Forget-me-not escrita por ohhoney


Capítulo 8
Sakura


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores,

Choveu. E mais, continua chovendo - pouco, mas continua. Como o prometido, vou fazer o capítulo bônus porque a dança da chuva de vocês é merecedora. Valeu mesmo!

Queria dizer que chegamos aos 15 acompanhamentos - o que é uma vitória, considerando a impopularidade do casal - e 4 favoritos. Agradeço a todos os leitores, mesmo. Agradeço em especial àqueles que sempre deixam um review, porque não tem maior satisfação pra um autor ver que sua história está sendo bem recebida.

Àqueles que ainda não deixaram seus review, não se sintam pressionados. Sei que muitos nunca vão comentar, mas saibam que seu apoio também é importante. Agradeço desde já. Se um dia forem mandar um review, saibam que responderei com o maior carinho do mundo. Essa fanfic foi a história a que mais me dediquei e é feita de fã para fã.

Desculpem pela Bíblia, espero que tenham uma boa leitura.



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Sakura

.

–Moriyama-san, sua ex-namorada está lá fora.

Kobato parece estar com um pouco de mau humor, mas abre um sorriso logo que lhe beijo a mão. Ah, sim, essas meninas são umas gracinhas.

–Obrigado, Kobato-chan.

Respiro fundo. Ver Mirai ainda era uma dor no peito, mas felizmente estava cicatrizando rápido. Termino de arrumar minha cama e vou recepcioná-la.

Mirai está parada do lado de fora da floricultura com os braços cruzados sobre o peito e parece meio impaciente. Ah, caramba. Ela continua linda...

–Yoshi- Moriyama. Que bom que veio.

–Eu é que agradeço. Trouxe minhas coisas?

Por que ela tem que continuar tão bonita? Não é justo.

Ela parece mesmo um copo-de-leite.

–Trouxe, estão no porta-malas.

Mirai abre o porta-malas do seu carro e tira de lá quatro caixas de papelão de tamanho médio. Ajudo-a. Izuki-kun e Suzume chegam para ajudar também, pegando as caixas e as levando para o quarto em que durmo.

Mirai limpa as mãos nas calças e olha para o outro lado.

–Bom, é isso.

–Obrigado de novo.

–Tudo bem...

Ela se despede, entra no carro, e vai embora. Se Deus quiser, nunca mais vou ter que olhar pra ela. Sinto-me mal, e extremamente cansado. Minha cabeça ainda está doendo por causa da bebedeira de ontem. Suspiro.

Dou meia volta e entro na floricultura. Kobato está lendo uma revista atrás do balcão e Suzume rega as flores cantarolando uma música alegre. O clima está agradável, nem muito frio, nem muito quente, e a loja está super colorida.

–KOBATO, SUZUME! - ouço Izuki-kun gritando do fundo da loja. As duas garotas erguem as cabeças, e até eu me viro para olhar. Izuki-kun surge correndo pelo corredor e para no meio da loja com um sorriso enorme no rosto e os olhos super brilhantes.

–Que foi?

Ah, merda. Ainda estou com aquela ideia na cabeça.

–Olhem só!

Izuki-kun ergue a mão direita e Kobato e Suzume dão um gritinho alegre, e se abraçam e começam a pular. Izuki bate palmas, contente, e eu fico lá meio perdido.

–Moriyama-san, não entendeu? - Izuki-kun chega perto de mim. Ele está tão feliz que mal consigo conter um sorriso.

–Não...

–Sabe o que é isso? - ele ergue a mão de novo e eu vejo um galho com algumas flores rosas.

–Hm, é um sakura, não é?

–Sim! E sabe o que isso significa?

Os olhos dele estão tão arregalados que mal consigo acreditar que nós bebemos todas ontem.

–Não...

–Como não?! Quer dizer o início da primavera!

Ah, sim, a primavera! Como pude me esquecer?! A loja ficaria mais colorida, mais alegre, mais cheirosa, e muito mais bonita do que já é.

Kobato e Suzume correm até o irmão e começam a enchê-lo de perguntas. Observo de longe. Essa família é muito fofa. Izuki-kun está radiante essa manhã e acho que até minha dor de cabeça vai embora. Não posso deixar de sorrir com a empolgação deles.

Como um ser humano normal, não entendo muito bem sobre flores ou primavera, mas entendo como isso deixa Izuki-kun e suas irmãs com sorrisos enormes nos rostos.

Droga, ainda estou com aquela ideia louca na cabeça, e ela não parece querer ir embora.

.

.

–Shun-nii, a gente vai ver as sakuras hoje, né?

–A gente tem que ir!

Kobato e Suzume ficam tão fofas empolgadas, tenho vontade de mordê-las.

–Claro que vamos. - Izuki-kun responde, servindo-se de mais arroz - Algum ano deixamos de ir?

As meninas gritam de empolgação.

O almoço que Suzume preparou está mais do que divino, e como para tentar me recuperar da ressaca. Já estou bem melhor, mas não 100% ainda.

Izuki-kun colocou várias sakuras numa tigelinha com água e a mesa estava adorável e super perfumada.

–Vou fechar a loja mais cedo, aí podemos ajudar Moriyama-san a levar as coisas para a casa nova e visitar o parque antes de escurecer. - ele diz e olha para mim - Pode ser?

–Claro.

Seco o suor das minhas mãos na calça. Por que insisto em ficar pensando nisso? Não é... não é certo.

Os passarinhos cantam alegremente do lado de fora e a loja está cheia de abelhas e borboletas. Arrumamos a loja rapidamente e as meninas atendem os últimos clientes antes de Izuki-kun desligar o anúncio luminoso da frente da loja e irmos todos na direção da minha casa nova, carregando cada um uma caixa de papelão.

O apartamento está vazio, mas cheio de pó e todo fechado. As paredes me dão arrepios, e a cor da bancada da cozinha fere meus olhos.

Juro que se não fosse por Izuki-kun, não teria pegado esse apartamento.

–Nossa, aqui é bem espaçoso - Kobato olha ao redor.

–Mas que bancada feia. E essas paredes estão horríveis.

–Suzume!

–Desculpe, Shun-nii.

–Eu sei disso, Suzume-chan - digo e coloco a caixa no chão - Mas seu irmão disse que era só pintar que tudo ia ficar bom.

–Isso eu concordo. - ela coloca a caixa que carrega ao lado da minha - Então vamos pintar isso logo porque estou ficando nervosa.

–Suzume! Que modos são esses? - Izuki-kun parece horrorizado.

–Desculpe. - ela cruza os braços e vira para o outro lado - Só estou falando a verdade.

–O lado bom é que não fica longe da nossa loja - Kobato sorri alegremente e eu passo a mão na cabeça dela.

–Acho que vou lá fazer uma visitinha de vez em quando, pode ser?

Izuki-kun coloca a caixa no chão e segue rapidamente para a janela.

–Dá pra ver o parque daqui! - ele exclama - Nossa, as sakuras estão muito bonitas.

A luz do sol reflete no cabelo brilhante de Izuki-kun e ilumina seu rosto com uma luz amarelada. Dá pra ver os olhos dele brilhando, e ele parece tão feliz...

Argh, o pensamento não vai embora.

–Shun-nii, vamos ver as sakuras! - Kobato puxa a manga da blusa dele, parecendo uma criancinha.

–Podem ir na frente, eu fico aqui e ajudo Moriyama-san a desembalar as coisas, pode ser?

–Mas vocês não querem vir junto? - Kobato faz carinha de cachorro sem dono e eu rio da fofura dela.

–A gente vai, só vamos terminar as coisas por aqui. Vão na frente, sim?

–Tsc, ir ver as sakuras é coisa pra se fazer com o namorado, não com a chata da sua irmã gêmea. - Suzume revira os olhos.

–Vai chamar o italianinho então - Izuki sorri sugestivamente e as bochechas de Suzume ficam vermelhas.

–Shun-nii... Não seja bobo. - Suzume pega Kobato pela mão e saem pela porta - A gente se vê depois.

Olho para Izuki-kun com as sobrancelhas erguidas.

–Italianinho? - pergunto.

Ele ri e começa a abrir uma das caixas. Ajoelho perto dele.

–Suzume está a fim daquele menino loiro que foi na loja outro dia, lembra?

–Lembro sim.

Ele me passa meu computador e alguns CDs.

–Ele é filho do italiano do restaurante da rua de baixo.

–Ah... - rio - Ele não é feio. Meu rádio! Mirai me mandou meu rádio! - pego-o com cuidado e abraço-o - Cara, senti falta dele.

–Tem mais uns CDs aqui - Izuki pega um e olha a capa - Isso daqui é k-pop?

Pego o CD das mãos dele rapidamente.

–Não.

–Isso é SUPERJUNIOR?! - Izuki pega outro CD e encara-o com os olhos arregalados.

Ele começa a rir e me dá o CD.

–Q-Qual o problema de gostar de k-pop? Eles cantam bem! - digo e escondo os CDs nas minhas costas. Droga, minhas bochechas estão quentes.

–Nenhum! - ele diz, ainda rindo - Nenhum mesmo, Moriyama-san. É que como você ouve Frank Sinatra comigo de manhã, nunca pensei que fosse gostar de k-pop, só isso.

Ele continua sorrindo para si mesmo enquanto tira mais CDs da caixa.

–Depois você me empresta um?

–Claro... Você curte?

–Nunca ouvi - ele afasta a caixa e começa a abrir uma nova - Mas se você gosta, então deve ser bom, certo?

As janelas estão abertas, mas está super abafado aqui dentro.

Izuki-kun está tão bonitinho que aquela ideia maluca pipoca na minha cabeça de novo e de novo.

Pare com isso, Moriyama. Pare com isso.

–Certo - respondo, mas minha voz sai meio sem ar.

Terminamos de desembalar minhas coisas. Fico feliz que Mirai tenha devolvido todos os meus CDs, meu rádio, meu videogame, e minhas roupas. Ela até que não é tão ruim assim.

Claro que não queria ter um motivo para estar me mudando, mas como não é o caso e eu fui embora de casa, preciso arrumar não só minhas roupas, mas também a vida.

Como ainda são duas e meia, pergunto a Izuki-kun se ele quer ir comigo a loja comprar algumas coisas básicas pra casa nova, e ele topa.

Saímos na rua. O chão está coberto de pétalas e flores rosadas, e o ar está infestado por um cheiro suave e docinho. Izuki-kun parece empolgado pelo início da primavera, e quero visitar logo o parque com ele.

Passamos no supermercado para comprar alguma comida, e logo depois na loja de móveis.

–Vai comprar o quê? - ele me pergunta quando passamos pela porta.

–A grana está meio curta, então vou comprar só o básico, tipo um colchão, um armário, um chuveiro, e algumas panelas. Ah, e a tinta de parede.

–Pelo menos o anão do cheetos deixou o fogão dele pra trás - Izuki sorri e sorrio também.

–Só espero que esteja funcionando.

Compramos tudo o que tínhamos que comprar, então eu e Izuki-kun passamos em casa para deixar as coisas novas.

–Onde vamos deixar o colchão se você não tem cama ainda? – Izuki-kun diz sem fôlego depois de subir três lances de escada carregando aquele colchão de casal.

–Na sala mesmo - digo, arfando - Não me importo com essas coisas.

Colocamos o colchão no chão ao lado da parede da janela. Arrumo as panelas e a comida nos armários da cozinha e começo a sentir um cheiro forte.

Izuki-kun está abrindo uma das latas de tinta.

–O que está fazendo? - pergunto e vou até ele.

–Ué, a gente não ia começar a pintar as paredes? - ele pega um dos rolos e mergulha-o na lata.

–Pensei que você fosse querer ver as sakuras lá no parque - digo.

–As sakuras não vão sair de lá - ele diz - Não é como se elas fossem criar pernas e sair correndo.

Sorrio para ele.

–Tem razão. Ah, espere, Izuki-kun. Você não vai querer sujar essa sua camisa de tinta. Vamos pôr umas camisas velhas.

Pego duas camisas da pilha de roupas e entrego a vermelha a ele.

–Obrigado.

Ele tira a própria camisa. Ah, Deus.

Izuki-kun é um cara magro, mas dá pra ver muito bem o contorno dos músculos da barriga dele. Os braços dele são fortes.

Desvio o olhar rapidamente e troco de camisa também. Coloco nossas roupas na janela e nós começamos a pintar a parede da porta. A tinta tem um cheiro forte, mas é de uma cor bem legal. O apartamento realmente fica bonito com uma boa pintura.

Ainda bem que Izuki-kun escolheu esse daqui. E fica pertinho da floricultura, além de ter uma vista bonita.

Não sei por que, mas minha camisa vermelha ficou ótima em Izuki-kun.

Conseguimos pintar mais duas paredes da sala e uma da cozinha antes de a campainha tocar e Kobato e Suzume entrarem pela porta da frente.

–Oi gente - Suzume entra alegremente - Trouxemos...

Ela para de falar e solta três espirros.

–Isso é tinta? - ela espirra de novo - Ah, merda.

–Suzume! E essa boca suja?!

Ela sai correndo do apartamento com a mão no nariz, e Kobato entra logo em seguida. Olho para Izuki-kun pedindo uma explicação.

–Ela é super alérgica a cheiro de tinta - ele explica e suspira - Mas ela hoje está terrível, meu Deus. Mais afiada do que nunca.

–Suzume saiu correndo e me deu isso daqui - Kobato entra segurando a gola da camisa contra o nariz e com alguns galhos de sakura nas mãos e uma sacolinha de plástico - Suzume disse para trazermos uns sanduíches e as sakuras para "animar um pouco aquele apartamento feio e desleixado".

Rio enquanto Izuki-kun chama a atenção de Kobato.

–O que há com vocês hoje? - ele pergunta, colocando a mão na testa como se pensasse o que fez de errado para merecer isso - Estão terríveis!

–Desculpe, Shun-nii. Também não posso ficar aqui ou minha rinite vai vir com tudo. A gente se vê mais tarde, ok?

Vou até Kobato e pego os galhos de sakuras.

–Muito obrigado, Kobato-chan. O apartamento precisa mesmo dessas flores.

Ela desvia o olhar e despede-se. Coloco-as em um copo d'água no parapeito da janela.

–Izuki-kun, não vai querer ir ver as sakuras? Já já vai escurecer - digo.

–Amanhã nós vamos, Moriyama-san. Vamos terminar de pintar a sala.

–A gente pode pelo menos ir assistir o pôr-do-sol no telhado - sugiro, colocando as mãos nos bolsos - A vista deve ser direto pro parque, pelo menos podemos ver as sakuras.

Izuki-kun sorri como se recebesse um presente e nós dois subimos os últimos andares de escada. A porta do telhado não estava trancada, só encostada, então nós fomos comer nossos sanduíches sentados na beirada do prédio.

O vento que sopra nossos cabelos é quente e traz várias pétalas rosas na nossa direção. Apesar de não estarmos muito alto, a visão daqui é nada menos que perfeita.

O sol se põe bem na nossa frente, escondendo-se entre os galhos das sakuras, que estão com uma cor dourada. O parque está todo florido, e há várias pessoas embaixo das árvores fazendo piqueniques ou namorando. Tudo está iluminado com aquela luz amarelada do pôr-do-sol, e o ar cheira a terra e a flores.

Izuki-kun está com a boca meio aberta e os olhos arregalados. A luz do sol faz sombras no rosto dele, principalmente os cílios nas bochechas. Ele parece encantado com a visão. Eu também.

–Meu Deus - é a única coisa que ele suspira.

Izuki-kun está incrivelmente bonito à luz do sol que se põe e com pétalas de flores voando em torno de si.

Aquela ideia idiota pinica minha mente de novo. Faço de tudo para ignorá-la, mas está quase impossível.

Os sanduíches de geleia de framboesa das meninas estão super gostosos. Eu e Izuki-kun ficamos assistindo o pôr-do-sol no telhado, comendo sanduíches e observando as pessoas lá em baixo.

Não consigo parar de olhar pra ele.

Izuki-kun percebe que estou encarando-o e vira o rosto na minha direção. Ele me encara enquanto mastiga e sorri levemente.

–Bonito, né? - ele diz e volta o rosto para frente. Os olhos prateados dele refletem a luz, e há algumas pétalas de sakura em seu cabelo.

"Lindo".

O maldito pensamento não vai embora.

.

.

Quando o sol finalmente se põe, começa a esfriar rápido, e nós resolvemos voltar para o apartamento para terminar de pintar as paredes da sala. Felizmente, só faltam mais duas. Acho que vamos conseguir terminar antes da hora do jantar.

–Moriyama-san, eu com certeza venho ver o pôr-do-sol no seu telhado mais vezes. - Izuki-kun diz enquanto pega um dos rolos e mergulha-o na tinta branca.

–Pode vir quantas vezes quiser.

–Na próxima vez, vamos trazer Kobato e Suzume também. Tenho certeza de que a Kobato vai chorar - ele sorri para si mesmo e passa o rolo na parede.

–Por quê?

–Ela é muito emotiva com coisas assim.

Sorrio também.

Meu CD do Frank Sinatra toca no fundo enquanto pintamos as paredes. O chão está cheio de respingos e a casa está uma bagunça danada.

Terminamos de pintar a parede oposta ao lado da janela, agora falta a do lado da porta. Passo o rolo de tinta em cima da mão esquerda de Izuki-kun num momento de distração com a música.

–Ah! - ele exclama e olha para a própria mão pintada de branco.

–Ops, desculpe. Foi sem querer - digo, franzindo o nariz.

Ele me olha com a testa franzida e passa seu rolo de tinta no meu braço.

–Ei! - afasto-me de perto dele - Isso foi de propósito!

–Claro que foi.

Ele volta a pintar a parede com a cara séria. Que maldito!

Enfio a mão dentro da lata de tinta e meto-a na frente da camisa dele. Izuki-kun exclama, surpreso, e me olha com os olhos arregalados e a boca aberta. Começo a rir.

Izuki-kun coloca as duas mãos dentro da lata ao mesmo tempo que eu e nós começamos a nos estapear, sujando rosto, cabelo, roupas, chão, até mesmo a parede com alguns respingos.

Ele começa a rir e se afasta, analisando as próprias roupas.

–Idiota - ele suspira. Ele tem as bochechas cheias de tinta branca, o nariz tem algumas gotas e a testa tem a marca de dois dos meus dedos de uma ponta a outra.

Pego meu celular e me vejo no reflexo da tela. Minha bochecha esquerda tem uma mão bem clara e definida, a direita está suja desde a orelha à ponta do nariz e as pontas da minha franja estão brancas e grudadas na grossa camada de tinta da testa.

–Maldito...

–Ok, vamos parar com isso – Izuki-kun diz e sacode as mãos, tirando o excesso de tinta - Vamos terminar aqui de uma vez.

–Ok, ok.

Izuki-kun pega seu rolo do chão e volta a pintar a dobrinha da parede com o teto. Sorrio para mim mesmo e mergulho meu rolo na tinta, deixando-o encharcado.

Paro logo atrás dele e pinto-o de branco da parte de trás dos joelhos à cabeça, levantando os cabelos agora brancos da nuca dele. Izuki-kun mal se mexe, então começo a rir que nem louco porque tem uma faixa branca perfeita no meio das costas dele.

Mal vejo quando Izuki-kun se vira e passa o rolo na minha cara, descendo todo meu tronco.

–FILHO DA MÃE! - começo a cuspir a tinta, que entrou na minha boca, e esfrego os olhos.

Izuki-kun começa a se rachar de rir, mas não consigo vê-lo. Tento ir até a pia da cozinha para limpar os olhos e a boca.

–Nossa, Izuki-kun. Nossa. Eu confiava em você.

–Você quem começou, Moriyama-san.

Termino de lavar os olhos e a boca, e ergo o olhar. O cabelo da parte de trás da cabeça de Izuki-kun está todo de pé e branco, e ele me encara furioso.

Ou tenta parecer bravo, mas não consegue porque está rindo.

–Vamos terminar isso de uma vez.

Olho meu reflexo na janela. Minha cara está 60% branca, mas pelo menos consegui tirar a maioria. Só o contorno do meu rosto que está com uma camada mais grossa, e a testa e o cabelo da parte da frente. Minhas orelhas estão cheias de tinta.

Nós pintamos as últimas partes da parede depois da guerra de tinta, e sentamos no chão um ao lado do outro para admirar o trabalho bem feito.

–Você é pior do que a Kobato e a Suzume juntas - ele balança a cabeça e ri.

–Elas são meninas ótimas!

–Elas são malcriadas, isso sim! Ah, meu Deus.

–Quê?

–... Eu que as criei.

A tinta da minha cara começa a endurecer.

–Meu cabelo... - Izuki-kun suspira, passando os dedos pela nuca - Vai ficar tudo duro.

–Toma um banho que isso sai - digo.

Ele esfrega o rosto na barra da camisa, e eu não consigo parar de olhar pra ele. Não consigo. Izuki-kun está bonitinho todo sujo de tinta, e os cabelos pretos dele estão mais escuros do que nunca.

Percebo que estou encarando-o faz tempo. Ele me olha também e ergue uma sobrancelha. Minhas mãos pingam de suor. O pensamento não vai embora de jeito nenhum. Merda. Ele ergue a outra sobrancelha.

–Tem alguma coisa no meu rosto?

–Só a minha boca.

Seguro-o pela nuca cheia de tinta e puxo-o na minha direção, pressionando minha boca contra a dele de um jeito meio eufórico, mas eu não estou nem aí, porque a boca dele é muito macia, do jeito que eu imaginei que seria.

Izuki-kun não se mexe, então eu me afasto dele.

Merda. Eu não deveria ter feito isso.

Izuki-kun não parece assustado, ou surpreso, nem nada do tipo. Ele só me encara com a boca semi aberta e pisca algumas vezes.

–Por que você fez isso?

–Não sei. Desculpe.

–Não. Eu quero dizer, por que você parou?

Meu coração dá três pulos e um twist carpado quando Izuki-kun pega na gola da minha camisa com as duas mãos e me puxa contra ele até que com força, voltando a me beijar.

Minha pressão arterial vai às alturas e eu fico surpreso de não ter infartado.

Inclino a cabeça para o lado e seguro na nuca dele de novo, fechando os olhos e sentindo seus lábios se movendo contra os meus de um jeito super gostoso e que me deixa sem ar. Tudo tem gosto de tinta, mas se você acha que eu ligo, está muito enganado.

A respiração de Izuki-kun bate na minha bochecha e está acelerada que nem a minha. Enfiamos a língua na boca um do outro suavemente. Ele tira as mãos da gola da minha camisa e segura meu pescoço com uma delas, enquanto usa a outra para se equilibrar, colocando-a em cima da minha no chão. Meu coração está batendo tão alto que mal consigo ouvir Frank Sinatra tocando no fundo.

E ele me beija e eu beijo ele; e a gente se beija sem parar, segurando um o rosto do outro bem pertinho. A gente se aperta e entrelaço meus dedos nos dele, e meu coração dispara de novo quando ele passa os dedos pela minha franja dura de tinta e agarra-a com força.

Mordo o lábio dele e volto a beijá-lo. Izuki-kun tem um beijo muito gostoso, e eu poderia ficar assim por várias horas sem cansar. A língua dele se esfrega na minha com vontade.

Acho que o CD do Frank Sinatra acaba, porque agora está silencioso e tudo que ouço é nossas respirações aceleradas e meu coração ecoando nos meus ouvidos. Izuki-kun aperta os dedos nos meus quando ouvimos a campainha tocando.

Não quero parar de beijá-lo.

–Moriyama-san! Shun-nii! O jantar está pronto, vocês vêm comer? - Kobato chama-nos através da porta.

Nós continuamos nos beijando até que a campainha soa uma segunda vez, e eu me afasto dele com a cabeça a mil por hora.

Izuki-kun fica sentado no chão quando levanto para atender a porta, olhando para frente de um jeito meio bobo. Minhas mãos tremem, e mal consigo girar a chave na fechadura.

Kobato solta um grito quando me vê.

–O que é isso?! - ela exclama. - Porque está todo sujo?

Izuki-kun levanta do chão e vira na nossa direção.

–Shun-nii! Você também! O que aconteceu aqui, uma guerra de tinta?!

Izuki-kun me olha com os olhos meio vidrados e eu balanço a cabeça mecanicamente.

–Vocês por acaso são duas crianças?! - Kobato está furiosa, mas eu nem ligo - Vai dar um trabalhão para tirar essa tinta da roupa de vocês! - ela bate o pé e bufa - Bom, vocês vêm jantar ou não?

Balanço a cabeça negativamente. Meu estômago está dando várias voltas.

–Vamos então, Shun-nii. - Kobato diz e Izuki-kun vai até ela, e para de frente para mim do lado de fora de casa - Boa noite, Moriyama-san. A gente se vê amanhã?

Não consigo tirar os olhos de Izuki-kun, e ele me encara também. Balanço a cabeça.

Kobato olha de mim para o irmão e do irmão para mim com a testa franzida.

–Eu hein.

Eles vão embora e eu fecho a porta.

"O que aconteceu? O que diabos acabou de acontecer?".

Eu beijei Izuki-kun e ele me beijou de volta. Não sei por que fiz isso, mas fiz e gostei.

Aquele pensamento pipoca na minha cabeça de novo, e eu olho para a marca de tinta das nossas mãos no chão. Esfrego o rosto várias vezes, sentindo-o super quente, minhas orelhas pegam fogo. Está muito calor aqui dentro.

Começo a andar pela casa sem saber muito bem o que fazer. Estou inquieto, e eufórico; meu coração bate tão forte e tão alto que acho que ecoa pela casa vazia. Sento-me no chão e apoio as costas na parede, afundando o rosto nos braços. Acho que estou envergonhado. Tenho vontade de cavar um buraco e me jogar lá dentro.

O pensamento me cutuca novamente.

"Eu quero beijar Izuki-kun".


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Notas finais do capítulo

Curiosidades #5

—Suzume é um gênio em Matemática, e Kobato tirava as maiores notas da sala em Química.

—Izuki nunca contou a ninguém, mas é muito fã da Beyoncé.



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