A música eletrônica era ensurdecedora mesmo do lado de fora da casa. Devo dizer que era uma linda casa? Três andares e imagino que levaria metade do dia para conhecer todos os cômodos. Não era para menos, sendo os Scott os mais ricos da redondeza.

Pessoas dançavam animadas dentro da casa e a gritaria chegava até o jardim junto com a música. A noite mal havia chegado e alguns jovens já desmaiavam pelos cantos. Definitivamente eu não devia estar ali, mas era a festa de comemoração do final no ano letivo e de aniversário de um “colega” da escola, juntando a surpresa de ter sido convidada, eu não podia perder.

– Garota, isso aqui é puro pecado. – O comentário só podia ser feito por Mandy.

– Começo a achar que não foi uma boa ideia vir. – Meu nervosismo era visível. Talvez fosse a primeira vez que desrespeitava uma ordem do meu pai. E eu era a típica filha exemplar.

– Mas você disse que devíamos vir em nome do jornal escolar!

– Eu sei, eu sei! Foi a desculpa que dei para o meu pai. – E que não adiantou, mas escondi esse detalhe até mesmo da Mandy.

O universo pareceu concordar comigo.

– Encontrei você, Angel. E tinha esperança de que isso não acontecesse.

A voz era calma e ninguém seria capaz de notar o desapontamento escondido. Só eu. Não precisava me virar para saber quem era. Só uma pessoa me chamava de “Anjo”. Aquela presença me fez desejar nunca ter saído de casa naquela tarde. A tensão de Mandy também não era pouca.

Virei de uma vez antes que pudesse perder a coragem de encará-lo. Charles Davis era de tirar o fôlego. Não para mim, é claro, já que era meu irmão. Mas Mandy sempre dizia que as garotas suspiravam quando ele passava. Para mim era estranho pensar nisso.

– Vamos para casa. Agora. – Seu tom ainda calmo, mesmo que não me desse nenhuma chance de revidar, fazia com que eu me sentisse ainda pior. – Precisa de uma carona, Amanda? – Seus olhos, de um verde mais escuro, viraram para Mandy.

– Não, obrigada... Eu... Vim de carro. – Outro ponto para a seriedade de Mandy. Ela nunca negaria uma carona do meu irmão.

– Então vá para a casa também. Seus pais estão preocupados. – Sua mão foi até o meu cotovelo, onde me segurou e começou a se dirigir para a rua, me puxando com ele.

– Chuck! Isso não é justo. Eu não fiz nada de mal. – Finalmente minha voz voltara.

Ele nem se deu ao trabalho de me responder. Em segundos estávamos no carro dele, estacionado de qualquer jeito e destrancado em frente ao portão aberto da mansão. Só parou quando chegamos à porta do carona, abrindo-a e me colocando para dentro, ainda que delicadamente.

De surpresa e tristeza, comecei a sentir raiva. Que mal podia ter em frequentar uma festa uma vez na vida?

Logo que Chuck entrou no carro, deu partida em direção à estrada principal. Por alguma louca razão comecei a fazer algo que nunca havia feito antes: discuti. Minha voz saía com raiva e mal parecia eu falando. Charles apenas ouviu por algum tempo e então começou a responder.

Seus olhos foram em direção aos meus.

– Angel... Anjo... –

Um barulho tomou conta de meus ouvidos. Buzina? Freio? Não pude entender e mais rápido do que parecia ser possível chegou algo mais forte: dor.

Eu queria gritar, mas não parecia mais ser capaz. Tudo doía tanto. Chuck. Onde estaria meu irmão? E depois só escuridão.