Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Enquanto isso, em Neverland...



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Gold havia sentido muitas vezes os sintomas de uma viagem entre mundos utilizando o Chapéu do Jefferson, portanto, o enjoo e a tontura, que eram os mais comuns, não mais o incomodavam tanto. Mas a confusão que o feiticeiro sentiu quando tocou o solo e percebeu a escuridão ao seu redor rompida apenas pelos pequenos pontos brilhantes no céu não se comparavam a qualquer sentimento causado por uma viagem entre mundos que havia feito.

Ele sentiu a Belle ao seu lado e descobriu, surpreendentemente sem se sentir sequer um pouco surpreso, que ela o havia desobedecido, que ela havia pulado no portal atrás dele, seguindo-o até aquele mundo. De alguma forma, a presença da jovem o fez se sentir um pouco melhor: estava em um mundo diferente sob circunstâncias desconhecidas, mas Belle — não Lacey, Belle — estava ali, ele não se encontrava sozinho.

Ao ouvir ruídos, Gold lembrou-se repentinamente do motivo pelo qual pulara no portal — imagens surgiram em sua mente de Henry, do desconhecido e da noiva de seu filho pulando no portal, o primeiro contra a própria vontade — e pôs-se de pé subitamente, olhando rapidamente à sua volta para encontrar a origem do que estava ouvindo. Para sua surpresa, não sentiu a dor na perna que o acompanhava desde que Regina lançara a maldição; estava, de alguma maneira, curado, o que significava que aquele mundo tinha uma quantidade significativa de magia.

Ele percebeu, logo que se recuperou do choque, que se encontrava em uma praia e o motivo da escuridão era o fato de ser noite. O feiticeiro rapidamente percebeu que os dois forasteiros tentavam levar Henry à força para dentro da floresta e reagiu, prendendo-os com magia. O menino deu alguns passos para longe dos seus captores, procurando por seu salvador, e sorriu parecendo muito aliviado ao perceber que Gold se aproximava dele.

"Mr. Gold, o que está fazendo aqui?" Perguntou Henry, mas antes que o feiticeiro pudesse respondê-lo, os dois ouviram um barulho atrás de Gold e perceberam que Belle finalmente se levantara, ainda parecendo um pouco pálida após a viagem entre mundos. "Belle?"

"Fico feliz que o tenhamos alcançado," disse Belle para Henry, sorrindo enquanto se aproximava. Quando já se encontrava ao lado deles, perguntou: "onde nós estamos?"

"Eu não sei, meu amor, mas eu eles sabem," disse o feiticeiro, aproximando-se lentamente de Greg e Tamara, que permaneciam imóveis pela magia dele.

Belle aproximou-se de Henry, deixando que ele a abraçasse em busca de um conforto que a jovem sabia que ele precisava. Gold sentiu uma pontada de felicidade em seu coração ao ver a mulher que amava abraçada com o seu neto, a única herança que Baelfire deixara naquele mundo. Não se permitiu, entretanto, perder o foco no que estava prestes a fazer.

"Então, senhores," disse Gold, o seu sorriso mais cruel e intimidador nos lábios e um olhar calculista. "Deixem que eu lhes explique as regras do jogo: eu vou fazer algumas perguntas e, se vocês cooperarem e eu estiver de muito bom humor quando terminar, talvez permita que vivam para ver o próximo nascer do sol. De acordo?"

Ele percebeu que suas palavras haviam tido um efeito maior em Tamara do que em Greg, que permanecia olhando-o desafiadoramente. Aquilo o alegrou, a descoberta de que tinha a capacidade de amedrontá-la, pois a mulher fora a responsável direta pela morte de seu filho. Mesmo que seu parceiro ganhasse o direito de viver, ela não sobreviveria.

"Muito bem," disse Gold, seu sorriso se tornando cada vez mais sincero, embora não menos sinistro e amedrontador pois teria a oportunidade de matar a mulher que matara o seu filho. "Comecemos com perguntas simples: onde nós estamos?"

Não demorou muito antes que Tamara respondesse com a voz entrecortada, sob o olhar desaprovador de Greg, que se encontravam na Terra do Nunca. Gold empalideceu instantaneamente, sabendo-se preso no mesmíssimo mundo onde se encontrava tudo que ele mais odiava e temia. Ele olhou ao redor por um momento, mas não encontrou nada que reconhecesse ali. A despeito do tempo permanecer estagnado naquele mundo, era evidente que os quase duzentos anos desde que Gold pisara naquele solo pela primeira e última vez haviam mudado o lugar.

"Vocês trabalham para o Pan?" Disse Gold, sua mente funcionando rapidamente, tentando encontrar as perguntas certas para as respostas que precisava, mas já tendo conhecimento de que provavelmente não as teria vindas de Greg e Tamara — Pan era inteligente, afinal, isso até mesmo ele tinha que admitir. "Por que ele quer o Henry?"

"Mr. Gold," disse Tamara, sua voz trêmula e humilde. "Nós não sabemos nada sobre esse Peter Pan, se é dele que está falando, nós obedecemos apenas ao Escritório. Não sabemos por que eles querem o garoto, mas ele é muito importante para a nossa causa."

"Livrar o mundo da magia, se me recordo bem," disse Gold, friamente. "Falem-me mais a respeito desse Escritório de vocês."

"Isso não é da sua conta!" Falou Greg pela primeira vez, em tom de desafio.

Gold deixou escapar uma suave risadinha. A resposta de Greg e o modo como Tamara empalidecera deixava claro que aqueles dois não sabiam de mais nada, o que significava que não serviriam para mais nada.

"O que é da minha conta, Mr. Mendell, sou eu quem decido," disse, por fim.

"Nós não sabemos realmente," disse Tamara, e Gold quase sentiu vontade de deixar ela sobreviver. Afinal, Pan a mataria de qualquer jeito e ela estava sendo mais útil do que seu colega. "Apenas recebemos ordens indiretas deles, nunca fomos importantes o bastante para ter a oportunidade de encontrar nossos superiores pessoalmente."

Gold assentiu. Aqueles dois eram mais burros do que pareciam, e o feiticeiro se encontrava surpreso diante daquilo. Como poderia haver alguém tão completamente estúpido naquele mundo, isso o intrigava profundamente.

"Uma última pergunta," disse, por fim. "Onde está seu o meio de transporte de volta ao nosso mundo? Ninguém é burro o bastante para pular em um portal para um mundo onde não deseja permanecer sem ter um meio de retornar por conta própria."

Greg e Tamara se olharam com temor e culpa. Aparentemente, alguém era burro o bastante para fazer isso e, agora, todos eles estavam condenados. Gold sabia que, uma vez ali, apenas conseguiriam sair se Pan o permitisse. Não, eu vou levá-los de volta para Storybrooke, nem que isso custe a minha vida!

"Muito bem, parece que não preciso mais de vocês," disse Gold, por fim, um sorriso maníaco brincando em seus lábios. Ele adiantou-se para ficar mais próximo e começou a conjurar dentro de sua cabeça o feitiço para conseguir alcançar o coração sem matar o dono.

"Rum, pare!" Disse Belle, sua voz mais próxima do que ele esperava que estivesse. O feiticeiro se voltou para encará-la. "Você não pode matá-los."

"Eles foram responsáveis pela morte do meu filho, do pai de Henry," disse Gold, mas ele já sabia que aquela batalha estava perdida. Ele não seria capaz de matar os dois contrariando a vontade da mulher que amava, e entendia que ela estava fazendo aquilo pensando no coração dele, que estava tentando garantir que ele não se afogasse na escuridão novamente.

"Eles fizeram algo horrível," Belle concordou. "Mas não vale a pena usar magia para matá-los, não vale a pena comprometer o seu coração buscando uma justiça que não cabe a você aplicar."

"Você não compreende," disse Gold, sentindo-se cada vez mais agitado. "Não é apenas por vingança. Eles são um peso morto perigoso para nós, e precisaremos nos livrar todo peso morto que temos para sobrevivermos na Terra do Nunca."

Enquanto tentava encontrar elementos para argumentar com Belle sem ter que mencionar o que Pan fizera com ele, Gold percebeu um movimento nas árvores próximas e reagiu rapidamente, criando um escudo mágico para proteger Belle de uma flecha envenenada. Quando deu por si, um grupo de garotos de idades variadas saía da floresta e se aproximava deles vagarosamente.

"Meninos Perdidos," sussurrou Gold para Belle e Henry enquanto recuava para mais perto deles. Ele simplesmente sabia que não possuía nenhuma chance de derrotar o grupo se tivesse que proteger os demais, mas não ousava pensar em deixá-los desamparados.

Mais uma flecha foi lançada, e ela atingiu Greg sem que Gold fizesse nada para impedir. Ele não mataria seus inimigos sem o consentimento de Belle — aquilo ele já havia aprendido —, mas não arriscaria a vida dos seus para salvá-los.

Os gritos de dor de Greg, seguidos de uma morte rápida, provaram ao feiticeiro que as flechas estavam envenenadas com algo mortal. Tamara começou a gritar desesperada, mas Gold se forçou a não escutar.

Gold se voltou para encarar Belle enquanto fortificava o escudo mágico que criara, estendendo-o para que o abarcasse dentro da zona protegida. Os olhos de Belle mostravam que ela queria argumentar a respeito da proteção de seus inimigos, mas um olhar dele a fez permanecer calada. Não havia discussão: eles eram mais importantes do que Tamara.

"Rum, eles são crianças, talvez possamos conversar com eles," disse Belle, por fim. "Tenho certeza que não nos farão mal quando verem que não queremos machucá-los."

"Eles não são apenas crianças, Belle," disse Gold, lamentando nunca ter tido a coragem de contar a ela sobre sua conturbada relação com Pan. "São Meninos Perdidos. Eles trabalham para o Pan."

Belle abriu a boca para responder, mas um dos meninos — um alto e magro, o mais velho do grupo — se adiantou com um sorriso. Felix, Gold sabia.

"Então, Rumplestiltskin, bem vindo de volta à Terra do Nunca! Estou certo que Pan ficará muito feliz em revê-lo," disse o adolescente — pois era velho demais para ser chamado de menino, e jovem demais para ser chamado de homem. "Pan não tem nada contra você e a sua garota, desde que vocês nos entreguem o menino."

Embora uma parte de si quisesse tomar a decisão fácil de entregar Henry para os Meninos Perdidos e sair dali o mais rápido possível, ele sabia não ser possível. Afinal, não havia nenhuma garantia de que Pan cumpriria a palavra dele uma vez tivesse o garoto. Além do mais, aquele menino era seu neto e a única coisa herança que Baelfire deixara.

Ele olhou por um momento para Belle e Henry e percebeu que ela abraçara o menino, que olhava para Felix com um olhar ao mesmo tempo amedrontado e desafiador. Gold sorriu diante da expressão que vira tantas vezes no rosto de seu filho esperando não ser essa a última vez que a veria no rosto do neto, e se voltou para o Menino Perdido.

"Sinto muito, mas o menino permanecerá conosco," disse Gold, pensando rapidamente em como seria capaz de derrotá-los.

Havia cerca de dez Meninos Perdidos, todos eles com o perfeito domínio da magia da Terra do Nunca. O feiticeiro sabia manipular aquela magia, é claro, mas aquele era um lugar onde as crianças eram mais poderosas que os adultos, e Gold era esperto demais para ter esperanças de que poderia vencê-los usando a arma deles.

Então, em um piscar de olhos, ele sentiu a força da magia do acreditar das crianças diante de si, contra a de seu escudo mágico. Era um duelo mágico que não podia ser visto ou ouvido, um duelo de mentes. Gold sabia que Belle jamais diria nada, mas temia que Henry fizesse algo que o desconcentrasse.

Enquanto o duelo continuava, ele sentiu Belle se mover para mais perto dele, guiando Henry consigo. Aliviado, ele reduziu o tamanho do escudo, o que fez com que o nível de magia exigido para mantê-lo fosse diminuído drasticamente.

Ainda assim, aquele duelo mágico não pendia a seu favor. Ele sentia seu escudo enfraquecendo cada vez mais rapidamente enquanto tentava desesperadamente reverter aquele quadro.

Então, quando menos esperava, sentiu os dedos de Belle entrelaçando com os seus e uma onda imensurável de energia percorreu o seu corpo, enquanto seu escudo se expandia completamente fora de seu controle.

Belle!? Ele ousou olhar para a mulher ao seu lado e percebeu, com surpresa, que ela fechara os olhos enquanto se esforçava para controlar o escudo mágico que se expandia para abarcar Tamara. Ele encarou, então, os Meninos Perdidos, que, ainda tentando usar magia para vencer o escudo, recuavam.

"Você? O que é você, garota?" Gritou Felix, decididamente aterrorizado.

Belle abriu os olhos, e Gold percebeu que havia um brilho esverdeado sobre o natural azul celeste. Felix fez um sinal, então, e os Meninos Perdidos recuaram até a floresta e desapareceram das vistas deles.

Gold olhou espantado para a orla da floresta por algum tempo, incapaz de entender o que acontecera. O feiticeiro conhecia a mulher que ele amava, e ela nunca antes havia apresentado quaisquer sinais de que possuía magia. Ele se voltou para Belle e percebeu que o brilho esverdeado nos olhos dela desapareciam lentamente, dando lugar a uma expressão confusa. O que havia acontecido ali?

"Belle," o feiticeiro chamou suavemente, e a jovem olhou para ele, completamente desnorteada. "C-como você fez isso?"

Belle não respondeu imediatamente, voltando-se lentamente para Henry para verificar que ele estava bem. Gold sabia que ela pensava a respeito da resposta e não a pressionou, voltando-se para encarar o neto, que estava pálido e suado, mas muito bem.

"E-eu não sei," Belle falou, por fim, encarando Gold nos olhos. Ele estendeu a mão para segurar a dela e percebeu que ela tremia. "Eu p-percebi que você estava se e-exaurindo. Só n-não queria q-que eles nos m-machucassem-em, ou q-que você fosse f-forçado a m-machucá-los. Simplesmente a-aconteceu, n-não sei c-como."

Gold a encarou por um momento. Se Belle fosse uma criança, muito provavelmente teria sido a magia da Terra do Nunca a ajudando, embora isso não explicasse como ela fora capaz de derrotar cerca de dez Meninos Perdidos que a usavam e dominavam há muito tempo.

Por fim, ele balançou a cabeça negativamente como que para espantar aqueles pensamentos, decidindo-se que, naquele momento, a sobrevivência deles era mais importante do que o conhecimento a respeito do que ocorrera. Ele assentiu, por fim, e voltou-se para seu problema mais urgente naquele exato momento: o que faria com Tamara?


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Notas finais do capítulo

Eis o primeiro capítulo da fic e, como prometido, Rumbelle para vocês. E Henry. E Neverland.

Por sinal, decidi usar "Terra do Nunca" em lugar de "Neverland", mas Mr., porque acho que Sr. não tem o mesmo impacto.

O que eu posso dizer desse capítulo é: foi MUITO divertido escrevê-lo, é o primeiro duelo mágico que eu escrevo e foi genial de escrever!!! Talvez eu escreva de novo com elementos mais ofensivos, quem sabe?

Vocês sabem... não seria fic minha se não tivesse o elemento da Belle com magia xD isso é um padrão que vocês provavelmente verão se repetir de novo e de novo e de novo.

No mais, espero que tenham gostado. Não deixem de dar um feedback e talz!

Próximo na semana que vem ;)