"Não queremos nossos corações partidos ao meio, então é melhor ser falsa" — Marina And The Diamonds

Eu estava completamente exausta. Limpei a minha espada que estava coberta de pó de monstro e limpei o suor da testa.

— Vocês estão bem? — Perguntei enquanto me virava para Frank, Leo e Marissa.

Eles também tinham dado conta dos monstros. As coisas não tinham ficado nada fáceis depois que entramos naquele maldito ônibus velho, tínhamos sofrido o terceiro ataque de monstros agora e eu não fazia a mínima ideia de onde estávamos.

— Temos que pegar o outro ônibus num terminal perto daqui — Frank disse enquanto guardava seu arco e suas flechas.

Começamos a caminhar juntos com Frank nos guiando e depois de uns 30 minutos de caminhada, chegamos a um novo terminal de ônibus, Frank se afastou da gente para ir comprar as passagens e eu me larguei num dos vários bancos do terminal.

Eu tinha certeza de que estava horrível, meus cabelos deviam estar parecendo um ninho de rato, eu me sentia suja e tinha alguns arranhões pelo corpo, eu poderia me passar por uma moradora de rua facilmente.

— E então... Já resolveu se vai contar para o Leo que gosta dele? — Marissa me perguntou enquanto se sentava do meu lado, aquela garota tinha sérios problemas.

Me segurei para não pular no pescoço dela e arrancar sua língua, nunca vi alguém falar tanta merda quanto ela.

— Da onde você tirou que eu gosto do Leo? Está louca? — Perguntei depois de respirar fundo duas vezes para me controlar.

Vi de relance Marissa revirar os olhos e bufar.

— Meu amor, é óbvio que você gosta dele, só um cego não perceberia — Ela disse que como se fosse óbvio.

— E tem mais, o sentimento é completamente recíproco — Marissa piscou para mim e sorriu, logo depois se levantou (acho que ela adivinhou que se ela não saísse de perto de mim logo, eu iria matá-la).

Mas o que ela tinha me dito me fez parar para pensar, será que Leo gostava de mim? Fitei o garoto e ele parecia mais perdido que tudo, parecia estar em uma briga interna consigo mesmo. Dei de ombros, aquilo não importava, nunca daríamos certo.

"Claro que daria certo, ele é perfeito para você", ouvi a voz melosa retumbar em minha mente e trinquei os dentes. Se Afrodite não fosse uma deusa, eu já teria matado ela. Frank voltou com as passagens e para a nossa sorte, o ônibus iria embarcar em 6 minutos.

Fomos para a plataforma de embarque e em menos de 4 minutos estávamos dentro do ônibus. Esse não era tão ruim e pelo menos, tinha ar condicionado. Nos sentamos nas últimas cadeiras e eu soltei um suspiro de alívio, estava cansada, suada, suja, machucada e não duvidava nada que fosse dormir em menos de 5 minutos.

Marissa não parava de falar, mas não me importei, aquela garota tinha mais energia que uma criança dominada por açúcar.

[...]

Depois de uma tentativa frustrada de falar com Bóreas - que amigavelmente tinha nos expulsado de seu palácio -, caminhamos por Quebec meio perdidos. Tínhamos chegado ao palácio de Bóreas relativamente bem, algumas dracaenaes nos atacaram no ônibus, mas facilmente conseguimos nos livrar delas.

Quando chegamos ao palácio, os filhos de Bóreas nos receberam com uma alegria descomunal e ficaram o tempo todo dando em cima de mim e Marissa. Para a nossa sorte, Quione não se encontrava no palácio e Bóreas nos atendeu amigavelmente, com a excessão de Leo que ficou na entrada do Palácio esperando, ele não podia entrar porque cheirava como o fogo e estar na presença de Bóreas seria quase um insulto.

Enfim... Falamos com Bóreas, perguntamos de Hécate, ele nos falou onde ela estava e tudo mais, mas Marissa abriu a boca grande dela e perguntou se ele podia nos levar até ela - ela quase ordenou que ele fizesse isso - e como resposta, tínhamos sido expulsos do palácio com a ameaça de que se voltássemos lá iríamos virar estátuas de gelo.

— Me desculpem, gente — Marissa disse meio chateada e eu bufei.

— Seria bom se você conseguisse controlar essa sua boca — Gritei com a garota e ela se encolheu, nada normal para uma filha de Hades.

— Ela já pediu desculpas, não precisa ser grossa com a garota — Leo retrucou e eu revirei os olhos, desde quando ele protegia ela? Que idiota.

— Ei, parem vocês. Ficar brigando não vai ajudar em nada, sabemos onde está Hécate e agora temos que dar um jeito de ir até ela — Frank falou.

Cruzei os braços e segui Leo, Marissa e Frank que começaram a andar pela cidade em silêncio. Quebec era linda, ainda mais a noite. Parecia uma cidade francesa medieval, mas toda iluminada, nas ruas haviam pequenas camadas de neve cobrindo o chão, esfreguei meus braços, estava um pouco frio ali. Peguei o maço de cigarros e o isqueiro no bolso da minha mochila, acendi o cigarro e dei uma tragada, imediatamente me senti aliviada pela quentura que o ar do cigarro me proporcionava.

— Sério que você tem que fumar logo aqui? — Marissa perguntou e pude perceber que havia uma expressão de nojo em seu rosto, pelo jeito a princesinha não gostava muito de cigarros. Dei mais uma tragada no cigarro e soltei o ar bem no rosto dela, ri um pouco ao ver ela tossindo, adorava irritá-la.

— Isso vai corroer os seus pulmões e te matar de dentro pra fora — Marissa murmurou enquanto cruzava os braços e começava a andar mais rápido para acompanhar os garotos que estavam um pouco mais a frente.

— Estão me procurando, queridos? — Ouvi uma voz sombria, mas melodiosa soar de um beco escuro que eu tinha acabado de passar.

Voltei os dois passos que tinha dado e parei na frente do beco, estava muito escuro ali e não dava para ver o que estava escondido por entre as sombras. Frank, Leo e Marissa se juntaram a mim na frente do beco e ficaram ali, pareciam estar pensando se era uma boa ideia entrar no beco para ver o que ou quem tinha falado com a gente.

— Podem se aproximar, eu não vou machucar vocês — A voz sombria disse, mas eu não tinha certeza se devia confiar numa voz esquisita que vinha de um beco escuro.

Ouvi um resmungo da voz e na nossa frente, uma mulher apareceu. Seus cabelos eram escuros como a noite e enrolados, caiam em cascata até a sua cintura larga, sua pele era de um branco esquisito, parecia brilhar.

Mas o que mais chamou a atenção foram seus olhos, que possuíam uma coloração vermelha, da cor do sangue. Ela usava roupas negras e uma enorme capa, também preta.

Ela fez sinal com a mão e ao seu lado, dois lobos negros enormes surgiram. Os lobos rugiram para nós e deixaram a mostra seus lindos dentinhos afiados.

— Trívia — Frank murmurou e a mulher sorriu.

— Essa é a minha forma romana, querido — Ela disse, agora ficando séria. — Soube que estão me procurando — Ela cantarolou enquanto se aproximava de nós juntamente com seus lobos.

Demos passos para trás, parecia que todos nós tínhamos pensado a mesma coisa: Ninguém queria chegar muito perto daqueles lobos. Hécate sorriu com a nossa ação.

— Eles não vão machucar vocês — Hécate pareceu pensar por um momento. — A menos que eu mande, é claro — Concluiu com um sorriso sombrio nos lábios.

Aquela mulher me dava arrepios, eu não me lembrava de ter conhecido um dos filhos dela tão sombrios quanto a mesma.

— Meus filhos costumam me decepcionar em não ser tão assustadores, cara Elizabeth — Ela disse como se estivesse lendo meus pensamentos. Que ótimo, nem meus pensamentos eram seguros agora.

— Vamos ao que interessa: O que vocês querem comigo? — Hécate perguntou séria.

Nos entreolhamos, agora que tínhamos encontrado Hécate, não sabíamos ao certo o que fazer. Quíron não tinha explicado muita coisa, na verdade ele não tinha nos explicado NADA.

— Quíron mandou que procurássemos você e que quando a encontrássemos, iríamos saber o fundamento da nossa missão — Falei para Hécate.

ela sorriu novamente e isso me causou mais arrepios, só esperava que Quíron não tivesse nos encaminhado direto para a morte.