Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 14
Capítulo XIII




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Henry achava quase inacreditável pensar no quanto havia mudado no tempo que passara na Terra do Nunca. Parecia difícil acreditar que, pouco tempo antes, ele era alguém que dependia de suas duas mães para protegê-lo. Hoje, eu sou capaz de proteger quem eu amo.

Foi quando Powhatan anunciou à tribo a profecia que vaticinava o destino de Henry interligado ao de Pan, revelando revelou o motivo pelo qual haviam mantido o pequeno forasteiro dentro da tribo, pelo qual o haviam protegido. Quando o menino foi convidado a se levantar e recebeu a ovação de todos os membros da tribo, inclusive os jovens guerreiros que, um dia, muito e pouco tempo antes, haviam caçoado dele.

Naquela noite, naquele momento, ele não estava particularmente orgulhoso ou contente, e foi aquilo o que mais lhe surpreendeu. O Henry que ele um dia fora teria ficado muito satisfeito, mas algo no conhecimento que o totem havia lhe dado, na decisão que teria que tomar, o fez consciente de que seu papel exigira um sacrifício. A energia da Terra do Nunca e a energia da tribo fluíam através dele, preenchendo-o, e ele se sentia, pela primeira vez, como se estivesse no seu lugar. Paz, plenitude, convicção.

Depois, quando todos foram se deitar, ele se esgueirou até a cabana de Gold e Belle. Os três se sentaram, conversando a respeito de Storybrooke e das pessoas que os aguardavam ali. Henry estava nervoso a respeito da batalha que ocorreria no dia seguinte, mas se sentia confiante de que a sorte estava do lado deles. Eles venceriam.

O menino não comentou com Belle ou seu avô a respeito de sua convicção crescente de que pertencia àquele lugar, pois ainda não sabia o que faria sobre aquilo. Um sacrifício, certamente. Uma parte de si sabia que ele seria sempre um deslocado em Storybrooke, mas havia uma outra parte, igualmente significativa, que sentia falta de sua família e apenas desejava vê-los.

Eu tenho uma responsabilidade e ninguém sabe o que vai acontecer amanhã. Quando tudo acabar, vou ter tempo e um motivo para pensar a respeito do futuro. Até lá, não faz sentido preocupá-los.

Henry dormiu entre seu avô e Belle, naquela noite, e acordou se sentindo muito revigorado e estranhamente seguro, muito embora fosse enfrentar o Pan naquele dia.

Os três se levantaram e o menino correu até a cabana de Denahi, onde se vestiu rapidamente. Denahi não perguntou a ele onde estivera, e Henry não o disse por espontânea vontade. Quando o menino se aproximou, entretanto, o mais velho o puxou para um aperto de mãos segurando o final do antibraço de Henry.

"Não sei como termina o dia de hoje, mas, de qualquer jeito, você sempre será um herói entre os nossos," disse Denahi, com um sorriso confiante. "Deixe que os espíritos o guiem, jovem guerreiro."

Henry encarou Denahi com seriedade por um tempo, segurando o braço dele. Ele não podia descrever a afeição que sentia por aquele guerreiro que, Henry sabia, um dia se tornaria o líder espiritual da tribo. Era uma algo que ultrapassava o conceito de respeito e camaradagem; ali, o menino sentia que tinha um amigo com a convicção de que o sentimento era recíproco.

"Por que você me acolheu tão rápido? Quero dizer, você não era forçado a passar o tempo comigo ou me ensinar qualquer coisa," perguntou Henry, por fim.

Desde que haviam chegado à Ilha, o menino se fazia aquela pergunta, mas apenas naquele momento, quando tudo parecia estar em jogo, ele tivera coragem para fazê-la. Denahi deixou o sorriso crescer em seu rosto, mas pareceu pensar um pouco antes de responder.

"Você me lembra o meu irmão mais novo, Kenai," disse Denahi, e seu sorriso não se apagou. Kenai, Henry já ouvira as histórias que circundavam aquele nome, mas sempre as imaginara como lendas. "Enquanto eu crescia, eu tive dois irmãos. O mais velho se chamava Sitka, e ele teve que crescer rápido demais para cuidar de nós, seus irmãos mais novos. O mais novo se chamava Kenai, e seu maior sonho era se tornar um homem, mas, para isso, ele precisou aprender a abraçar a sua verdadeira natureza, que ele desprezava."

Denahi olhou para fora da cabana por um momento, e Henry acompanhou o seu olhar com cautela. Os guerreiros se preparavam para o combate, os civis corriam de um lado para o outro, buscando ajudar da maneira como podiam. Quando o menino voltou a encarar o guerreiro mais velho, percebeu que ele não estava realmente observando a cena, seu olhar estava voltado para as memórias que vivenciava naquele momento.

"Quando você chegou à nossa tribo, Henry, você só queria que as pessoas te vissem como algo mais do que uma criança. Como o meu irmão Kenai, você queria ser um homem," disse Denahi, com um sorriso. "E eu estou muito orgulhoso, porque posso ver que você está se tornando um, que você já abraçou que ser adulto significa, também, sacrificar a sua infância. Você está pronto, Henry."

Henry sentiu os olhos se enchendo completamente de lágrimas. O elogio do guerreiro mais velho fazendo-o sentir uma confiança ainda maior a respeito da batalha que se seguiria e, mais importante, do sacrifício que teria que fazer. Ele deixara seu mestre, o seu amigo, orgulhoso.

Então, os dois ouviram passos e se voltaram para a porta. Alguns segundos depois, Pocahontas entrou na cabana. Ela sorriu para Henry, com confiança, e o menino não pode evitar retribuir o sorriso com entusiasmo; embora soubesse que Denahi era seu amigo, ele não tinha certeza do que a princesa daquela tribo representava para ele. Principalmente após a conversa que tivera com Powhatan na noite anterior, quando cruzara com ele a caminho da cabana de Gold e Belle.

Henry se perguntou se a menina estava ciente da promessa que o chefe havia feito a ele, caso vencessem aquela vitória, e se ela estaria de acordo com aquilo. Resolvera, entretanto, que não valia a pena falar sobre isso com Pocahontas antes que tivessem vencido Pan.

"Meu pai está te esperando na tenda dele, ele quer mostrar a todos a estratégia dele para a batalha," disse Pocahontas, sorrindo. "Vocês estão prontos?"

Ambos Henry e Denahi assentiram. Tamara, entretanto, aproximou-se do mais novo antes que ele tivesse a oportunidade de seguir o guerreiro para fora da cabana. O menino a encarou, incerto do que faria à seguir.

"Boa sorte, Henry," disse a mulher, com um sorriso nos lábios. "E obrigada por me dar uma chance, nunca vou esquecer."

O menino assentiu, retribuindo o sorriso. Então, quando ficou claro que nenhum deles tinha nada a acrescentar, Henry saiu da cabana, com o coração aquecido. A despeito de suas inseguranças, ele havia feito a coisa certa.

Henry acompanhou Pocahontas e Denahi. Ele recebeu palmas das pessoas durante todo o trajeto até a cabana central, o lugar onde se reunia o Conselho da tribo; alguns guerreiros chegaram a se aproximar para cumprimentá-lo, embora nenhum conversasse com ele. Naquele momento, finalmente percebendo a realidade que se aproximava, o menino sentiu o peso do totem pendia em seu pescoço, em baixo de sua camisa.

Eles chegaram à cabana, ali encontrando o chefe Powhatan e alguns guerreiros mais experientes, Tanana e os demais anciãos da aldeia, Gold e Belle. Henry não sentiu o entusiasmo que ele, Denahi e Pocahontas compartilhavam em nenhum deles; ele imaginou se fora a experiência que causara aquilo ou se havia algo que ele não sabia.

Powhatan se adiantou quando eles entraram e segurou Henry pelo ombro, guiando-o até o centro da sala. Pocahontas lhe lançou um sorriso. Naquele momento, o menino teve certeza que ela tinha conhecimento e concordara com a proposta que seu pai fizera a ele na noite anterior.

"Henry, você, Denahi e o seu avô esperarão atrás de nossos guerreiros enquanto abrimos caminho. Os Meninos Perdidos certamente estarão entre nós e seu líder, e você não deve se envolver na batalha contra eles antes de terminar com Pan. Precisamos que você poupe as suas forças."

Henry assentiu, ele compreendia aquela necessidade. Não gostava que os outros tivessem que lutar aquela batalha sem ele, mas entendia que Pan era muito mais poderoso do que ele.

"Rumplestiltskin e Denahi vão te proteger de ataques dos demais Meninos Perdidos enquanto você se aproxima de Pan; mesmo quando você tiver que se aproximar da batalha, você não deve se envolver, a menos que para se defender. Você compreende?"

Henry assentiu de novo, e Powhatan se voltou para seus guerreiros mais experientes, dando-lhes instruções elaboradas a respeito de suas posições durante a batalha. Aquela discussão deixava Henry ainda mais esperançoso, ele começava a perceber que dificilmente estariam em desvantagem numérica.

"Espere um pouco," disse Pocahontas. "Onde eu vou estar durante a batalha?"

Powhatan se voltou lentamente para encarar a filha, e Henry soube imediatamente que a menina não gostaria da resposta que seu pai lhe daria. Pocahontas provavelmente sentiu a mesma coisa, pois os olhos já faiscavam de raiva.

"Você deve ficar na aldeia," disse Powhatan, já sabendo claramente que causaria uma explosão de raiva da filha. "Pocahontas, você é o coração e a esperança de todos nós e, por isso, deve ficar em segurança e zelar pela segurança dos demais. Já tivemos essa conversa antes, não?"

"Mas… mas eu sei lutar," disse a jovem princesa. "Sou uma das melhores guerreiras da tribo. É injusto que você não me deixe participar!"

Powhatan fechou seus olhos e respirou profundamente antes de responder à filha:

"Minha decisão já foi tomada, criança, e você deve respeitá-la."

Lançando um último olhar de raiva em direção ao pai, Pocahontas saiu da cabana. Henry se perguntou se deveria segui-la e confortá-la, mas um olhar do chefe o fez decidir que haviam coisas mais importantes naquele momento. Ele e Pocahontas teriam muito o que conversar depois da batalha, e ele faria o possível para que ela entendesse que, de fato, aquela era a melhor decisão.

~~//~~

Pocahontas subiu em uma árvore na fronteira da aldeia tentando se decidir se deveria obedecer seu pai. Ela sabia que ele estava fazendo o que acreditava ser melhor para a tribo e para ela, mas tinha a forte sensação de que precisava estar naquela batalha, de que seria necessária ali.

Normalmente, a jovem obedecia seu pai em situações como aquela. Afinal, ela crescera aprendendo que Pohwatan era um homem inteligente que raramente se enganava sobre como liderar a tribo; ela também compreendia a importância de se obedecer as pessoas mais velhas.

Com uma raiva já resignada, ela viu os guerreiros partindo para a batalha contra Pan. Observou, à distância, Henry estava na retaguarda com seu avô e Denahi, e Pocahontas fez uma pequena prece aos espíritos, pedindo que o protegessem.

A forte sensação de que precisariam dela ali não era o bastante para que ela desobedecesse seu pai em uma situação tão importante; se fosse tão importante que ela estivesse em batalha, ela estava certa de que os espíritos teriam lhe mandado um sinal. Naquele momento, era a sabedoria de Powhatan contra seus instintos, e Pocahontas confiava mais em seu pai.

"Pocahontas, você sabe que não é próprio a uma princesa ficar em cima das árvores, observando sem ser observada," disse uma voz que Pocahontas conhecia desde que se lembrava vinda de baixo. A menina se viu encarando Tanana, que se aproximava com Belle.

"Grande Anciã," disse Pocahontas, descendo rapidamente da árvore. "É só que… eu não entendo por que meu pai não permite que eu participe da batalha. Quero dizer, ele sabe que sei me defender, não sabe?"

"Por que você quer tanto estar lá?" Perguntou Belle, sorrindo-lhe como se já soubesse aquela resposta, mas quisesse que Pocahontas dissesse as palavras.

"Eu estive me preparando durante toda a minha vida para esse momento, treinando com os guerreiros mais poderosos da tribo," ela respondeu, olhando para a outra mulher com determinação. "Eu não quero ficar para trás em um momento tão crucial para todos nós!"

As duas mulheres diante de Pocahontas se encararam por um momento, sorrindo. Então, Belle fez algo que surpreendeu a menina: ela riu. Uma risada que aqueceu o coração da pequena guerreira com uma ternura que ela não conseguia sequer começar a descrever, um sentimento que ela tivera apenas uma vez na vida, à presença da Rainha das Fadas.

"Agora, por favor, me diga o verdadeiro motivo pelo qual você quer tanto estar presente," disse a jovem mulher, por fim.

Pocahontas engoliu seco, sem saber ao certo o que dizer. A sua resposta anterior fora sincera, ela desejava estar na batalha porque se preparara durante uma boa parte de sua vida para enfrentá-la.

Então, ela se lembrou da intuição de que precisavam dela naquela batalha. Precisavam. Não, ele precisava dela, Henry precisava dela. E ela não podia deixá-lo em um momento tão importante, ela precisava estar lá ao lado dele.

"Henry precisa de mim, eu não sei como sei disso, apenas sinto," disse Pocahontas, por fim. "Sei que parece loucura."

"Não, Pocahontas, não parece. O verdadeiro amor é a magia mais poderosa existente em todos os mundos," disse Tanana, sorrindo e se adiantando para segurar a menina pelos ombros. "Existe uma chance de ele precisar desse tipo de poder hoje, criança. Você está certa, deve estar lá para que ele tenha essa fonte de magia a sua disposição."

Pocahontas encarou a mulher idosa por um longo momento, tentando absorver o sentido das palavras dela. O verdadeiro amor. Seria aquilo que sentia por Henry? Sim, seu coração respondia, com veemência. Sim, ela nutria amor pelo forasteiro que se tornara seu melhor amigo.

Sem dizer nada, a menina deu as costas às duas mulheres. Portanto, ela não viu o olhar de Belle se tornando repentinamente sombrio, o medo a preenchendo completamente. Um sacrifício se aproximava, um que ela não sabia se seu futuro marido estaria disposto a fazer.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, eu peço desculpas pela demora. A verdade é que eu tive bastante tempo para escrever a história, mas, por algum motivo, não consegui. Sinto muitíssimo e estou esperando que eu consiga postar o próximo rapidamente, embora ele provavelmente seja o mais difícil de todos de escrever.

Eu não revisei esse capítulo para postá-lo mais rápido. Espero que não tenham muitos erros :/

Espero que tenham gostado. Por favor, não deixem de comentar o que pensam.

Próximo capítulo: a batalha ;)



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