Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv
Henry encarou o totem pendurado em seu pescoço com curiosidade, tentando se decidir que pergunta deveria fazer primeiro.
Ele observou a postura de Tanana mudando lenta e sutilmente enquanto a velha voltava ao seu eu de sempre. Denahi segurou a mulher mais velha quando ela cambaleou, mas logo já estava firme o bastante para voltar-se para Henry com um olhar preocupado.
"Você deve evitar mostrar o seu totem às pessoas comuns da tribo," disse a mulher mais velha, franzindo o cenho. "O totem do corvo é um totem mal compreendido pelas pessoas ignorantes e supersticiosas, os jovens de nossa tribo cresceram ouvindo histórias de terror sobre os corvos."
"Q-qual é o problema com o corvo?" Perguntou Henry, sem saber se desejava realmente ouvir aquela resposta.
"Não há nenhum problema com o corvo, Henry," foi Denahi que respondeu, repousando sua mão sobre o ombro do garoto. "O corvo é um animal sagrado poderoso e importante. Está claro que, se ele o escolheu, você é alguém muito especial."
"Mas por que as pessoas o temem? Por que existem histórias de terror sobre corvos?" Henry insistiu, desvencilhando-se do amigo. Afinal, aquilo dizia respeito ao futuro dele.
"Os corvos são conhecidos por serem carniceiros que se aglutinam após as batalhas e se banqueteiam dos restos mortais daqueles que caíram," disse Denahi, fazendo com que Henry se sentisse enjoado e desejasse não ter perguntado. "Eles são associados à guerra e à morte. Existem muitas pessoas em todos os lugares, inclusive aqui na nossa tribo, que temem a morte, e o corvo é a lembrança permanente de que ela está sempre à espreita."
"Então, meu totem é um animal que está ligado à morte, e você diz que não existe nenhum problema nisso?" Perguntou Henry, engolindo seco.
"Você se esquece, menino, de que o seu totem é o corvo do vínculo, não da morte," disse Tanana, calmamente. "O corvo é muito mais do que a morte, ele é um guia espiritual poderoso, um dos grandes vínculos entre o nosso mundo e o mundo em que os espíritos habitam. O corvo é o mensageiro, o guia."
"E o que isso significa para mim?" Perguntou Henry; ele temia a resposta, mas temia ainda mais não sabê-la.
"É difícil determinar com certeza, menino. O totem de modo algum representa uma previsão do seu futuro, ele apenas determina o caminho que o seu dono deve tentar percorrer para se tornar uma pessoa que fará a diferença no mundo," disse Tanana, sem tirar os olhos dos de Henry.
"Talvez apenas signifique que você deva se tornar um grande guerreiro, Henry. Levar a morte àqueles que ameaçam a paz e a vida dos inocentes," disse Denahi, sorrindo. "Afinal, o corvo está associado à morte e às batalhas."
Henry sorriu, por fim. A perspectiva de matar alguém não o agradava muito, mas ele achava que, se fosse uma coisa necessária para a manutenção da paz e da vida de pessoas inocentes, ele seria capaz de fazer. Talvez fosse aquilo mesmo, talvez ele precisasse se tornar um guerreiro e um herói para salvar as pessoas.
"Certo," disse Henry, por fim. "Vou tentar não me preocupar muito com o meu totem."
"Preocupe-se apenas em se orientar através dele," disse Tanana. "Não o esqueça, mas não passe tempo demais com medo dele, também."
Henry assentiu lentamente, ele compreendia porque a cerimônia fora privada. Não fora o totem em si que provocara isso, mas a interpretação que as pessoas ignorantes da tribo pudessem fazer dele.
Com um suspiro, ele guardou o totem no bolso, perguntando-se como contaria a Pocahontas sobre ele. O menino não tinha dúvidas que sua amiga quereria saber, e nada que ele fizesse para impedi-la a faria recuar diante de seu objetivo. Não que Henry não confiasse em Pocahontas para guardar o segredo, mas o menino tinha medo de que ela tivesse a mesma reação que ele tivera a princípio e ele não fosse capaz de explicar como Tanana e Denahi o explicaram.
Bom, ele pensou enquanto retornava com Denahi à festa. Talvez demore um pouco, mas acho que ela vai entender. Afinal, ela não é nem um pouco ignorante!
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Gold passou uma boa parte do tempo distante das festividades do dia. Ele sabia que a festa era em honra de seu neto e que ele deveria estar presente, mas não tinha muita certeza se gostava de Henry se integrando cada vez mais dentro daquela tribo. Afinal, eles deveriam voltar para Storybrooke em breve, e o menino nunca mais veria aquelas pessoas.
Gold havia optado, entretanto, por silenciar seus temores temporariamente. Não valia a pena prolongar o sofrimento de seu neto diante da inevitável partida deles.
Belle se juntou a ele a partir da metade do dia, e Gold mergulhou no amor que sentia por ela durante aquela tarde, quando eles finalmente sentiam que tinham a privacidade adequada.
Apenas depois ele confessou a ela seus temores. Belle se sentou repentinamente, e o feiticeiro teve que olhar para outro ponto da cabana para não se distrair com a beleza dela, acentuada pela barriga que começava a denunciar sua gravidez.
"Henry está realmente muito apegado à tribo. Ele diz que Pocahontas e Denahi são seus primeiros amigos desde sempre," disse Belle, e sua voz demonstrava que ela compartilhava os temores que ele tinha. "O que faremos, Rum, se ele resolver que quer ficar? Não podemos levá-lo à força."
"Nós vamos precisar levá-lo à força," disse Gold, e deixou escapar um suspiro. "Ele é uma criança, Belle. Não importa o que essas pessoas pensam, ele é uma criança e não está pronto para tomar essa decisão sozinho."
"Rum, ele não é mais uma criança, embora ainda não seja um adulto propriamente dito," respondeu Belle, olhando para o seu futuro marido com preocupação. "E se a menina for o verdadeiro amor dele? E se o fato dele se encaixar melhor aqui for um indício que é aqui que ele deve ficar. Essa é uma decisão que precisa ser tomada por ele."
Gold sabia que Belle tinha razão. A decisão de partir ou ficar era importante demais para Henry para que ele tomasse a decisão pelo seu neto. Não, Henry deveria decidir se queria ficar ou partir, mas Gold não conseguia imaginar o que diria para as mães e os outros avós dele se ele optasse pela primeira alternativa.
Enquanto Gold estava perdido em seus pensamentos, Belle se levantou e começou a se vestir, jogando as roupas de seu futuro marido em um ponto próximo a ele.
"Por que está se vestindo?" Perguntou Gold, decepcionado, quando finalmente notou o Belle estava fazendo.
"Já está anoitecendo. Logo será a cerimônia de entrega do totem, e devemos estar lá para apoiá-lo, Rum," disse Belle, abotoando seu vestido. "É a nossa única obrigação, você sabe; apoiá-lo."
Gold assentiu e se levantou, começando a vestir suas roupas aglutinadas próximas à cama. Alguns minutos depois, eles já estavam novamente no centro das festividades, procurando por Henry.
Foi Belle quem avistou o menino primeiro. Ele conversava com Pocahontas em um lugar mais distante do centro das festividades, os dois pareciam sérios e concentrados em algo que a menina segurava. Ela lançou um olhar preocupado para Gold enquanto apontava na direção de Henry e Pocahontas, e os dois se aproximaram lentamente.
"Você já recebeu o seu totem?" Perguntou Gold, tentando soar descontraído, quando ele e Belle se aproximaram o bastante para serem ouvidos. "Achei que eles nos chamariam para assistir quando chegasse a hora."
Henry encarou o avô, parecendo preocupado.
"Tanana decidiu que seria melhor se a cerimônia fosse privativa. Apenas eu, ela e Denahi estávamos presentes," disse Henry. "Acho que meu totem é um pouco ambíguo para as pessoas da tribo."
Gold o encarou por um momento antes de se adiantar, estendendo a mão para Pocahontas.
"Posso?" Perguntou o feiticeiro, e a menina olhou para Henry buscando assentimento dele antes de entregar o pequeno totem de um pássaro.
"Meu totem é o corvo, vovô," disse Henry, e Gold percebeu que a voz dele tremia. "Tanana diz que é o corvo do vínculo."
Gold encarou o pássaro por algum tempo, tentando decidir o que dizer. Tendo vivido centenas de anos, o feiticeiro conhecia diversas culturas de diversos mundos e ele sabia que o corvo costumava ser temido e adorado na grande maioria das sociedades tribais por sua associação com a morte.
"Do vínculo, você diz. Parece adequado a um pessoa que nasceu em um mundo sem magia, mas que ambos os pais nasceram num mundo cheio dela," Gold comentou, sorrindo enquanto devolvia o totem para o neto. "Também parece muito adequado à pessoa que saiu de Storybrooke e nos trouxe a nossa Salvadora diretamente de uma grande cidade do mundo sem magia."
Henry abriu um largo sorriso, toda a preocupação se esvaindo de seu rosto, que pareceu ainda mais jovem ao feiticeiro. Gold sentiu seu coração se enchendo de felicidade e amor pelo neto ao vê-lo ali, o sorriso que ele sabia ser idêntico ao de Baelfire.
Naquele momento, ele percebeu que, a despeito das palavras de Belle, ele não podia deixar o neto ficar. Não podia perder para sempre a última parte viva de seu amado filho.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Bom, meus caros, eis que chegamos ao capítulo 12 da fic. Eu fiz umas contas, e se tudo ocorrer como planejado, teremos mais quatro capítulos e um epílogo. Não tenho certeza se conseguirei postar a fic essa semana, porque as festividades de final de ano sempre embaralham as coisas, mas certamente vou tentar!
Mais uma coisa. A questão do totem do Henry foi meio que pesquisada (embora eu tenha usado menos do que pesquisei e mais do sentido dele na minha religião). Quem quiser saber mais, basta pesquisar "raven mythological meanings" (sem as aspas) no Google e vai achar um monte de informações.
Por fim, gostaria de agradecer à Melissa por recomendar a fic. Amei a recomendação *_* muito obrigada!!!