Não posso mais continuar a me enganar, eu queria muito que Cassie e eu pudéssemos ter uma relação concreta e duradoura. Eu a queria, mesmo sem entender como as coisas foram mudar tanto entre a gente.

Não suporto mais ser evitado por ela. Era sempre assim, sempre que acontecia algo entre nós, a gente acabava se distanciando e agindo como dois idiotas orgulhosos, como se nada tivesse acontecido. E eu cansei disso, queria que ela percebesse o quanto fomos longe, e que não dava mais para fingir que não existia nada entre nós dois.

– Tyler?-chama minha mãe ao perceber que eu estava com o pensamento longe.

Hoje eu estava com ela, na casa que antes eu morava com meus pais,tínhamos acabado de jantar juntos.

– O seu bom desempenho nos negócios já está sendo bem reconhecido. -diz minha mãe sorrindo e aumentando o volume da TV.

Tinha um telejornal local exibindo uma pequena matéria sobre meu pai e eu.

– Está mesmo segura sobre o divórcio?-perguntei ao me lembrar sobre minha conversa com o Oliver.

– Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Vamos nos adaptar com as mudanças da nossa vida. -minha mãe sempre foi uma mulher forte, mas agora ela não parecia muito segura de si.

O que minha mãe tinha acabado de falar estava dando voltas na minha cabeça. Eu necessitava disso, de me adaptar com as mudanças, tanto com o lance familiar como com o lance entre eu e Cassie.

– Espero que sim. -murmurei.

– Deixa eu adivinhar,tem alguma mudança na sua vida e aposto que isso está relacionado com alguma mulher?-diz minha mãe com um olhar indecifrável, enquanto sorria encantadoramente.

– Talvez. -divaguei.

– Finalmente alguém?Espero que não esteja levando aquela tal de Shelby a sério. -ela me censura, a única vez que viu a Shelby já não gostou dela.

– Não é ela, faz uns dias que não nos falamos. Não é por algum motivo específico, só acho que ela está saindo com alguém que deve ter alguma importância para ela.

– E então?...

A encarei transmitindo com meu olhar que eu não queria falar sobre o assunto, mas eu sabia que minha mãe não desistiria fácil, ela realmente queria saber das minhas coisas. E finalmente depois de tanto tempo estávamos nos reconectando.

– É complicado. -falei.

– Desde quando amar alguém não é complicado?-sorri com a reação dela.

– Eu não sei, eu nunca amei.

– Ah não?Mas você conhece o sentimento da paixão desde pequeno.

– Do que você está falando?-perguntei sem entender o que ela quis dizer com aquilo.

– Você já vai entender, vem comigo. -ela pegou a minha mão e começou a me guiar pela casa, como se eu a desconhecesse.

Entramos no meu antigo quarto, e estava da mesma maneira que eu me lembrava dele, com a diferença que tinha sido acrescentado algumas lembranças da minha infância.

– Veja isso. -ela colocou um DVD dentro de um notebook que eu não tinha reparado que estava ali.

Era tipo uma coletânea de vídeos caseiros, e mais algumas outras coisas. Tinha muitas gravações, algumas nós vimos com calma enquanto ríamos juntos e ela me explicava as situações da qual eu não me lembrava mais.

– Encontrei isso enquanto revirava algumas coisas velhas, eu recuperei essas filmagens “antigas” e passei tudo para esse DVD. Agora veja isto.

“Minha mãe com o apoio do meu pai tinha organizado minha festa de cinco anos e ao que tudo indicava eu estava na pré escola. Todos os meus colegas de sala de aula estavam se divertindo,e até mesmo minha professora rabugenta estava toda satisfeita.

E daí eu vinha caminhando em direção da minha mãe que estava filmando, eu segurava na mão de uma menininha e nossos olhos brilhavam de tanta animação.

– Ela não é linda mamãe?-eu perguntava.

– Claro que sim, meu querido. E como se chama essa princesinha?

– Meu nome é Cassie. -a menininha respondia sorridente.

– Eu quero que vocês se conheçam, porque um dia nós seremos uma família. -eu dizia inocentemente.

– Como assim?-perguntava minha mãe.

– Ela é minha noiva, e quando a gente crescer e se casar vamos morar todos juntos e seremos muito felizes.

– Isso é verdade minha pequena?

– S-Sim. -Cassie respondia timidamente olhando para mim e corando.

– Eu até dei um anel para ela igual o papai fez com você. -eu exibia a mão da Cassie para minha mãe que não parava de sorrir. No dedo de Cassie tinha um anel simples que parecia ser uma imitação de um anel de diamante.

– Eu fiz uma boa escolha não foi?-pergunta meu pai se referindo ao anel.

– Você sempre faz. -responde minha mãe.”

Não consegui mais ver o resto porque eu estava muito abalado com o que tinha acabado de ver. Minha mãe tirou o DVD e desligou o notebook, ela parecia estar preocupada comigo agora.

– O que foi isso?-perguntei.

– Algumas memórias. Viu aquela garotinha?Até seus sete anos você falava muito dela. Chegou até a pedir que o seu pai comprasse aquele anel para dar de presente a ela. Era muito engraçado ver vocês dois juntos, você ficava todo bobo.

– E porque eu não me lembro disso?

– Já faz muito tempo. E tanta coisa aconteceu, não é de se esperar que você lembre. –ela responde tranquilamente.

– Eu só não entendo. -falei perplexo. Era surreal os altos e baixos que passei com Cassie, no início nos dávamos bem e tudo mudou da água para o vinho, agora está uma tremenda confusão e por isso estamos no meio dessa bagunça toda.

– É claro que com o passar do tempo nós substituímos umas lembranças por outras, mas essas memórias devem estar arquivadas ai em algum lugar. -diz minha mãe tocando em minha cabeça.

Por isso Cassie tinha tanto rancor e mágoa de mim. Eu tinha feito uma bela bagunça com a sua mente. Éramos amigos e depois aparentemente sem um motivo bom o suficiente eu comecei a tratá-la mal. Eu fui terrível, mas ela não tinha sido a única a ser vítima de uma bagunça desse tipo, em um certo momento da minha vida era como se eu tivesse sido reconfigurado por meu pai.

Pena que me livrei desse fardo um pouco tarde demais, o estrago já tinha sido feito. E eu não sei se me perdoaria por isso, agora entendo que por mais que eu queira, eu não mereço a Cassie e tinha que deixa-lá em paz, tinha que deixar ela ir para os braços de alguém que a fizesse feliz.

– Olha, eu encontrei o anel dias atrás. -fala minha mãe radiante, colocando o anel em minha mão.

– Deixa eu adivinhar,ela me devolveu o anel dias depois?

– Se não me engano, ela devolveu anos depois. Vocês foram se distanciando com o tempo.

Talvez com algum esforço eu conseguisse lembrar mais detalhadamente do meu passado, por isso comecei a tentar juntar as peças desse quebra cabeça a medida que eu conversava com minha mãe sobre como era nossas vidas anos atrás.