Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Respostas aguardadas desde o capítulo V, e mais algumas perguntas ;)



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Gold se sentia profundamente irritado diante da incompetência de seus hóspedes em manter os olhos abertos para que seu neto não fizesse algo burro enquanto estivesse sob a tutela deles.

Era de se esperar que um menino passando por um aprendizado profundo e anormalmente veloz nas artes mágicas e da guerra se sentiria frustrado em algum momento e teria vontade de se provar. Portanto, era claro que o Henry tentaria alguma burrice em algum momento do futuro próximo, e Gold contara com Tanana e Denahi, em quem ele lentamente estava aprendendo a confiar, para conter isso enquanto ele não estava às vistas dele.

O que só provava que ele não devia confiar em ninguém.

Agora, Henry estava desaparecido em algum lugar das florestas da Terra do Nunca, e os guerreiros mais habilidosos faziam o possível para encontrá-lo enquanto ao próprio Gold era recomendado permanecer dentro das fronteiras da tribo.

O seu impulso inicial fora gritar com Denahi — que lhe dera a notícia do desaparecimento do menino — e acusá-lo de negligência, dizendo que iria atrás de seu neto contra a vontade de todos. Belle, entretanto, o convencera a fazer como os outros diziam, já que ele não conhecia o território e só serviria para atrasar os guerreiros.

Ela tentou distraí-lo de suas preocupações levando-o até a cabana que estavam compartilhando para seduzi-lo, mas Gold não conseguira se deixar levar.

Não que Belle não fosse boa na arte da sedução, e, de fato, a Terra do Nunca estava fazendo maravilhas com ela, tornando-a mais radiante e bela do que nunca — o que definitivamente era uma surpresa para Gold, que antes considerara impossível que alguém fosse mais belo do que a sua Belle era. O feiticeiro, entretanto, não conseguia pensar em nada a não ser em seu neto desaparecido à mercê do homem que destruíra a vida dele.

Então, os dois sentaram na cabana abraçados, tentando não pensar no pior, e, após algum tempo, Tamara se juntou a eles, dizendo que também se preocupava com o menino que pensara na felicidade dela quando ela mais precisara de um aliado.

Gold sorriu brevemente diante disso, e disse que Henry muito herdara de seu pai e da família de sua mãe, o que fez com que Belle sorrisse também. Bae se sentiria orgulhoso se visse que o filho dele foi capaz de converter um inimigo em um aliado com um gesto de amizade.

Eles apenas aguardaram, Gold segurando Belle com força contra si. Ela era algo sólido e forte quando ele se desmanchava em medo e angústia. O feiticeiro olhou no rosto da mulher que amava e percebeu que ela fechara os olhos e murmurava algo em uma língua que ele não conseguia compreender; estaria ela rezando? Ele não ousava, entretanto, interrompê-la e desconcentrá-la para perguntar.

Algum tempo se passou no qual eles esperaram quase completamente em silêncio — apenas o murmúrio urgente de Belle o quebrando suavemente.

"Senhor das Trevas, Belle," disse a voz de Tanana do lado de fora da cabana, e pelo tom dela, Gold soube que seu neto estava à salvo dentro dos limites da tribo novamente. "O menino está conosco, se puderem nos acompanhar até a cabana de Powhatan, ele está com Denahi e Pocahontas."

Pocahontas. Gold já ouvira aquele nome algumas vezes depois que chegara à tribo, mas nunca conhecera a possuidora dele. Sabia, entretanto, que a mulher era uma espécie de princesa na tribo, a única filha do chefe Powhatan.

Ele encarou Belle e percebeu que, concentrada em sua oração — ou o que quer que aquilo fosse —, ela não ouvira Tanana anunciar que Henry estava bem. Gold, então, tocou os ombros da jovem com carinho e chamou seu nome. Naquele momento, ele sentiu repentinamente uma onda de energia inacreditável perpassar seu corpo e deu dois passos para trás antes que Belle abrisse os olhos repentinamente e o olhasse preocupada.

"Rum?" Ela perguntou, parecendo quase tão atordoada quanto ele.

Gold precisou de um momento para se decidir entre falar com Belle sobre o que acontecera ou não, ele, entretanto, decidiu que seu neto era a prioridade deles naquele momento.

"H-Henry está bem," ele disse, e respirou profundamente, tentando se acostumar com a energia que Belle lhe entregara. "Tanana nos quer na cabana de Powhatan, onde Henry está."

Belle encarou Gold e, em seguida, se voltou para Tamara, que já se levantara e caminha em direção à entrada da cabana.

"Você não vai conosco ver se Henry está mesmo a salvo?" Perguntou Belle para a outra mulher. Gold não conseguia compreender porque ela e Henry estavam tão preocupados com a pessoa que tentara levar seu neto para a morte certa, mas encarava isso como uma falha em seu próprio caráter.

"Não," disse Tamara, se voltando para Belle com um olhar triste. "Já sei que ele está à salvo, isso basta."

Belle se limitou a assentir, e ela e Gold assistiram à mulher saindo da cabana. Então, quando a jovem moveu a cortina para passar por ela, um clarão incomum invadiu os olhos do feiticeiro, e ele rapidamente se recompôs e rumou para fora da cabana para ver a fonte de tanta luz.

Então, tudo ficou evidente.

O Sol.

Pela primeira vez desde que ele e os demais haviam chegado à Terra do Nunca, Gold estava vendo o Sol nascer no horizonte, ainda muito fraco e tímido, mas ainda assim presente. Belle deixou escapar uma exclamação de surpresa ao se posicionar ao lado dele, de costas para à porta pela qual havia saído.

Ele olhou para ela esperando ver uma expressão de agradável surpresa, pois sabia que sua Belle amava a luz e o calor agradável que o Sol proporcionavam, mas apenas encontrou preocupação — e seria aquilo arrependimento?

"Belle?" Gold chamou, e ela o encarou, tentando disfarçar sua preocupação.

"Vamos ver como está o Henry."

Gold pensou em discutir, em perguntar a ela o que estava acontecendo, mas novamente ele decidiu que tinha outras prioridades naquele momento: precisavam se encontrar com Henry e verificar se o menino estava bem. Depois, ele se preocuparia com o estranho comportamento de Belle e tentaria fazer com que ela falasse sobre o que estava acontecendo desde que haviam chegado à ilha.

Eles seguiram até a cabana de Powhatan, diante da qual encontraram Henry e uma menina que não parecia muito mais velha do que ele cercados pelos guerreiros armados que provavelmente os haviam salvo, alguns idosos e duas pequenas criaturas aladas. As fadas olharam para Gold no momento em que eles chegaram com um misto de preocupação e repulsa e depois se voltaram para Belle e suas expressões se transformaram em algo que Gold não conseguia identificar.

"Belle, Mr. Gold!" Gritou Henry, correndo para abraçá-los.

Gold recebeu o abraço do garoto com uma alegria indescritível por seu neto estar ali, à salvo. Ele percebeu que Henry tremia contra ele e se perguntou o que acontecera, afinal. O menino o soltou e correu para abraçar Belle, que fez um comentário no ouvido dele que Gold não ouviu, embora tenha feito Henry corar e ficar imediatamente tenso.

"Eu compartilho o alívio de vocês hoje, pois também temi perder minha filha desobediente," disse Powhatan, e eles se voltaram para a menina que estivera ao lado de Henry. Então, aquela era a famosa Pocahontas, não muito mais do que uma criança! "Mas peço que deixem as saudações de lado e me acompanhem. Tink deve vir conosco, pois precisamos saber o que aconteceu lá e compreender como isso afetou a nossa situação."

Eles acompanharam Powhatan muito sério e inflexível, entrando atrás dele na cabana, onde já encontraram Tanana. A fada toda trajada de verde e a menina, Pocahontas, seguiram-nos.

O grupo se sentou diante de uma mesa, e Powhatan encarou um por um cuidadosamente antes de se dirigir a Henry e pedir que ele contasse a sua versão da história, começando pelo motivo pelo qual deixara a segurança da tribo.

O menino pigarreou e começou a falar de coisas das quais Gold achava que entendia, mas nas palavras duras do menino pareciam piores do que ele imaginara anteriormente: sua frustração e impaciência, sua vontade de se provar.

Ele imaginara que Henry se sentiria frustrado com a necessidade de aprender tanta coisa tão rapidamente, mas nunca ocorrera ao feiticeiro que o menino pudesse estar se sentindo inútil após as suas aulas. Afinal, o conhecimento em magia não era algo que se adquiria em poucos dias, exigia treinamento, e Henry estava avançando muito bem. Gold se sentiu estúpido por não ter percebido que seu neto precisava conversar com ele, teria que se esforçar mais.

Henry comentou como seguiu um pouco para dentro da floresta e quase trombou com um grupo de Meninos Perdidos, que pareceram decididamente felizes em vê-lo e tentaram convencê-lo a se juntar a eles. Henry, entretanto, disse que nunca faria isso, e sacou a sua espada. Ele parou de falar depois disso, corando violentamente, o que deixava claro o resultado daquela luta.

Pocahontas entendeu que Henry estava envergonhado demais para contar o restante da história, e retomou dali. Ela narrou, olhando com orgulho para Henry, que ele conseguira derrubar quatro Meninos Perdidos sem a ajuda dela, um deles com sua espada e os três outros com magia; mas o quinto deles conseguiu subjugá-lo e Pocahontas teve que interferir, derrubando os outros três que Henry não conseguira derrotar apenas usando suas mãos e sua lança.

"Mas ele foi realmente incrível, vocês precisavam ter visto," a menina disse com os olhos brilhando de admiração, e Henry corou diante do elogio. "Aqueles idiotas da tribo acham que sabem demais e ficam rindo dele, mas não seriam capazes de derrubar quatro Meninos Perdidos sozinhos usando a mesma magia que eles e uma arma tão curta."

"E o que você estava fazendo lá, Pocahontas? Você sabe que não deve sair desnecessariamente," disse Tanana, severamente. "Você não percebe que é o espírito e a alegria de nossa tribo, criança?"

"Eu tive que ir," retrucou Pocahontas, olhando com raiva e desafio para a mulher mais velha. Sim, Pocahontas era a representação viva do que Gold imaginou que Henry sentiria. "Eu fui a única que o vi saindo, eu tive que ir para garantir que ele não se machucasse sozinho na floresta. E eu fiz certo, porque o ajudei no final."

"Por que você não chamou alguém que pudesse ajudar, em vez de segui-lo?"

Pocahontas olhou para a mulher com uma raiva crescente, e Gold entendeu que, para ela, aquela fora uma ótima desculpa para desobedecer as pessoas que a prendiam na tribo. Ele não compreendia por que a menina tinha que ficar dentro da tribo e quais eram os perigos para uma criança que podia derrotar três Meninos Perdidos sem a ajuda da magia da Terra do Nunca. Entendia, entretanto, perfeitamente o que era se sentir preso a uma vida que não desejava.

"Chefe, receio não entender por qual motivo estou aqui," disse a fada que os havia seguido para dentro da cabana, Tink, e Gold intimamente concordou. Pocahontas e Henry haviam contado tudo o que precisavam saber, e Gold sentia pelas fadas o mesmo que elas sentiam por ele. "Certamente, o senhor foi perfeitamente informado sobre o que aconteceu sem que fosse necessário que eu contasse a minha parte da história, que não muito difere da que já lhe foi contada."

"Tink, eu sei que você não gosta da companhia a qual a estamos impondo, mas você precisa compreender que ela precisa de sua instrução, já não há mais nada que eu possa fazer," disse Tanana, franzindo a testa para a fada. "E você é a melhor pessoa para o trabalho, afinal, conhecia a mãe dela."

Ela. Pocahontas, é claro. Mas por que a fada se recusaria a ajudar Pocahontas, a filha do chefe que era o principal aliado delas naquele mundo?

Bom, aquilo não era importante. O que importava verdadeiramente naquele momento era que ele e Belle tivessem um momento à sós com Henry para fazê-lo ver a seriedade da situação em que ele se metera. Ele não gostava de ser o avô chato e mandão, mas precisava que o menino compreendesse que não poderia fazer aquilo de novo e que ele percebesse a situação de estresse na qual ele os colocara.

"Bom, se nos der licença, eu e Belle precisamos conversar com o meu neto a respeito de bom senso," disse Gold, se levantando lentamente, mas, para sua surpresa, apenas Henry se levantou com ele.

"Senhor das Trevas, receio que a reprimenda de Belle ao seu neto terá que esperar, temos assuntos urgentes a tratar cm ela," disse Tanana, olhando para a outra mulher. "Você e Henry podem se retirar se assim desejarem, é claro; provavelmente, o menino está cansado e precisando de uma boa refeição. Levem Pocahontas com vocês, ela também parece estar faminta."

Gold abriu a boca para protestar, mas sentiu o toque de Belle em sua mão e percebeu que ela queria ser deixada sozinha com Tanana, Powhatan e a fada. O feiticeiro a encarou por um momento, confuso, mas ela lhe lançou um sorriso confiante; logo, estariam juntos novamente e ela lhe explicaria tudo.

"Muito bem," disse Gold, e Henry e Pocahontas se levantaram também.

"E Pocahontas," disse Tanana com um sorriso travesso. "Ainda não terminamos a nossa conversa, não sinta como se tivesse se livrado dela."

Pocahontas sorriu de volta, como se ela e a mulher idosa tivessem compartilhado uma piada, e saiu da cabana. Gold e Henry a seguiram logo depois.

Enquanto rumavam de volta para a cabana que Gold dividia com Belle.

Desviando seu pensamento do sentimento incômodo de que Belle não estava lhe contando tudo, ele observou as duas crianças interagindo. O feiticeiro não pode deixar de perceber, com um sorriso no rosto, que Henry e aquela menina já haviam se tornado amigos, e que a admiração que vira de Pocahontas para o seu neto era correspondida.

Isso talvez se tornasse um problema no futuro, mas Henry realmente precisa de uma amiga naquele momento e Gold não queria tirar isso dele. Ele resolveu, portanto, não dizer nada ao neto a respeito do que aconteceria quando eles tivessem que partir daquele mundo.

Bom, de todo jeito, ele pensou, lembrando-se da coragem e determinação de Pocahontas, tenho certeza que ela seria aprovada pelos outros avós do menino.


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês não imaginam o quanto estou feliz com a resposta a essa fic. Eu realmente sinto muito não estar mais conseguindo atualizar uma vez por semana, mas está realmente difícil por causa do volume de coisas que eu estou fazendo.

Feliz porque consegui surpreender todo mundo com a aparição da Pocahontas xD e aí? Gostaram? Sinto muito se decepcionei alguém que queria que fosse a Wendy...

Mais respostas no próximo capítulo ;) por favor, não esqueçam de comentar!

O próximo capítulo, provavelmente, apenas em duas semanas de novo :( perdão!!!