A canção da Lua Vermelha escrita por Samuel Lua Vermelha


Capítulo 2
Dia de Folga


Notas iniciais do capítulo

Olá! O primeiro capítulo foi uma espécie de prólogo. Aqui teremos novos personagens que possuirão importância no enredo. Caso goste deste capítulo, não esqueça de deixar um comentário para mim. :)

Música sugerida para acompanhar a leitura: The Smiths - Bigmouth Strikes Again.

Boa leitura!



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Victor estava de folga naquela quarta-feira. Nos últimos meses, sua rotina permanecia apertada a ponto de sequer conseguir almoçar tranquilamente. Trabalhava o dia todo confinado em uma saleta claustrofóbica, editando e corrigindo layouts malfeitos pelos estagiários da empresa. Um pequeno escritório focado em projetos publicitários. De segunda à sexta, Victor ficava trancado naquele lugar hediondo.

Mas o escritório não era seu único trabalho; o rapaz de vinte e quatro anos também lecionava num teatro aos sábados e praticava esgrima aos domingos. Todavia, a quarta-feira estava livre, fruto das horas extras trabalhadas.

Victor acordara ao meio dia e, desde então, concentrara-se apenas em passar os canais da televisão. O quarto do rapaz era simples, pouco organizado, à moda das pessoas criativas. A única coisa relativamente ajeitada naquele lugar era o suntuoso troféu de esgrima, disposto na parte mais alta da estante. A televisão anunciava suas notícias:

“Na primeira hora da madrugada passada, um grupo de assaltantes tentou roubar o cofre do Banco Central da cidade de South Highvile” dizia a repórter do noticiário “Segundo o relatório da Polícia Militar, o grupo era composto por treze homens fortemente armados e possuía um complexo planejamento de fuga. Os alarmes do banco foram desativados e todos os mecanismos de segurança se corromperam, de modo que a polícia só foi acionada uma hora depois do momento do atentado.

“Os assaltantes teriam levado mais de cem mil dólares, se não fosse a ação prodigiosa de um justiceiro misterioso que impediu a fuga dos treze homens. Quando a Polícia Militar chegou ao local do crime, encontrou os treze assaltantes acorrentados às portas do Banco Central, cercados por cartas de baralho.

“Detalhes do caso estão sendo averiguados e os participantes do assalto serão interrogados ainda hoje. Esta já é a sexta ocorrência em que há a ação deste misterioso justiceiro das cartas de baralho. Quem é ele? O que pretende? E, principalmente, como consegue combater quadrilhas inteiras sozinho? As respostas para tais perguntas continuam sendo um mistério”.

Victor não deu muita atenção à notícia do assalto ao Banco Central. Continuou empenhado em passar os canais de TV. Enquanto apertava os botões do controle remoto, ouviu Fátima se aproximar.

– Finalmente acordou – ela disse – Pensei que tivesse em coma nesse colchão.

Victor se espreguiçou e, sem coragem para proferir palavra, deteve-se em coçar a barriga e continuar assistindo à televisão. Mediante a atitude do filho, Fátima voltou a falar.

– A Harley acabou de ligar. Ela disse que seu primo faleceu agora de manhã.

– Que primo? – Victor quis saber.

– O Christian, ué! Por acaso você tem outro primo que eu não conheço? – ironizou Fátima.

– Ah... Foi tarde.

– Nossa. Você é cruel igual a seu pai...

– Acho que vou concordar – Victor respondeu após uma breve reflexão.

Fátima sentou-se à beira da cama. Vestia calças jeans azuis e uma camiseta básica branca. Apesar de ser mãe de um rapaz adulto, ela tinha a aparência jovem e o espírito de uma adolescente. Uma pessoa de pés no chão, realista e prática. Apreciava bons livros, mas naquela última semana não conseguira sequer ler a contracapa. Estava ansiosa por causa da situação que precisariam enfrentar. Para Fátima, a coisa mais importante era o filho Victor. Por ele, daria a própria vida. No entanto, ante as circunstâncias atuais, ela se sentia impotente e isto a transformou em um mar de preocupação. Fátima pousou sua mão sobre a de Victor.

– Tenho medo... – ela confessou.

– De quê? – ele perguntou, com a voz mais suave possível.

– Você sabe, Victor. Agora que Christian faleceu, toda a responsabilidade da empresa cairá sobre as suas costas. Você é o parente mais próximo do seu primo e, por isso, toda a família vai pressionar para que você assuma a direção e as despesas.

– Não é possível – suspirou Victor – Já disse que não tenho nada a ver com essa empresa.

– Eu sei – rebateu Fátima – Eu te entendo. Mas você não tem escolha, filho. Precisa assumir esse cargo agora, porque se não o fizer a Harley fará, e você sabe o que ela pensa de nós dois.

– A Harley...

– É, a Harley – concordou Fátima – Se ela assumir agora, com toda a certeza vai se voltar contra nós e fazer das nossas vidas um inferno.

Victor era um rapaz de fibra. Desleixado; mas quando tomava uma decisão, não havia quem tirasse a ideia de sua cabeça. Deitado ali, naquela cama, refletiu sobre as palavras da mãe. Ela tinha razão. Harley era uma mulher perigosa. Harley não deixaria passar em branco os mal-estares dos meses anteriores. Harley também podia ser cruel.

– Caso eu assuma a direção da empresa, precisarei de ajuda para administrá-la – Victor disse, por fim – Sou apenas um publicitário. Não tenho experiência nessa área.

– Não se preocupe com isso, teremos ajuda.

– Fala do Dr. Marcus?

– Ele mesmo – respondeu Fátima, levantando-se da cama – E o Alan. Eles estão me devendo favores, concordarão com qualquer coisa.

– Ok – suspirou Victor, preparando-se para deixar a folga de lado – Então vou me arrumar. Temos um velório para ir.


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