Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 3
Capítulo II




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Tamara tremeu diante da aproximação de Gold. A primeira coisa que o feiticeiro fez ao chegar perto foi usar magia para fazer desaparecer o corpo de Greg, e Belle se perguntou para onde ele o havia transportado.

A jovem considerava um milagre que Tamara continuasse viva após o ataque dos Meninos Perdidos, ou talvez apenas a tivessem poupando porque sabiam que a morte que Gold daria a ela seria muito mais dolorosa. Ela ainda nutria esperanças de que algumas daquelas crianças estivessem apenas sendo induzidas a se comportar daquela maneira, mas sabia que o adolescente alto e magro que falara com Gold gostava de observar o sofrimento de outrem.

"Mr. Gold, p-por fa-vor!" implorou a mulher, com a voz trêmula, de uma maneira que fez com que Belle sentisse um misto de pena e repugnância por ela. Afinal, aquela mulher matara Baelfire.

"Para a sua sorte, parece que Belle não deseja ver você morta, de modo que você está à salvo de mim," disse Gold, e Belle sentiu o alívio percorrendo o seu corpo. "Creio que você já percebeu que estava sendo usada para trazer o garoto até aqui. Não se preocupe, você não foi a primeira e provavelmente não será a última que Pan enganará, embora o custo de sua ignorância tenha me sido alto."

"E-eu sinto m-muito," disse ela, e Belle a admirou a contragosto por admitir que errara, nem todos eram capazes disso.

Gold, entretanto, sequer se limitou a responder, voltando-se para Belle e Henry. A jovem percebeu instantaneamente que ele pensava no que ela fizera antes, manipulando magia para expulsar os Meninos Perdidos, mas viu que ele evitava tocar naquele assunto naquele momento crítico. Definitivamente, tinham mais coisas com as quais se preocupar.

"É ilusório pensar que Pan desistiu," disse Gold enquanto se aproximava deles. "Precisamos sair daqui antes que ele nos alcance."

"Eu achei que viagens entre mundos eram realmente difíceis," falou Henry, olhando para Gold com um olhar determinado, como quem quer provar que pode ajudar — e Belle sorriu ao reconhecer aquela expressão no rosto do menino como uma que via constantemente no homem que amava.

"De fato, são. Algumas mais do que outras, creio," disse Gold. "Mas nós precisamos sair daqui o mais rápido possível. Esse é um dos mundos mais perigosos que eu já visitei, e Pan não será piedoso conosco."

"Ele pareceu bastante inclinado deixar vocês dois irem," respondeu Henry, e Belle percebeu que ele tremia. Não, o garoto não confiava em Gold, e a jovem compreendia que o feiticeiro nunca lhe dera muitos motivos para fazê-lo.

"É o que ele queria que nós pensássemos. Pan é uma pessoa ardilosa e cheia de truques, nós não podemos nos dar ao luxo de confiar nele. Poderia ser a nossa morte," falou Gold, olhando ao redor. "Além do mais, não podemos deixá-lo aqui, suas mães e seus avós nunca mais nos deixariam em paz."

Um silêncio pairou entre eles enquanto Belle encarava o homem que amava com curiosidade. Ela sabia que ele dizia muito menos do que sabia e se perguntava o que o motivava a esconder informações naquele momento. Uma coisa era certa, entretanto: embora estivesse tentando esconder para o benefício de Henry e dela, Gold estava morrendo de medo, e aquilo era um motivo para que ela se sentisse muito preocupada.

"Acho que precisamos coletar as informações que possuímos a respeito da Terra do Nunca," falou Belle, tentando sorrir. "Rum, o que você sabe sobre esse lugar e sobre o Pan? Você sabe por que ele quer o Henry? Quero dizer, deve haver um motivo."

Levou um momento para Gold respondê-la, e Belle desconfiava que ele tinha um palpite dos motivos que haviam levado Pan a querer sequestrar o neto dele. Por fim, ele deu um grande suspiro e olhou para Belle nos olhos.

"A última vez que viajei para cá foi há quase duzentos anos. Eu não acredito que conheça o lugar muito mais do que você e Henry, muito pode ter mudado. Tudo o que eu sei é que a magia aqui está pautada no ato de acreditar das crianças," disse Gold, seu olhar sério e preocupado. "Quanto ao Pan, eu o encontrei algumas vezes nos últimos dois séculos, e apenas sei que é uma criatura ardilosa que sabe manipular e enganar as pessoas. Não podemos confiar em nada do que ele falar."

"Como você foi embora? Quero dizer, se você veio até aqui, teve que ir embora de alguma maneira." Perguntou Henry, e Belle observou um leve sorriso nascendo nos lábios de seu amado — aquele menino era inteligente e era realmente parecido com ele e Baelfire. Talvez, quando voltassem, Belle tentasse persuadir Gold a chamar Henry para jantar com eles às vezes.

"A Sombra, um guardião da Terra do Nunca, pelo que fiquei sabendo através dos meus estudos depois, me carregou. Podemos procurar a Sombra, mas não sei se permanece na ilha," disse Gold. "De todo modo, não sei como começar a procurar."

"A Sombra? A Sombra do Pan?" Perguntou Henry, parecendo ao mesmo tempo maravilhado e surpreso. "A Sombra do Peter Pan pode viajar entre mundos? A história está realmente diferente no livro que eu li!"

"O livro? O seu livro conta a história do Peter Pan?" Perguntou Gold, descrente.

"Não o meu livro de contos de fadas, mas o livro sobre o Peter Pan," disse Henry. "Você sabe…"

"Eu sei," disse Belle, sorrindo.

"O que esse livro fala a respeito da Terra do Nunca e do Pan?" Pergunta Gold para os outros dois. "Deve haver alguma informação nele que nos ajude a encontrar uma saída de volta para Storybrooke. Afinal, mesmo as histórias mais equivocadas deles possuem paralelos com a sua versão verdadeira."

Henry permaneceu em silêncio, encarando Belle muito atentamente como quem busca as respostas, mas a jovem apenas balançou a cabeça negativamente. Contos infantis não chamavam a atenção dela desde que a maldição fora quebrada e ela se encontrara consciente de si em Storybrooke. Tendo vivido o que as pessoas daquele mundo chamavam de contos infantis, Belle não tinha muita curiosidade em lê-los.

"Eu não li o livro," disse, com tristeza, pois odiava decepcioná-los. "Mas você disse que leu, Henry, talvez possa nos ajudar."

Henry pigarreou antes de começar a falar, e Belle percebeu que ele estava nervoso. Aquele garoto estava ansioso por começar a desempenhar o papel de herói, mas ele definitivamente não se sentia confortável quando os outros dependiam de informações que apenas ele possuía. Após crescer aprendendo a governar, Belle identificou rapidamente que, como ela, Henry não nascera com material para ser um líder e precisaria aprender duramente.

"A única coisa que eu sei é que o Peter Pan usava pó de fada e pensamentos felizes para voar. Ele ensinou os Darling a voar e os trouxe voando até a Terra do Nunca," disse Henry. "É claro que os Darling também sonhavam o tempo todo com aventuras aqui antes disso, mas eles sempre podiam acordar. Você acha que pó de fada e pensamentos felizes nos ajudariam a sair daqui?"

Henry se voltou para Gold, esperando por uma resposta, mas o feiticeiro estava perdido em seus pensamentos enquanto murmurava a respeito de pensamentos felizes. Belle sabia que o retorno à Terra do Nunca estava afetando-o de maneira singular, mas nunca esperara a desatenção dele.

"Rum," ela disse, tocando suavemente o braço dele e provocando-lhe um sobressalto. "Rum, você acha que pensamentos felizes e pó de fada podem nos levar de volta à Storybrooke?"

Gold demorou um momento para responder, enquanto processava a pergunta que ela fizera.

"Não creio que seja possível," disse lentamente, por fim. "Mas talvez seja interessante que procuremos um pouco de pó de fada, ele produz uma magia muito poderosa que poderia nos ser útil. De todo modo, o que mais você sabe sobre a Terra do Nunca? Talvez algum possível aliado?"

"Bom," disse Henry, pensativo. "A primeira alternativa para quem quer se voltar contra o Peter Pan é se aliar com o Hook, que é o seu inimigo natural. Mas sabemos que o Hook não está aqui e, mesmo se estivesse, ele não a menor intenção de se aliar com a gente. Também existem as sereias e as fadas, mas elas são muito amigas do Peter Pan. E, é claro, os índios, que são eram uma espécie de neutros até o Peter resgatar a princesa deles."

"Nenhum aliado, portanto," disse Gold, com azedume, e Belle pôde notar que a preocupação dele crescia a cada palavra do neto.

"Desculpe," disse Henry, encolhendo-se, e Belle se adiantou para abraçar o menino.

"Não é sua culpa, garoto," disse Gold, irritado. Ele se voltou para onde Tamara se encontrava, "a culpa é deles. Foram eles quem nos trouxeram para esse lugar sem o menor plano para escapar depois."

"Talvez possamos tentar com as fadas, as sereias ou os índios," disse Belle, por fim, a esperança a preenchendo. "Todos nós sabemos que as histórias que eles contam no mundo sem magia não são completamente fieis à realidade, e é possível que eles tenham-se equivocado ao retratar a relação entre Pan e esses dois grupos."

Gold encarou Belle nos olhos pela primeira vez desde que os Meninos Perdidos os haviam atacado. Foi apenas por um breve momento, mas a jovem percebeu o terror nos olhos do homem que ela amava e sentiu o medo a preenchendo. Quem seria Pan para fazer com que o poderoso Senhor das Trevas, o homem mais poderoso do seu mundo de origem, ficasse tão apavorado?

"Nós não podemos arriscar, Belle," disse o feiticeiro, por fim, e Belle se sentiu surpresa com o quão normal a voz dele saíra, a despeito da enormidade do medo que ele estava sentindo. "As sereias são criaturas traiçoeiras e cruéis, e as fadas são minhas inimigas naturais. Quanto aos índios, eles são muitos e nós não podemos nos dar ao luxo de ter que enfrentá-los."

"Talvez, precisemos nos arriscar," disse Belle, teimosamente. "Talvez, sem nos arriscar, não consigamos sair daqui vivos."

Gold deixou escapar um suspiro, e Henry se aproximou dele, ficando entre o feiticeiro e Belle.

"Talvez, eu e Belle possamos encontrar alguma fada que possa nos ajudar," disse o garoto. "Elas podem ser as suas inimigas, mas não sei porque teriam algo contra mim ou contra Belle. Quero dizer, eu nunca fiz nada contra elas e a própria Blue Fairy já ajudou a minha família várias vezes. As fadas ajudam as pessoas."

"Não," foi Belle quem o respondeu em um tom muito firme, para a surpresa dos outros dois. "Nós não podemos nos separar em hipótese nenhuma. Onde você e eu formos, Rum tem que ir junto."

Henry pareceu envergonhado diante de reprimenda, e Belle percebeu que o garoto não quisera insinuar que deveriam deixar Gold para trás enquanto lidam com as fadas. Afinal, ele era apenas um garoto, não um grande estrategista.

Enquanto pensavam em uma solução para o problema no qual se encontravam, Belle de alguma forma percebeu que não estavam mais sozinhos. Um novo grupo se aproximava lentamente deles, um grupo que, por um motivo que não conseguia compreender, a jovem acreditava não ser hostil. Talvez sejam apenas as minhas esperanças tentando me cegar.

Não demorou muito antes que Gold também percebesse a aproximação e seu olhos começassem a procurar o novo grupo sutilmente. Henry pareceu notar a mudança na atmosfera e voltou para o lado de Belle com um ar preocupado.

"O que…?"

O menino, entretanto, foi interrompido quando um jovem guerreiro despido da cintura para cima e portando uma lança de ponta de pedra se aproximou deles com um ar muito sério. Os três sabiam que ele não estava sozinho, entretanto, e Belle quase podia sentir as flechas que se encontravam apontadas para eles naquele momento.

"Quem são vocês, que enfrentam alguns dos mais poderosos Meninos do exército de Pan e saem quase incólumes?" Perguntou, seu olhar analítico sobre Belle, como quem soubesse que fora ela quem expulsara os Meninos Perdidos.

"Eu sou Belle, filha de Sir Maurice de Avonlea," disse a jovem, tentando transmitir confiança ao jovem com um pequeno sorriso. "E ainda estou tentando descobrir como sobrevivemos. Quem é você?"

"Você traz consigo Rumplestiltskin, o Senhor das Trevas," disse o jovem ainda muito sério, embora Belle tenha percebido que a mão que segurava a lança não mais a apertava com tanta força. "Ele, que já foi fiel ao Pan, agora o trai. Por quê?"

"Pan pode ser muito persuasivo, às vezes. Eu apenas o vi como quem ele realmente é," disse Gold, e Belle se sentiu agradecida por ele ter tomado a iniciativa de falar, pois ela não sabia como responder àquilo. "Além do mais, nem mesmo o Senhor das Trevas seria capaz de deixar que seu próprio neto, sua única família viva, fosse abduzido por Pan."

O olhar do guerreiro se voltou para Henry, que corou violentamente enquanto o jovem o analisava cuidadosamente. Sim, estava evidente que ele achara o menino muito mais interessante do que os outros dois e parecia realizar o motivo pelo qual Pan o desejava. Novamente, Belle abraçou Henry de modo protetor, ela não permitiria que eles o levassem.

Por fim, o guerreiro sorriu e espetou a lança no chão com a ponta voltada para cima, em um gesto de paz. Alguns segundos depois, cerca de vinte guerreiros se aproximaram carregando seus arcos, mas com as flechas em suas aljavas. Claramente, toda a hostilidade desaparecera.

"Meu nome é Denahi, e eu sou um comandante guerreiro da tribo de Arzh*," disse o jovem guerreiro. "Vocês devem me acompanhar, pois Pan não medirá esforços para conseguir um menino como este. Se não nos acompanharem, a morte logo os levará."

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*Arzh significa "urso" em bretão.


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Notas finais do capítulo

Segundo capítulo postado. Já tenho o terceiro e quarto prontos e o quinto começado, mas vou continuar postando uma vez por semana para manter as postagens regulares, ok?

O primeiro personagem que não pertence a Once Upon a Time apareceu. Vocês o reconhecem? Lembram de quem ele é? Ele é um dos meus personagens favoritos de Irmão Urso.

No mais, muito agradecida a todos que deixaram reviews. Não deixem de continuar comentando, por favor, é realmente importante para mim quando vocês o fazem.