Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 10
Capítulo IX




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Gold não sabia como reagir àquilo que Belle estava lhe contando. De alguma maneira, ele sabia que ela estava falando algo importante com ele, algo que a estava perturbando, mas não conseguia se forçar a ouvir após aquela primeira frase, que deu início a toda a sua confusão mental. Ela estava grávida. Sua amada Belle estava esperando um filho dos dois. Nada mais parecia ter importância naquele momento.

Após algum tempo, ela provavelmente percebeu que ele não a estava escutando, porque parou repentinamente de falar sobre o assunto que a estava perturbando e começou a chamar o nome dele incansavelmente. Gold a encarou nos olhos, tentando reorganizar os pensamentos antes de falar qualquer coisa.

Belle pareceu notar que ele ainda não sabia o que dizer, porque se calou e o abraçou com força, esperando que ele se manifestasse. Ele retribuiu o abraço, passando os dedos pelos cabelos castanhos dela. Quanto tempo? Foi a segunda coisa que conseguiu se sobressair em sua mente cheia de pensamentos conflituosos depois da confissão de Belle.

Gold segurou o queixo dela, fazendo-a olhar nos olhos dele antes de enunciar a pergunta com a voz trêmula que claramente indicava que estivera chorando. Como não fora capaz de perceber que estava chorando, Gold não conseguia compreender.

"É difícil dizer," disse Belle, tocando o rosto dele com as pontas dos dedos. "Afinal, nós estamos na Terra do Nunca, onde o tempo passa de um jeito completamente diferente do que estamos acostumados."

Gold demorou mais do que o natural para absorver a resposta dela e elaborar uma nova pergunta. O feiticeiro precisava ter alguma noção de quando aquele bebê fora concebido, se fora fruto da união com Belle ou com Lacey. Ele não sabia porque precisava ter aquela resposta, mas compreendia que não poderia viver sem aquele conhecimento.

"Quando saímos de Storybrooke, você estava com quanto tempo?"

Belle pareceu finalmente compreender qual era o motivo pelo qual ele precisava saber quando o bebê fora concebido. O conhecimento, entretanto, a deixou visivelmente apreensiva.

"Eu não sei, Rum," ela disse, e Gold percebeu que segurava as lágrimas. "Eu descobri que estava grávida aqui, e eles só conseguem começar a medir o tempo aqui quando o tempo começa a passar. Mas Tanana acha que o nascimento não será antes de se passarem sete meses."

"Tanana sabe?" Perguntou Gold, a súbita raiva finalmente ajudando-o a pensar direito.

"Foi ela quem me disse," disse Belle, encolhendo-se e se afastando lentamente, como quem se protege dele. "Ela diz que a Terra do Nunca reagiu à minha gravidez."

"Por isso o dia amanheceu! O tempo começou a se mover quando você chegou aqui grávida," murmurou Gold, mais para si do que para sua amada. "Mães sempre foram um fraco da Terra do Nunca."

"Rum," chamou Belle, e havia tamanha urgência na voz dela que Gold se forçou a focar daquela vez no que ela precisava lhe dizer. "Esse não é o nosso problema mais urgente, Rum. Tanana me contou coisas hoje sobre a minha mãe que eu nunca soube."

"S—sua mãe?"

Gold nunca ouvira Belle comentar sobre sua mãe. Ele sabia que, por algum motivo, ela já não se encontrava mais viva e — apenas graças à sua magia, que vê através da superfície das coisas — que um dos grandes desejos do coração de Belle era ter a oportunidade de conversar com ela uma única vez, embora o feiticeiro não soubesse o que ela desejava dizer.

"Aparentemente, meu pai escondia muitos segredos de mim a respeito da minha mãe," disse Belle, com certo azedume. "Ela morreu quando eu nasci, e me contaram que ela estava sofrendo uma febre durante a gravidez e que foi um milagre eu ter nascido saudável. Mas parte disso é apenas uma mentira que eles me contaram para aliviar a minha consciência."

Gold percebeu as lágrimas se formando nos olhos de Belle, e a segurou com firmeza contra si novamente.

"Eu matei a minha mãe," ela disse, entre soluços, e por algum tempo não conseguiu dizer mais nada, impedida pelo choro. Gold se esforçou para consolá-la da melhor maneira que conseguiu, mas o modo como ela dissera aquilo, com tanta convicção, o deixara em choque.

Ela se agarrou a ele com força, como se precisasse daquilo ainda mais do que precisava respirar, cravando as unhas nas costas dele e afundando o rosto em seu peito. Eles permaneceram naquela posição por algum tempo e, apenas quando Gold ouviu os soluços dela diminuindo lentamente, ele finalmente falou.

"Meu amor, você era só um bebê, não poderia ter matado a sua mãe," disse o feiticeiro, tentando fazer com que ela visse as coisas de modo racional, embora ele soubesse que Belle não era uma criatura do racional.

"Ela era uma fada, Rum," disse Belle, entre soluços, e Rumplestiltskin teve que se conter para não afastá-la.

Uma fada! A mãe de sua amada era uma das criaturas que ele mais desprezava naquele universo.

Uma fada! Ele sabia o que significava para uma fada ter um filho com um humano, e também sabia muito bem que o destino da mãe de Belle era a prova concreta de que ela herdara os poderes de sua mãe. Belle é uma fada! Como ele não notara aquilo antes? Como não fora capaz de perceber a magia das fadas nela?

Aquilo não importava, entretanto. Belle era muito mais sua amada do que uma fada, e também seria a mãe de seu filho.

E foi nesse momento que a realidade assustadora tomou conta dele. Um filho de uma fada com um humano significa a morte da fada. Seria o fato dele ser o Senhor das Trevas um diferencial? Seria o fato deles terem amor verdadeiro um diferencial? Ele não queria arriscar, ele não podia arriscar perdê-la. Mas que escolha tinha?

Gold se ergueu rapidamente e saiu da cabana antes que Belle pudesse fazer qualquer coisa para impedi-lo. Ele precisava pensar, pois não podia perdê-la ou o seu filho. Ele faria Belle viver para ver o filho deles crescendo, mesmo se o preço da magia que precisasse usar fosse a sua morte.

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Henry achava que o momento mais assustador da vida dele seria para sempre aquele em que se viu cercado por três Meninos Perdidos e completamente desarmado e exausto após o uso de magia. Ele nunca esperara, é claro, ir procurar seu avô para desejar uma boa noite — e, daquela vez, era noite mesmo! — e encontrar, no lugar, a mulher que um dia ele esperava que se tornasse sua avó às lágrimas. Se ele pudesse escolher, teria optado por enfrentar cem Meninos Perdidos apenas com os punhos sem pensar duas vezes.

Seu horror só aumentou quando, antes que ele pudesse vencer a sua luta mental entre ficar ali e sair sem ser percebido, ela ergueu a cabeça e olhou na direção dele com tamanha tristeza que Henry não encontrou em si a coragem — ou, talvez, a covardia — para deixá-la ali sozinha. Ele se aproximou lentamente, repassando diversas frases na sua cabeça para consolá-la ou pelo menos descobrir o que aconteceu, nenhuma parecendo nem um pouco adequada.

Belle não fez nenhum comentário, o que foi um alívio; mas ela o abraçou com força, soluçando contra o ombro dele, o que definitivamente não foi um alívio.

Certo. Henry achava que não precisava dizer nada naquele momento, mas não sabia onde colocar as mãos, e a falta daquele conhecimento o estava enlouquecendo completamente. Ele engoliu seco algumas vezes antes de decidir que não haveria problema em abraçá-la. Afinal, ela um dia seria a sua avó e não havia nada de errado em abraçar avós, mesmo quando elas eram muito atraentes e não compartilhassem um vínculo de sangue com ele. Certo? Seu avó não o incineraria por isso, ele tinha quase certeza.

Após um tempo que pareceu a Henry demasiadamente longo, Belle finalmente se afastou dele com um pedido de desculpas sussurrado que ele quase não escutou. Henry limpou a garganta e disse que não tinha problema, e, apesar daquele ser o momento mais assustador da vida dele, ele achou que estava dizendo a verdade.

"O que aconteceu?" Perguntou Henry, mais por obrigação do que por querer saber, e achou aquela forma de abordar o problema tão ruim quanto todas as outras que haviam passado pela cabeça dele desde que entrara na cabana. "Quero dizer, meu avô sabe que você está aqui chorando? Não foi ele quem fez isso com você, foi?"

Belle não o respondeu imediatamente. Ela olhou em direção à porta da cabana, seu olhar ali permanecendo por alguns segundos antes que ela se voltasse novamente para Henry, seus olhos azuis ainda encharcados pelas lágrimas.

"Seu avô não tinha a intenção," ela disse com a voz rouca de tanto chorar. "Acho que ele só está assustado."

Assustado. O que deixaria o poderoso Senhor das Trevas assustado? E o que o faria assustado a ponto de fazer algo que fizesse a mulher que ele amava verdadeiramente chorar? Provavelmente era algo terrível, algo que Henry decidiu não querer saber, já tinha problemas demais. Teria que confiar no seu avô para resolver aquele problema.

"Tenho certeza que ele vai resolver as coisas," Henry disse, e se levantou rapidamente. "Você não precisa chorar, ele te ama de verdade e vai resolver as coisas. Meu avô sempre faz qualquer coisa para resolver as coisas para as pessoas que ele ama."

Então, ele começou a caminhar rapidamente em direção a saída. Não foi rápido o bastante, entretanto, pois Belle chamou o nome dele antes que ele alcançasse a porta. Era contra os princípios dele sair correndo quando alguém que precisava dele o chamava, e Belle parecia estar precisando de alguém, embora Henry desejasse que não tivesse que ser ele. Por que o seu avô não voltava logo e resolvia as coisas?

Ele se voltou para Belle, embora não fizesse nenhum movimento no sentido de se sentar ao lado dela novamente.

"Você vai ganhar um tio ou uma tia," disse Belle.

Ele demorou um tempo para absorver aquela informação improvável. Para Henry, um bebê com certeza não figurava entre as coisas que podiam ter deixado o seu avô assustado, ele compreendia que talvez as coisas não fossem fáceis para um filho do Senhor das Trevas. Mas o seu avô cuidaria disso, Henry tinha certeza disso.

"Você está grávida?" Perguntou Henry, por fim, sentindo-se idiota por perguntar aquilo.

"Estou," ela disse, e o menino percebeu que seu sorriso era triste.

Havia algo que Belle não estava contando para ele. Algo que estava deixando ela triste, provavelmente a coisa que assustara o seu avô. Ele repentinamente quis saber, porque, muito mais do que enfrentar um bando de Meninos Perdidos, fazer com que Belle e seu avô não se sentisse mais assustados e tristes sobre o tio dele era a coisa heroica a se fazer. Seja o que fosse, o tio dele não tinha culpa, e ele precisava fazer com que eles entendessem isso.

"Vocês estão com medo que ele nasça igual o meu avô?" Perguntou Henry, por fim se sentando ao lado de Belle. "Vocês não precisam ter medo disso; sei que o meu avô não é muito bonito quando ele está com escamas e tudo mais, mas ele não tem essa aparência em Storybrooke."

"Henry! Nós não estamos com medo dele nascer com escamas," disse Belle, deixando escapar uma risadinha, e Henry acreditou nela. "Na verdade, eu não acho Rum feio com as escamas, faz parte do charme dele. Mas eu amaria meu filho independentemente da aparência dele, independentemente de qualquer coisa!"

"Então, por que você estava chorando e meu avô está assustado?" Perguntou Henry, olhando para Belle nos olhos.

Ele percebeu a hesitação dela, e soube que nunca correra o risco dela contar o que estava acontecendo de verdade. Belle o estava protegendo, e Henry se sentiu reconfortado pelo gesto, o que o fez perceber o quanto mudara nas últimas semanas. Antes, a ideia de que alguém estava deixando de falar coisas para protegê-lo o deixava com raiva, agora, ele queria ser um pouco protegido.

Ser herói cansava.

"Você não precisa se preocupar, Henry," disse Gold, à porta, e o menino se sobressaltou quando o avô entrou e se sentou do outro lado dele. "Você não precisa se preocupar se estou assustado, porque, mesmo se isso fosse verdade, não me impediria de proteger os dois."

Henry sorriu, aliviado. Seu avô não estava assustado, afinal. Ou talvez estivesse, mas fosse orgulhoso demais para confessar. Henry entendia muito bem aquele sentimento de não querer mostrar fraqueza ou medo às pessoas que dependiam dele.

De fato, embora os olhos de Gold brilhavam de emoção e felicidade de uma maneira como Henry nunca vira antes, ele parecia um pouco preocupado e tenso. Mas estava deixando aqueles sentimentos de lado, porque Belle precisava dele, e Henry devia fazer o mesmo por todos eles.

Para um dos grandes vilões da história, seu avô podia ser bastante heroico de vez em quando. Henry sorriu com o pensamento, e se levantou para ir embora e deixar Gold e Belle sozinhos para conversar.

"Eu só vim para desejar boa noite," disse Henry, sorrindo e se voltando para eles. "Quero dizer, é a primeira noite de verdade que passamos aqui na Terra do Nunca, a primeira noite que veio depois de um dia!"

"Uma boa noite para você também, garoto," disse Gold, sorrindo.

"Boa noite, Henry," falou Belle. "E obrigada."

O menino assentiu e saiu da cabana, fazendo um apanhado mental das histórias que contaria para o tio dele quando ele ficasse grande o bastante para entender. Sim, Henry deixaria o tio dele com inveja do tempo que ele passou na Terra do Nunca aprendendo a ser herói com o avô dele!


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Notas finais do capítulo

Ei pessoal,

Peço perdão pelo atraso de uma semana. Minha avó foi parar no hospital três semanas atrás e eu comecei uma maratona de estudo que me impediu completamente de continuar escrevendo. Mas agora a minha avó já está bem e eu pude diminuir um pouquinho o meu ritmo de estudos.

O próximo capítulo sai semana que vem (na sexta ou no sábado). Promessa!

Obrigada a todos que comentaram! Eu fico MUITO feliz com os comentários de vocês!! :)

Abraços e até semana que vem!