Forget-me-not escrita por ohhoney


Capítulo 9
Margarida


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bom? Espero que sim! Estou mega feliz porque só tenho mais 10 dias de aula, e mal posso esperar pra acabar logo o E.M.

Btw, eu gostaria de dizer que estou escrevendo o penúltimo capítulo dessa fic e estou já estou com saudades.

Também queria fazer um momento propaganda pra divulgar a nova fic que comecei a escrever. É uma original sobre piratas e aventuras fantasiosas no Além-Mar. Ainda não publiquei, só o farei quando estiver pronta. Por sinal, o nome é "A Pérola, O Polvo, e Outras Histórias". Espero que alguns de vocês leiam quando estiver pronta.

Não gosto de capítulos com mais de 4.000 palavras, mas achei que dividir esse seria estranho. Sem mais delongas, boa leitura.



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Margarida

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Logo que ponho os pés na rua, sinto o calor subindo desde a base das costas até meu rosto, e minhas pernas começam a tremer enquanto cubro o rosto com as mãos.

–Shun-nii?

Oh, meu Deus.

–Você está bem?

–K-K-Kobato, eu... Esqueci uma coisa na casa do Moriyama-san, por que não vai indo na frente?

Faço de tudo para esconder o rosto. Kobato fica em silêncio por um tempo.

–Ok. Só não demore.

Fecho os olhos com força e espero os passos de Kobato sumirem. Encosto as costas num muro e cubro a boca com as duas mãos. Meu corpo inteiro está quente, e eu suo e estremeço sem parar.

O que aconteceu?

Moriyama-san num momento me beija e eu logo em seguida quero mais. E então nós nos beijamos por mais de uma hora sem parar, e eu juro que pareceram no máximo vinte minutos, e eu estava tão empolgado e feliz que nem me toquei e...

"Calma. Calma. Respire".

Preciso me deitar.

Moriyama-san e eu estávamos nos beijando entusiasmadamente no apartamento, e eu gostei. Eu gostei e quero mais.

Oh, meu Deus.

Volto a cobrir o rosto com as mãos. Minhas bochechas estão quentes e meus joelhos, bambos. Foi tão inesperado, eu juro...

Eu já tinha pensado nisso algumas vezes, mas nunca... Nunca... Quando ele disse que me pegaria, eu levei a sério e queria beijá-lo ali mesmo na floricultura, mas ele...

Eu quis beijá-lo. Eu quis e eu beijei. Oh, meu Deus. O beijo dele é tão bom.

E isso é tão errado.

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"Kobato, tente se controlar".

Não consigo me controlar.

Meu coração está batendo super depressa. Preciso falar com Suzume. Preciso esclarecer essa dúvida de uma vez por todas, acho que vou ficar maluca.

Não acredito nisso.

Corro o mais rápido que posso para casa, e bato a porta quando entro.

Suzume.

Minha irmã ergue os olhos da panela e me olha, arregalando os olhos ao ver meu rosto.

–Kobato, o que foi que aconteceu?!

Estou histérica. Não sei o que fazer e mal consigo respirar.

Suzume. - repito. É a única coisa que consigo falar.

Ela me pega pelos ombros e aproxima o rosto do meu, preocupada. Meu peito dói, e minha cabeça tenta processar todos os últimos dias de uma vez.

–Kobato, o que foi?

–Desde...

Meu Deus, como pude não perceber?

–Desde...

–KOBATO, DESEMBUCHA!

Suzume tem os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas numa cara de pânico, e aperta meus ombros com força. Mal percebo. Tudo faz sentido, tudo... Estou tão confusa que meus olhos se enchem de lágrimas, e algumas delas escorrem pelo meu rosto.

Oh, Deus. Oh, Deus. Como sou burra. Como sou cega. Idiota, estúpida. Como sou patética. Mordo os lábios com força, e mal consigo ver Suzume na minha frente de tão embaçadas que as coisas estão. Meu rosto fica molhado de lágrimas, e Suzume me aperta mais forte. Agora que paro para pensar, os últimos dias... Oh, Deus. Fecho os olhos com força, fazendo mais lágrimas escorrerem, e forço a voz para fora - ela ainda sai meio confusa, tremida e sem ar.

–Desde... Desde quando o Shun-nii é... G-Gay?

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Naquela noite, não jantei. Também, não poderia, ou vomitaria tudo logo em seguida. Meu estômago se revirou a noite inteira enquanto lembrava das palavras de Moriyama-san.

"Tem alguma coisa no meu rosto?"

"Só a minha boca."

E ele me beijou melhor do que eu jamais poderia ter sonhado.

Não dormi. Estava inquieto e absolutamente sem sono.

A camisa vermelha ainda tinha o cheiro de Moriyama-san por baixo de toda aquela tinta branca.

Meu coração disparava todas as vezes que eu lembrava do jeito que ele mordia meu lábio, ou como ele pegou forte na minha nuca. Eu gostei. Eu gostei muito.

Devo ter tomado três banhos; não por causa da tinta, mas porque não sabia mais o que fazer. Até cozinhei. Não consegui ficar sentado e ver TV. Arrumei as gavetas do armário e limpei a casa de cima a baixo. Simplesmente não conseguia ficar parado e tinha vontade de sair correndo toda vez que lembrava daquilo.

"Só a minha boca."

"Só a minha boca."

"Só a minha boca."

Oh, meu Deus. Limpo e organizo meus sapatos; minhas mãos ainda tremem. Não fecho os olhos porque tenho medo de infartar, meu coração está batendo muito rápido a muito tempo.

Meu cardiologista me mataria, se eu tivesse um.

O sol começa a raiar e não fechei os olhos mais do que dois minutos essa madrugada. Também, não ligo; estou agitado. O dia está nascendo e sabe o que isso quer dizer?

Que vou ter que encarar Moriyama-san.

Pulo do sofá e vou até a janela, agarrando-me ao parapeito e olhando para baixo. Meu estômago se revira de novo. Merda, o que está acontecendo?

O que está acontecendo?

.

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Moriyama Yoshitaka não pregou os olhos aquela noite.

Mal conseguia se manter deitado na cama, por isso deve ter deitado no máximo dez minutos antes de levantar. Não sabia o que fazer, por isso fez flexões até os braços ficarem moles. Depois, abdominais até não conseguir mais respirar. Ainda não satisfeito, fez agachamentos até não conseguir mais andar.

Pelo menos assim sentia-se mais relaxado.

Quando o sol começou a nascer, a euforia voltou. Sentou-se na beirada de seu colchão e olhou para o relógio do celular por uma hora até dar sete e meia.

Iria tomar café na casa de Izuki Shun, como todos os dias. Não havia motivo para não ir, havia?

Trocou a roupa, vestiu os sapatos, escovou os dentes e tentou arrumar o cabelo no espelho. Seu reflexo mostrava-o pálido e com olheiras muito escuras, mas ele não ligava.

Não ligava, porque veria Izuki, e ver Izuki faria tudo ficar bem.

Exatamente as sete e quarenta e cinco, Moriyama Yoshitaka deixa seu apartamento e segue na direção da floricultura do topo da colina.

A cada passo que dava, seu coração batia mais e mais forte. Não sabia o porquê, mas queria logo chegar no apartamento 31 do prédio de trás da floricultura, e tomar aquele café forte e ouvir Frank Sinatra enquanto come as torradas queimadas nas bordas.

Moriyama Yoshitaka não ligava para mais nada.

Ele deu a volta na floricultura e entrou pela entrada social do prédio, pegando o elevador e parando na frente da porta de madeira. A luz estava acesa, e a música já tocava.

Moriyama aperta a campainha, e os dez segundos que Izuki levou para atender a porta pareceram dez anos.

Os joelhos de Moriyama ficam bambos ao ver os olhos prateados de Izuki rodeados de olheiras roxas.

–Bom dia, Izuki-kun.

–Bom dia.

Moriyama Yoshitaka entra no apartamento e senta-se na cadeira. Não sabia o que dizer, o que fazer, ou como agir direito.

Izuki Shun coloca o bule com o café em cima da mesa e volta a preparar as torradas no fogão.

A mesa tem duas margaridas num copinho. São simples e bonitas, e Moriyama pega uma delas entre os dedos. Não têm um cheiro muito característico, mas é algo fresco e leve. As margaridas dão um toque alegre.

Tanto Moriyama quanto Izuki têm dificuldade de respirar; o ar parece absurdamente pesado.

Izuki coloca as torradas no pratinho na frente de Moriyama e senta-se para comer também.

Era mais um dia normal, da rotina normal, em que se comia torradas normais e se tomava café normal, com dois homens normais sentados a mesa ouvindo uma música normal.

Tudo estava normal.

Izuki sentia-se inquieto e impaciente. Queria algo, mas não sabia o quê. Moriyama, por outro lado, estava imensamente confortável olhando os restos de tinta nas pontas do cabelo preto de Izuki, e ria internamente com isso.

–As torradas estão ótimas - Moriyama quebra o silêncio.

–Obrigado.

Nenhum dos dois sabia muito bem o que falar.

Não havia o quê falar.

Falariam o quê? 'Uau, Moriyama-san, ontem foi realmente legal, né? Por acaso quer repetir a dose?'; 'Izuki-kun, vá mais vezes para casa para podermos nos beijar no chão da sala, ok?'. Não, muito obrigado. O silêncio era mais do que suficiente.

Moriyama Yoshitaka termina de tomar seu café e levanta para lavar as coisas na pia.

Izuki Shun coloca sua louça suja no balcão, puxa Moriyama pelo pulso e cola a boca na dele de novo.

E de novo, e de novo, e de novo.

Os dois se olham enquanto se beijam, com os olhos semi cerrados e através dos cílios. Eles pensam exatamente a mesma coisa:

"Ah, Deus, ele está me beijando".

Izuki fecha os olhos e fica na ponta dos pés, segurando a camisa de Moriyama com uma das mãos e sua nuca com a outra.

"Eu quero ficar assim o dia inteiro".

Moriyama coloca uma de suas mãos nas costas do outro e o puxa mais para perto. Está apoiado contra o balcão da cozinha, sendo beijado fervorosamente por Izuki.

Tudo tem gostinho de café fresco, e Frank Sinatra toca alegremente no fundo. O barulho dos beijos se mistura à melodia da música enquanto algumas mãos agarram tecidos e cabelos e pele, e deixam alguns arranhões nos pescoços e nucas.

O cabelo de Izuki ainda está meio duro na nuca e isso faz Moriyama querer rir.

O celular de Izuki apita, avisando que já são nove horas. Moriyama agarra Izuki mais forte, enquanto o mais baixo prende-o contra o balcão e beija-lhe o pescoço com afinco.

Moriyama suspira profundamente e estremeçe dos pés a cabeça. Não queria ter que ir embora. Não queria.

Izuki também entendia que precisava ir, mas preferia mil vezes mais ficar desse jeito com Moriyama. Os lábios dele são macios e o cheiro, gostoso. O pescoço dele era ótimo para ser beijado e ele gostava como Moriyama apertava o quadril contra o seu.

Izuki solta o cabelo de Moriyama e se afasta. Os dois descem pelo elevador sem trocar uma palavra, e chegam na floricultura em silêncio. Kobato e Suzume estão atrás do balcão fazendo alguma coisa.

Moriyama coloca a alça da bolsa sobre o ombro.

–Tchau - ele diz.

–Tchau. - Izuki responde e Moriyama vai-se embora.

Izuki vira e segue para os fundos, tentando esconder o rosto entre os dedos.

.

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Kobato, ao meu lado, morde os lábios com força e afunda a cabeça nas mãos.

Agora eu entendo o que ela quis dizer noite passada.

Oh, Deus. De repente, tudo está tão confuso... Como... Como uma coisa dessas...

Apoio as costas contra o balcão e tapo a boca com as duas mãos. Sinto meus olhos se enchendo de lágrimas enquanto escorrego para o chão.

Minha mente trabalha sem parar e eu ainda não consigo entender direito o que está acontecendo. O quê está acontecendo? Nem eu ou Kobato sabemos responder.

Os últimos dias... Kaena, Mirai, os cravos roxos e os jasmins no fundo da loja... Oh, Deus. Tudo está se encaixando. Tudo faz sentido.

Fecho os olhos com força, tentando não fazer muito barulho. Meu peito dói e meu coração bate a mil por hora.

Minha cabeça quase explode. Somos tão cegas. Minha mente trabalha sem parar para tentar entender como não percebemos que Shun-nii e Moriyama-san estavam loucos um pelo outro faz tempo.

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A floricultura do topo da colina estava cheirosa, colorida, cheia de borboletas e abelhas, e decorada com milhares de margaridas naquela quinta-feira. A luz do sol iluminava suavemente o ambiente, refletindo nas gotas de água das plantas recém regadas. Resumindo, a loja estava mais bonita do que nunca.

As margaridas, pequenas e brancas, davam leveza à loja e estavam em copinhos em todos os lugares disponíveis - ao lado do caixa, na ponta do balcão, na bancada dos embrulhos, no meio das rosas, na prateleira dos cactus, ao lado dos girassóis, no bolsinho do avental de Izuki Shun.

O próprio estava radiante aquele dia. As sakuras deixavam a rua perfumada, a calçada estava repleta de pétalas rosas, a primavera tinha chegado e o sol estava morno. Era o que se podia chamar de dia perfeito.

As vendas iam bem, os clientes pareciam felizes, Izuki estava feliz. Kobato e Suzume ainda não tinham voltado das entregas e demoravam um pouco mais do que o normal. Até Frank Sinatra intercalava o lugar com Barbra Streisand no posto de alegrar a loja.

Estava tudo bem.

Izuki Shun brincava com a margarida em seus dedos. Puxava as pétalas e cantava bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer. Mais uma vez dera bem-me-quer, e isso o fez sorrir. Jogou fora os restos da flor e dançou sozinho ao som de Woman in Love, da própria Barbra. Gostava da voz dela.

Kobato e Suzume entram pela porta tentando parecer normais. Elas terminaram todas as entregas e fariam o almoço, mas encontraram o irmão com a cabeça deitada no balcão e olhando para as margaridas.

–Já voltaram? - Izuki ergue a cabeça e sorri para elas, apesar de estar muito cansado - Não aprontaram com o italianinho, né?

Kobato e Suzume se olham. Izuki volta a abaixar a cabeça e cantarolar a música animadamente.

–Que é isso, Shun-nii? - Suzume coloca as mãos na cintura - Está apaixonado, é?

Kobato bate nas costelas da irmã sem que o irmão veja. Suzume quase grita.

–Quem não está? É primavera. Vocês já olharam para as rosas? Estão magníficas.

"Shun-nii está mesmo apaixonado", as duas estremecem.

We may be oceans away, you'll feel my love...

Kobato e Suzume correm para o apartamento delas e trancam a porta.

–Oh, meu Deus. Kobato, você...

–Eu disse. Eu disse e você não quis acreditar em mim.

–O Shun-nii...

–E o... O... O Moriyama-san...

Kobato coloca a mão sobre o peito.

–Calma, Kobato. - Suzume põe as mãos em seus ombros - Calma. Você sabe que o Shun-nii sempre conta tudo pra gente. S-Se ele for realmente g-gay, ele vai falar.

–Vai?

–Espero que sim... Por isso, não precisa se preocupar. Tanto o Shun-nii quanto o Moriyama-san não falaram nada, então... Então pode ser que a gente esteja enganada.

–Suzume...

Kobato abaixa o olhar.

–Não se desespere, o Moriyama-san ainda vai se apaixonar por você.

–QUÊ?

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O almoço na casa dos Izuki foi silencioso e bem gostoso. Como era costume, havia duas margaridas brancas boiando num potinho no centro da mesa, e Izuki já tinha derrubado seus hashis duas vezes por estar total e completamente distraído.

Queria muito encontrar-se com Moriyama no parque e ver as sakuras e pintar paredes e casualmente se beijar no chão da sala.

Levaria margaridas a ele, porque as flores estavam particularmente bonitas hoje. Assim como ele.

No período da tarde, Izuki ocupou-se limpando a parte dos fundos da loja, e transferindo os girassóis para vasos maiores; eles cresciam rápido, e já estavam maiores do que Kobato e Suzume. O sol começou a se pôr quando Izuki acabara de regar o limoeiro que crescia no jardinzinho. Ainda tinha o tamanho de uma perna, mas crescia forte e bonito.

Izuki ergueu-se, limpou os joelhos sujos de terra e foi pegar as margaridas.

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Moriyama Yoshitaka sai do trabalho com certa pressa. O dia tinha sido muito longo, e as horas literalmente se arrastavam. Ainda estava com canela embaixo das unhas e o cabelo tinha um pouco de farinha, mas nada que o vento quente da noitinha não pudesse levar embora.

O sol já estava se pondo e Moriyama ansiava para encontrar Izuki. Mas antes teria que trocar de roupa - tinha deixado cair massa de bolo na camisa por entre o avental enquanto olhava para o relógio pela décima sexta vez naquele dia.

Vinha andando pela rua com a camisa manchada de bolo, passando pela calçada do parque. Várias pessoas admiravam as flores, e crianças corriam pela grama. A farinha já tinha voado de seu cabelo quando ele avistou Izuki Shun vindo em sua direção carregando flores brancas consigo.

O coração de Moriyama dispara no peito e suas mãos ficam encharcadas. Izuki estava bonitinho à luz do sol que se punha e com os cabelos pretos voando ao vento. Ele tinha uma expressão feliz.

–Boa tarde, Moriyama-san!

–Boa tarde, Izuki-kun... O que está fazendo aqui?

–Você prometeu que veríamos as sakuras hoje, então vim cobrar.

Izuki Shun sorri de orelha a orelha e entrega as flores para Moriyama.

–Ah, é! - Moriyama ri e pega as flores, levando-as a face - O que são?

–Margaridas. Estavam bonitas, então resolvi trazê-las.

–Obrigado.

Moriyama Yoshitaka e Izuki Shun vão passear pelo parque enquanto observam as sakuras e riem da massa de bolo na camisa do cozinheiro.

O clima estava tão leve quanto as pétalas que voavam, e os dois riam sem se preocupar. Não havia algo para se preocupar; tudo estava bem. As margaridas estavam bem, as sakuras estavam bem, Izuki estava bem e Moriyama estava bem.

–Izuki-kun, chame Kobato e Suzume porque quero que vocês jantem lá em casa hoje - Moriyama diz com as mãos no bolso, olhando para as flores rosas acima de sua cabeça.

–Hm, ok. - Izuki olha para o lado - Falo para fazerem o quê?

–Nada de cozinhar - Moriyama dá uma piscadinha e sorri, olhando para frente - Vamos pedir uma pizza. Faz tempo que não como pizza.

Izuki sorri para os cogumelos que cresciam ao lado das raízes das árvores.

Para Moriyama, o dia não poderia estar melhor. Izuki estava radiante, a primavera tinha chegado, estava terminando de pintar as paredes de sua casa, e tinha acertado novamente no pão de ló. Ver Izuki com aquele sorriso idiota no rosto fez com que também ficasse com um sorriso idiota no rosto. As margaridas que ele trouxera fizeram-no esquecer da massa de bolo na camisa.

Izuki ligou para suas irmãs e disse que iriam jantar na casa de Moriyama enquanto ia para o apartamento do amigo. Kobato disse que estavam atendendo uma senhorinha e que iriam fechar tudo e iriam logo em seguida.

–Essas flores são fofas - Moriyam diz enquanto sobem as escadas até o terceiro andar - Margaridas, é?

–Aham.

–Por que margaridas?

–Porque elas estavam bonitas hoje - Izuki coça a bochecha - e são parecidas com você, Moriyama-san.

Moriyama enfia a chave na porta e ergue as sobrancelhas, sorrindo.

–Sério?

–Sério.

O cheiro de tinta já foi quase todo embora, e o chão continua sujo de respingos. Moriyama fecha a porta e olha para o relógio com as mãos na cintura.

–Ok, quanto tempo?

–...O quê?

–Quanto tempo até suas irmãs chegarem?

–Acho que uns quinze minutos.

–Por mim está bom.

–Por mim também.

Então Moriyama segura o rosto de Izuki contra o seu e as mãos do menor escorregam pela camisa manchada de massa de bolo.

Izuki é empurrado e prensado contra a parede enquanto tem a boca beijada fervorosamente, e segura os cabelos de Moriyama entre os dedos da mão direita, porque a esquerda está presa no alto de sua cabeça por dedos firmes.

Com a outra mão, Moriyama puxa a frente da camisa de Izuki para si. Está abafado e o ar parece rarefeito de tão difícil que é respirar. Moriyama tem que se abaixar um pouco por causa dos sete centímetros de diferença de altura, e por isso tem dificuldade em beijar o pescoço de Izuki, que estremece e suspira nas pontas dos pés.

Os suspiros na orelha de Moriyama já estavam deixando-o meio louco quando a campainha toca. Izuki segura a nuca de Moriyama e beija-o mesmo assim; um beijinho desesperado antes de ter que ir. Eles mantêm os lábios juntos enquanto se olham por entre os cílios.

–Vá para o banheiro - Moriyama sussurra sem tirar os olhos dos de Izuki. Ainda faziam-no lembrar de duas luas prateadas.

Izuki concorda com a cabeça enquanto a campainha toca de novo. Ele vai, e Moriyama pega seu celular e segue até a porta.

–Ah, sim, sim. Isso mesmo. - ele diz ao telefone quando abre a porta, e diz para Kobato e Suzume esperarem um segundinho - Vinte minutos? Ok. Obrigado. - ele desliga a falsa ligação e sorri para as meninas - Oi, minhas princesas!

A descarga soa e Izuki aparece na sala.

–Ah, demoraram! - diz.

–Bom, a senhorinha estava indecisa e Kobato tentou dar uma de boa samaritana. - Suzume dá de ombros - Shun-nii é o único que tem paciência com gente velha.

–Suzume!

–Desculpe.

–Tudo bem? - Kobato pergunta a Moriyama quando entra no apartamento - Como foi o trabalho?

Moriyama mostra sua blusa manchada de massa de bolo, e Kobato ri.

–Acabei de pedir a pizza, só vou lavar as mãos - Moriyama sorri e passa a mão na cabeça da garota - Esperem um pouquinho, tá?

–Tá - ela sorri.

–Argh, isso é cheiro de tinta? - Suzume cobre o nariz.

–É - Izuki responde e senta-se no chão - Qual é, Suzume, Moriyama-san nos convidou de bom grado para jantar aqui, não vá embora.

–Eu fico - ela diz e senta-se também -, mas se minha alergia ficar muito feia, você vai ter que me levar ao hospital!

–Eu levo sem problemas. - Izuki sorri carinhosamente para a irmã e passa a mão nos cabelos dela. São macios e bem escuros, assim como os seus.

No banheiro, Moriyama pede a pizza rapidinho e lava as mãos, olhando-se no espelho. Ele só não conseguia entender porquê gostava tanto de beijar Izuki; ele beijava-o com afinco, e Moriyama retribuía. Pôde jurar que sentiu Izuki ficando duro enquanto beijava seu pescoço, e o jeito que ele suspirava era tão bonitinho e provocante...

"Pare com isso".

O jeito que ele lhe mordia e segurava seu cabelo deixava Moriyama fora de si.

"Mas ele é tão bonitinho..."

Ele poderia passar a noite inteira beijando aquela boca e sentindo aquele cheiro floral. Poderia e queria. Queria beijá-lo até os lábios ficarem dormentes, porque tudo sobre Izuki Shun era tão gostoso.

Sozinho no banheiro, Moriyama viu suas bochechas ficando vermelhas no seu próprio reflexo.

"Oh, Deus, isso não está acontecendo".

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Izuki, Moriyama, Kobato, e Suzume comiam suas pizzas enquanto pintavam o balcão da cozinha. Por causa de sua alergia, Suzume estava sentada no outro canto com uma máscara de pintor sobre o rosto. A caixa de pizza estava aberta e jogada no chão, cheia de respingos e somente dois pedaços restantes que ninguém queria. Moriyama tinha arranjado uma escada para pintarem o teto. Ele segurava-a enquanto Izuki pintava as dobrinhas do teto e da parede.

–Não vá cair, Shun-nii! - Kobato gritava do outro lado por causa da música pop coreana que tocava - Se quebrar uma perna, a Suzume vai ter que lidar com as senhorinhas na floricultura!

–Eu vou mandá-las pra esquina, isso sim!

–Suzume! - Izuki exclama e abaixa o rolinho - Não se deve ser rude com clientes!

–Mesmo se a velha fica contando moedinhas por dez minutos? Sério, Shun-nii?

–Sério!

Moriyama ri consigo mesmo. Suas mãos já estão cobertas de tinta branca e a camisa tem algumas gotinhas. Izuki também está sujo e tem um pouco de tinta no cabelo. Kobato está impecável enquanto pinta o balcão.

–Shun-nii, não vá cair, hein! - Kobato diz novamente - Estou falando sério!

–Quantos anos você acha que eu tenho, hein? - Izuki faz uma careta e abaixa o rolinho - Tenho cara de criança? Você que é a irmã mais nova aqui.

–MORIYAMA-SAN!

Mas já era tarde demais. Izuki batera com o rolinho no pote de tinta, e este caíra na cabeça de Moriyama. Izuki prende a respiração e Kobato solta um gritinho.

Moriyama não se mexe por alguns segundos. A tinta branca escorre-lhe pelo rosto e pescoço. Quando ele levanta o pote de sua cabeça, Izuki morde os lábios ao ver o cabelo escuro de Moriyama completamente branco.

–Ai, merda.

Moriyama passa os dedos sobre os olhos e consegue abri-los. Seu rosto está totalmente branco e a tinta continua escorrendo pelo pescoço e mancha a gola da camisa.

–Moriyama-san. - Izuki está totalmente sem ar - Moriyama-san (meu Deus), desculpe...

Mas Moriyama aperta a própria mão contra a bochecha e dá um tapão na bunda de Izuki, deixando a forma perfeita de uma mão do lado direito dos jeans escuros do floricultor. Izuki quase cai da escada.

–É sério que você quer outra guerra? - Moriyama pergunta, rindo - Se quiser, só me avisa antes!

A bunda de Izuki dói tanto que ele mal consegue descer a escada. Quando coloca o pé no chão, Moriyama enfia um outro pote de tinta na cabeça de Izuki.

–SHUN-NII!

–MORIYAMA-SAN!

Kobato e Suzume estão escandalizadas. Moriyama só consegue rir. Era tudo tão divertido! Ficar com Kobato, com Suzume, e com Izuki era muito gostoso e natural. Era como se já fosse parte da família.

Moriyama Yoshitaka sentia-se feliz como não se sentia faz tempo. O riso era fácil perto daquela família, e ele sentia-se, pela primeira vez desde que tinha perdido a namorada, completo.

Moriyama ri tanto que até Suzume o acompanha. Izuki tira o pote da cabeça, também cheio de tinta, também com os cabelos, olhos e boca brancos. Kobato continua olhando como se estivesse vendo duas crianças.

Isso foi sacanagem - Izuki diz baixinho enquanto limpa os olhos e boca na barra da camisa. Estava imunda.

–Você quem começou!

Os dois se olham e pulam ao mesmo tempo para a lata maior, mergulhando as mãos e se estapeando de novo, rolando no chão tentando sujar o outro o máximo que conseguiam.

–Meu Deus! O que vocês são?! Crianças?! - Kobato grita e larga seu rolo no chão - Olha a zona que vocês estão fazendo!

Izuki e Moriyama, jogados no chão naquele mar de tinta, olham-se e pensam exatamente a mesma coisa.

–Oh, Deus. - Suzume exclama e leva a mão à testa.

Os dois rapazes levantam-se do chão quase completamente brancos. Moriyama ergue um dedo na direção de Kobato e grita juntamente com Izuki:

–ABRAÇO EM GRUPO!

–O QUÊ? NÃO, NÃO, NÃO!

Kobato grita quando Izuki abraça-a de um lado e Moriyama abraça-a do outro, enchendo a menina de tinta branca. Os dois começam a rir enquanto a menina se debate, tentando se livrar do abraço. Ela consegue fugir, mas já é tarde.

–M-Minha roupa... - Kobato parece a ponto de chorar.

–Ah, Kobato-chan! Não se estresse tanto! - Moriyama vai até a garota e dá-lhe um abraço apertado - É só lavar! Vamos nos divertir um pouquinho, faz bem.

Kobato empurra Moriyama com o rosto completamente vermelho por trás da camada de tinta branca. Ele ri.

–Sabe o que é isso? - Kobato ergue suas mãos na frente do rosto - Sabe?

–...Não - Moriyama responde.

–Meu esmalte. Arruinado. Destruído.

–Quanto drama, Kobato-chan. - Moriyama sorri e tira o cabelo duro da frente dos olhos - Vamos brincar mais um pouco. - insiste com um sorriso que faz as pernas de Kobato perderem as forças.

Kobato sente-se total e completamente boba.

–J-J-Já está tarde. - ela olha para o relógio do celular - P-Precisamos acordar cedo amanhã...

–Quem, cara pálida? - Suzume ergue uma sobrancelha - Eu não preciso acordar cedo não. - pode-se ver que ela sorri por trás da máscara - Se tu quer ir para casa, vá sozinha, porque eu...

–Vamos, Suzume. Vamos logo - Kobato puxa a irmã pela mão - Shun-nii, você ainda vai demorar muito aqui?

–Bom, ainda precisamos pintar o balcão, sabe? Você só pintou metade - Izuki ergue uma sobrancelha.

–E falta o banheiro ainda - Moriyama completa e sorri - Tem certeza de que quer ir, Kobato-chan?

–T-Tenho. - ela desvia o olhar e puxa Suzume consigo - Tchau, boa noite.

–Boa noite, meninas - Moriyama acena com um sorriso.

–Eu juro que se você tiver espirrado uma maldita gota de tinta em mim, Kobato... - Suzume resmunga enquanto as duas garotas saem pela porta.

Izuki vira-se para Moriyama, que está parado ao seu lado, tão sujo de tinta quanto ele mesmo.

–Pensei que você tinha dito que a gente só ia pintar a sala. - diz.

–Eu disse.

–Também pensei que você tivesse dito que o banheiro não precisa de pintura porque está bonitinho.

–Eu disse.

Moriyama sorri de orelha a orelha para Izuki. Se era engraçado? Não era. Mas Moriyama sentia-se imensamente feliz.

Izuki sorri também e joga seu rolinho no chão, indo até Moriyama e tascando-lhe um beijo digno de Hollywood.

Os dois se separam imediatamente.

–ARGH, ECA, ECA, ECA!

–EWWW, QUE NOJO!

Tudo tinha gosto de tinta, e os dois faziam careta e procuravam por um copo para beber água.

–Péssima ideia, Izuki-kun. Péssima ideia - Moriyama limpa sua boca com a água da pia da cozinha. Agora só a metade de cima, a partir da ponta do nariz, estava suja de tinta.

Izuki ri.

–Foi mal, foi mal. - ele tinha tirado a maior parte da tinta das bochechas, mas seu cabelo ainda estava completamente branco e duro.

Ele senta-se no chão e apoia as costas em uma das paredes cuja tinta já está seca. Moriyama senta-se ao seu lado.

–A Kobato-chan ficou muito brava? - Moriyama sorri como se pedisse desculpas.

–Acho que ela ficou sem jeito, isso sim - Izuki controla-se para não rir - Além disso, ela é meio neurótica com limpeza.

Izuki e Moriyama olham-se enquanto sorriem um para o outro. Os olhos pretos de Moriyama fazem um contraste bonito contra o branco, enquanto os prateados de Izuki misturam-se com o fundo.

Izuki Shun, apesar de coberto de tinta, sentia-se imensamente feliz também.

Moriyama inclina-se para frente, mas Izuki recua um pouco.

–Mas tudo tem gosto de tinta, Moriyama-san - ele se lamenta.

Moriyama dá de ombros. Izuki ri baixinho, dando de ombros também. Não havia muito a se fazer, havia?

Os dois voltam a se beijar, ignorando o gosto forte da tinta branca, que também secava em seus rostos e roupas e cabelos. Moriyama segura o rosto de Izuki enquanto entrelaça os dedos da mão livre nos dele.

Tudo com Izuki era tão fácil, tão leve, por quê? Por que era assim? Moriyama não entendia, e queria saber. Queria saber o que era aquilo que acontecia, e como poderia lidar com isso.

Izuki, por outro lado, não entendia e sequer fazia questão de entender. Só sabia que Moriyama se parecia com uma margarida, e, para ele, isso bastava.

Moriyam arrasta-se pelo chão e puxa Izuki consigo. Ele tira a própria camisa e joga-a para um canto. Izuki repira fundo. Moriyama não é um cara bombado, mas tem os músculos bem definidos, principalmente os dos braços. Ele puxa a camisa de Izuki para cima e joga-a para o lado também.

Moriyama Yoshitaka comprime os lábios contra os de Izuki Shun e ajoelha-se na frente dele, empurrando-o contra o colchão no chão. O coração de Izuki quase pula do peito quando ele sente as costas contra algo macio e se vê deitado em baixo de Moriyama. Suas pernas ainda estão para fora e ele continua sentado no chão, apesar de estar parcialmente sobre o colchão.

Moriyama sequer abre os olhos. Continua beijando Izuki entusiasmadamente, enrolando a língua na dele e perdendo o fôlego. Sua mente estava quase explodindo, e tinha a sensação de que as coisas ao redor de si estavam girando.

Moriyama descola a boca da de Izuki e encosta a testa no colchão ao lado da orelha do mais baixo. Ele respira forte e ainda mantém os olhos fechados; seu coração bate rápido e depressa demais, e tudo está confuso demais. Izuki abre os olhos e encara o teto semi-pintado, arfando. Moriyama abre a boca e, baixinho, pergunta:

–O quê a gente está fazendo?

–...A gente está se beijando.

–Não. Quero dizer... O quê a gente está fazendo?

Izuki não conseguia compreender o sentido daquela pergunta.

–Eu não sei e eu não ligo, só me beija, seu idiota.

Izuki parece irritado. Que pergunta idiota, sério. Como assim o que estavam fazendo? Oras, eram dois caras - dois caras adultos - se beijando. Qual o problema? Izuki não via algum.

Para Izuki - Moriyama pensava - era simples; eram duas pessoas normais se beijando. Só isso. Não havia nada mais, não precisava haver. Não necessitava um motivo, sequer uma explicação.

Eram somente dois rapazes se beijando no chão da sala.

Então Moriyama ergue a cabeça, olha nos olhos prateados de Izuki e sorri consigo mesmo por causa dos cílios brancos dele. Se era simples assim, não havia motivo para complicar. Afinal, o que havia de errado em beijar alguém que se gosta? Se Moriyama gostava de Izuki e Izuki gostava de Moriyama, os dois poderiam se beijar a vontade, e nada poderia ser dito a respeito.

"Izuki-kun, não sei o que a gente está fazendo... Mas eu gosto".

"Eu gosto muito".


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Notas finais do capítulo

Curiosidades #6

—Kobato odeia cachorros.

—Moriyama sempre teve a fama de ser um ladies man, mas não beijou mais do que cinco garotas na sua vida inteira.