anoitecer, deitar-se em sua cama e dar-se conta que conhecia mais ainda sobre aquele jovem tão misterioso. Sim, misterioso, porque estava claro para todo mundo que Nico escondia vários segredos por trás daquele rosto angelical e daquela carranca que ele carregava, mostrando-se nada receptível. Mas, bastava conhecê-lo melhor, como Percy tentava fazer, apesar de, na grande maioria das vezes, não ser bem recebido.

Eu não consigo tirar os olhos dele Percy pensava observando as chamas da fogueira. Poucos minutos atrás, Nico estava sentado ao lado de Jason, bem próximo de Percy, que se lamentava por não poder ouvir a conversa dos dois devido à cantoria do restante dos campistas. E parece que Jason irritou o filho de Hades, pois ele se levantou parecendo querer bater no louro, mas acabou saindo dali a passos largos, sendo seguido por um par de olhos verdes e outro de azuis.

Jasou deu um giro de 180° no mesmo tempo em que Annabeth surgia em seu lado. Os dois semideuses encararam Percy.

– Você devia tentar deixar menos óbvio. – falou Annabeth.

Percy sentia-se sobre pressão. Havia dois semideuses loiros e poderosos o encarando, visivelmente com algum tipo de plano infalível em mente.

– O que? – perguntou se levantando.

– Vá atrás dele. – mandou Jason de supetão, apontando para a direção onde Nico tinha ido.

– Do que está falando?

– Para você ir falar com Nico. – disse Annabeth em tom autoritário. – Vai logo.

– Eu não...

– Vai! – disseram os dois juntos.

Naquele momento ele só se arrependia por ter contado a Annabeth sobre sua paixão nem tão secreta assim, mesmo vendo ali uma boa chance de aproximar-se de Nico.

– Tudo bem! – Percy se rendeu. – Eu estou indo!

*

Acabou encontrando Nico nos campos de morango, sentado na grama úmida, Ele sabia que estava perto no toque de recolher, mas mesmo assim sentou-se ao seu lado sem dizer nada, como se tivessem todo o tempo do mundo.

Acontece que Percy não é de ficar em silencio por muito tempo, ao contrário de Nico que parecia poder morrer no silêncio se pudesse.

– Pare de me encarar. – foi a primeira coisa que Nico disse depois de alguns bons minutos em que os olhos de Percy se fixavam nele.

Nico encarava a grama, visivelmente desconcertado, mas tentando esconder isso. Ele abraçou os próprios joelhos, sem nem ao menos olhar de canto para Percy.

Perdoe o jeito como eu olho fixamente para você. Não existe mais nada para se comparar. A sua visão me deixa fraco. Não sobram palavras para falar. Mas se você sente como eu me sinto, por favor deixe-me saber que é real...

– O que houve entre você e Jason? – Percy perguntou sem rodeios.

Nico respirou fundo antes de responder.

– Jason pode ser bem irritante quando quer.

Percy o observou morder o lábio inferior e depois tirar a franja do olho.

– Acho que ele só quer ser seu amigo, e às vezes amigos fazem coisas idiotas para seu bem. É a função deles. – disse sabendo que não receberia uma resposta melhor que essa. – Mas você está bem?

Nico engoliu em seco e fez que sim com a cabeça. Ele ficava muito bem à luz do luar.

– Por que veio até aqui? – Nico perguntou.

– Você quer ficar sozinho? Eu posso... ir embora.

Nico virou o rosto. Havia algo em seu olhar que Percy não sabia decifrar. Podia ser tanto ódio quanto amor; raiva ou compreensão. Nico di Angelo era afinal alguém difícil de se compreender.

– Pode parecer estranho mas... eu não quero ficar sozinho. Não esta noite.