A-ya escrita por Aninha
Após um longo tempo sentada em uma pedra naquela caverna-muito bem decorada por sinal- finalmente as Ghiguas foram embora, menos Kamama. Ela ia apagando as velas dizendo fortes palavras, nas quais eu não entendia, até chegar na última -a de cor roxa- que por sua vez, não foi apagada por ela. Kamama veio em minha direção segurando a grande vela, sorrindo com doçura e caminhando lentamente.
–Sopre esta, u-we-tsi-a-ge-hu-tsa. -disse ela com uma voz suave e calma.
Fechei meus olhos e soprei a vela. Pude sentir um calor em minhas mãos, uma brisa tocar meus cabelos, a água tocar meus pés, e posso jurar que senti um cheiro melódico pairar sobre o ar.
–O que foi isso, mãe? -perguntei.
–Foi a resposta do Grande Espírito, minha filha. Você tem dentro de si um pedacinho de cada elemento. -Ela fez uma pausa e colocou a vela-já apagada- no chão, estendeu suas mãos em minha testa e caminhou os dedos sobre a minha pele. - Água, Terra, Fogo e Ar.
–Obrigada por me dar vida. -falei quase em um miúdo sussurro.
–Não me agradeça, u-we-tsi-a-ge-hu-tsa. -disse Kamama rindo.
Decidi me levantar, estava muito entendiada para alguém que acabara de nascer. Estiquei os meus músculos -contente por não serem mais de barro- e bocejei. Eu realmente precisava fazer algo, estava ansiosa para correr e sentir o ar fresco bater em minhas bochechas.
Fui correndo em direção à saída. A luz do Sol estava tão forte que meus olhos ardiam, era algo sensacional. Fui afundando meus pés na terra molhada e escutando o som dos pássaros.
Agachei e apalpei aquele amontoado de minerais, passei em meus braços e senti a vitalidade passar da minha pele para a minha alma. Sorri. Me levantei novamente e olhei entre as árvores, procurando pássaros nos galhos. Ouvi alguns "croo-ak" e procurei com a cabeça. Era um som estranho, de um corvo talvez, mas algo além de um pássaro.
Fui caminhando em direção o som, quando uma voz me chamou.Era Kamama.
–Estou indo! -gritei de volta. -Infelizmente terei que ir atrás de você outro dia... -sussurrei para o nada.
Voltei para o subterrâneo e notei a expressão irritada dela.
–O que houve? -Perguntei na inocência.
–Eu não permiti que saísse! -Mamãe falou em um tom grosso. Engoli seco, eu não a imaginava brava, era realmente esquisito.
–Desculpe.
Sua expressão logo ganhou o ar tranquilo e puro de sempre. Ela veio me abraçar e eu pude me sentir como uma filhotinha nos braços de sua mãe. Fechei os olhos e a apertei contra o peito. Eu queria que ela me protegesse, que ela me amasse como eu já a amava, e -acima de tudo- não a queria magoada.
–Tudo bem, u-we-tsi-a-ge-hu-tsa. Só não saia lá fora... É perigoso demais.
–Parece tão bom sair andando pelas montanhas, mãe.
–Há criaturas soltas... Criaturas que cortariam seu pescoço. E pior ainda, uma criatura que arrancaria seu coração.
–Isso me soa horrível, mamãe. -Falei a abraçando mais.
–Mas nada irá acontecer a você... Você foi feita para mudar isso.
–Sim, mamãe.
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