Por Aquilo Que Acreditamos escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 11
Capítulo X




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Gold não podia dizer que a sorte estava ao seu favor.

Apenas a ideia de estar na Terra do Nunca sem qualquer meio prático de sair dali era algo que deixaria Gold completamente apavorado, estar ali precisando proteger Belle e Henry era um pesadelo.

Por isso, quando descobriu que Belle estava grávida e já corria um risco de vida natural a ela como a filha de uma fada, ele não pôde deixar de se sentir completamente cercado por seus piores pesadelos. As chances de tudo dar certo no final parecendo cada vez menores. E foi por isso que ele não pôde mais continuar ali, com Belle o encarando cheia de medo, buscando segurança.

Embora estivesse completamente apavorado por Belle e a criança que estavam esperando, e por Henry naquele mundo inevitavelmente hostil a ele, entretanto, Gold decidira após uma longa caminhada que não devia ceder aos seus medos. Agora que ele sabia o que estava acontecendo, tinha que se certificar de que as três pessoas mais importantes para ele ficassem bem. Não devia fugir de suas responsabilidades por medo novamente.

Belle e Tanana tentaram racionalizar com Gold e acalmá-lo; ambas acreditavam que os poderes de Belle seriam passados para a criança durante a gestação e o nascimento, mas que ainda restaria a essência humana da jovem, que a manteria viva e saudável. Tanana achava que existia uma grande chance de Belle sentir fraqueza durante o processo, mas tinha plena convicção de que ela se recuperaria.

Gold argumentou que, nesse caso, ela não precisava realmente aprender magia, mas Tanana disse que ela precisava dominar os poderes dela para não usá-los de modo inadvertido novamente. Além disso, ela provavelmente permaneceria em posse da magia proveniente do amor verdadeiro dos pais dela mesmo após entregar sua magia feérica ao bebê.

A conversa com Tanana, entretanto, não foi o bastante para acalmar os temores de Gold sobre os dois assuntos. Nada nunca era tão simples quando se tratava dele ou das pessoas que ele amava, e ele não podia se livrar da sensação de que, no fim daquela viagem, perderia alguém.

O feiticeiro passou os dias seguintes amaldiçoando a sua própria sorte e a estupidez do pai de Belle. Como ele pudera não contar à filha a possibilidade dela morrer se um dia engravidasse? Ele sabia que linhagem era uma coisa de grande importância nas famílias nobres, e que era dever de Belle ter herdeiros para Avonlea, mas a ideia de que alguém colocaria a perpetuação de sua linhagem na frente do amor por sua única criança enojava Gold.

Belle tentou mostrar a ele que estava bem e que isso provavelmente significava que a gravidez não a machucaria. Gold não tinha tanta certeza, entretanto, pois, usando a sua magia, ele descobriu que Belle ainda estava no primeiro trimestre de gestação e era muito cedo para dizer qualquer coisa.

Após alguma reflexão, ele se ofereceu para selar a magia dela temporariamente, fazendo-a completamente normal durante a gravidez. Mesmo ao oferecer, ele não sabia se a magia funcionaria para a filha de uma fada, especialmente porque ele precisaria refazer o feitiço de tempos em tempos para mantê-la sem magia por toda a sua gestação. Além disso, ele não sabia se selar a magia seria o bastante para diminuir os riscos daquela gravidez, já que aquilo não faria com que a magia dela desaparecesse, apenas adormecesse. Mas ele sentia que precisava pelo menos tentar.

Belle não reagiu bem à oferta, entretanto. A magia era, afinal de contas, a única herança que possuía de sua mãe e, a despeito de todos os esforços dele para convencê-la de sua incerteza, ela permanecia convicta de que não corria perigo fatal naquela gravidez.

Após a negação de sua amada, Gold ficou dividido, incapaz de decidir se desejava sair da Terra do Nunca e ficar longe do alcance de Pan o mais rápido possível ou se preferia permanecer ali, entre os índios, até que Belle tivesse o bebê. Afinal, a Terra do Nunca era a terra mãe da magia e a residência de um grande número de fadas, que poderiam ajudar sua amada a sobreviver durante aquela gravidez.

Eles também tinham discussões diárias deles sobre se ela deveria parar de aprender magia ou não. Uma parte de Gold sabia perfeitamente que Belle estaria em maior segurança se aprendesse a controlar e usar a magia que existia naturalmente nela, mas ele temia que o preço por aquelas pequenas práticas fosse alto demais. Ele já tivera experiências por demais duras com o preço da magia.

Muitos dias e muitas noites se passaram antes que tudo mudasse novamente, e Gold alternava entre deitar por horas em sua cabana, pensando no que poderia fazer para ajudar e proteger sua amada, assistir escondido Belle praticar magia com Tanana e a fada Tinker Bell — e Gold precisava admitir que a velha era uma ótima professora, embora a fada não fosse, e que Belle era uma ótima aluna e progredia de uma maneira impressionante — e ensinar Henry a controlar a sua magia.

Ele se sentia um tanto desesperado com o rumo das coisas, e não sabia muito bem o que desejava fazer a partir do que estava acontecendo, mas não pôde deixar de notar que Henry não cessava de impressioná-lo com o seu talento mágico.

Após sua fuga, que culminou no início da amizade dele com a jovem princesa Pocahontas, Henry parecia estar se tornando mais maduro e sério em relação ao seu treinamento a cada dia. Ele está apaixonado, notou Gold com um sorriso nos lábios, ao ver o neto correr para se encontrar com a amiga após uma de suas aulas, ele quer impressioná-la e sabe que ela é uma guerreira.

Era estranhamente agradável ver que Henry, seu neto e o menino que ele viu crescer em Storybrooke em meio a uma maldição, estava lentamente se transformando em um homem. Ainda mais agradável, entretanto, era perceber reflexos do homem que ele descobriu ser Neal Cassidy no seu neto. Henry já era uma pessoa incrível, mas estava destinado à grandeza, Gold sentia isso e não podia deixar de se orgulhar.

Então, de um modo estranhamente repentino, tudo pareceu finalmente se acalmar. Quando Gold percebeu que já logo poderia ensinar a Henry o transmorfismo, uma das formas mais complexas da magia. Quando a barriga de Belle começou a se tornar aparente, e ela se tornava mais viva e forte a cada dia, e ele começou a ter esperanças de que tudo ficaria bem, afinal. Quando Denahi começou a pedir histórias de outros mundos a ele, impedindo-o de continuar a passar a maior parte do dia pensando sobre Belle e o bebê, e quando Gold percebeu que não se incomodava mais com isso.

Foi nesse momento que tudo mudou novamente.

Aquele dia amanheceu normalmente, e não havia qualquer sinal de que tudo mudaria. Gold e Belle se juntaram a Tamara, Henry e Denahi para um café da manhã, como costumavam fazer todo dia, e depois o grupo se dispersou para suas atividades corriqueiras, como também era corriqueiro.

Mais ou menos no meio da tarde, enquanto Gold contava a Denahi sobre o seu castelo, ainda na Floresta Encantada, um dos homens do mais novo apareceu pedindo que fossem se encontrar com Powhatan na cabana principal da tribo, onde o Chefe se reunia com o Conselho de Anciãos. Gold olhou para Denahi com curiosidade, mas o mais novo parecia tão perplexo quanto ele.

Eles acabaram por descobrir não apenas Powhatan, Tanana, Belle e Henry ali, mas também os Anciãos, duas fadas, Pocahontas e um jovem guerreiro que Gold sabia se chamar Kocoum, embora nunca tivesse conversado com ele.

Gold percebeu que uma das fadas lhe lançou um olhar rancoroso quando percebeu a presença dele, embora ambas as fadas estivessem conversando calmamente com Belle quando ele entrou. Sua jovem namorada, entretanto, sorriu quando o olhar deles cruzou e gesticulou para que ele se aproximasse. Era bom saber que as semanas anteriores haviam pacificado as coisas entre eles.

"Agora que estamos todos aqui, posso dizer o motivo pelo qual os chamei," disse Powhatan enquanto Gold e Denahi se aproximavam do restante do grupo. Gold se colocou ao lado de Belle, que segurou a mão dele com força, ainda sorrindo. "Eu recebi a notícia que os Meninos Perdidos de Pan estão se movimentando, aproximando-se da tribo. Normalmente, já os teríamos atacado e feito recuar, mas Tanana conversou com os espíritos sagrados e eles nos instruíram a agir de maneira diferente."

Powhatan encarou Tanana, como quem pedisse que ela os dissesse o que ouvira. Gold se sentiu intrigado, ele não acreditava naquela bobagem supersticiosa, mas aprendera a respeitar Tanana nas últimas semanas como uma feiticeira de grande poder.

"Antes, éramos fracos e nos defendíamos apenas, porque éramos incapazes de atacar," disse Tanana. "Hoje, nós temos a arma para derrotar Pan nessa mesma tenda. Os espíritos me contaram que o único homem capaz de derrotar Peter Pan é o seu herdeiro nascido da luz e da escuridão."

Um herdeiro. Demorou-se algum tempo antes que Gold percebesse o que significavam as palavras de Tanana. Um herdeiro. E mais algum tempo antes que descobrisse que as únicas pessoas que não entendiam o que aquilo significava eram Belle e Henry, que olhavam para Tanana como quem ainda queria explicações.

O feiticeiro sentiu todo o seu sangue congelando, seu coração perdendo o compasso. Um herdeiro.

Não!

Não, ele não podia matar seu pai. Não, ele não podia deixar que Henry matasse seu pai. Pan era definitivamente a pessoa que Gold mais odiava no mundo, alguém que provavelmente não hesitaria antes de matá-lo ou Henry, mas Gold simplesmente sabia que não podia matar o homem que um dia fora o centro de seu universo, objeto de todo o seu amor.

E ele não podia deixar Henry fazê-lo também, não podia deixar que Henry corresse tamanho perigo. Mesmo sendo poderoso, ele ainda era muito jovem, muito inocente para enfrentar o monstro traiçoeiro que era Pan.

"Não," ele disse, por fim, e se voltou para sair da cabana, desvencilhando-se da mão de Belle.

"Não?" Perguntou Powhatan, sua voz repentinamente irada. "Você, que foi recebido entre os nossos a despeito de seu passado, que foi protegido e acolhido, nos negará aquilo que pedimos? Você, que faz de acordos a sua profissão, nos negará o nosso preço por garantir a sua proteção e a de seus entes queridos?"

Gold engoliu seco. O preço. Antes, o feiticeiro achara que o preço pela recepção calorosa que eles haviam recebido na tribo seria um passaporte para outro mundo, uma fuga daquele mundo horrível. Ele visivelmente se enganara.

"Se a tarefa for difícil demais para o poderoso Senhor das Trevas, há outro herdeiro do Pan para assumir a responsabilidade," disse Powhatan. "Embora, se o que as fadas dizem é verdade, tenha sido você quem o trouxe para este mundo, mudando-o completamente, e você devia o responsável por resolver as coisas."

"Você vai mandá-lo para a morte certa, ele não está pronto. Você sabe disso, Tanana," disse Gold, voltando-se para a mulher mais velha, que olhava para Powhatan com impaciência e se voltou para ele quando ele mencionou seu nome.

"Ele está tão pronto quanto qualquer um poderia estar, Rumplestiltskin," disse Tanana, lançando um sorriso tranquilo para ele. "E, se eu entendi corretamente a mensagem dos espíritos e da Ilha, nossa grande esperança reside em Henry, não em você, embora todos nós aqui reunidos tenhamos um papel a desempenhar nessa história. Um herdeiro nascido da luz e da escuridão, lembre-se."

Um herdeiro, mas não um herdeiro qualquer, um nascido da luz e da escuridão. Henry.

"O que você quer dizer com herdeiro?" Perguntou Henry, e Gold se voltou para ele com pesar.

Ele não contara a Henry e Belle sobre sua relação com Pan na esperança que ela não fosse revelada em outro momento, ele não queria ter que explicar aquilo, relembrar toda a dor que Pan lhe provocara. Agora, entretanto, que precisava contar tudo aquilo diante do grupo, achava que fora muito burro.

"Essa não é uma conversa que deve ser feita nesse momento, menino," disse Powhatan, entretanto, antes que Gold tivesse a oportunidade de respondê-lo. "O que precisamos é determinar um plano de ação."

"Eu já disse que não," interrompeu Gold, com irritação. "O menino é meu neto, minha responsabilidade, e ele não vai enfrentar Pan sozinho. Vocês precisarão pensar em outra forma de pagarmos a nossa dívida."

Então, ele saiu da cabana.

~~//~~

Belle encarou a porta da cabana com um olhar pensativo. Ela também não queria colocar tamanho peso nos ombros de alguém tão novo que ela aprendera a amar nos últimos meses, mas entendia que, às vezes, era necessário colocar o bem estar de todo um povo na frente dos seus sentimentos pessoais. Era cruel, mas, se era necessário e, Henry estivesse disposto, ela apoiaria o plano de Powhatan e Tanana.

Além disso, ela simplesmente sabia que os Meninos Perdidos não eram realmente maus, apenas estavam sendo manipulados pela magia do Pan. De alguma forma, lhe parecia óbvio que, se conseguissem matar o líder deles, e talvez aquele adolescente, Felix, as outras crianças voltariam a si e não precisaria haver mais nenhuma morte.

Por fim, eles deviam a vida deles àquelas pessoas. Aquilo definitivamente não era algo leviano.

"Eu vou conversar com ele," disse Belle para Tanana, por fim, quebrando o silêncio que se instalara quando Gold saíra da cabana. "Se Henry achar que pode enfrentar o Pan e derrotá-lo, e Rum estiver perto o bastante para protegê-lo caso algo der errado, eu vou procurá-lo e convencê-lo."

Tanana sorriu para ela e assentiu. Então, Belle saiu da cabana e rumou para a cabana deles. Precisava encontrá-lo e convencê-lo. Mesmo não sabendo como faria aquilo, era algo que precisava ser feito e ela era a pessoa com maiores chances de sucesso.

Belle não encontrou Gold na cabana deles, mas já esperava que ele estivesse se escondendo e usou sua magia, localizando-o sobre uma árvore ali perto.

"Ei!" Ela gritou enquanto se aproximava da árvore, chamando a atenção dele. "Por que você não desce para conversarmos?"

Gold pareceu surpreso por um momento antes de descer da árvore para encontrá-la. Assim que ele se voltou para ela, Belle o abraçou com força como que para lhe transmitir segurança, e assim eles permaneceram por algum tempo.

"Você sabe que precisamos deixar Henry fazer isso se ele achar que pode, não sabe?" Perguntou Belle, olhando nos olhos do homem que amava e que ela simplesmente sabia que tinha, no fundo, um bom coração. "Eles nos deram nossas vidas, precisamos retribuir com algo muito valioso para compensá-los. Você sabe disso, não sabe?"

Para a felicidade e o alívio de Belle, Gold assentiu lentamente.

"Henry cresceu muito desde que chegamos aqui, você sabe," disse Gold, com seriedade e orgulho na voz. "Não podem ter se passado mais do que alguns meses em Storybrooke, mas Henry já não é mais uma criança. Ele é um feiticeiro capaz, um guerreiro formidável e já consigo ver pequenos vislumbres do homem que promete se tornar."

Belle se desvencilhou do abraço e segurou as mãos de Gold. A jovem percebeu repentinamente que seu amado estava chorando quando ele apoiou a cabeça no topo da cabeça dela e ela sentiu as lágrimas dele molhando o seu couro cabeludo. E ela sabia porque, Henry era o neto dele, uma das poucas pessoas que ele amava de verdade e a única parte viva que restava de Baelfire.

"Vai ficar tudo bem," disse Belle acariciando lentamente as costas de Gold. "Ele vai se sair bem e, se não se sair, você vai estar perto para protegê-lo, tenho certeza."

Gold assentiu novamente.

Eles ficaram ali por algum tempo antes que Gold finalmente conseguisse parar de chorar e eles se separassem, rumando novamente em direção à cabana onde todos estavam reunidos esperando por eles.

No caminho de volta, Belle pensou por um momento em fazer a ele a mesma pergunta que Henry fizera, sobre como ele e seu neto poderiam ser herdeiros do Pan. Ela percebeu, entretanto, que ele estava em um momento frágil e que aquela pergunta intrusiva não faria bem a ninguém naquele momento.

Aquilo podia esperar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo. Eu não posso prometer que o próximo capítulo virá semana que vem, já que isso depende de como vai ser a minha semana (o que ainda é um completo mistério para mim).

A partir de agora, a fic entra na reta final dela :) mas muita coisa ainda vai rolar até o final!

Agradeço a vocês, que comentaram no último capítulo! :) Fico MUITO feliz com os comentários, por favor não deixem de fazê-los, sim?

Abraços a todos, e até o próximo capítulo!