Black

Capítulo 11: Alianças formam seu Destino

Pov. Sofia Gibbert

A coloração do céu estava prestes a escurecer. Passamos por momentos intensos e chocantes, a filha de Tyresse cometeu suicídio e no mesmo instante uma horda seguia em direção à prisão. Com o apoio de quase todos, conseguimos defender nosso lar, mas Chris acabou sendo morto com a explosão de fúria de Tyresse.

Duas covas foram feitas. Todos nós reunimos no pátio onde T-Dog fora enterrado, muitos abatidos e outros calados, apenas Ty ficou imóvel fitando o túmulo da própria filha, incrédulo por perdê-la tão cedo. O negro pretendia queimar o corpo de Chris, mas Allen e Sasha não permitiram informando que Cassey ouviu sobre o pacto há um tempo e que a própria Julie aceitou fazer.

Tyresse coloca um par de flores de coloração amarela sob o túmulo de Julie. O negro havia dito que amarelo era a cor predileta dela, e Beth não pensou duas vezes assim que viu as flores amarelas crescerem no campo da prisão.

— Rick, alí! - Maggie alertou quando viu pela mira da sua sniper algo de estranho caminhando pelo campo agora infestado da prisão. Se tratava de Andrea, que andejava com um errante imobilizado a sua frente, o que não chamava a atenção dos demais transformados.

— É a Andrea! - Carl exclamou, ao ver que se tratava da sua antiga companheira de grupo que fora deixada para trás ainda na fazenda de Hershel.

— Droga... Atenção todos! Vão para trás, talvez ela não esteja sozinha! Maggie, Glenn, Michonne e Carol mantenham a linha de frente. Os demais saquem suas armas, estejam preparados para tudo. - Rick alertou gritando intensamente. O xerife corre em direção a cerca principal, faço o mesmo juntamente a Ethan, que corre ao meu lado.

— Acha que ela pode estar com o Governador? Pelo que eu sei ela foi uma companheira de vocês. - Perguntei assim que me aproximei de Rick, o xerife nada responde, simplesmente olha a aproximação da loira.

Glenn abre a cerca, Andrea logo deixa o zumbi que a camuflou de lado, a loira é puxada agressivamente por Rick, que a segura pelo braço jogando-a para dentro do pátio da prisão. Glenn fecha a cerca novamente, Rick pressiona Andrea contra a grade retirando a bolsa que a loira carregava.

— Você está sozinha?? - Rick perguntou, com um tom de voz agressivo e ameaçador. — Andrea, você está sozinha? Não vou perguntar mais uma vez.

— Sim Rick, eu estou sozinha. Só não entendo essa reação de vocês comigo, sou eu, a Andrea! - A antiga companheira do grupo de Rick exclama olhando para todos nós. — Eu fugi de Woodbury assim que percebi o que o Phillip realmente é, ele é um maníaco!

— E você veio descobrir isso só agora? Depois de tudo que ele fez comigo e com o Glenn? - Foi a voz de Michonne que ecoou-se, a negra demonstrou um profundo desgosto e amargura para com Andrea.

— Você apenas tinha uma intuição, Michonne. Nós tínhamos um teto seguro, não precisaríamos ficar andando mais oito meses por aí! - Andrea retrucou, já pondo-se em pé.

— Você simplesmente preferiu uma cama quente à uma amiga. - A samurai foi fria e direta, deixando Andrea calada por alguns segundos. Apesar de toda indiferença por parte da loira, Carol apressa o passo em direção à Andrea, abraçando-a assim que se aproxima.

— O que ele fez com você? - Carol questiona em relação à uma cicatriz retilínea na testa da loira. Andrea muda rapidamente de expressão como se relembrasse de algo que a frustrou profundamente.

— Ele tentou me matar com uma faca há uns dois dias quando descobriu que eu quis fugir. Depois ele me prendeu em uma sala, mas Milton o traiu me salvando. - Andrea explicou mudando a expressão mais uma vez assim que viu uma cicatriz na bochecha direita de Carol.

— Uns capangas dele nos atacaram, uma bala passou de raspão. Estou bem, agora vamos entrar, ele pode ter te seguido. - Carol respondeu apressando, enquanto mostrava estar cautelosa com tudo.

Rick concorda e todos adentramos no interior da prisão. Andrea logo demonstra estar surpresa e impressionada com a maneira em que vivíamos ali, a loira quis olhar as celas, mas Rick a impediu deixando-a apenas no refeitório do Bloco de celas C. Todos formamos um círculo ao redor de Andrea que abraça carinhosamente Lori.

— Onde está o Shane? O T-Dog... Daryl? - Andrea questionou, olhando para cada um de nós. Lembro-me de presenciar a morte de T-Dog nos primeiros dias que cheguei na prisão, no entanto não sei quem era esse Shane.

— Shane e o T. não sobreviveram... já o Daryl foi embora junto com o Merle. – Glenn respondeu olhando de relance para mim. De certa forma, quase todos da prisão sabiam do meu antigo apreço por Daryl, mas de certa forma ouvir seu nome não me causa mais arrepio algum, Daryl nos abandonou, e aos poucos vou tirando-o de minha cabeça.

Ethan se aproxima de mim colocando sua mão no meu ombro direito. Dou um sorriso singelo enquanto voltava minha atenção para Andrea e Rick, que demonstrava um total desconforto em relação à Andrea, principalmente por ela ter vivido as últimas semanas em Woodbury.

— O que você veio fazer aqui? Tentar um acordo de paz? Pois diga a ele que não queremos conversa, é guerra que ele quer? É guerra que ele terá. Avise-o que não cansaremos até que ele esteja morto. – Bradou Rick, com uma fúria intensa no olhar.

— Não Rick, não é isso! Eu fugi de Woodbury, e a partir do momento que entrei na prisão, minha morte foi decretada. Também estou nessa guerra, só que dessa vez ao lado de vocês. – Andrea explicou-se olhando para cada um de nós. — Eu vi o quão insano e psicopata o Phillip é, isso que aconteceu com o Glenn, com a Michonne, com a Carol e com a Beth foi só o convite dele, haverá mais e vocês precisam do meu apoio.

Todos ficamos em silêncio, sinto que eu e o grupo de Tyresse estávamos mais à parte daquela situação, não conhecíamos Andrea e sua relação antiga com Rick e os demais e talvez por isso fosse melhor deixar o xerife tomar as medidas certas.

— Quem garante que você não será uma espiã do Governador? Que você correrá de volta para Woodbury na primeira oportunidade que tiver? – Michonne questiona deixando todos surpresos, a negra fora a pessoa que esteve mais próxima de Andrea nos últimos meses.

— Michonne! – Andrea a repreende mudando um pouco o tom de voz tentando transparecer-se convicta. — Eu estou com vocês, vocês devem confiar em mim. Só por favor não me deixem na estrada mais uma vez, eu quero ajudar vocês a acabar com essa guerra de uma vez por todas!

Rick fica em silêncio por alguns segundos até começar a caminhar vagarosamente pelo âmbito. O xerife acaba assentindo com a cabeça concordando com a presença de Andrea na prisão, que não esconde a felicidade juntamente à Carol e Lori. Rick cita alguns nomes – incluindo o meu, para se reunirem mais afastados dali.

Allen, Tyresse, Sasha, Michonne e Ethan foram um dos nomes chamados. Andejamos silenciosamente para a outra parte do bloco de celas enquanto Rick nos liderava com seu olhar de preocupação. Antes de pararmos para observa-lo, Rick passa a mão direita na testa enquanto voltava-se para todos nós.

— Preciso que vocês façam algo por mim... por nós. A prisão não está totalmente segura, perdemos muita munição com o ataque à Woodbury, e com a imensa horda de ontem, precisamos de mais. Temos uma boa quantidade de combatentes aqui, no entanto, será inútil caso não haja munições e armas potentes. – Rick desabafa, praticamente implorando para que nós cinco fossemos em uma missão.

— Tudo bem, Rick. Sabemos o que temos que fazer, irei preparar a picape para podermos partir o quanto antes, tem ideia de onde devemos ir? – Michonne diz, convicta. A samurai espera a resposta de Rick, que logo trata de respondê-la.

— Existe uma cidade perto da prisão, talvez vocês encontrem alguns armamentos e munições, não é totalmente garantido, mas vale a tentativa. Darei as coordenadas a vocês quando for a hora de partirem.

— Você não vem? – Perguntei, ao perceber que o xerife não o incluía na missão.

— Não, as coisas estão delicadas aqui. Andrea diz querer ficar no nosso grupo, não podemos confiar totalmente nela, garantirei a proteção de todos caso o Governador decida fazer algum ataque surpresa. – Rick responde, e simplesmente assenti com a cabeça enquanto me retirava do local junto a Ethan e os demais.

Não demorou muito e logo todos estávamos saindo da prisão. De início estranhei a presença de Tyresse, já que o mesmo acabara de perder uma filha, mas Rick me explicou que o ex-jogador de basquete precisava espairecer e botar tudo que sente para fora, estourando os miolos de alguns errantes. O negro ia dirigindo a picape, juntamente à Sasha e Allen. Já Ethan e Michonne me faziam companhia na caçamba do veículo.

Durante o trajeto, acabamos passando por alguns errantes que não representaram perigo algum para nós, e após cerca de meia hora, finalmente chegamos em uma pacata e deserta cidade dos arredores da prisão. Chegou a ser assustador o estado em que a cidade se encontrava; totalmente deserta, lojas de roupas com vidraças quebradas, restos de casas queimadas, lixo por toda a estrada, e walkers cambaleando pela região.

— Ali. – Michonne apontou assim que descemos do carro, a negra havia indicado com o dedo a existência de uma delegacia na esquina da rua em que estávamos. Um dos errantes se aproxima de nós com sua face pútrida e suas mandíbulas afiadas. — Eu cuido deste aqui.

E com um único e simples movimento de espada, Michonne decepa a cabeça do transformado que vai em direção ao chão instantemente. Sasha cuida do transformado restante, sacando sua sniper, no entanto, a irmã de Tyresse é interrompida por Ethan.

— Você não acha que essa sua arma irá fazer um barulho enorme? – Ethan questiona com um tom irônico, o rapaz suspira enquanto olha para mim. — Sofia, use sua pistola com silenciador, será bem mais vantajoso para nós.

— Ah... certo. – Fico espantada por um segundo ao perceber que Ethan tinha um lado estratégico e esperto que não conheci nas últimas semanas. Retiro minha pistola da cintura, enquanto andejava alguns passos mais à frente e estirava a arma na direção do errante, disparando em cheio no seu crânio.

— O que foi, gente? Também sei usar minha inteligência. – Brincou Ethan, sorrindo levemente enquanto olhava para mim e piscava com seu olho direito. Ethan é um rapaz brincalhão e realmente honesto, desde o primeiro dia que nos conhecemos ele vem tentando de todas as maneiras se aproximar de mim, mas não a força, ele realmente é um bom homem.

— Muito bem, você e o Allen vão comigo para a delegacia, veremos se encontramos alguma coisa no depósito deles. – Michonne afirma em relação a Ethan, exalando uma liderança invejável. — Vocês três entrem naquele mercado ou lanchonete, não sei. Só procurem por mantimentos.

O grupo se divide. Ethan, Michonne e Allen logo continuam com o caminho em direção a delegacia na esquina da rua, enquanto Sasha e Tyresse se juntam a mim na ida a pequena mercearia que ali existia. Tyresse é o primeiro a adentrar, na porta de entrada havia um cartaz dizendo: ‘’ Também servimos cafés e rosquinhas ‘’.

Nos espalhamos pelo local. A maioria das prateleiras estavam vazias – totalmente saqueadas, mas ainda havia enlatados e outros alimentos espalhados pelo chão, provavelmente foram derrubados durante a movimentação. Sasha enchia sua mochila estando sentada em uma mesa que fica grudada na parede atrás de uma grande janela de vidro que preenchia todo aquele espaço.

— Espero que ao menos encontrem mais armas lá. – Lamentou Tyresse, ao ver que não conseguiríamos muita coisa naquele estabelecimento vazio. Mas, eis que um disparo nos surpreende atravessando o vidro próximo à Sasha, fazendo-a ir imediatamente ao chão.

— Tyresse, se abaixa! – Gritei me jogando no chão enquanto uma enxurrada de disparos é feita em nossa direção, os demais vidros das janelas da frente do estabelecimento são destruídos, fazendo com que os estilhaços caíssem em cima de Sasha.

Olho para o lado, vejo Tyresse agachado ao lado de uma das prateleiras, o negro estava muito exposto e percebo que as bala realmente passam próximos a ele. Sasha vira o rosto chamando-me a atenção, a irmã de Tyresse aproveita o cessar dos tiros para pegar sua sniper que estava em cima da mesa, mas logo retorna a deitar-se no chão frio do local.

— Desistam seus vermes! Vocês irão morrer mais cedo ou mais tarde, e então, quando tudo isso acabar... Woodbury sairá vitoriosa, e o Governador reinará! – Uma voz grossa e potente se ecoa seguida de urros e gritos no lado de fora da loja. Foi aí que percebi que havíamos sido seguidos por alguns capangas do governador. — Droga, tem mais deles ali! Atirem!!

O homem gritou alertando aos companheiros de grupo.

— Allen e os outros revidaram, vocês dois corram para os fundos, darei cobertura a vocês aqui na frente! Vão! – Sasha gritou, erguendo-se aos poucos enquanto colocava a mira de sua sniper pela abertura de uma das janelas quebradas, disparando contra alguns capangas que distraíram-se com a presença de Michonne e cia.

Tyresse fica em pé, o homem parecia hesitam o plano da irmã, mas acaba cedendo correndo junto comigo, na direção dos fundos da loja a qual possua uma porta extra, uma porta dos fundos. Tyresse me leva com segurança até ela, no entanto, Ty decide voltar para convencer a irmã a vir junto.

— Vá! Contorne a loja com cuidado, e reencontre o Ethan e os outros! Irei pegar a Sasha. – Tyresse diz, assustado. O ex-jogador de basquete corre pela loja sem nem ao menos me dar tempo de questionar tal decisão, acabo abrindo a porta que dava diretamente a um beco ligeiramente estreito na rua de trás.

Corro nervosa e ansiosa para saber como tudo isso terminaria, naquele instante eu estava sozinha, e qualquer coisa poderia acontecer comigo. No entanto, algo que eu jamais esperei aconteceu bem na minha frente, com a imagem de três homens e uma mulher armada bloqueando a passagem do beco.

— Parece que temos uma ratinha aqui. Felizmente nos prevenimos cercando toda essa parte da cidade, agora loirinha... não se mova ou te mataremos. – O homem barrigudo me ameaça com usa voz rouca e nojenta.

— Espere, Bruce... essa mulher... – A voz de outro homem que estava mais atrás se ecoa, o desconhecido andejava um pouco para frente até tornar-se visível sua face e quem ele realmente era. — Eu a conheço.

Aquele membro do exército de Woodbury, era na verdade o meu pai. Aquele verme que deixou minha mãe sozinha com duas filhas em um apocalipse cruel e fatal, o homem que nos deixou para morrer e ainda levou meu irmão consigo, Seth Gibbert, aquele covarde que disse que voltaria para nos ajudar e nunca mais voltou...

— Sofia? É você mesma! Minha filha! Espere, me perdoa, não sabia que você estava nesse grupo da prisão! Eu juro que se eu soubesse, não teria te atacado! – Seth começou a exclamar com lágrimas já escorrendo pelos olhos. — Eu tenho tanta coisa para te dizer, pedir desculpas por tudo que fiz...

Ele continua a pronunciar enquanto caminhava vagarosamente na minha direção. Fico incrédula, perplexa por tê-lo encontrando após tanto tempo e principalmente em um apocalipse que devastou tantas pessoas... minha mãe, minha irmã.

— Você tem que sair desse grupo, urgentemente... o Governador está com cede de sangue, e não irá parar até ver todos vocês mortos! Por isso, peço que desista desse pessoal e venha comigo para Woodbury, você sabe que estará mais segura lá, comigo e com seu irmão... por favor, venha comigo!

— Pai... – Naquele instante eu pude perceber o que eu tinha que fazer, o que era o melhor para mim e para todos nós. Olho para trás por alguns segundos, a porta dos fundos estava aberta e meus companheiros estavam do outro lado da cidade. Mas, não adiantava mais nada. Caminho lentamente na direção do meu pai e dos outros capangas de Woodbury, tomei minha decisão, afinal, são as alianças que formam nossos destinos.