Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 9
Capítulo VIII


Notas iniciais do capítulo

Em homenagem ao episódio no qual conheceremos a mãe da Belle, estou postando esse capítulo hoje. Espero que gostem.



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Após ver o efeito que a sua magia sobre o tempo na Terra do Nunca, Belle não ficou surpresa quando Tanana pediu que conversassem, embora ficasse surpresa diante da presença da fada que, se entendera bem o que havia sido dito antes, conhecera sua mãe.

Powhatan olhou para as três mulheres presentes, deixou escapar um suspiro e saiu da cabana. Estava claro para a jovem que o chefe não desejava estar presente durante aquela conversa, o que a fez ficar um pouco apreensiva.

"Belle, o Sol nasceu na Terra do Nunca," disse Tanana, e Belle sabia que aquela notícia era alegre, embora a mulher mais velha não sorrisse. "Esperávamos que isso acontecesse; na verdade, sabíamos que aconteceria em algum momento do futuro próximo, mas não esperávamos que você acelerasse o processo com magia. No que estava pensando, criança?"

Belle se sentiu corar diante da reprimenda gentil, mas firme de Tanana. Toda magia tinha um preço, e ela, como a namorada de um dos seres mais poderosos de todos os mundos, o Senhor das Trevas, tinha mais consciência disso do que qualquer um. Esperava apenas que o preço não fosse cobrado da criança em seu ventre, que fosse ela a arcar com as consequências de seu próprio descuido.

"Você está dizendo que essa jovem foi capaz de fazer o tempo andar mais rápido usando magia?" Disse a fada, pousando pela primeira vez na mesa e pegando um pedaço de pão que ali repousava. "Ela não é muito mais do que uma criança, Tanana, não seria capaz de dominar algo tão complexo e controlar tão completamente as vontades da ilha. Nem mesmo sendo uma mãe."

"Ela carrega a criança no Senhor das Trevas, e você sabe muito bem o que a Terra do Nunca significa para esse Senhor das Trevas específico," respondeu Tanana com suavidade. "Além disso, você já deveria ter identificado sua velha amiga Luce nas feições dela, há muito o que ser identificado."

Luce. Sua mãe, Luce. Belle ouvira apenas histórias a respeito dela, pois sua mãe morrera apenas alguns dias depois do seu nascimento, após uma longa luta contra uma febre. De origem desconhecida, Luce ganhara o direito de se casara com o pai de Belle, um nobre, após salvá-lo de uma maldição com um beijo de amor verdadeiro. Nunca haviam-lhe contado os detalhes sobre a maldição, mas, crescendo e aprendendo a respeito das responsabilidades que vinham com seu nascimento, Belle percebera que devia ser inevitavelmente fatal se fizera com que permitissem que seus pais se casassem depois.

A jovem encarou a fada que Tanana dizia conhecer a sua mãe com curiosidade e percebeu que ela também a encarava, estudando cuidadosamente suas feições com muito receio. Por fim, a fada deixou escapar um suspiro e voltou-se para Tanana.

"Sim, elas se parecem, mas o que te faz pensar que existe alguma conexão entre as duas?" Perguntou Tink à mulher idosa com um olhar desafiador.

"Desculpe-me, mas eu estou aqui, então você pode falar diretamente comigo," disse Belle, com impaciência. Afinal, a despeito das palavras da fada, ela não era uma criança. "Luce, por acaso, é o nome da minha mãe."

"Elas não podem ser a mesma pessoa, criança, pois a Luce que eu conheci era uma fada como eu, e fadas não são capazes de se reproduzir," disse Tink com tristeza, como se aquela questão a tivesse afetado de modo muito particular no passado.

"Quem lhe disse isso, Tinker Bell?" Perguntou Tanana, levantando-se muito rapidamente para uma mulher da sua idade. "Quem lhe contou que fadas não são capazes de se reproduzir? Você não pode estar repetindo a sabedoria de uma mulher que todas as fadas da Terra do Nunca sabem ser uma fraude, a mesma mulher que te privou de suas asas por motivos totalmente egoístas. A mesma mulher que só não foi chamada a julgamento por isso e seus muitos outros crimes porque temos uma situação na Terra do Nunca que as impede de sair daqui. Você não poderia estar repetindo o que ela disse."

"E o que você sabe sobre esse assunto? As nossas confiam em você e na sua sabedoria, Tanana, mas você não é uma fada," Perguntou Tink em um tom de desafio, e Belle intimamente concordou com ela. Como Tanana poderia saber mais sobre fadas do que uma delas?

"Eu sou velha o bastante para questionar informações que vem a mim," disse Tanana com um sorriso. "Alguns dos nossos, alguns humanos usaram a lenta passagem do tempo na Terra do Nunca como uma desculpa para estagnar como criança ou jovem, não evoluir; outros usaram-na com sabedoria para aprender mais e aperfeiçoar-se, ser alguém melhor."

"Você não respondeu a minha pergunta, velha," disse Tink, uma terrível aura avermelhada em torno dela, o que fez com que Belle tivesse que conter o impulso de se levantar e colocar-se entre Tanana e a fada.

"Conversei com as fadas da Terra do Nunca antes mesmo de você chegar, algumas são ainda mais velhas do que eu; eu já vi acontecer, já que a própria Rainha das Fadas já esperou uma criança de um homem de outro mundo. Fadas podem procriar com humanos, mas há um alto risco para a fada e sua criança devido à forte carga de magia; portanto, é uma prática muito desencorajada," disse Tanana, e a voz dela ainda parecia tranquila; Tink não voltou a questioná-la, embora fosse evidente que não estava convencida. Tanana, então, se voltou para Belle, "fale-me de sua mãe, minha criança."

Belle engoliu seco e olhou de Tanana para a fada, que agora voltava a irradiar uma aura esverdeada, sua ira lentamente desaparecendo e dando espaço à curiosidade. Ela não pode sentir duas coisas tão diferentes ao mesmo tempo!

"Eu não sei muito sobre a minha mãe, por isso sei que há coisas proibidas demais envolvidas, coisas que não se comentam na corte," disse Belle, por fim. "Sei que ela não nasceu em uma corte, era uma mulher simples que trabalhava em uma estalagem pela qual meu pai passava de vez em quando. Eles se apaixonaram, mas só puderam dizer o que sentiam um pelo outro quando meu pai foi amaldiçoado e o beijo de amor verdadeiro da minha mãe o salvou. Eu nunca ouvi essa história completa, sinto muito."

Belle viu que Tanana e Tink se entreolharam decepcionadas, mas não forçaram nenhum detalhe, ao que a jovem foi grata, pois não sabia o que mais podia dizer. Repentinamente, ela se deu conta de que sabia muito pouco sobre a história de seus pais, algo que não a incomodava há muito tempo.

"Eles se casaram e viveram felizes por quase dois anos antes de minha mãe descobrir que estava grávida." Belle suspirou antes de continuar, tentando conter as lágrimas em seus olhos, a culpa pela perda da mãe ainda era uma dor que a assolava, embora ninguém nunca a tivesse culpado em voz alta por isso. "Disseram-me que não foi uma gravidez fácil, mas novamente me pouparam dos detalhes. Sei que sou considerada um milagre tanto pela gravidez turbulenta quanto pelo parto difícil; minha mãe morreu alguns dias depois e meu pai me deu o nome de Belle a pedido dela. E isso é tudo o que eu sei."

Belle encarou Tanana, porque aquele era o rosto mais familiar a ela naquele momento. O rosto de Tanana era gentil e compreensivo, como se a mulher conhecesse e compreendesse perfeitamente a dor que Belle estava sentindo após recontar a história de sua mãe.

"Poderia ser outra mulher, ainda não acredito que fadas possam se reproduzir, eu nunca vi sendo feito," disse Tink, teimosamente.

Após o seu treinamento com a mulher idosa nas semanas que haviam se passado, entretanto, Belle pôde perceber sem mesmo ter que encarar Tink que a aura da fada ainda irradiava confusão e curiosidade, não havendo qualquer resquício de raiva ali. Sim, as fadas não pareciam poder sentir mais de um sentimento ao mesmo tempo, o que a deixou confusa. Seria a sua mãe uma fada?

"Tink, você não observou o bastante o comportamento das fadas na Terra do Nunca, não esteve aqui por tempo o bastante," disse Tanana, franzindo o cenho. "Na Floresta Encantada, seu mundo de origem, a Blue Fairy comanda as fadas de um modo autoritário, cegando suas seguidoras de sua verdadeira natureza em prol de seus objetivos mesquinhos. A Rainha das Fadas me contou a respeito de duas fadas em seu mundo que desistiram de seus postos por amor, ambos os casos foram omitidos, e as fadas dadas como mortas."

A fada Tink engoliu seco. Belle permaneceu calada; ela conhecia a Blue Fairy, pois a fada fora uma das poucas a lhe oferecer sua amizade. Ela não sabia muito bem o que pensar a respeito dessas alegações, mas esperava poder conversar à sós com Tanana a respeito disso. O mais importante, naquele momento, era compreender o objetivo daquela conversa.

Tanana desviou os olhos da fada e olhou para Belle com atenção, e a jovem teve a forte impressão de que ela era capaz de ler sentimentos e emoções, embora não soubesse ao certo como sabia aquilo.

"Tink, isso tudo é irrelevante," disse a mulher idosa, por fim, voltando-se novamente para a fada. "Sem querer, eu tenho certeza, Belle fez o dia renascer na Terra do Nunca. Ela precisa de um treinamento em magia com alguém que compreenda por experiência a essência dos poderes dela, ela precisa de entender quem ela é, e eu e a sua rainha concordamos que você é a pessoa mais indicada para o trabalho."

"Você conversou com a Rainha Flora sobre essa menina?" Perguntou Tink, com espanto.

"A sua rainha está tão interessada nela quanto eu, e deseja que você a ensine a respeito da magia das fadas," disse Tanana, um sorriso brincando em seus lábios. "Se você duvida de mim, talvez deva perguntar a Flora, ela certamente confirmará a história e ficará indignada que você não tenha aceitado imediatamente a sua tarefa após os eventos do dia de hoje."

A fada engoliu seco, mas ainda não estava convencida. Com ousadia, prometeu que conversaria com a Rainha das Fadas e saiu voando da tenda, prometendo voltar com uma resposta. Belle encarou Tanana cuidadosamente, com uma quantidade tão grande de perguntas em sua cabeça que era incapaz de escolher uma para começar o seu interrogatório.

"Tink é uma boa pessoa, mas ela se ressente um pouco dos seres humanos após o que aconteceu da última vez em que tentou ajudar um," disse Tanana, sorrindo tristemente. Belle assentiu, sentindo que não deveria perguntar o que acontecera, afinal, era um assunto particular da fada, e a jovem não queria irritá-la.

"Por que você acha que a minha mãe foi uma fada?" Perguntou Belle, após um momento. "Quero dizer, todos dizem que eu não me pareço tanto com a minha mãe, que sou uma mistura perfeita dos meus pais."

"Eu nunca conheci a sua mãe, Belle; portanto, não poderia dizer se vocês se parecem ou não," disse Tanana, segurando as mãos de Belle com firmeza e a encarando nos olhos. "Mas a Rainha Flora tem te observado atentamente desde que você chegou na tribo, minha criança. Ela conheceu a sua mãe e diz que há muito dela em você."

Belle engoliu seco, tentando conter as lágrimas que teimavam em surgir em seus olhos. Sim, pensar em sua mãe ainda doía.

"Isso não significa que somos similares em aparência física, não é?" Perguntou, após um longo suspiro. "Quero dizer, eu vi fotos."

"Não necessariamente," disse Tanana. "A Rainha Flora nunca me explicou. Ela é uma pessoa bastante reservada, mesmo com seus aliados mais antigos. Mesmo assim, o mundo funciona de um modo diferente para as fadas, e provavelmente ela sentiu resquícios dos poderes da sua mãe em você, Belle."

"Ela transferiu os poderes dela para mim, não é?" Perguntou Belle, sentindo as lágrimas lentamente percorrendo a sua face, mas incapaz de fazer qualquer gesto para detê-las. Então, é minha culpa!

Tanana, segurou o rosto da jovem em suas mãos e passou os dedos na face dela, limpando as lágrimas.

"Um dos motivos pelos quais as fadas raramente sobrevivem após conceberem é que existe um processo de transferência de parte da essência feérica para o bebê. Uma parte da magia feérica de sua mãe vive dentro de você," disse Tanana, ainda segurando o rosto de Belle com carinho, fazendo-a encará-la. "Uma fada não pode viver em plena saúde sem uma parte de sua essência."

Belle engoliu seco, tentando conter as lágrimas e a tristeza que preenchiam o seu coração. Havia algo que ela precisava perguntar.

"O que isso faz de mim?" Perguntou a jovem, por fim, sua voz ainda trêmula.

"Você é uma criatura muito especial, Belle, porque a sua mãe e o seu pai compartilhavam amor verdadeiro," disse Tanana, e um sorriso verdadeiramente alegre surgiu no rosto dela, e ela retirou as mãos do rosto da jovem. "Em geral, uma criança não pode ser fada e humana, pois são essências que não se misturam; não existe tal coisa como crianças meio-fadas. Mas você é uma criança do amor verdadeiro e, de alguma forma, a essência feérica de sua mãe não rejeitou a humana de seu pai e você se tornou alguma coisa entre uma fada e uma humana."

Seria por esse motivo que sempre sentira como se não pertencesse à corte de seu pai? Subitamente, entretanto, um pensamento medonho, ocorreu a ela, e a jovem pousou a mão suavemente sobre o seu abdômen, tentando conter a onda de pavor que a preenchia.

"O que isso tudo significa para o meu filho?" Ela perguntou, a voz quase inaudível.

Tanana olhou para ela por um momento antes de meneou a cabeça suavemente.

"Bom, isso nós teremos que descobrir, não é?" Disse, por fim.

~~//~~

Agora, Belle estava decidida a contar para Gold a respeito da criança que estavam esperando.

No caminho para a tenda que dividiam, ela estava certa que pediria um momento à sós com o homem que amava e confessaria tudo a ele, inclusive o que descobrira mais cedo. Não, ela não podia mais guardar isso para si, não quando a vida dela e a da criança corriam perigo.

Tanana tentara convencê-la de que as situações eram muito diferentes. A mãe de Belle era uma fada completa que nunca soubera o que era ser outra coisa; Belle, por outro lado, nunca usara sua essência feérica, e ainda possuía uma essência humana dentro de si. Mas a jovem não conseguira se acalmar, ela precisava dizer a Gold o que estava acontecendo, apenas ele poderia protegê-los.

Ela chegou na cabana e encontrou Gold sentado no conjunto de peles que usavam como cama e recostado na parede, seus olhos fechados, mas seus corpo visivelmente tenso demais para alguém que estava dormindo. O feiticeiro apenas notou a presença de Belle quando ela se sentou ao lado dele.

"Ei," ele disse, sério, seus olhos brilhantes e vulneráveis.

Belle não respondeu, apenas o abraçou com força, fazendo força para não chorar. Precisava dizer a ele, ele precisava saber.

"Belle, o que está acontecendo?" Ele perguntou, afastando ela gentilmente para olhar o rosto dela, que já estava coberto de lágrimas. "O que você não está me contando?"

A jovem suspirou duas vezes antes de reunir forças para dizer a ele. Ele precisava saber, mesmo que se tornasse paranoico e superprotetor depois disso, mesmo que a deixasse doida com seus cuidados excessivos e não permitisse que ela continuasse praticando magia com Tanana, com medo do preço da magia que estava usando. Ele precisava saber.

Apesar de seus temores, entretanto, sua voz saiu firme e ela não pode conter um pequeno sorriso quando finalmente conseguiu dizer:

"Rum, eu estou grávida."


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Notas finais do capítulo

Boa tarde, meus caríssimos leitores.

Estou postando o capítulo VIII adiantado por motivos de: hoje é o episódio da mãe da Belle, e esse capítulo combina horrores com o clima em que estamos. Espero que tenham gostado!

Já peço desculpas por quaisquer erros. Para postar hoje, não tive tempo de revisar o capítulo :(

Eu já adianto que não vou falar mais do passado da mãe da Belle. Talvez um dia eu escreve uma one-shot sobre ele, mas não é realmente importante para essa fic, então isso é tudo o que vocês preciso dizer sobre ele.

O próximo capítulo só em duas semanas de novo :/ foi mal!

Muito obrigado a todos que tem comentado. Vocês me fazem uma pessoa MUITO feliz *_*

'Té o próximo!