Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 2
A menina dos cabelos de fogo


Notas iniciais do capítulo

Ter uma leitora e comentário me cativou tanto que vou postar o segundo capítulo hoje mesmo 'u' Muito obrigado, Srta. Dreams :D
Ah, sim, vc disse q não gosta muito de personagens originais.... Então eu acho que ou vc vá gostar ou odiar o Dmitrei, hehe...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/534678/chapter/2

Quando eu tinha quase dez anos, andava pelas ruas da vila, próximo ao castelo, procurando um lugar para me esconder e ler um livro sobre o corpo humano (que eu havia emprestado de minha mãe) quando algo me chamou atenção. O cheiro delicioso, doce, quentinho... Meu estomago roncou na hora. Como eu disse, nunca cheguei a ser pobre de verdade, nunca passei fome... Mas, céus, acho que nunca havia sentido um cheiro tão bom na minha vida.

Olhei bem para ver se alguém estava vendo, prendi o pequeno livro na cintura e pulei o muro com ajuda de alguns caixotes que estavam ali. Entrei de fininho na cozinha do castelo... Era enorme, e estava completamente vazia, a não ser por uma bandeja de doces marrons. Eu nunca tinha comido chocolate na vida, mas só pelo que já tinha ouvido falar, sabia que deveria ser esse o sabor dos bolinhos... Dei mais uma olhada no local, para me certificar de que não tinha mais ninguém lá mesmo e corri para os bolinhos. Enfiei um inteiro na boca. Nossa, como aquilo era bom... Peguei um em cada mão, pensando em colocá-los nos bolsos.

Eu quase me engasguei ou ouvir o grito. Quando me virei, vi uma menina pouco mais velha que eu, de olhos azuis e cabelos que lembravam fogo. Não era qualquer menina. Era a Sua Alteza Real, Merida Dumbroch, a princesa do Clã Dumbroch em pessoa... Senti como se meu estomago tivesse afundado no frio chão de pedra.

Ela olhou para os doces que eu tinha na mão e então no fundo de meus olhos. Eu estava perdido, já podia ouvir os passos de alguém chegando pelo corredor. E então, Merida fez o que eu nunca esperaria: pegou algumas bandejas vazias que estavam sobre uma bancada e jogou-as no chão, e então cochichou:

– Se esconde, garoto!

Ela não precisou falar duas vezes. Soltei os bolinhos que tinha na mão e me joguei atrás da bancada mais próxima bem na hora que o grande e assustador rei Fergus entrou no recinto com uma espada em punho.

– Aconteceu alguma coisa, minha querida? Ouvi você gritar...

– Huh, não... Quer dizer, eu gritei por que derrubei essas bandejas sem querer. Eu estava indo comer alguns doces, senti o cheiro.

– É claro que estava, Merida... Vou chamar alguém para arrumar aqui. Não quer vir junto com o papai?

– Não, vou treinar com o arco um pouco.

O rei sorriu.

– Essa é minha garota! Não conte pra sua mãe. - O rei deu uma piscadela para a filha antes de sair da cozinha. Merida foi até a saída dos fundos e fez sinal para que eu acompanhasse.

– O que estava fazendo no castelo? - Perguntou ela quando saímos.

Abaixei o rosto, envergonhado. O que eu estava pesando?! Meus pais não haviam me ensinado a ser um ladrão...

– Ai! - Merida havia me dado um soco no braço. Era bem forte para uma princesa.

– Tudo bem, minha mãe também não me deixa comer esses doces. "Uma princesa só deve comer na hora das refeições." - Disse ela, imitando o jeito da rainha Elinor falar.

– Bem, não é bem isso... Desculpe. Quer dizer, por invadir o castelo.

– Ah, não tem problema. Qual o seu nome?

– Dmitrei, mas... Por que quer saber? - Olhei assustado para ela. - Não ai me entregar pro rei Fergus, vai?

– Ah, não precisa ter medo dele. Deveria sentir mais medo da minha mãe. - Sussurrou ela. - Mas não é por isso não. É que amigos devem saber o nome um do outro, não acha? - Ela sorriu, divertida.

E assim, pela primeira vez na vida, comecei a confiar em alguém de verdade. Com o passar do tempo, notei que com ela eu me sentia mais vivo, e os sentimentos de medo e de não pertencer a lugar algum se tornavam diminutos. Em nossos anos de amizade, Merida me ensinou a atirar com arco e flecha e a andar a cavalo. Eu nunca tive um, claro, mas Merida dava sempre um jeito de me arranjar um quando dava suas escapadas, nos dias em que ela não precisava "ser uma princesa".

Comecei a frequentar o castelo... Realmente, era mais sensato ter medo da Rainha Elinor que do Rei Fergus. Ela deixava até ele com medo quando queria. Como eu era muito próximo de Merida, a rainha não viu problema que eu aprendesse música com ela, o que acabava tornando tudo mais divertido.

Juntos, aprendemos a caçar, escalar e sobreviver na floresta, basicamente. Sempre procurávamos uma aventura nova. Às vezes eu escalava o castelo pelo lado de fora, apenas para acordá-la quando estava demorando demais. Era uma sorte as janelas não abrirem, ou Merida me mandaria castelo abaixo toda vez que eu fizesse isso. Também me tornei bem próximo dos trigêmeos, eu mesmo os ensinei a se esconder bem, e eles ficaram realmente bons. Melhores do que eu.

Aprendi a lutar usando os conhecimentos do corpo humano que adquiri com minha mãe, pois sempre tinham aqueles garotos mais velhos que encrencavam comigo por eu ser um tanto fechado, um pouco menor que o habitual ou por causa dos meus dentes.

Quando fiz quinze anos, decidi que estava na hora de procurar por minhas origens. No fim da tarde de meu aniversário, eu e Merida estávamos deitados no gramado dos campos ao sul da vila, competindo para ver quem acertava mais maçãs em um pé ali próximo. Obviamente, ela estava ganhando.

– Mas, que tipo de... Busca você planeja, Dimi? - Apenas ela e os meus pais me chamavam daquele jeito.

– Eu quero atravessar as Florestas Enevoadas.

Ela levantou uma sobrancelha.

– Sabe que isso é loucura né? Todos que foram pra lá morreram ou foram terrivelmente multilados e acabaram enlouquecendo.

– E você sabe que eu não estou brincando. Sabe que preciso...

Merida suspirou.

– Já conversamos sobre isso Dimi... - Ela pegou o arco e atirou em uma maçã, derrubando-a de árvore sem machucá-la. - Tá, o seu pai disse que o bote veio daquela direção, mas e daí? Também disse que ele havia sido apanhado em uma tempestade, ele pode ter vindo de qualquer lado! - Ela olhou bem nos meus olhos, como na vez em que nos conhecemos. - Mas se acha que este é o seu destino, não sou ninguém para impedir... - Eu sorri com o apoio dela.

– Não fala nada pros meus pais, tá bom? Vou sair hoje à noite. Não quero magoá-los.

A princesa me olhou com desdém.

– Ah é? Com que suprimentos? Por acaso tem um cavalo que possa usar? - Disse Merida, aproximando seu rosto do meu.

– Uh, aham... Ah, não, não, vou caminhando. Sei me virar sozinho, posso caçar... - O rosto de Merida estava tão próximo que eu sentia seu hálito em meu rosto. Ela se levantou de um salto e montou em Angus.

– Vamos, seu bobo. - Disse ela. Seu rosto estava da cor de seus cabelos. Eu não devia estar muito melhor. - Prometi à minha mãe que iria ajudar a dar banho nos meninos hoje.

Naquele dia Merida não tinha conseguido me emprestar um cavalo, então nós dois montamos em Angus. Com ela conduzindo, claro. Em poucos minutos chegamos à vila.

– Vou te levar até os limites da floresta enevoada com Angus. - Merida falou quando desmontamos do cavalo. - Não se preocupe em pegar comida, tem bastante que eu posso pegar no palácio. Me espere no portão antes de amanhecer.

Olhei agradecido para ela.

– Sabe que não precisa... - Ela ameaçou me dar um soco, como de costume, mas fez algo que me surpreendeu mais ainda: ela me abraçou.

– Feliz final de aniversário, Dimi. - Merida me deu um beijo no rosto e entrou no castelo.

Eu me virei, pronto para ir para casa, mas algo me deteve. Risadas?

– Ok, podem sair seus pestinhas. - Disse me virando para trás. Os trigêmeos Harris, Hubert e Hamish apareceram de uma entrada secreta do castelo. - Aprenderam bem - Eu disse, aceitando o abraço coletivo dos pequenos.

– Feliz aniversário! - Disseram em uníssono.

–Ah, muito obrigado! - Respondi, rindo. E então, senti um cheiro familiar. - Rapazes... Acho que tem bolo de chocolate quentinho saindo. E cuidado com sua irmã. Não vai ser Elinor que dará banho em vocês hoje - Pisquei para eles, que pelo visto haviam entendido o recado. E então, tão de repente quanto apareceram, sumiram pela passagem. Segundos depois, ouvi uma cozinheira gritar lá dentro "Não, seus pestinhas, isso não é para... Ah, Sua Majestade vai ficar sabendo disto, ah se vai!" Não pude deixar de rir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo assim que eu terminar o que estou escrevendo (talvez hoje mesmo, dependendo da inspiração :D )



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.