O Mal se levanta novamente escrita por O Patriarca do Santuário


Capítulo 9
A partida de Augustus.


Notas iniciais do capítulo

Prezados,

Segue mais um capítulo desta narrativa.

Espero que gostem.

Um abraço.



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Augustus e Hanna, de pé, seguram as mãos um do outro, enquanto trocam olhares, na sala de estar, logo após o café da manhã. No chão da sala, algumas malas e sacos que compõem a bagagem de Augustus. Nisso, Marta entra na sala e o casal se refaz, um pouco sem graça. Marta percebe e dá um pequeno sorriso, como se quisesse brincar com os dois jovens.

 

—_Fiz alguns biscoitos para você comer no navio, Augustus. Diz Marta.—_Procure comê-los no primeiro dia de viagem, para que não fiquem amanhecidos ou passados.

 

—_Oh, não precisava, Dona Marta. Responde Augustus. —_Bem, muito obrigado, de qualquer forma. Tenho certeza que devem estar deliciosos. Aliás, como tudo o que a senhora faz em termos de comida.

 

Sam desce as escadas, seguido por Addae.

 

—_Bem, Augustus, Addae vai acompanhar você e Hanna até o cais, para ajudá-los a carregar a bagagem. Eu mesmo iria, mas tenho que esperar, agora bem cedo, na loja, a chegada de um fornecedor de ligas metálicas. É uma das matérias-primas que utilizo para forjar as armas que comercializo. Diz Sam.

 

—_Mas é claro, senhor Sam. Responde Augustus. —_Eu compreendo, afinal também atuo no comércio, hehe. Sei como são essas coisas. Na verdade eu tenho muito a agradecer ao senhor, a Dona Marta, a Hanna, Addae e Enzo. Trataram-me como um membro da família. Foi um privilégio ficar hospedado na casa de sua família encantadora. O senhor é um homem de muita sorte, senhor Sam.

 

—_Que isso, Augustus. De nossa parte foi muito bom ter sua companhia. Sempre que vier a Thais, nossa casa está a sua disposição. Responde Sam.

 

—_Obrigado, senhor Sam. Augustus se volta para Addae. —_Obrigado por ceder seu quarto, Addae. Finalmente você ficará livre de mim e poderá reassumir o seu “cantinho”, hehe.

 

—_Não, que isso senhor Augustus. Tá limpo. Eu é que agradeço esse relógio maneiro que o senhor me deu. Responde Addae, consultando, vaidoso, seu relógio de pulso.

 

Enzo, que acaba de descer as escadas correndo, diz: —_Eu também quero um relógio!!!

 

—_Enzo... Diz Hanna, meio que censurando seu pequeno irmão.

 

—_Ehehe, vamos fazer o seguinte, Enzo. Diz Augustus. —_Eu devo estar de volta a Thais mais ou menos daqui a um mês. Escolherei, na matriz da joalheria, em Venore, um relógio bem legal, e trarei para você. Combinado?

 

—_Hum... tá bom. Responde Enzo, não escondendo uma ponta de desconfiança.

 

—_Então estamos combinados, parceiro. Responde Augustus, estendendo a mão para Enzo.

 

O irmão caçula de Addae estende a mão para Augustus, selando o “acordo”.

 

Os pais e irmãos de Enzo esboçam um discreto sorriso, impressionados com a habilidade de Augustus em conter os ímpetos do pequeno.

 

Então, Sam diz: __Bem, pessoal. Vou indo. Tenha uma boa viagem, Augustus. E quando retornar à Capital lembre-se, nossa casa está à sua disposição. E Addae, aguarde o navio de Fearless zarpar, junto a Hanna. Depois a acompanhe até a joalheria. Em seguida, te aguardo na loja...

 

—_Tá no esquema, pai... Responde Addae.

 

—_Bom trabalho, senhor Sam. Muito obrigado por sua hospitalidade. Diz Augustus, apertando as mãos do armeiro.

 

Após Sam se despedir de todos, e sair, Augustus abraça Marta e diz: —_Mais uma vez, muito obrigado, Dona Marta, por me fazer sentir como um membro desta família. Levarei sempre todos aqui na mente e no coração.

 

—_Considere-se um membro da família, Augustus. Foi muito bom ter a sua companhia, nesses dias. Como Sam disse, a casa está a sua disposição.

 

Augustus afaga os cabelos de Enzo, brincando. —_Estamos combinados, parceiro... Diz Augustus piscando um olho e apontando o dedo indicador para o menino.

 

—_Isso aí, parceiro. Responde Enzo, piscando também um olho e apontando, da mesma forma, o dedo indicador para o comerciante.

 

Depois das despedidas, Augustus, Hanna e Addae ganham as ruas. Hanna segura o braço direito de Augustus, que, por sua vez, segura uma bolsa na mão esquerda. O casal conversa animadamente. Addae vai levando uma pequena caixa sob o braço esquerdo e uma bolsa segura pela mão direita. O trio sobe a City Wall, alcançando a esquina com a Main Street.

 

Pequenos flocos de neve começam a cair sobre a cidade, deixando os transeuntes encantados.

 

—_Vejam! Diz Hanna. __É a primeira vez que neva neste inverno.  __ Que lindo!

 

—_Verdade. Responde Augustus. —_Finalmente. Este tem sido mesmo um inverno atípico.

 

—_É... maneiro. Diz Addae. —_ A única coisa chata é ter que limpar a calçada em frente à casa, quando cai uma nevasca daquelas...

 

—_ Deixa de ser preguiçoso, Addae. Rebate Hanna.

 

—_ Preguiçoso, é? Protesta Addae. —_ Pensa que é mole tirar a neve com a pá, quando cai um metro de neve durante a noite???

 

Augustos ri um pouco do diálogo, mas procura desviar o assunto: —__ Sabe Addae.... fiquei realmente impressionado com o seu relato, ontem à noite, a respeito do dia maravilhoso que você, Cadi e Genevieve tiveram.

 

—_ Foi um dia irado, Senhor Augustus. Eu e o Cadi só queríamos levar a Genevieve para um passeio pela cidade. Nunca imaginaríamos que tanta coisa interessante aconteceria...

 

—_Eu e Hanna ficamos surpresos, quando vimos vocês três sendo conduzidos por aquela escolta de guardas, juntos àqueles dois sábios, para dentro do Palácio Real. De início achei que vocês tinham sido presos, hehehe... Diz Augustus.

 

—_Sorte nossa que a Genevieve conhecia o Trimegis. Ele quem nos colocou para dentro, na verdade. Responde Addae.

 

—_Deve ter sido maravilhoso presenciar a recepção aos dignitários estrangeiros... Suspira Hanna.

 

—_Muito legal. As figuras dos patriarcas elfos, do Imperador Kruzak e de Eloise são muito imponentes e impressionantes. Completa Addae. —_Também impressionam os súditos e guardas que vieram com eles.

 

Neste momento o trio passa diante da Arena dos Cavaleiros.

 

—_Não foi só no Palácio que coisas interessantes aconteceram. Diz Addae. —_Tanto nesta Arena aqui, como na dos paladinos, e mesmo na Torre, conhecemos e conversamos com pessoas muito legais. Foi bom também rever o Monge Quentin e a Professora Lynda, nos templos.

 

Addae então avista o guerreiro que fica de sentinela na entrada da Arena dos Cavaleiros. É o mesmo do dia anterior. O mesmo guerreiro a quem Arturos se dirigiu, para informar que os jovens estavam com ele, e que poderiam entrar. Addae lembra de seu nome e lhe dirige, da rua, um aceno.

 

—_Bom dia, Senhor Rheno!

 

O guerreiro tem a atenção chamada por Addae, e dirige, de volta, um aceno para o jovem aspirante, junto com um sorriso simpático, parecendo se lembrar do ocorrido no dia anterior.

 

—_Está ficando uma pessoa importante na cidade, hein, Addae? Pergunta Hanna, em tom de brincadeira.

 

—_Ah, ele só se lembrou de mim porque o Mestre Arturos disse a ele que estava comigo, com o Cadi e com a Genevieve. Assim nos deixou entrar... só isso. Responde Addae.

 

—_Quando você voltar de Rookgaard como um oficial da Guarda, poderá entrar sozinho, Addae. Diz Augustus.

 

—_Ah, claro. E não vou sair daí de dentro, hehehe. Gostei muito da Arena. Responde Addae.

 

Augustus e Hanna riem.

 

Os três vão caminhando pela Main Street, passam pela esquina com a Temple, em seguida alcançam a esquina da Harbour e finalmente se aproximam do Cais Suspenso.

 

 Há certo encantamento no ar com os flocos de neve que caem sobre os telhados, sobre a rua e sobre os ombros e cabeças das pessoas.

 

Quando o trio se prepara para subir ao nível do cais suspenso, alguns estivadores se oferecem para ajudá-los com a bagagem de Augustus. Augustus aceita e, após subirem na grande estrutura de madeira, dá algumas moedas, como gorjeta, aos trabalhadores do Porto.

 

O Cais e suas imediações estão submetidos a uma intensa movimentação de pessoas e de cargas, levadas pelos estivadores. Addae repara que além do Albatroz, o navio do Capitão Fearless, há outro navio, um pouco menor, atracado na extremidade sul do Cais.  No espaço livre entra as duas embarcações, alguns estivadores se preparam para a chegada de um terceiro navio, menor do que os outros dois, e que manobra ao largo.

 

Augustus coloca algumas etiquetas nos volumes pertencentes a sua bagagem, e instrui outros estivadores no sentido de levarem a bagagem para o Albatroz. Há muitas pessoas no Cais, passageiros, acompanhantes e trabalhadores, esperando a partida do Capitão Fearless para Venore.

 

Augustus e Hanna seguram as mãos um do outro e sussurram algumas palavras.

 

Addae, um pouco sem graça, diz: —_Eu vou dar uma caminhada lá para a parte sul do Cais, enquanto vocês aguardam o Capitão Fearless chamar para o embarque...

 

Augustus e Hanna assentem com um sorriso.

 

Addae vai caminhando para a parte sul do Cais, observando o intenso movimento dos trabalhadores. Então avista Luke, o administrador do Porto. Luke dá instruções para alguns estivadores enquanto faz anotações em um papel sobre uma espécie de prancheta.

 

Addae se aproxima de Luke e diz: —_Bom dia, Senhor Luke.

 

Luke, sem tirar os olhos do papel, no qual faz algumas anotações, responde um pouco lacônico: —_ Bom dia...

 

—_O senhor sabe onde está o Struggle? Não estou conseguindo vê-lo aqui no Cais... Diz Addae.

 

Ao ouvir a menção a respeito de Struggle, Luke levanta os olhos do papel e olha para Addae: —_O Struggle? Bem, eu dei a ele um dia de folga. Ele trabalhou duro ontem, no descarregamento do Albatroz.  Hum, você é um daqueles aspirantes que estavam ontem aqui no Cais, não? Vou te dizer uma coisa, aquele tal de Tenente Leroy é bem folgadinho...

 

Addae coça a cabeça, surpreso e um pouco sem graça, e responde: —_É... eu vou para Rookgaard, junto com o Struggle. Ele é um de meus melhores amigos. Pensei em vê-lo, hoje, aqui no Cais.

 

—_Rapaz... Responde Luke. —_Essa história do Struggle ir para Rookgaard pegou a todos nós aqui no Porto de surpresa. Todos por aqui davam como certo que ele se incorporaria à tripulação do Capitão Bluebear... o próprio Capitão Bluebear queria muito isso... ele tinha grande consideração pelo pai do Struggle...

 

—_É... eu sei... mas ele seguindo a carreira militar vai poder ficar mais próximo à mãe e à avó dele... Responde Addae.

 

—_Bem, espero que ele esteja fazendo a escolha certa... Diz Luke.

 

Addae, então, pergunta: —_ Aquele navio ali atracado na extremidade sul do Cais... o senhor sabe para onde ele vai?

 

Luke dá um sorriso um pouco debochado e diz: —_Claro que sei, garoto. Sou o Administrador do Porto. Tenho que saber tudo a respeito dos navios que chegam e que partem... aquele é o Marlin, o navio do Capitão Dreadnought. Parte hoje mesmo, dentro de uma hora, para a Ilha de Dawnport. Aliás, vai transportar um bando de estudantes, como aqueles que estavam ontem aqui no Cais. Por falar neles, estão subindo agora mesmo para o Cais, ali, pela escada da extremidade sul.

 

—_Ah ta, entendi... Addae se surpreende ao ouvir a menção a respeito de Dawnport.

 

Observa, de longe, vários jovens subindo ao Cais, com sacos e mochilas nas mãos. Reconhece, entre eles, alguns que estavam alojados no edifício de Struggle e que tinham passado, a cavalo, por ele, Addae, no dia anterior, próximo à casa de Cadi. Reconhece também três adultos que acompanham os jovens: Grosvenor, da Guilda dos Aventureiros e que discutira com o proprietário do prédio de Struggle, como também Lars Sorensen e Uwe, cavaleiros da Sociedade dos Exploradores e que estavam no cais, também no dia anterior, para recepcionar os alunos da Sociedade que vão para Rookgaard.

 

Addae murmura baixinho, como que pensando: —_Hummm... são os aspirantes da Guilda dos Aventureiros e da Sociedade dos Exploradores, que vão estudar em Dawnport... não sabia que partiriam hoje... Então, indaga novamente a Luke: __ E aquele navio que está manobrando ali, se aproximando para atracar?

 

—_Aquele é o navio do Capitão Kurt, o Calamar. Responde Luke. —_Geralmente faz a rota Thais, Rookgaard e Ilha do Destino, uma ilha que fica ao norte de Rookgaard... Às vezes percorre outras rotas...

 

—_Entendo... bem, obrigado pelas informações, Senhor Luke...vou andar um pouco mais pelo Cais... Diz Addae.

 

—_Ok, filho... mas evite ficar perto da área de atracação do Calamar, para não atrapalhar os trabalhos de amarração... Responde Luke.

 

—_Er... sim, senhor...  Diz Addae, enquanto caminha mais para a parte sul do Cais. Aproxima-se de uma pilha de caixotes, dividindo sua atenção entre observar o embarque dos aspirantes de Dawnport, na extremidade do Cais, e a aproximação do Calamar.

 

O navio do Capitão Kurt desliza e manobra suavemente para perto do atracadouro, até que seus tripulantes, cerca de cinco marinheiros, possam jogar as cordas para os estivadores postados perto das defensas. O navio é puxado e amarrado nos cabeços instalados no Cais.

 

Addae observa que, aparentemente, o Calamar parece não trazer passageiros, pois só consegue divisar os tripulantes do veleiro. Mas em seguida, três homens aparecem no convés, vindos da cabine localizada embaixo da ponte de comando. Addae percebe que um dos homens, de cabelos ruivos, traja uma vestimenta militar, de um tom esverdeado. Identifica nele uma insígnia de capitão. Outro deles usa uma túnica elegante, em tons cinza e vermelhos e com ombreiras azuladas. O terceiro, um homem alto e forte, usa um traje de cor marrom, de muito bom gosto, como os trajes que os cavaleiros e guerreiros costumam usar sob suas armaduras. Tem os cabelos grisalhos, apesar da aparência jovial.

 

Os três homens, carregando suas respectivas bagagens, desembarcam e param, no Cais, diante da embarcação. Pousam a bagagem sobre o pavimento de madeira do Porto e parecem procurar, com o olhar, por alguém que aparentemente deveria estar aguardando pela chegada deles.

 

Subitamente, da Ponte de Comando, um homem alto e gordo, que aparenta ser o Capitão do Navio e que Addae julga ser o Capitão Kurt, grita, com uma voz potente, para um dos três passageiros que acabaram de desembarcar: —_Mestre Asralius, retornarão comigo para Rookgaard???  Zarparei amanhã para Greenshore, para levar um carregamento e trazer outro, mas devo estar de volta a Thais dentro de uma semana. No mesmo dia retorno para Rookgaard e para a Ilha do Destino!

 

O homem com a túnica responde: —_Não precisa se preocupar conosco, Capitão. Muito provavelmente retornaremos no navio do Capitão Bluebear, com os novos aspirantes.

 

—_Ok, então... Responde o capitão, voltando em seguida aos afazeres no navio atracado.

 

Os três homens começam a entabular uma conversa. Addae procura se esconder atrás da pilha de caixotes para escutar, sem ser notado.

 

—_Não há um soldado ou tenente para nos receber e levar ao Palácio? Enviei de Rookgaard uma correspondência para o Kahs, um mês atrás, dando conta que deveríamos chegar por esses dias. Eles deveriam checar toda manhã para ver se avistavam o Calamar. Seria muita falta de consideração não mandar uma escolta para nos receber. Na verdade seria bem típico do Kahs fazer isso. Reclama o militar.

 

—_Calma Capitão... Responde Asralius. —_Devem ter avistado o navio lá do Palácio. Algum oficial deve estar a caminho... Ah, veja, um tenente acaba de subir ao Cais!

 

Ao ouvir isso, Addae olha para a extremidade norte do Cais e consegue identificar o Tenente Leroy vindo em direção ao trio, escoltado por dois soldados.

 

Assim que o tenente se aproxima dos três viajantes, se perfila, juntamente com os dois soldados que o acompanham e bate continência para o capitão: —_Capitão Vascalir, seja bem-vindo a Thais, senhor.

 

—_À vontade, tenente... pensei que teríamos que levar nossas bagagens até o Palácio. Murmura Vascalir

 

—_De modo algum, senhor. Designei alguns soldados para que observassem, da Torre Sudoeste do Castelo, o Porto, e caso avistassem a aproximação do Calamar, me avisassem imediatamente.  Responde Leroy.

 

—_Muito bem, Tenente...  Diz Vascalir. —_Quero crer que conheça os mestres Asralius e Hykrion. Mestre Asralius é sacerdote no Templo de Rookgaard, e Mestre Hykrion é instrutor na Ilha do Destino...

 

—_Claro Capitão. Responde Leroy. Então se volta para Asralius e Hykrion, cumprimentando-os. —_É um prazer recebê-los em Thais, mestres.

 

—_Obrigado, Tenente. Respondem, em uníssono, Vascalir e Hykrion.

 

Addae, ouvindo a conversa, escondido atrás da pilha de caixotes, murmura baixinho para si mesmo: —_Caramba, eles são professores em Rook...

 

Vascalir continua: —_Diga-me, tenente, que belo navio é aquele que avistamos atracado no Porto Externo, quando nos aproximávamos de Thais?  Parecia estar sendo guardado por um destacamento de soldados.

 

—_É um navio carlinês, Senhor. Responde Leroy. __Aquele navio trouxe a Rainha Eloise a Thais.

 

—_Incrível... Espanta-se Vascalir. —_E-ela veio mesmo... não pensei que tivesse coragem...

 

—_Eloise em Thais... quem diria. Diz Hykrion.

 

—_Mas que notícia alvissareira. Entusiasma-se Asralius. —_O tão almejado tratado pode se tornar realidade... que os Valar nos ajudem!

 

Vascalir meio que indaga: —_Tenente... os elfos e anões...?

 

—_As delegações de Ab’Dendriel e de Kazordoon chegaram ontem, Senhor, juntamente com o navio de Eloise. Responde Leroy.

 

—_Estou muito esperançoso com estas notícias... Interfere Asralius. —_Se Thais, Carlin, Ab’Dendriel e Kazordoon firmarem uma aliança, Ferumbras terá muitas dificuldades na hipótese de um novo ataque.

 

—_Confesso que nunca tive muitas esperanças no sentido deste tratado concretizar-se. Diz Hykrion.

 

Vascalir, então, pergunta: —_ Tenente... na carta que recebi do Alto-Comando, havia menção à possibilidade de recebermos alunos estrangeiros...

 

Leroy logo emenda: —_Senhor, as delegações estrangeiras trouxeram alguns jovens, atendendo ao convite de Sua Majestade, no sentido de cursarem a Academia... isto obviamente se o tratado for assinado por estes dias...

 

—_Isso que eu temia... isso não vai dar certo... Responde Vascalir, em um tom desolado.

 

—_Mas por que isso o preocupa, Capitão? Indaga Asralius.

 

—_Mestre Asralius... Responde Vascalir. —_Rookgaard tem uma tradição de cinco séculos. Ali são formados os oficiais do Exército de Sua majestade e os líderes das guildas autorizadas pelo Rei. Os alunos, ali, entram em contato com assuntos de estado, de segurança nacional. Aprendem técnicas e estratégias de combate utilizadas por Thais. Não acho aconselhável que estrangeiros recebam tal tipo de informação e de formação. É como se estivéssemos passando informações, táticas e estratégias para outros reinos. Isso poderia ser usado contra Thais, um dia...

 

—_Sob esta ótica, de fato, isto seria preocupante... Complementa Hykrion.

 

—_E outra coisa... Continua Vascalir. —_Esses jovens estrangeiros teriam que ter, como convidados, um tratamento especial. Como eu poderia, na função de Reitor da Academia, aplicar plenamente as normas de disciplina sobre eles, em eventuais infrações às regras de conduta? Isso seria considerado um incidente diplomático...

 

—_Isto também seria um problema. Concorda Hykrion.

 

—_Capitão... Diz Asralius. —_Se estamos em vias de assinar um tratado com esses reinos, passar informações e técnicas de combate para jovens oriundos dos mesmos reinos não se constituiria em um problema, a meu ver, pois em caso de conflito todos estaríamos do mesmo lado. E sobre a questão da disciplina, já pensou na hipótese desses jovens estrangeiros se revelarem bons alunos, ou mesmo alunos exemplares? Sejamos otimistas, Capitão.

 

—_Lamento Mestre, mas não compartilho de seu otimismo. Até espero que esteja certo, mas a idéia de alunos estrangeiros em Rookgaard me incomoda, realmente. Rebate Vascalir, que em seguida, indaga ao Tenente Leroy: —_Tenente, sabe alguma coisa a respeito do Príncipe? O Alto-Comando também se referiu a ele, no Ofício que me enviou...

 

—_Er... bem, Senhor. Responde Leroy. —_Fiquei sabendo sobre essa questão hoje cedo... muitos no Palácio ficaram surpresos... parece que está confirmada a ida do Príncipe...

 

—_Outro problema gigantesco... Resmunga Vascalir. —_Como posso exercer minha autoridade sobre o filho do Rei? Príncipes devem ser educados por tutores especiais, na Corte...

 

Addae, escondido, arregala os olhos, surpreso, ao ouvir isso e murmura baixo, para si mesmo: —_O Príncipe... em Rookgaard?

 

—_Calma, Capitão. Insiste Asralius. —_Será uma turma bem, digamos, original. Mas pode ser interessante.

 

Ao ouvir isso, Vascalir olha para Asralius, com uma expressão de ceticismo. Então, indaga novamente a Leroy: —_Tenente, quantos alunos inscritos este semestre?

 

—_Senhor, algo inusitado aconteceu este semestre... Responde Leroy. __Temos 19 aspirantes ao Exército de Sua Majestade... 39 alunos enviados pelas guildas... somados aos 9 jovens estrangeiros e incluindo o Príncipe Pedro, seriam ao final 68 alunos. Isso se Sua Majestade não aceitar ainda alguma inscrição intempestiva...

 

—_68??? Isto é sério, Tenente??? Espanta-se Vascalir.

 

—_Errr... sim Senhor, Capitão. Responde Leroy. —_Eu mesmo recebi, ontem, aqui neste cais, os alunos que chegaram no navio do Capitão Fearless, vindos de outras cidades.

 

—_Por Banor! 68??? Espanta-se, também, Hykrion. __Do que conheço da História da Academia, nunca li ou ouvi falar a respeito de uma turma tão grande!

 

—_Notável. É bom saber que Rookgaard ainda desperta o interesse dos jovens do Reino. Será para nós um desafio formar uma turma tão grande... Diz Asralius.

 

—_Turma grande? É uma turma gigantesca. Completa Vascalir. —_Ao longo dos últimos anos, quando conseguíamos que as inscrições ultrapassassem o número de 10 alunos, era motivo de comemoração. Mas concordo que é um sinal de que Rookgaard ainda mantém sua mística. As instalações da Academia, como os dormitórios, após as últimas reformas, conseguem absorver 19 novos aspirantes ao Exército... mas a pensão de Lee’Delle... 39 guildanos, somados aos que lá já estão cursando a Academia... acho que alguns alunos terão que dormir no chão...

 

—_Lee’Delle dará um jeito, Capitão. Diz Asralius. —_Ela deve ter camas sobressalentes em seu depósito. Deve ficar contente, pois vai faturar um bom dinheiro com tantos hóspedes bancados pelas guildas... o Capitão Santiago também deve gostar da novidade... via de regra, os aspirantes o idolatram, ele tem um jeito especial de angariar a simpatia dos alunos...

 

—_Humpft... Santiago. Resmunga Vascalir. —_Aquela filosofia cuca fresca dele, em minha opinião, mina a disciplina militar. Ele não se decide se é um Capitão do Exército, ou um pescador... mas se o Alto-Comando o considera um bom instrutor, não serei eu quem vai contestar... além de tudo habita na Ilha do Sul, ao invés de ficar na Academia, como a maioria dos professores...

 

—_Ora, Capitão, ele tem conseguido verdadeiros milagres, dissuadindo alunos em relação a comportamentos reprováveis, brigas, etc... é uma influência muito positiva sobre os jovens. Todos os alunos que me procuram para conversar ou em busca de alguma orientação falam muito bem do Capitão Santiago. Na verdade acho que vocês dois se complementam. O senhor morde, ele assopra, ahahahah.  Diverte-se Asralius.

 

—_O Capitão Santiago é um instrutor fenomenal. Diz Hykrion. —_Os alunos que chegam à Ilha do Destino tem vindo com um preparo muito bom de Rookgaard, no manuseio das armas e técnicas de combate físico. Isto facilita o meu trabalho de complementação e especialização nas técnicas de combate. Não se poderia esperar menos de um oficial da lendária Legião Vermelha.

 

Neste momento, Vascalir tem sua atenção voltada para a parte sul do Cais, onde os alunos que vão para Dawnport embarcam no navio do Capitão Dreadnought. —_Tenente... Pergunta Vascalir. —_O que está acontecendo ali na parte sul do Cais? Há um grande grupo de jovens embarcando...

 

Addae, ao perceber que o trio direciona o olhar para a parte sul do Cais, procura se encolher mais ainda atrás da pilha de caixotes, para não ser descoberto.

 

—_Ah, aquilo. Responde Leroy. —_Bem, Capitão, lamento informar que Sua Majestade finalmente autorizou o funcionamento da Academia da Guilda dos Aventureiros, na Ilha de Dawnport. Aqueles jovens constituem a primeira turma a estudar nessa academia. São dez alunos da própria guilda, mais seis da Sociedade dos Exploradores...

 

—_Não posso acreditar... Diz Vascalir com uma expressão de inconformismo. —_As cartas enviadas do Alto-Comando garantiam que essa academia jamais seria autorizada.

 

—_O Rei autorizou no final do ano passado, Senhor. Diz Leroy. —_Dizem que a guilda “comprou” a autorização com quilos e quilos de moedas de cristal. Sua majestade acabou seduzido pela “argumentação” da guilda. De qualquer forma, a autorização implica na total submissão ao Rei de todo o conteúdo programático do curso. E a mesma autorização é em caráter precário, ou seja, pode ser suspensa ou anulada a qualquer momento, segundo a discricionariedade de Sua Majestade...

 

—_Isso é um absurdo...  Resmunga Vascalir. —_Como se pode conceber uma academia para futuros guerreiros, sem que seja diretamente administrada pelo Exército Real? O Rei vai se arrepender por ter autorizado...

 

—_Não temos como saber se esta nova academia dará certo ou não, Capitão. Contemporiza Asralius. —_Só o tempo dirá...  de qualquer forma isso jamais abalará a mística e a tradição de Rookgaard, que faz parte da própria História do Reino Thaiano.

 

—_Rookgaard é eterna. Complementa Hykrion. —_O verdadeiro berço dos guerreiros lendários... dos heróis. Não devemos nos preocupar em relação a esse novo instituto dos Aventureiros, Capitão... veja que neste semestre estamos recebendo 68 novos alunos...

 

Neste momento um veto frio e cortante começa a soprar sobre o Cais, vindo do oceano. Começa a nevar com mais intensidade e Addae se encolhe mais ainda atrás da pilha de caixotes.

 

—_Bem, Tenente. Diz Vascalir. —_O Alto-Comando nos convocou, aqui estamos. Provavelmente nos falará a respeito dessas “novidades”, às quais você se referiu. Conduza-nos ao Palácio...

 

—_Claro, Senhor. Responde Leroy. Em seguida dá instruções aos dois soldados que o acompanham, no sentido de levarem as bagagens dos mestres de Rookgaard. O grupo então vai caminhando para a extremidade norte do Cais.

 

Addae finalmente sente-se aliviado, por poder relaxar e sair de trás da pilha de caixotes.

 

—_Desculpe, garoto, mas precisamos levar estes caixotes para o navio. Um estivador, acompanhado de outros dois, pede a Addae que se afaste da pilha, para que possam colocar a carga no Calamar.

 

—_C-claro, senhor... desculpe-me. Responde um surpreso Addae, que não notara a aproximação dos estivadores, uma vez que ainda acompanhava, com o olhar, o grupo de seis homens se encaminhar para a saída norte do Cais.

 

Addae observa mais um pouco, ao longe, os alunos de Dawnport embarcarem na extremidade sul do Cais.

 

Em seguida se dirige à parte norte, onde ocorre o embarque de passageiros, Augustus incluído, no navio do Capitão Fearless.

 

—_Última chamada para embarque!!! Última chamada para embarque!!!  Passageiros para Venore!!! O Albatroz vai zarpar!!!

 

Addae ouve o chamado em voz alta de um dos marinheiros do Capitão Fearless, postado na sacada do convés, à medida que se aproxima de onde estão Hanna e Augustus.

 

Alguns passageiros que ainda se encontram no Cais, se despedem de familiares e amigos. Vão atravessando a passarela de madeira, enquanto um marinheiro vai conferindo os bilhetes de passagem.

 

Augustus e Hanna permanecem no Cais segurando as mãos um do outro.

 

Hanna, ao ver Addae se aproximando, diz: —_Addae, onde se meteu? Augustus já vai embarcar.

 

—_Estava vendo a chegada daquele navio ali. Diz Addae, apontando para o Calamar.

 

Augustus segura as mãos de Hanna entre suas próprias mãos, e as leva até seus lábios. Beija-as e diz: —_Até breve... meu anjo...o mais tardar dentro de um mês estarei de volta a Thais. E na próxima viagem a Venore, você irá comigo. Quero que conheça minha família. E quero que minha família a conheça. Trarei alguém da matriz para ficar cuidando da joalheria, durante nossa estadia em Venore...

 

—_Que os Valar o protejam na viagem, meu amor. Estarei esperando... Diz Hanna.

 

Augustus se volta para Addae. —_Até um dia, Addae, meu amigo. Sinto muitíssimo não estar por aqui quando de sua partida para Rookgaard. Meus pensamentos e preces estarão sempre com você e com seus amigos. Quando o vir novamente, já será praticamente um adulto, e um bravo guerreiro, tenho certeza. Sempre que consultar as horas em seu relógio, lembre-se de mim, hehehe.

 

—_Claro que lembrarei, Senhor Augustus. O Cadi e a Genevieve também lembrarão. Muito obrigado pelos presentes. Responde Addae, enquanto aperta a mão de Augustus.

 

Augustus mais uma vez beija as mãos de Hanna e se dirige à passarela de embarque. Após embarcar, se posta na sacada do convés, e passa a acenar para Hanna e seu irmão.

 

Hanna e Addae acenam de volta.

 

Os estivadores desamarram os cabos e os atiram para a tripulação do Albatroz. Outros trabalhadores empurram o navio utilizando grandes varas. Os marinheiros soltam o velame e a embarcação vai se afastando suavemente do Cais.

 

Os passageiros acenam se despedindo de seus parentes e amigos no Porto. Augustus continua acenando para Hanna e Addae, até que o Albatroz alcance uma distância considerável em relação ao Porto.

 

—_Ai... vamos Addae. Diz Hanna. —_Espero que ele chegue a salvo em Venore...

 

—_Tranquilo... ele está em boas mãos... nas mãos do Capitão Fearless e sua tripulação. Responde Addae, tentando tranqüilizar sua irmã. —_Papai pediu para eu te levar até a joalheria. Depois vou para loja.

 

Addae e Hanna se dirigem à escada norte do Cais, descem ao nível da rua e vão seguindo pela Main Street. Quando cruzam a esquina com a Temple Street, Addae olha na direção da Royal Avenue, e as lembranças e imagens do dia anterior retornam a sua mente, principalmente a cerimônia no Palácio.

 

E no Palácio Real, naquele instante, em um salão contíguo ao Salão do Trono, a forte batida de mão sobre uma enorme mesa, situada no meio do salão, ecoa no recinto: Tum!!!

 

—_Céus, mulher!!! Não consegue compreender???  Para que haja mais eficiência nos combates e deslocamentos se faz necessário que as tropas humanas estejam submetidas, todas elas, a um comando único!!!

 

Um pouco afastados da mesa, sentados em cadeiras ao redor e observando as negociações, juntamente com os demais membros do Conselho Real de Magos e Druidas, Eclesius e Trimegis demonstram certo nervosismo e ansiedade em relação aos termos e ao tom de voz utilizados pelo Rei, ao dirigir-se a Eloise. Eclesius, inconformado com os modos de seu Rei, faz menção a intervir na discussão, mas Trimegis, temeroso por seu velho mestre, lhe segura o braço e diz, sussurrando: —_Por favor, Mestre Eclesius, não faça isso... não enerve o Rei mais ainda... a situação já está muito difícil...

 

Eloise, sentada no lado da mesa diametralmente oposto ao de Tibianus, levanta-se, coloca as palmas das mãos contra a superfície da mesa e, encarando firmemente o Monarca de Thais, diz, incisiva: —_Preste bastante atenção, Tibianus, pois eu só vou falar mais uma vez... nunca... jamais... em hipótese alguma, minhas guerreiras ficarão subordinadas ou submetidas ao Alto-Comando Thaiano. O que estamos tentando construir e firmar aqui, juntamente com os soberanos de Ab’Dendriel e de Kazordoon, é um acordo entre iguais. Não cabe aqui se falar a respeito de qualquer tipo de subordinação, mas sim em coordenação... ajuda mútua...

 

O clima no salão fica pesado, tenso, olhares nervosos e ansiosos são trocados entre os soberanos. Como também entre as delegações que os acompanham e assessoram.

 

Então Eroth, o patriarca elfo da casta dos Cenath, posicionado, junto com os outros dois patriarcas, Faluae e Elathriel, no lado esquerdo da mesa, sob o ponto de vista de Tibianus, levanta-se e diz, pausadamente e em um tom que denota serenidade, ao Soberano de Thais: —_Majestade, se me permite... veja, nós em Ab’Dendriel temos tentado, ao longo dos últimos anos, restabelecer relações com o reino élfico de Shadowthorn. Temos conseguido alguns pequenos avanços. Gostaríamos de trazer Shadowthorn, futuramente, para este tratado, que estamos tentando firmar aqui. Mas se sugeríssemos, se apenas sugeríssemos ao Rei Dharalion, que seus guerreiros ficassem subordinados aos chefes militares de Ab’Dendriel, poríamos tudo a perder. Sugerir a um soberano que suas forças fiquem subordinadas a um governo estrangeiro soaria quase como uma ofensa...

 

Ato contínuo, o Imperador Kruzak, sentado no lado direito da mesa, em relação a Tibianus, complementa: —_Nos também, em Kazordoon, temos empreendido negociações com o ancestral reino dwarfico de Beregar  e também com o Reino de  Farmine. Há boas perspectivas no sentido do Imperador Rehal e do Rei Ongulf se interessarem, futuramente, em participar de um tratado como este que estamos negociando.  Mas seria impensável sugerir a eles que se subordinassem, militarmente, ao Império de Kazordoon...

 

Tibianus, se vendo acuado na conversação, bufa um pouco e, coçando sua espessa barba, diz: —_Hum... senhores, vamos interromper por algumas horas estas negociações, para melhor refletirmos a respeito do melhor caminho a seguir, em relação a este tratado. Sugiro, se não se opõem, que reiniciemos as conversações após o almoço...

 

Os demais soberanos apenas se entreolham, mas não respondem a Tibianus a respeito da sugestão.

 

Tibianus, no entanto, não espera resposta alguma, apenas se levanta, e se dirige a uma porta no fundo do salão, guarnecida por dois oficiais da Guarda Dourada.

 

O General Bloodblade e o Coronel Leônidas pedem licença aos demais soberanos, um pouco constrangidos, e seguem o Rei.

 

Eclesius repentinamente se levanta e vai em direção à porta por onde Tibianus acabara de passar. Trimegis, vendo isso, também se levanta e, com uma expressão de preocupação, segue Eclesius.

 

No salão ao lado daquele que é utilizado para as negociações, Tibianus, com uma expressão tensa, senta-se em uma réplica menor de seu trono, o trono principal, que fica no Salão do Trono. —_Mas que mulher teimosa... e Kruzak e os Patriarcas a estão apoiando... Resmunga para si mesmo.

 

Bloodblade, juntamente com Leônidas, se aproxima do trono e diz: —_Calma, Majestade, temos tempo, podemos negociar esta questão de um comando único com calma... podemos tentar conversar com Kruzak e com os Patriarcas em separado, tentar trazê-los para o nosso lado...

 

Neste instante, Eclesius, seguido por um nervoso Trimegis, irrompe no salão, fazendo com que os dois oficiais da Guarda Dourada que guarnecem a porta pelo lado de dentro do recinto, se surpreendam.

 

—_O que está tentando fazer Tibianus????  Um momento histórico e único como este, com todos os soberanos reunidos! Nunca estivemos tão perto de conseguir um tratado e você quer por tudo a perder??? Acha mesmo que Eloise aceitaria uma cláusula exorbitante como a que você quer enfiar goela abaixo dela??? Como pode imaginar que ela submeteria suas amazonas ao Alto-Comando Thaiano???

 

Todos arregalam os olhos com a ousadia de Eclesius, até mesmo os guardas dourados, os dois na porta e os outros dois que ladeiam o trono.

 

—_C-como é que é??? Balbucia, incrédulo, o Soberano de Thais. —_A quem acha que está se dirigindo nesses termos, velho?

 

Trimegis, pálido e tremendo, toca o braço de seu velho mestre, tentando dissuadi-lo da tentativa ousada de interpelar o Rei. —_M-mestre Eclesius, por favor...

 

Mas Eclesius não recua. —_Escute, Tibianus. Ferumbras se levantará novamente. Aquele servo perverso do senhor das trevas, Zathroth, voltará muito mais forte do que estava, na última vez em que o derrotamos. E se os quatro principais reinos deste continente não estiverem unidos e lutando lado a lado, todos perecerão. Nem mesmo você, seu trono, seus descendentes, seu exército e o Reino de Thais sobreviverão. Se não abrir mão dessa sua ambição tola, de submeter Carlin novamente ao Reino Thaiano, nem mesmo os favores de Fardos e de Uman poderão ajudá-lo nos dias que estão por vir.

 

Tibianus fuzila Eclesius com o olhar e diz, em um tom muito irritado: —_Escute... velho...meu pai o tinha em muito boa conta. Você era seu principal conselheiro. Foi um de meus tutores na infância e na juventude. Talvez só por isso eu não mande enforcá-lo em praça pública ou exilá-lo para sempre de minhas terras, por se dirigir ao Rei nesses termos e nesse tom

 

—_Seu pai, Tibianus, o Rei Julius, era um homem muito mais sensato do que você. Rebate Eclesius. —_Ele há muito abandonara a idéia tola de submeter novamente Carlin. Tinha um sincero desejo de negociar tratados militares e comerciais com Carlin e com os demais reinos seguidores dos Valar benevolentes. Por circunstâncias diversas não pôde concretizar esse sonho. Mas o destino e os Valar colocaram em suas mãos, Tibianus, a oportunidade de unir novamente os inimigos de Zathroth, para que este mundo possa ainda ter um fio de esperança, diante do iminente ataque das forças das trevas. Mas você parece querer jogar tudo por terra, por causa de uma ambição menor e mesquinha. Se quer saber, mande mesmo me enforcar, ou mesmo me exilar, tenho certeza que neste caso, o Imperador Kruzak me receberia de braços abertos em sua corte. Ao menos eu não teria que testemunhar a queda do Reino onde nasci e onde estão enterrados meus antepassados...

 

Após dizer isso, Eclesius dá as costas ao Rei e se dirige novamente ao salão onde ainda se encontram os demais soberanos.

 

—_E-estão vendo isso??? Tibianus, perplexo, indaga aos oficiais presentes e a Trimegis. —_O que faço com este velho insolente? Ele me dá as costas e sai da minha presença sem ao menos fazer uma reverência... e depois de me dizer todas aquelas coisas...

 

Trimegis, ainda trêmulo por presenciar tal cena, tenta, de alguma forma, interceder por Eclesius. —_Majestade, por obséquio, perdoe meu velho mestre e também seu antigo tutor... é a idade, ele acaba perdendo os freios com o tempo. E-eu vou conversar com ele para que seja mais sensato e mais... comedido. Com sua licença. Trimegis, ansioso por sair da presença e da vista do irritado Tibianus, faz uma reverência respeitosa e vai atrás de Eclesius, no outro salão.

 

Bloodblade e Leônidas permanecem junto ao Rei, tentando acalmá-lo.

 

No salão ao lado, os membros do Conselho Real de Magos e Druidas tentam conversar com os soberanos estrangeiros e seus principais acompanhantes, na intenção de desanuviar o ambiente, após a saída repentina de Tibianus.

 

Um fato inusitado aconteceu, em decorrência do apoio que o Imperador Kruzak deu às ponderações de Eroth. Normalmente distantes e cautelosos mutuamente, elfos e anões agora conversavam de maneira amistosa.

 

Eclesius, ao retornar ao salão das negociações, avista o mago geomancer Etzil e dele se aproxima. —_Meu bom amigo Etzil. Peço desculpas pelo comportamento de meu Rei. Sinto-me envergonhado...

 

—_Eclesius, velho e querido amigo... não se sinta culpado pelo que aconteceu. Pondera Etzil. —_Negociações de acordos e tratados são assim mesmo. Com o tempo posições e reivindicações díspares convergem para um ponto comum. E a rabugice de Tibianus é conhecida até mesmo nas demais cortes, hihihi...

 

Neste instante, Trimegis se aproxima dos dois e diz a Eclesius. —_Mestre Eclesius, por favor, não se dirija mais ao Rei naqueles termos. Temo que ele perca definitivamente a paciência e acabe por puni-lo.

 

—_Humpft. Reage Eclesius. —_Pois eu acho que ainda peguei leve com ele. Deveria ter-lhe dito mais algumas verdades.

 

—_Ihihih. Ri Etzil. —_Sabem, eu e o Imperador também protagonizamos, vez por outra, alguns arranca-rabos. Também, eu sou um dos poucos naquela corte que tem coragem de dizer a Kruzak algumas verdades, hihihi.

 

Eclesius ri e Trimegis fica um pouco mais relaxado, ao ouvir as palavras de Etzil.

 

Eloise, um pouco cansada devido ao entrevero com Tibianus, faz menção a se retirar para seus aposentos, como visitante no Palácio, mas um oficial da Guarda Thaiana, inesperadamente, se dirige a ela, de maneira muito respeitosa.

 

—_Majestade, se me permite a ousadia, sei que as negociações com o Rei se mostram difíceis, neste momento. Mas suplico a Vossa Majestade que não desanime. Tenho plena convicção que chegaremos a um denominador comum, do interesse de todos. É preciso apenas um pouco de paciência... sei que nossos reinos e nossos povos almejam este Tratado tão esperado.

 

Eloise, inicialmente surpresa com a atitude do oficial, exibe em seguida uma expressão mais suave, simpática até, contrastando com o semblante pouco amistoso das duas amazonas que a escoltam naquele momento, talvez inconformadas com o que considerariam uma impertinência por parte de um oficial thaiano, ao se dirigir à sua rainha.

 

Eloise então, diz: —_ Oficial...  Eloise tenta distinguir nas vestes do oficial alguma insígnia ou símbolo que indicasse sua patente.

 

—_Capitão Timotius Bellator, Majestade. Ao seu dispor e a seu serviço durante sua estadia em Thais.

 

Eloise gosta da atitude educada e respeitosa de Tim. Passa a exibir um sorriso amistoso, e um olhar quase sedutor.

 

É uma mulher tão bonita que Tim tem que se esforçar para manter uma expressão serena e reverente e não se desestabilizar.

 

Eloise prossegue. —_Capitão Timotius... folgo em saber que há em Thais corações e mentes sensatas. De fato, nossos povos aguardam ansiosamente a assinatura de um tratado que promova a boa convivência e a segurança de nossos reinos. Eu não pretendo desistir tão facilmente. Mas seria de bom tom que alguém, nesta corte, abrisse um pouco os olhos e a mente de seu Rei, para que ele enxergasse que, caso insista em manter uma posição tão inflexível e radical, pode desperdiçar uma oportunidade extraordinária, para todos nós, e terminar isolado nestas negociações. Pois, como pode observar, o Imperador Kruzak e os Patriarcas Elfos também não estão vendo com bons olhos determinadas reivindicações por parte de seu amado... Soberano.

 

Há um pouco de sarcasmo nas palavras de Eloise, mas Tim releva isso e apenas diz: —_Mantenhamos a esperança, Majestade. Estou certo que dentro de poucos dias Vossa Majestade, meu Rei, e os demais soberanos chegarão a um acordo benéfico para todos.

 

—_Sua esperança também é a minha, Capitão. Responde a Rainha. E em um tom de voz mais baixo e aveludado, fitando os olhos de Tim, Eloise complementa. —_Espero que tenhamos a oportunidade de conversar novamente, por esses dias, Capitão... Timotius. Com sua licença...

 

—_Seria uma honra e um privilégio, Majestade. Responde Tim, mantendo a atitude respeitosa e reverente.

 

Eloise se dirige, acompanhada de suas duas sisudas, porém belas, amazonas, para a saída do salão.

 

O Major Templetom se aproxima de Tim e diz: —_Caramba, Tim, fiquei preocupado com a reação que Eloise poderia ter, diante da sua interpelação. Mas parece que ela simpatizou com você. Que mulher envolvente e insinuante. O Velho Tibianus vai ter que cortar um dobrado para chegar a um acordo com ela.

 

—_Bota envolvente nisso, Senhor. Em dado instante pensei que me arrependeria por ter me dirigido à Rainha. Aquelas duas guerreiras que a escoltam me olhavam com uma expressão de poucos amigos. Mas eu não queria que ela saísse hoje daqui desanimada e chateada com a atitude do Rei. Responde Tim.

 

—_Sua intenção foi boa, Capitão. E o desfecho, favorável. Venha, vamos conversar um pouco com Sua Majestade no salão ao lado e tentar, como lhe sugeriu Eloise, abrir um pouco os olhos e a mente do Rei, hehe. Diz Templetom, prosseguindo. —_Soube que seu filho vai para Rookgaard este semestre...

 

Enquanto os sábios thaianos ainda conversam com os soberanos e sábios elfos e anões, em um clima mais relaxado e calmo, Tim e o Major Templetom se dirigem, conversando, para o salão ao lado, para ver e dialogar com seu teimoso Rei, na esperança de que as negociações passem a caminhar num tom mais amistoso e promissor.


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