Believe - Heiress of Death escrita por a n a k l u s m u s


Capítulo 2
Capítulo Um - Você acredita em Fantasmas?


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá, agora é a hora de começar a conhecer a galera e a história...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/538112/chapter/2

Um irritante trim-trim me fez acordar. Abri os olhos já sentando na cama de um salto. Minha respiração estava acelerada e a blusa do pijama grudava em meu corpo por causa do suor. Levei alguns segundos para me dar conta de que estava em casa. Segura em meu quarto.

Suspirei. Ainda estava com a roupa da noite anterior e o livro caído no chão. O trim-trim continuava e busquei debaixo do travesseiro até encontrar o celular. Eram 6 horas da manhã e já havia uma mensagem de texto. Só uma pessoa não teria vergonha de fazer isso.

“Levante já! Está na hora do trabalho escravo. Passo aí em 20 minutos para te buscar. Beijinhos.”

Amanda. Só ela para me lembrar de que tínhamos muito trabalho pela frente. Busquei bem no fundo alguma coragem e levantei. Peguei o livro, já surrado, agradecendo por não ter amassado ainda mais, e o coloquei em cima da mesinha. Precisava de banho e um bom café da manhã.

Fui arrastando os pés até o armário buscar as roupas. Ao abrir as portas deixei meus olhos vagarem para a janela. Antes não tivesse feito isso.

Meu coração martelou forte no peito quando vi que alguém estava parado do outro lado da rua. Era um jovem de 21 anos, com cabelos castanhos bem claros e olhos verdes. Seu rosto era suave, quase angelical e quando sorria leves covinhas apareciam em suas bochechas, dando a ele um ar infantil. Sua voz era grave, mas o tom suave com que falava era capaz de acalmar em poucos instantes. Não, ele não estava falando comigo, então... Como eu sabia disso tudo? Ele era meu irmão.

O problema era que eu não devia ser capaz de vê-lo. Charles Davis estava morto e a culpa era minha.

Pisquei e foi o suficiente. Chuck não estava mais lá.

Todo meu corpo tremia e meu estômago se revirava. Apoiei as mãos no armário tentando me manter de pé. Eu não me deixaria entrar em pânico. Não era a primeira vez que isso acontecia e nem acreditava que seria a última.

Desde o acidente de carro, três meses atrás, aparentemente eu era capaz de ver pessoas que ninguém mais via. Como? Por quê? Eu não tinha respostas. Mas provavelmente isso me deixaria louca muito em breve.

Ainda faltava quase um mês para o início do ano letivo e aquela droga de colégio estava organizando uma espécie de evento para os novos alunos. E eu pergunto, com que finalidade? Eles diziam que era para familiarizar os novos estudantes, tornando assim a mudança súbita de escola menos... Desagradável. Como se isso fosse possível.

Lembrava bem do meu primeiro dia de aula. Mesmo sendo o começo para todos, não era o que parecia. Os grupos já estavam formados e eu me sentia de fora de todos. Como se nunca fosse me encaixar naquele lugar. A sorte foi que Chuck estudava algumas séries na minha frente e me ajudou na adaptação. Ter Mandy na mesma turma também foi de grande ajuda. De qualquer forma, por conhecer tão bem o colégio e fazer parte do jornal, eu havia sido uma das primeiras a ser escolhida para o comitê de organização do evento.

O que entendo de festas? Na verdade, quase nada. Minha última experiência foi terrível. Eu nunca fizera parte do grupinho das populares, na verdade estava em algum ponto entre as nerds e as esquecidas. Minhas notas eram boas, portanto não se tratava de um castigo. Talvez fosse pelo fato da maioria dos estudantes estarem viajando (ou apenas fazendo de conta que estavam) e eu estava entre os poucos restantes. Além do trabalho do jornal, é claro, que no decorrer dos anos não serviu para melhorar a minha vida no quesito popularidade.

Era uma sexta-feira nublada e lá estávamos nós, dentro do ginásio ou correndo pelos corredores para finalizar os últimos preparativos para a festa, que seria no dia seguinte, sábado. A verdade é que faltava muita coisa, já que metade do comitê limitava-se a ficar sentado em um canto jogando conversa fora ou algo do tipo. Estavam ali apenas pelas notas ou, acredito, por ordem do diretor como no caso de Ashley Elisa Parker. Tenho certeza que nota nenhuma do mundo, por pior que fosse, a deixaria ali com o resto de nós. Menos ainda em uma sexta-feira.

Eu tinha problemas antigos com a senhorita metida a Barbie, que estava mais para uma bonequinha de plástico de liquidação. Boa parte dos meus piores momentos e micos no colegial forampor culpa dela e de suas seguidoras fiéis. E antes disso, durante a infância também, já que em uma cidade pequena todas as famílias se tornam conhecidas. Talvez tenha sido o banho de gosma no primeiro ano que me fez odiá-la realmente, mas isso é outra história.

A presença do capitão do time de futebol da escola, para mim, era o pior de tudo. Eu realmente o odiava. Não do tipo “Oh, estou afim dele, mas ele nem me olha, o odeio”, mas com real significado da palavra odiar. Ian Scott era o cara mais desejado da escola. Rico, popular e bonito. O sonho de qualquer garota, mas não o meu. Havia algo de estranho com ele, que me deixava nervosa (também de forma negativa, claro). Além disso, ele me dava medo. Não que saísse confessando isso por ai. Todas achariam que era apenas outra garota com uma queda por ele.

Em algum momento do passado, quando ainda éramos crianças, cheguei a pensar que poderíamos ser amigos, apesar das diferenças. Mas foi então que me dei conta de que ele não era tão inocente assim nas suas brincadeirinhas de mal gosto. Depois que tentou prender Mandy dentro do armário com um garoto do último ano bem cheio de quintas intenções, consegui deixar um roxo feio em seu rosto e desisti de tentar acreditar que havia bondade nele. Alguns meses depois do incidente tivemos uma espécie de trégua não verbal, mas preferia manter a distância sempre que possível.

Outra coisa é que não podia esquecer de que, por culpa da festa dele, eu resolvera desobedecer a uma ordem e acabara por perder o meu irmão. Não era culpa de Ian. Mas culpa-lo era fácil.

Já eram quase cinco horas da tarde quando me permiti cair sentada em uma das cadeiras, sem nem mesmo me preocupar em amassar a capa que a envolvia. Meus pés doíam nas sapatilhas que pareceram tão confortáveis mais cedo e a cabeça latejava.

– Organizar os lugares... Ok.

– Ah, eu preciso de um chocolate quente e cama, agora!

Eu nem precisa me virar para saber quem era. Amanda Alexandra Walker era minha melhor amiga desde... Bem, desde sempre. Praticamente nascemos juntas e, desde então, nossos pais se tornaram amigos. Crescemos e brincamos juntas, passamos por todas as descobertas e fases abomináveis e dignas de esquecimento juntas. Eu reconheceria aqueles passos e aquela voz em qualquer lugar.

– Uma boa maratona de Grey’s Anatomy, também? – Perguntei com um sorriso divertido.

Ela soltou um suspiro bem longo, antes de responder.

– Na verdade, hoje não. É claro que ver o Patrick Dempsey é sempre favorável, mas não preciso de mortes para me fazer chorar... Essas bolhas já bastam. – Largou-se em uma cadeira na frente da minha, cruzando as penas para estudar os pés que realmente estavam cheios de bolhas.

– Você sabe que é louca, não sabe? Vem para um dia de trabalho duro com uma sandália de santo e desconfortável.

– Eu sei, seu sei! Mas eu queria vir apresentável. – Seu tom inocente era o que mais me divertia. Revirei olhos, sabendo que nada mudaria o jeito de Mandy. – Enfim, vai querer carona para casa?

Apenas uns poucos quilômetros separavam nossas casas, sendo a minha a mais distante de toda a cidade. Apesar da pouca diferença, Mandy adorava me lembrar do quanto eu era “excluída” do território civilizado, ainda que nunca se importasse em ir até lá me buscar, me levar ou as duas coisas.

– Não precisa, vou passar na biblioteca para devolver um livro e minha mãe irá me buscar quando sair do trabalho. – Respondi.

Foi a vez de ela revirar os olhos.

– Tudo bem, estou indo então. Nada mais a fazer aqui até amanhã. E pode deixar... Não vou me esquecer de chegar cedo para checar tudo.

Eu me limitei a sorrir. Há dias que pedia para que ela chegasse antes do horário previsto para o início. Precisaria de ajuda para supervisionar o bufê e os outros serviços.

Ela levantou com os sapatos nas mãos e se inclinou para me dar um beijo na bochecha.

– E trate de se arrumar, Davis. Por favor! Amanhã será um dia especial. – Piscou então.

– Nos vemos amanhã, Walker. – Mandy conhecia muito bem minha falta de vaidade, mais ainda depois do acidente.

Suspirei, relaxando os ombros. Era difícil entender porque éramos tão amigas sendo completamente opostas, mesmo quando éramos crianças. Amanda tinha altura ideal, que aumentava um pouco com os saltos, deixando-a ainda melhor para os olhares masculinos. Seus cabelos longos e loiros caiam em ondas que iam até ombros na frente, mas chegavam a metade das costas na parte de trás. Tinha uma pele clara e delicada, um corpo bem feito e não era nem um pouco desajeitada. Além disso, era muito, muito vaidosa. Mesmo que, diferente da maioria, não fosse esnobe. Para completar, tinha olhos de um lindo tom azul.

Já a minha altura era abaixo da média, o que me tirava do sério na maioria das vezes. Eu odiava saltos, o que não ajuda a melhorar isso. Minha pele era clara, muito clara. Muitos se preocupavam com o fato de eu estar anêmica, mas minha saúde era ótima, obrigada. Meu cabelo era castanho escuro, quase preto dependendo da luz e caia liso até um pouco abaixo dos ombros. Básico, sem nada de interessante. Somente quando Mandy conseguia me pegar de bom humor, o deixa com cachos bem feitos. Além disso, eu não era nada vaidosa. Meus olhos? Castanhos. Eram claros, mas nada chamativo como verde ou azul.

Amanda insistia para que eu usasse vestido e maquiagem, só que não me sentia confortável com o molde que ela queria fazer de mim. Preferia meu jeito casual demais, como ela dizia, de calça jeans e camiseta.

Charles costumava dizer que eu era como um anjo. Ainda que fosse novo quando nasci, seu comentário havia dado aos nossos pais a sugestão para o meu nome. Angelique, como um anjo. O rosto arredondado e suave, como o dele. Todos diziam que eu era mesmo a sua versão feminina, mas não acreditava nisso. Meu irmão era bonito e tinhas os olhos verdes, além de ter um porte atlético. Provavelmente o fato de ser o mais velho o deixara com todas as qualidades. Era alto, carismático e se dava bem nos esportes. Eu era um completo desastre em qualquer coisa. Corria o risco de sempre tropeçar nos próprios pés ou jogar a bola na cabeça de alguém.

Costumava pensar que se existia alguém capaz de fazer qualquer coisa, esse alguém era Chuck. Mas a vida surpreende a gente.

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos. Precisava me adiantar, ou a biblioteca iria fechar. Para minha sorte ela ficava aberta até às 19h e não era muito longe da escola.

Depois daquele tempo sentada, meus pés começaram a doer ainda mais. Quando levantei, mal me dei conta de que estava cambaleando até que mãos firmes seguraram em meus braços.

– Opa, cuidado aí, boneca.

Meu estomago revirou antes mesmo de meus olhos levantarem e encontrarem os de Ian. Puxei meus braços, fazendo com que ele me soltasse de forma relutante e dei um passo para trás. Mantive a boca fechada, não confiando em mim para falar nada.

– O que foi? Parece que não gostou de me ver.

Seu sorriso era radiante, o que me deixava ainda mais enjoada. Odiava a forma com que aqueles olhos negros me estudavam. Era como se tentasse me dizer que eu ainda estava devendo algo a ele e que a dívida seria cobrada com juros.

– Eu preciso ir, Ian. Estou atrasada.

Consegui dar dois passos antes que a mão dele segurasse meu braço, me fazendo virar um pouco em sua direção.

– Não está fugindo de mim, está?

Fiz um esforço muito grande para sorrir tranquilamente.

– É claro que não. Nos vemos amanhã, ok? Tchau.

Antes que pudesse reagir eu já puxava meu braço e me afastava a passos largos. Ainda podia sentir os olhos dele queimando em minhas costas, mas não me atrevi a olhar para trás. Nem mesmo quando ele gritou.

– Guarde uma dança para mim, boneca.

Só voltei a respirar tranquilamente quando as portas do ginásio bateram atrás de mim.

Segui pelo longo corredor e, chegando ao final, onde deveria virar para a direita, algo chamou minha atenção. Virei para a esquerda a tempo de ver alguém passar pelas portas duplas que dariam na piscina. Na verdade eu pensara ter visto alguém atravessar as portas. Como aquela personagem do X-men ou como... Fantasmas.

Fechei os olhos com força e respirei fundo. Aquela dorzinha de cabeça irritante estava me tirando do sério. Abri novamente os olhos. Eu devia ir embora.

Devia. Não iria. Não sem antes verificar uma coisa.

Há meses esperava uma oportunidade de confirmar o que eu via. De ter certeza de que não estava ficando louca. Não completamente pelo menos.

Quase corri pelo corredor da esquerda até chegar às portas. Prendi a respiração e abri. Entrei e aos poucos fui soltando o ar. Não tinha ninguém lá dentro.

O que eu esperava? É claro que não tinha ninguém. A piscina olímpica do colégio estava calma e a única companhia era a leve brisa que entrava pelas altas janelas entreabertas.

Não conseguia entender o que eu via. Aquelas pessoas que ninguém mais podia ver... Tudo começou quando acordei no hospital, dois dias depois do acidente, pelo que me contaram. As lembranças do acidente ainda eram vagas e os remédios para dor me deixavam ainda mais confusa.

Para minha sorte não me internaram quando comecei a comentar das pessoas que apareciam e sumiam do meu quarto. Trauma, o médico dizia. Eu havia visto filmes e séries o suficiente para entender que devia calar a boca e não comentar mais nada. Como uma tola tentei puxar assunto com alguns daqueles que apareciam, mas eles se limitavam a me olhar e sumir logo depois de aparecer.

Fora do hospital as aparições diminuíram e comecei a acreditar que haviam terminado. Até ver meu irmão pela primeira vez.

– O que você está fazendo aqui? – Uma voz me tirou dos pensamentos.

Meu coração parou.

Queria poder dizer que fui super corajosa, mas fala sério, eu tremia dos pés à cabeça ao me virar em direção a voz que vinha da arquibancada atrás de mim, ao lado da porta de entrada.

Nada poderia ter me preparado para aquilo. Nem mesmo as outras visões. Eu me acostumara a nunca ouvir nenhuma resposta. Não espera por uma pergunta.

Um garoto encontrava-se de pé no segundo degrau da arquibancada. Usava uma calça jeans e um casaco de moletom com capuz, preto e liso. Um tênis básico nos pés e um boné de algum time na cabeça, cobrindo boa parte dos cabelos castanhos que caiam liso, com pontas para fora do boné. Poderia ser como qualquer outra pessoa, não fosse o fato dele ser quase completamente transparente. Não com a cor da pele branca, como a minha. Transparente de verdade! Estranhamente, eu o conhecia de algum lugar. Não conseguia me recordar de onde, mas seu rosto não era nem por um segundo estranho a mim.

Pareceu uma eternidade, mas foram poucos segundos para notar tudo isso. Levei as mãos até a boca, tampando-as no instante em que um grito escapou. Fechei os olhos com desespero.

Isso só pode ser uma alucinação. Pensei com desespero. Nunca imaginei que faria isso, mas desejei ainda estar tomando fortes remédios, pelo menos teria uma desculpa para ver todas essas... pessoas.

Reabri os olhos aos poucos e meu coração parou novamente ao ver que não havia ninguém na arquibancada. Girei, olhando para todos os lados.

Nada. Ninguém.

Fiz a única coisa que me ocorreu e que deveria ter feito há muito tempo: corri.

Tive a certeza de que estava fazendo um tremendo barulho correndo daquela forma. Meus pés batiam com força no chão, mas não me importava. Eu só queria sair dali o mais rápido possível. Abri e passei correndo pelas portas principais e já estava quase no outro quarteirão quando finalmente parei. Apoiei as mãos nos joelhos, respirando fundo na tentativa de controlar o coração acelerado.

O que eu acabara de ver?

Tinha que ser coisa da minha cabeça. Tinha que ser.

Charles, os outros, aquele garoto da piscina... Tudo. Nada podia ser real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que estão achando? Deixem seus comentários...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Believe - Heiress of Death" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.