Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Agradeço imensamente a todos pelos comentários gentis, vocês são os melhores!, e aqui vai o próximo capítulo da fic, conforme prometido!



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Henry não estava envergonhado em admitir que se encontrava frustrado.

A princípio, ele achou que aquela estadia na Terra do Nunca representaria alguns dos momentos mais divertidos e despreocupados de sua jovem vida, mas ele percebia que não se sentia tão despreocupado e divertido como planejara. De fato, ele passava a maior parte do tempo se sentindo absolutamente incompetente e cansado.

Primeiramente, era difícil raciocinar o tempo em um mundo em que o tempo não passava — embora Henry começasse a perceber que não era bem assim, pois a noite estava ficando cada vez mais clara, o que provavelmente indicava o nascimento de um novo dia. Depois, ele realmente estava cansado de tentar fazer alguma coisa certa quando todos — a não Gold, Belle, o chefe Powhatan, Denahi e Tanana — pareciam acreditar que ele não era capaz, e ele próprio começava a acreditar também, porque, de fato, ele ainda não acertara em nada.

Não, isso era uma mentira: ele era perfeitamente capaz lidar com a magia da Terra do Nunca. Como Tanana previra, ele tinha uma vocação para esse tipo de magia, o que não significava necessariamente que já era capaz de fazer coisas muito grandes, como criar portais do nada, e também não queria dizer que ele tinha vocação para outros tipos de magia.

De fato, as aulas com Gold iam muito mal. Talvez porque o feiticeiro não sabia ensinar a uma pessoa como Henry, talvez porque o próprio Henry estivesse com medo de que a magia ensinada por Gold o fizesse tão mau quanto sua mãe — embora Gold dissesse que a magia em si não era boa ou má, a pessoa que a praticava quem era —, talvez fosse por ambos os motivos. Seja qual fosse o motivo, entretanto, o fato era que, após uma estadia na Terra do Nunca longa o bastante para que ele sentisse muita falta de sua família, Henry apenas conseguira dominar alguns feitiços muito básicos.

Mas, acima de tudo, o que o estava deixando mais frustrado era que a dificuldade que tinha em aprender o uso de novas armas. Ele fora incitado a acreditar por seu avô materno e seu pai que era bom no manejo de espadas, mas começava a achar que eles apenas estavam sendo gentis com ele, pois o treinamento com os guerreiros da tribo Arzh deixava claro que ele tinha clara dificuldade no manejo de armas, embora estivesse ficando a cada dia mais forte e aprendendo lentamente.

Denahi dizia a ele que era normal demorar a aprender e que os outros guerreiros da tribo apenas eram melhores do que ele porque haviam começado a praticar nos primeiros anos de suas vidas e, embora parecessem jovens, tinham pelo menos meio século de prática Era difícil, entretanto, não se ver como uma criança pequena aprendendo a dar os primeiros passos ao observar os outros guerreiros rindo às custas de seus fracassos enquanto demonstravam o quanto eram melhores.

Também era péssimo ter tão pouco tempo para descansar. Ele sabia que havia urgência nele conseguir dominar completamente a magia da Terra do Nunca, mas sentia que, se eles dessem mais tempo de descanso a ele, talvez se saísse melhor em ambos os ensinamentos sobre magia e sobre o combate físico. Não queria, entretanto, ter que pedir a ninguém, pois temia que eles o vissem como um fraco ou uma criança indefesa e, por isso, tentava aprender da melhor maneira enquanto lutava para conter os bocejos e manter os olhos abertos.

Em uma coisa havia tido sucesso entretanto: ele conseguira fazer o seu avô trazer de volta o corpo de Greg e os índios haviam dado a ele um funeral digno, embora Gold tivesse enfatizado várias vezes que aquele homem não o merecia. Tamara, entretanto, ficara menos infeliz e inclinada a traí-los, o que até mesmo o feiticeiro entendia que era necessário.

Henry não sabia muito bem o que os demais faziam enquanto ele praticava magia e o manejo de arco e flechas e da lança e o combate com as mãos, então não tinha certeza de como a mulher estava lidando com o fato de que o homem que ela amava estava morto. Estava aliviado, entretanto, por ter feito tudo o que pudera fazer por ela.

Algo ocorreu para mudar tudo algum tempo depois de chegarem à ilha. Henry não estava muito certo de quanto tempo depois, pois havia perdido a contagem do tempo, mas sabia que já havia adormecido onze vezes na cabana de Denahi quando ocorreu.

Foi durante um treino decididamente difícil com Denahi. Após a vigésima terceira tentativa de acertar a flecha no centro do alvo e a sua vigésima terceira falha naquele dia, Henry percebeu um grupo de jovens o observando e rindo dele e perdeu a paciência, jogando o arco no chão e saindo apressado, o rosto em chamas.

Henry queria ser bom naquilo, queria provar a todos que de fato herdara a força e o heroísmo dos pais e dos avós, ele queria ser digno de sua própria família. Ele se sentia insignificante, e tentava se convencer todo dia de que não era porque queria impressionar as outras pessoas da idade dele na tribo ou as pessoas da sua família, mas porque queria salvar todo mundo. Ele era um herói, não devia fazer aquilo por motivos egoístas.

Entretanto, não podia se enganar por mais tempo, ele queria se sentir incluído. Talvez Regina o tivesse ensinado bem demais a ser egoísta, e ele não conseguisse mais agir com completo altruísmo. Não, aquele pensamento era injusto. Regina o criara da melhor maneira que conseguira e ele estava certo que não havia absolutamente nada da Rainha Má na mulher que cuidara dele desde que era um bebê. Ela o amava e ele a amava, não era culpa dela.

Talvez ele simplesmente tivesse nascido errado.

Ele se sentou sozinho na cabana onde ele, Denahi e Tamara dormiam toda noite, tentando limpar a sua mente de todos os pensamentos negativos que a preenchiam. Logo o seu avô o procuraria, e Henry não queria que ele desconfiasse que ele se sentia inseguro.

Enquanto tentava controlar a sua respiração irregular devido à corrida e à raiva e angústia em seu coração, ele sentiu a luz preencher a cabana quando a cortina que servia de porta foi afastada e alguém entrou. Pensando ser Denahi, Henry sequer levantou a cabeça, envergonhado.

"Eu vi você passando e achei que talvez precisasse conversar com alguém," disse uma voz feminina à porta e, quando Henry ergueu os olhos, ele percebeu que fora Belle quem o seguira.

A mulher atravessou a cabana e se sentou ao lado dele, sem fazer qualquer movimento para abraçá-lo, embora Henry sentisse que seria bom receber algum conforto naquele momento. Mas não! Ele era um herói em treinamento, não podia depender do conforto dos outros, tinha que ser forte pelos outros.

"O que aconteceu?" Ela perguntou, por fim.

"Então você não me viu passando vergonha?" Perguntou Henry, e Belle meneou a cabeça. "Achei que foi por isso que você me seguiu até aqui."

"Eu apenas achei que você parecia angustiado quando você passou por mim a caminho daqui e pensei que talvez você quisesse falar a respeito disso com alguém que não fosse um dos seus professores," disse Belle, sorrindo. "Eu sei como é se sentir pressionado, a última pessoa com quem queremos falar é a pessoa que está nos pressionando, para começo de conversa."

Henry respirou profundamente, perguntando-se como Belle sabia daquilo. Ele se deu conta repentinamente que não sabia nada sobre Belle antes dela conhecer seu avô, o seu livro não fazia qualquer referência àquela história que tinha pouquíssima relação com a história principal. Henry se perguntou se Belle se ressentia do fato dela não ser a princesa Disney mais importante na história deles, mas achou que ela não se importava muito em ser a mais importante, desde que ela e Gold pudessem ser felizes.

"Eu nunca me encaixei muito nesse papel de única herdeira," disse Belle, como quem lesse os pensamentos de Henry. "Meu pai queria que eu fosse a menina perfeita, bonita e obediente, um mero enfeite para o meu futuro marido, um nobre à escolha dele. Mas eu nunca fui muito boa em ser um enfeite, porque pensava demais."

"Ele não queria que você pensasse?" Perguntou Henry, com espanto.

"Não pense no meu pai como uma pessoa má, Henry," disse Belle, um sorriso triste em seus lábios. "Ele sempre foi um pai atencioso e amável, mas as mulheres da nobreza tem deveres fixos: serem bonitas, serem graciosas, gerarem filhos para seus maridos. O nosso mundo de origem pode parecer maravilhoso para você, mas eu realmente prefiro o mundo sem magia, lá eu não sou condenada por pensar e querer uma vida independente."

Henry encarou Belle, completamente sem reação. Nunca pensara na Floresta Encantada como um mundo tão cruel e injusto; sua avó, Snow White, sempre foi tratada com igualdade pelo pai dela, o rei Leopold, mas talvez aquilo fosse uma exceção.

"Então, o que está acontecendo com você?" Perguntou Belle, por fim.

Henry se deu conta de que havia se esquecido do motivo pelo qual estavam ali, absorvido pela confissão de Belle. Ele respirou profundamente duas vezes antes de contar o que estava acontecendo, como se sentia pressionado em ser tão bom quanto seus pais e seus avós e os outros adolescentes da tribo, como se sentia mal em não atender às expectativas dele próprio e dos outros. Belle o ouviu com atenção, sem interrompê-lo sequer uma vez até o momento em que ele terminou de falar.

"Não se chateie com isso, tanto o Rumple quanto a Tanana tem mais de cem anos de prática em magia e os dois sabem que você está se esforçando de verdade. Tanana me disse que está muito contente como seu progresso, e Rum está muito orgulhoso em ter você como neto, ele diz que você é esperto e aprende com mais facilidade do com Regina e Cora aprenderam."

"É mesmo? Por que ele não me diz isso?" Henry perguntou, desconfiado.

"Você perguntou a ele? Você sabe que Rum não é conhecido por ser um professor indulgente e atencioso," disse Belle, e deixou escapar uma risadinha como quem risse de uma piada interna que Henry não podia compreender. "Talvez ele simplesmente não tenha achado que era necessário você saber. Sei que é difícil, tendo em vista que vocês dois nunca foram muito íntimos, mas ele é o seu avô, você pode conversar com ele."

Henry sorriu e assentiu, embora com descrença. Ainda era um pouco impressionante pensar em alguém tão poderoso quanto Gold como seu avô, embora nas últimas semanas estivesse ficando cada vez mais fácil, pois Henry podia ver através de pequenas atitudes que o feiticeiro realmente se preocupava com o bem estar dele.

"Eu só queria ser um herói, sabe? Como meus avós e minha mãe," ele falou, o tom quase inaudível, e se sentiu muito estúpido por fazer uma confissão tão infantil.

"Henry, ser herói não tem nada a ver com saber manejar armas ou magia," disse Belle, como quem entende muito do que estava falando. "As pessoas se tornam heróis quando fazem alguma coisa heroica."

Ele a encarou sem saber o que dizer. Fazia sentido, ele não precisava ficar ali se esforçando para mostrar a um bando de idiotas o que sabia fazer em sessões de treinamento que não tinham nada a ver com o mundo real. No mundo real, força não era o mais importante, e sim o raciocínio ágil e a inteligência. Aquela era a única coisa que realmente contaria quando fosse enfrentar inimigos de verdade.

Sentindo-se repentinamente muito mais feliz, Henry resolveu que aquele era um bom conselho e seguiu para a sua aula com Gold, na qual demonstrou tão pouco interesse — afinal, aquilo não era importante para que se tornasse um herói — que seu avô suspirou resignado e mandou que ele fosse descansar.

Belle estava certa, todas aquelas aulas não o transformariam automaticamente em um herói. Apenas atos heroicos tinham essa capacidade, apenas agindo como herói ele seria capaz de ser um, algo que não conseguiria fazer se continuasse escondido dentro daquela tribo.

Se ele dominasse a magia da Terra do Nunca, seria capaz de criar um portal para transportá-los de volta a Storybrooke, mas isso não seria um ato heroico, seria fugir de seus problemas como um covarde, e Henry não queria ser um covarde. Se ele enfrentasse os Meninos Perdidos, por outro lado, talvez fosse capaz de fazer algo pelas pessoas que estavam enfrentando eles.

Henry não tinha nenhuma esperança de conseguir vencer Pan, mas talvez pudesse derrotar o seu mais poderoso aliado, Felix, e desestruturar o exército de seu inimigo. Sim, aquele parecia ser um ótimo plano. Era a única maneira de não continuar sendo taxado como um pária e começar a ser visto como um herói.

Após um momento andando pela região menos povoada da tribo, o menino finalmente achou o que estava procurando: um galho no tamanho certo. Lembrando-se das aulas que teve com Tanana, o menino fechou os olhos. Isso não é um galho, é uma espada, ele pensou sem pestanejar, pois já sabia que, se ele estava dizendo que aquilo era uma espada, então o era.

Então, Henry abriu os olhos e percebeu que, de fato, segurava uma bela espada, com o punho ricamente a trabalhado talhado com uma madeira de aparência nobre, detalhes dourados e rubis enfeitando-o. Ele, então, fechou os olhos novamente e se imaginou invisível e, ao reabri-los, notou que não conseguia mais se enxergar.

O menino deixou escapar uma risadinha. Sim, aquilo era muito mais divertido do que as aulas com Tanana, embora ele tivesse que agradecer a elas por seu aprendizado na manipulação daquele tipo de magia.

Enquanto caminhava já completamente invisível para a extremidade mais próxima da tribo, Henry procurou escutar o que as pessoas estavam falando, tentando extrair da conversa dos outros a informação que precisava a respeito da localização dos Meninos Perdidos. Ele notou que algumas pessoas já o estavam procurando e sorriu travesso.

O menino só parou quando chegou aos limites do território da tribo, guardados por guerreiros da tribo e fadas, pequenas criaturinhas coloridas que em muito se assemelhavam a vagalumes. Antes trespassar a fronteira, Henry se concentrou para realizar uma magia que seu avô havia lhe ensinado: um pequeno escudo capaz de impedir que a magia de outrem o tocasse, de modo que o feitiço das fadas que detectava quem entrava e saía da tribo não o percebesse.

O plano, entretanto, não deu certo, pois a magia das fadas era muito mais poderosa do que a dele, e Henry viu todas se voltarem em direção a ele, espantadas, quando colocou o pé na linha imaginária. Ainda se esforçando para manter-se invisível, ele correu em direção à floresta. O menino tinha alguma vantagem, já que ninguém sabia se a pessoa que cruzou a fronteira havia entrado ou saído, e que estavam muito mais preocupados em determinar se alguém entrara.

Portanto, demoraram-se alguns minutos até que, finalmente, todos percebessem que a pessoa que cruzara a fronteira da tribo havia saído e começassem a desconfiar que, talvez, seu salvador tivesse caminhado em direção ao inimigo.

Houve apenas uma pessoa quem não se deixou enganar, entretanto, alguém que observara Henry por muito tempo à distância, ao mesmo tempo com admiração e desprezo. E foi com um sorriso e o coração acelerado de medo e emoção que a menina seguiu o forasteiro pela floresta, tentando entender o motivo pelo qual ele caminhava por vontade própria em direção ao inimigo.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoal. Um salto temporal de cerca de duas semanas no tempo do nosso mundo para vocês (embora as personagens não saibam disso).

Esse capítulo foi particularmente difícil para eu escrever, e eu espero realmente que tenha ficado do agrado de vocês. Henry está sendo tolo, eu sei, mas ele é uma criança e crianças fazem tolices às vezes.

O próximo capítulo será narrado pelo Gold, e vocês verão algumas consequências dos acontecimentos desse capítulo e do anterior. Ele será um capítulo deveras importante e, certamente, um divisor de águas da fanfic.

Vou postá-lo em duas semanas, ou no dia 24 ou no dia 25 de outubro. A partir daí, eu espero já poder voltar a postar os capítulos semanalmente.

Peço MIL desculpas pelo atraso. A faculdade está comendo o meu tempo!

Alguém consegue adivinhar quem é a pessoa que seguiu o Henry? :)