O Mal se levanta novamente escrita por O Patriarca do Santuário


Capítulo 8
Um tratado histórico - quinta parte.


Notas iniciais do capítulo

Com esta quinta e última parte, conclui-se o arco. Até o próximo capítulo.



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O pavimento, nas cercanias do cais, está tomado de pessoas. Os cavaleiros e os aspirantes tentam se aproximar da Harbour Street, se esgueirando no meio da multidão, através de um beco em frente ao Depot. O povo se acotovela nas extremidades da rua, contido pelos cordões de isolamento de soldados.

A excitação aumenta quando o Capitão Tim reaparece montado em seu cavalo. Logo após ele, a cerca de uns trinta metros, a escolta de soldados que vai a frente da carruagem também aparece. Mas desta vez, ao lado de cada uma das duas fileiras de 5 soldados thaianos, na parte interna da escolta, mais para o meio da rua, vão duas fileiras de amazonas carlinesas. Isso causa um verdadeiro “frisson” na multidão. As guerreiras de Carlin, praticamente todas muito bonitas, trajando graciosas armaduras que perfeitamente se amoldam a seus corpos atléticos, exibem parte de suas torneadas pernas. As guerreiras apresentam algumas tatuagens nos rostos, braços e pernas. Apesar da estética bélica, as amazonas não perdem a sua feminilidade. Usam enfeites para prenderem seus longo cabelos.

Addae, Cadi, Genevieve e os demais ouvem os súditos e cidadãos de Thais dirigirem alguns gracejos às amazonas:—_Fiu...fiu. Assoviam alguns.—_Vem guerrear lá em casa. Diz um outro engraçadinho. Uma jovem que acompanha um rapaz, seu esposo ou namorado, lhe dá um tapa após seu companheiro dirigir algumas piadas picantes às guerreiras de Thais. Addae e Cadi riem da cena. Um cidadão faz um comentário soturno:—_Poderiam aproveitar que Eloise teve coragem para vir a Thais, e jogá-la nas masmorras. Isso facilitaria a retomada de Carlin. Addae e Cadi se entreolham espantados, após ouvirem o cometário.

Após a escolta anterior, de soldados e amazonas, passar, surge a carruagem. Tem as cortinas fechadas, de modo que o povo não consegue ver quem está no interior do veículo. Mas todos consideram que Eloise está ali. Em seguida, a escolta posterior passa, também composta por duas fileiras de cinco soldados thaianos cada uma, e duas fileiras, mais para dentro da rua, composta por cinco amazonas carlinesas cada uma. Por fim, o General Bloodblade e o Capitão Chester Kahs em seus imponentes cavalos, fecham o cortejo.

O Capitão Tim dá um rápido galope, indo do início ao fim do cortejo. Coloca o seu cavalo ao lado dos cavalos do General Bloodbade e do Capitão Kahs, conversa com eles por alguns segundos e então desce a Harbour, instruindo os soldados que compõem os cordões de isolamento a sairem de formação, para liberarem a rua no trecho por onde o cortejo já passou.

Aos poucos a população vai retomando a Harbour.

Genevieve pergunta a Addae e a Cadi:—_E então? Vamos seguir para perto do Palácio, para também vermos a chegada dos elfos e dos anões?

—_Vamos tentar, Gê. Responde Addae.—_Se eles demorarem muito a entrar em Thais, aí complica...prometemos te devolver a teu pai na hora do almoço...e está quase na hora...Diz Addae consultando seu novo relógio.

Quando o cordão de isolamento dos soldados é desfeito, na altura do Depot, Arturos, René, Elane, Andrej e Marcus finalmente atravessam, junto com seus respectivos pupilos.

Addae e Cadi gritam e acenam para os cavaleiros, no meio do tumulto, quando a multidão invade a rua:—_Vamos para o Palácio tentar ver os elfos e os anões chegarem!!! Grita Addae.

Arturos faz um gesto com o polegar, como a dizer que entendera. Ele e os demais cavaleiros, como também alguns dos aspirantes, principalmente Jared, Mirna e Victor, acenam se despedindo dos três amigos, e desaparecem no meio da multidão, no outro lado da Harbour.

O cortejo de Eloise ganha a Main Street e se aproxima rápido da esquina com a Temple Street. O povo vai seguindo atrás a medida que os soldados vão desfazendo os cordões de isolamento.

—_Vamos tentar passar por aquele beco que a gente usou antes, para se aproximar do Pequeno Templo. A gente vai sair perto da entrada do Palácio. Diz Addae, enquanto o trio entra na Main Street.

Com a aproximação do cortejo de Eloise, do Palácio, o povo vai subindo para o norte da cidade, se juntando à multidão que já estava aglomerada perto do complexo Real, esperando os elfos e anões, junto à ponte que conduz à ilha que fica na parte noroeste de Thais.

O trio de jovens mais uma vez tenta se esgueirar através do beco que ladeia o Pequeno Templo. Desta vez o beco está ainda mais cheio do que quando da visita ao Pequeno Templo. Addae vai na frente abrindo caminho. Genevieve segura em seus ombros enquanto Cadi segue um pouco mais atrás. Com muita dificuldade os três jovens finalmente alcançam a Royal Avenue.

As cercanias do Palácio estão apinhadas de gente. Genevieve, baixinha, não consegue ver a rua por sobre a multidão e também por sobre o cordão de isolmento dos soldados. Addae a faz subir na borda de uma fonte localizada na frente do Pequeno Templo. E a segura pela cintura para que não escorregue para dentro da água.

Nisso, um grande burburinho se faz ouvir e o cortejo de Eloise surge na esquina da Temple Street com a Royal Avenue e se aproxima do Palácio Real. O destacamento de soldados que monta guarda na extremidade da ponte que conduz à ilha, onde se localiza o complexo de prédios e castelos que formam o chamado Palácio Real, abrem espaço para o cortejo passar. Em sequência, as escoltas anteriores de soldados e amazonas, a carruagem, as escoltas posteriores, o General Blooblade e os capitães Tim e Kahs, montados em seus belos cavalos, atravessam a ponte e em seguida o grande portão que dá para o grande pátio externo frontal do Palácio.

O povo na rua tenta ver através do portão mas não consegue observar muita coisa.

—_Que pena que não deu para ver a Eloise. Lamenta Genevieve.—_Mas foi legal ver aquelas amazonas. Nunca tinha visto uma guerreira de Carlin, antes. São bonitas. Achava que seriam assim um pouco brutas.

—_É. Em Rook você também vai se transformar em uma espécie de guerreira, Gê. Diz Cadi, brincando com a jovem de Greenshore.

Neste instante um novo burburinho toma conta da multidão, vindo da esquina da Royal Avenue com a Temple Street.

—_Ih...acho que os anôes estão chegando. Diz Cadi.

—_Oba...quero vê-los e bem. Diz Genevieve esticando os pés, sobre a borda da fonte.

Da esquina, surge um grupo de quatro militares thaianos a cavalo. Dobram a esquina da Royal Avenue vidos do Portão Norte. O grupo é composto por um tenente e três soldados. Logo após eles, aparecem duas fileiras de enormes javalis montados por guerreiros corpulentos, atarracados, com grossos bigodes e espessas barbas. Trajam armaduras adaptadas a seu corpo e tem pendurados nas costas escudos, machados e enormes martelos de batalha. Tem uma expessão carrancuda e sequer olham para os lados, para a multidão. As duas impressionantes fileiras paralelas de javalis contam com dez animais cada uma. Para espanto do povo, logo após a “cavalaria” de javalis, surgem duas fileiras paralelas de sete ursos-panda cada , também montados por assustadores e muito sérios anões com pesadas vestimentas de guerra. Em seguida, aparece uma carruagem blindada, comprida e pesada, com pequenas janelas e puxada por três parelhas de búfalos. De pé, em cima da carruagem, e em degraus nos lados e na parte traseira, contam-se cerca de oito guerreiros anões. A população entende que ali está o Imperador Kruzak. Após a carruagem, mais duas fileiras com sete ursos-panda cada, seguidas por mais mais duas fileiras de javalis com dez animais cada. Todos os animais montados por guerreiros anões muito bem equipados e compenetrados. Fechando o impressioante cortejo, tres cavaleiros thaianos.

O povo thaiano presente na Royal Avenue, ensaia alguns gracejos a respeito dos anões, sobre seu aspecto peculiar, mas acaba se rendendo à assustadora e ao mesmo tempo imponente figura dos guerreiros de Kazordoon.

—_Cara. Esses anões dão medo. Diz Cadi a Addae.

—_E são excelentes ferreiros. Seus equipamentos são de alta qualidade. Não é prudente se deixar levar pelo fato de não serem altos. Eles são bem fortes e guerreiros tenazes. Responde Addae.

—_Como são carrancudos. Diz Genevieve.—_Espero que os elfos estejam perto. Dizem que são lindos, mesmo com aquelas orelhas pontudas.

O cortejo de Kazordoon atravessa a ponte para o palácio e passa pelo pesado portão, alcançando o pátio interno, levantando e deixando uma nuvem de poeira na Royal Avenue.

—_O informante do Mestre Arturos disse que a delegação dos elfos vinha próxima da de Kazoordon, embora mantivesse uma certa distância para que os dois grupos não se encontrassem. Diz Cadi.—_Então os elfos devem estar estourando por aí.

O povo percebe que o destacamento de soldados que guarda a ponte para o Palácio abre novamente um espaço como que aguardando a passagem de algum grupo ou cortejo. Logo em seguida o grupo de militares thaianos montados a cavalo, que viera escoltando os anões até Thais, deixa o Palacio e cavalga em grande velocidade pela Royal Avenue em direção à esquina com a Temple Street. Dobram então para o Portão Norte.

—_Eles devem estar indo recepcionar a delegação de Ab'Dendriel, e escoltá-los para dentro da cidade. Diz Addae. —_O elfos devem estar perto.

—_Oba. Assim este dia maravilhoso vai ficar completo. Vou poder ver os elfos. Diz, entusiasmada, Genevieve.

Com efeito, alguns minutos após a saída dos cavaleiros thaianos pelo Portão Norte, o povo próximo passa por uma espécie de excitação. Quatro dos militares montados de Thais retornam. E segundos depois, belíssimos cavalos brancos, divididos em duas fileiras paralelas de dez cavalos cada uma, cavalgados por elfos, entram pela Royal Avenue. Os cavaleiros elfos trajam calças e camisas verdes com belas estampas e desenhos de formas estilizadas. Tem seus louros cabelos presos por rabos de cavalos e trazem pendurados ao corpo arcos e recipientes para flechas. Logo em seguida, duas fileiras paralelas de seis grandes e belíssimos cervos brancos cada uma, os cervos com suas magníficas galhadas, cavalgados por elfos que trajam vestimentas de cor vermelha. Em seguida, uma bela e comprida carruagem de madeira, de tres eixos, talhada e pintada externamente com motivos florais e formas geométricas curvas, evocando a flora e a fauna das florestas, guiada por dois condutores elfos e puxada por tres parelhas de cervos brancos. Nas duas laterais da carruagem, posicionados um mais perto da parte anterior do veículo, outro mais para a parte posterior, dois degraus ou pequenas plataformas encimadas por altivos e imponentes lanceiros elfos. Seguindo a carruagem, de manera simétrica em relação à parte anterior do cortejo, seguem duas fileiras paralelas de seis grandes cervos brancos cada uma, conduzidas por cavaleios elfos em trajes vermelhos. Depois, duas fileiras de dez cavalos brancos cada uma, controlados por cavaleiros elfos em trajes de cor verde. Finalmente, fechando o cortejo, os tres cavaleiros thaianos restantes.

A multidão que se aglomera atrás dos cordões de isolamento na Royal Avenue quase vai ao delírio com a passagem da bela delegação de Ab'Dendriel.

—_Nossa...que espetáculo! Exclama Genevieve.—_Como os elfos são lindos! Tudo está perfeito nessa delegação deles. Os cavalos, os cervos brancos. Parece um sonho!

—_Também não é assim, Gê. Rebate Cadi, com uma ponta de despeito.—_Esses elfos tem uma aparência assim meio andrógina, meio efeminada...sei lá...e essas orelhas pontudas deles...

—_Ah, fala sério Cadi. Eles são lindos....Insiste Geneveve.

Addae ri do diálogo:—_Como só tem elfo, a Gê que pode avaliar melhor. Se tivesse alguma elfa...

—_A carruagem dos anões e também esta dos elfos são bem grandes. Diz Cadi.—_Além do Kruzak, com certeza havia mais anões ali dentro....sei lá...altos funcionários de Kazordoon... e nesta carruagem dos elfos deve ter mais gente ali dentro junto dos patriarcas das castas, como o Mestre Arturos se referiu a eles...vai que tem alguma anã ou alguma elfa nas delegações....mas como as cortinas das janelas estavam fechadas...não deu pra ver... agora, com a Eloise veio mulher pra caramba...cada amazonona ali....

—_Humpft. Reage Genevieve à última afirmação de Cadi.

Addae ri novamente.

Assim que a delegação élfica e os cavaleiros thaianos que a escoltam atravessam a ponte para o Palácio Real, os cordões de isolamento de soldados que contém a população nos dois lados da Royal Avenue saem de formação e vão se movendo também para o Palácio. Após o último soldado que compunha um dos cordões de isolamento atravessar a ponte, uma guarnição fortemente armada se póe em posição de guarda na extremidade da mesma ponte, impedindo a passagem para a ilha onde se localiza o Palácio Real. O povo então toma a Royal Avenue e se aglomera em frente à guarnição, tentando ver alguma coisa através do grande portão que conduz ao pátio frontal do Palácio.

—_Caramba. Diz Cadi.—_Não dá pra ver nada. Tem muito soldado na ponte e no portão. Gostaria de ver o Kruzak e os patriarcas elfos...mas tá difícil...

—_Sinto inveja da galera de Rook que está hospedada aí no Palácio. Diz Addae.—_Provavelmente vão poder ver as amazonas, os anões e os elfos. Vão ficar hospedados no Palácio durante as negociações para o tratado...

—_Ah, nem fala....Responde Genevieve.—_Eu que não sou de Thais poderia ter ficado no Palácio, mas meu pai quis que ficássemos hospedados naquela estalagem...mas foi bom que assim eu conheci o Tatius.

Nisso, os tres jovens percebem, um pouco mais para trás da posição onde se encontram, no sentido da esquina com a Temple Street, um certo tumulto. Podem ver, sobre a multidão, lanças altas na posição vertical, indicando que soldados estavam escoltando alguém e se aproximando da ponte, vindo na direção dos tres amigos. A medida que as lanças se aproximam, um nervoso empurra-empurra vai tomando conta da multidão mais próxima a Addae e a seus dois amigos.

—_Abram caminho!!!! Abram caminho!!!! Grita uma voz potente no meio da turba. Pelo número de lanças vê-se que cerca de uma dúzia de soldados formam a escolta. Quando os militares, abrindo caminho no meio da multidão, tentando alcançar o Palácio, finalmente chegam perto dos tres jovens, eles percebem, no meio da escolta, dois homens, idosos, com longas barnas e cabelos, usando túnicas compridas, presas na altura da cintura. O homem que aparenta ter menos idade, usa uma túnica de cor roxa com cinto e complementos vermelhos. O outro, bem mais idoso, usa também uma túnica de coloração roxa, porém o cinto e os adereços tem um tom acinzentado. Tem um chapéu negro pontiagudo e traz na mão esquerda uma espécie de cajado ou vara comprida, com uma bola de cor azulada na extremidade.

—_Quem são esses caras? Addae pergunta a Cadi.

—_O sem chapéu eu sei quem é...é o Trimegis. Responde Cadi.—_O velhote de chapéu não conheço....é um mago ou um druida....

De dentro do círculo formado pelos soldados, que tentam a todo custo abrir caminho, empurrando a mutidão, o olhar de Trimegis encontra Genevieve.

—_Genevieve! Trimegis grita.

—_Mestre Trimegis! Responde a camponesa.

Trimegis estende a mão para fora da escolta, tentando alcançar Genevieve: —_Entre aqui dentro da escolta, Genevieve!

Addae e Cadi se espantam com o gesto do Mago Supremo do Rei.

O soldado mais próximo a Genevieve, a pedido de Trimegis, a puxa para dentro do círculo formado pelos militares.

—_Genevieve. Diz Trimegis.—_O que está fazendo aqui fora??? Você deveria estar hospedada no Palácio!

—_É que meu pai quis que ficássemos hospedados em uma estalagem, Mestre Trimegis. Responde a jovem.

—_Aff...para quê ele está gastando dinheiro com a sua hospedagem, Genevieve??? Eu disse a ele que você poderia ficar no Palácio, por não ser de Thais. Diz Trimegis. Então o mago se dirige ao homem mais idoso que o acompanha na escolta:—_Veja Mestre Eclesius. Esta é a jovem a respeito de quem eu lhe falei há pouco. Genevieve de Greenshore.

O homem mais idoso se inclina sobre Genevieve para observá-la bem. Em seguida aproxima seu cajado da jovem, movendo-o em torno da silueta da camponesa. Subitamente, a bola de cor azulada na extremidade do cajado começa a emitir uma luz intermitente.

—_Hummmm...Resmunga Eclesius, enquanto coça sua espessa barba.—_Notável, realmente notável.

—_Eu não disse, Mestre Eclesius? Temos uma matéria-prima de qualidade aqui! Responde Trimegis.

—_De fato...aham. Pigarreia Eclesius.—_Hyacinth com certeza gostaria de esculpir uma jóia dessa pedra bruta e promissora.

—_Mestre Hyacinth se aposentou, Mestre Eclesius. Eu já lhe disse. Rebate Trimegis. __Já não faz mais parte do corpo de professores da Academia. Vive agora como um ermitão em cima de um monte rochoso, no meio da floresta em Rookgaard.

—_Hummm...aquele garoto sempre foi um pouco antissocial. Apesar de ser um druida brilhante. Resmunga Eclesius.

—_Garoto??? Mestre Eclesius...Mestre Hyacinth tem 150 anos! Responde Trimegis.

—_Então...um moleque. Eu é que já estou um pouco maduro, do alto de minhas 220 primaveras. Rebate Eclesius.

Genevieve se espanta com o diálogo e tenta não rir do que ouve.

—_Genevieve. Continua Trimegis.—_Venha conosco para o Palácio. Quero que você assista a recepção que o Rei dará aos dignitários estrangeiros. Depois você volta para a estalagem.

—_Ai Mestre Trimegis. Que demais! Vamos sim. Responde a jovem camponesa.

—_Humpft. Até que enfim esse Rei cabeça-dura entendeu que precisamos de aliados. Diz Eclesius.

Genvieve então interpela Trimegis:—_Mestre Trimegis...podemos levar dois colegas meus que irão para Rookgaard...para que eles vejam a recepção, tambem?

—_Colegas de Rookgaard??? Onde??? Onde estão eles??? Indaga Trimegis, olhando para a multidão.

—_Ali, Mestre Trimegis. Diz Genevieve, apontando para seus dois amigos, que se esforçam para manter a cabeça acima dos ombros dos demais súditos que os comprimem na multidão.

Trimegis fala para um dos guardas que compõe a escolta, o que está mais próximo do local onde se encontram Addae e cadi: —_Soldado, puxe aqueles dois fedelhos ali para dentro da escolta.

O soldado, corpulento, de grande estatura, estende o braço através das pessoas e agarra a gola da camisa de Addae. Em seguida o puxa para dentro do círculo formado pelos soldados.

Novamente, o soldado estende o braço. Desta vez para tentar alcançar Cadi. O amigo de Addae está quase submergindo dentro do mar de pessoas, mas o soldado consegue agarrar seu braço direito, junto ao ombro. O assustado adolescente é vigorosamente puxado para dentro da escolta.

Genevieve vibra ao ver seus dois amigos dentro do círculo de sodados: —_Addae! Cadi! Nós vamos ver a recepção que o Rei vai dar às amazonas, aos elfos e aos anões!

—_Sério? Surpreende-se Addae. __Vamos entrar no Palácio com tudo isso acontecendo lá?

—_Vocês dois são de Thais, não? Aliás, você não me é estranho, rapaz. Diz Trimegis, se dirigindo a Cadi.

—_Eu já estive no Palácio algumas vezes, Meste Trimegis. Responde Cadi.—_Sou filho do Capitão Tim.

—_O capitão Timotius...entendo. Diz Trimegis.—_Pelo que tenho ouvido dos oficiais, seu pai não permanecerá capitão por muito tempo...

—_Quem são estes dois moleques??? Pergunta Eclesius.

—_São dois amigos da nossa “pedra bruta e promissora” aqui. E vão para Rookgaard também. Responde Trimegis.

—_Vão para Rookgaard? Algum deles vai se especializar nas artes manais? Indaga Eclesius.

Genevieve responde por seus dois amigos:—_Não, Mestre Eclesius. Eles estudarão mais técnicas de combate físico.

—_Humpft...eu já desconfiava. Eles não tem mesmo uma expressão inteligente. Rebate Eclesius.

Addae e Cadi não sabem se protestam ou se riem do que o mago ancião acabara de dizer.

Eclesius então diz a Trimegis: —_Vamos entrar logo no Palácio ou essa multidão vai esmagar os soldados e nós depois deles.

—_Agora está com pressa, Mestre Eclesius? Gastei mais de uma hora para convecê-lo a vir comigo e com os soldados. O senhor é o decano do Conselho. Tem que estar presente às negociações com nossos futuros aliados. Quase tivemos que arrastá-lo. Diz Trimegis.

—_Humpft, Eu não tenho paciência com as teimosias desse Rei. O pai dele era sensato e razoável. Mas esse moleque que se senta no trono atualmente é um cabeça-dura incorrigível. Reclama Eclesius.

Addae, Cadi e mesmo Genevieve fazem força para não dar gargalhadas das coisas que Eclesius fala.

Trimegis diz para o militar que comanda a escolta, um sargento:—_Sargento, tire-nos daqui. Leve-nos para o Palácio.

—_Sim, Mestre Trimegis. Responde o comandante. Então o sargento assume a posição dianteira da escolta e grita para a multidão a frente: —_Abram caminho!!!! Abram caminho!!! Saiam da frente!!!

A escolta vai lentamente se aproximando da extremidade da ponte e da guarnição diante dela. A multidão aglomerada diante do Palácio torna o deslocamento muito difícil. Os soldados se esforçam para que os magos e os jovens no interior da escolta não sejam comprimidos pela turba curiosa.

Nisso, Addae escuta uma voz familiar feminina chamando-o, do lado esquerdo da rua, próxima ao acesso para a ponte:—_Addae!!! Addae!!!

Addae procura localizar a autora do chamado. Consegue então ver Hanna, e ao seu lado Augustus, acenando para ele.

Addae grita para Hanna, tentando vencer o barulho da multidão:—_Hanna!!! Diga ao papai e ao pai da Genevieve, na estalagem do senhor Frodo, que nós vamos ver a recepção que o Rei dará aos estrangeiros, no Palácio!!! Talvez nos atrasemos um pouco!!!

Hanna leva a mão ao ouvido e faz uma expressão como de quem estivesse com dificuldades para ouvir e compreender o que seu irmão lhe gritava.

De qualquer maneira, Addae se tranquiliza pelo fato de Hanna e Augustus o terem visto sendo escoltado para o Palácio, como também Cadi e Genevieve. Com certeza Sam, e também Tokel, principalmente Tokel, ficariam sabendo do motivo de um eventual atraso em relação à volta de Addae para a loja de seu pai e de Genevieve para a estalagem.

Finalmente a escolta alcança a guarnição da ponte. Os guardas dão passagem para os soldados que escoltam o pequeno grupo composto pelos dois magos e pelos tres jovens amigos.

Já na ponte, os magos e os jovens, como também os militares que compunham a escolta, se sentem aliviados por não estarem mais comprimidos pelo povo da rua.

—_Obrigado, sargento. Diz Trimegis.—_Sem a sua ajuda e dos soldados, não conseguiria trazer meu velho e teimoso mestre, aqui. Trimegis toca o ombro de Eclesius.

—_Humpft! Por pouco não mandei você e esses soldadinhos aí para alguma dimensão desconhecida. Pensei até mesmo em transformá-los em sapos cheios de verrugas. Resmunga Eclesius.

Todos riem das rabugices do mago ancião.

—_Não há de quê, Mestre Trimegis. Responde o sargento.—_Foi uma honra poder ajudá-lo. Foi uma honra também poder escoltar Mestre Eclesius.

O grupo transpõe o enorme portão princpal do Palácio, onde outra grande guarnição de soltados monta guarda.

Já no grande pátio interno frontal, Addae, Cadi e Genevieve ficam extasiados com a movimentação de soldados e altos funcionários da corte. Havia uma espéie de excitação no ar, e mesmo alegria, com a visita das tres delegações estrangeiras.

Na parte oeste do pátio, no lado oposto ao do grande portão de entrada, descansam os cavalos usados para escoltar Eloise e sua guarnição de amazonas. Alguns soldados thaianos cuidam dos cavalos, escovam seus pelos e lhes dão água e alimentos. Perto da entrada mais próxima para as dependências internas do Palácio, está estacionada a carruagem usada para trazer Eloise. Um grupo de seis amazonas conversa ao lado da carruagem, observadas de perto por alguns soldados thaianos, que, por seu turno, conversam entre si, parecendo comentar, com pequenos risos no canto da boca, a respeito da beleza das amazonas. Mas elas os ignoram solenemente.

Addae, Cadi e mesmo Genevieve olham fascinados para as belas e atléticas guerreiras carlinesas. Elas dirigem um rápido olhar para os tres jovens e para os dois magos, demonstrando uma certa curiosidade. Mas logo voltam a conversar entre si, desviando o olhar. Percebe-se a expressão de altivez e até um pouco prepotente das guerreiras de Eloise.

—_Rapaz....Cadi fala discretamente com Addae.—_Quando voltar de Rook, se esse tratado vingar, gostaria de ser designado como adido militar em uma provável embaixada em Carlin. Só tem mulherão nesse exército da Eloise.

Addae ri de seu amigo.

Genevieve escuta e ri também, mas reage: —_Deixa de ser bobo, Cadi.

Na parte sul do pátio, pode ser vista a pesada carruagem metálica dos anões, onde, presume-se, veio o Imperador Kruzak. Perto, estão as impressionantes montarias dos anões. Grandes, gordos e assustadores javalis, com suas presas proeminentes saindo da boca. As parelhas de fortes e vigorosos búfalos, que puxam a carruagem. E os belos ursos-panda. Alguns anões cuidam dos animais, escovando-lhes os pelos, alimentando-os. Alguns soldados thaianos lhes trazem baldes com água e alimentos para os animais, no que os anões agradecem com gestos e movimetos de cabeça.

—_Ai, olhem...Diz Genevieve, manhosa.—_Como os pandas são lindos...

—_É...mas não se engana com a “fofura” deles. Rebate Cadi.—_Um bicho desses estraçalha um ser humano num piscar de olhos.

—_Esses javalis parecem bois. Repara Addae.—_Não gostaria de cruzar com um bicho desses por aí....como são grandes...aquelas presas devem perfurar até metal, se bobear....

No parte norte do pátio, junto a outra porta de entrada para a parte interna do Palácio, está a bela e ornamentada carruagem élfica, próxima aos imponentes cavalos brancos e aos belíssimos e grandes cervos, também, como os cavalos, brancos como a neve. Os soldados thaianos observam admirados as impressionantes galhadas dos animais. Enquanto alguns elfos escovam e alimentam suas montarias, soldados de Thais, do mesmo modo como em relação aos anões, trazem baldes de água e ração para os animais. Os elfos também agradecem, com simpáticos sorrisos.

—_Nossa...que visão de sonho...elfos...parecem príncipes de tão bonitos...e esses cervos...gente, eu preciso conhecer Ab'Dendriel um dia... Diz uma extasiada Genevieve.

—_Ó...Fala Cadi, querendo mexer com Genevieve.—_O Tatius não vai gostar nada dessa sua “paixonite” em relação aos orelhas pontudas ali...

—_Não fala besteira, Cadi. Reage a camponesa.—_E tem mais, o Tatius não é meu namorado, não...quer dizer, ainda não...tem que pedir para o meu pai primeiro....e o meu pai é uma fera, sabia? Tem um ciúme louco das filhas....

—_Liga não, Gê. Contemporiza Addae.—_O Cadi gosta de mexer com você. Ele sempre foi meio assim, desde a escola. Só quer te tirar do sério.

—_Aff...e eu não sei??? Responde Genevieve.

Nisso Trimegis, e os jovens o seguem, se dirige para perto de uma bela fonte localizada no centro do pátio. Lá pode ser visto um capitão da guarda dando instruções para um pequeno grupo de soldados.

—_Capitão Baxter. Diz o mago.—_Sabe me dizer se todos os membros do Conselho já vieram para o Palácio?

—_Oh...como está o senhor, Mestre Trimegis? Responde o militar. E continua.—_Acho que só faltava mesmo o Mestre Eclesius...deixe-me ver...os Mestres Marvik, Muriel, Edowir e Xodet já estão no Palácio...os monges Quentin e Norf também...a druideza Lynda, Mestra Lungelen e a maga Loria também já chegaram...acho que estão todos já reunidos no Salão do Conselho, Mestre Trimegis....

—_Ótimo...confere...todos os que poderiam vir, vieram. Obrigado, Capitão. Responde Trimegis. Então se volta para falar com Eclesius.—_Mestre Eclesius, vamos para o Sal....Mestre Eclesius? Aff, onde ele se meteu, estava aqui agora há pouco. Mestre Eclesius???

Genevieve aponta para a extremidade sul do pátio e diz: —_Ele está lá conversando com alguns anões, Mestre Trimegis.

—_Aff...Mestre Eclesius, o senhor não é fácil. Suspira Trimegis, enquanto se encaminha para o local onde estão as montarias dos anões.

Addae, Cadi e Genevieve o seguem.

Quando o grupo chega perto de Eclesius e dos anões, percebe que o velho mago conversa animadamente com dois dos guerreiros de Kazordoon.

—_Mestre Eclesius!!! Fala, nervosamente, Trimegis, ao mesmo tempo que dirige um sorriso contrangido para os anões.—_Mestre Eclesius. Vamos para o Salão do Conselho. Precisamos tomar algumas resoluções antes do início da recepção e das conversações posteriores. O Rei precisa de nossa orientação.

—_Hum...está certo. Cede o velho mestre mago. —_Eu só estava conversando com esses dois simpáticos súditos do Imperador Kruzak. Estava praticando o meu Dwarfico. Estou um pouco enferrujado. Sabe o que me disseram? Que meu velho amigo, o mago geomancer Etzil está na delegação de Kazordoon. Veio na carruagem com o Imperador. Ficarei muito feliz em revê-lo. Etzil é um dos sábios mais poderosos de todo o Tibia.

—_Ótimo. Agora vamos, Mestre Eclesius. Diz Trimegis, enquanto sorri mais uma vez para os intelocutores anões, como se desculpando por subtrair Eclesius da conversa.

Os anões sorriem de volta, como se compreendessem o que se passa, apesar de, aparentemente, não falarem o idioma thaiano.

Genevieve se aproxima cautelosamente de um urso panda, que é cuidado e alimentado por um anão.

O guerreiro de Kazordoon percebe a aproximação da jovem e, esboçando um simpático sorriso, traz o animal, pelas rédeas, para bem perto de Genevieve e lhe indica, por gestos, que pode, se quiser, afagar a cabeça e o pelo da bela montaria.

Genevieve se deslumbra e afaga carinhosamente o forte e imponente panda que, da sua parte, demonstra gostar da jovem e a cheira e lambe amistosamente.

Addae, Cadi e os dois magos se enternecem com a bela cena.

Genevieve, com uma expressão radiante, se despede e agradece ao súdito de Kruzak por lhe proporcinar um momento como aquele.

O anão devolve a gentileza com um terno sorriso por debaixo da espessa barba.

Finalmente o grupo se dirige para a centro do pátio, se despedindo, com gestos, dos anóes ali presentes.

—_É....Diz Eclesius, olhando de maneira terna para Genevieve. —_Certamente será uma druidesa. Os animais parecem gostar muito de você. Por outro lado é uma pena. Que maga poderosa você poderia ser, com esse nível de mana nato que há em você... Ao dizer isso Eclesius aproxima o cajado do corpo de Genevieve, e a esfera azul na extremidade novamente emite uma luz intermitente. —_Não quer vir conosco para o Salão do Conselho? Os outros sábios ficariam boquiabertos com seu nível natural de mana.

—_O senhor sabe que ela não pode participar das reuniões do Conselho, Mestre Eclesius. Aliás o senhor mesmo estipulou essa regra, na época em que o senhor presidia o mesmo Conselho. Diz Trimegis.

—_Humpft ! A gente quando é jovem faz muita besteira. Rebate Eclesius.—_Você agora preside o Conselho, Trimegis. Pode revogar essa minha regra idiota.

—_Não vou revogar coisa alguma, Mestre. No Conselho se discutem questões de estado, de segurança nacional. Não é lugar para adolescentes. Trimegis se volta para Genvieve.—_Não se ofenda, querida, mas é que que os sábios discutem assuntos que jovens como você ainda não tem maturidade para ouvir e participar.

—_Não...tudo bem, Mestre Trimegis...eu entendo. Responde Genevieve.

—_Mas quando você voltar de Rookgaard, já tendo obtido o grau druídico, poderá partipar, Genevieve. Completa Trimegis.

—_Claro, eu entendo Mestre Trimegis, Não se preocupe. Diz a jovem.

Quando o grupo passa perto da fonte, onde ainda se encontram o Capitão Baxter e alguns soldados, Trimegis se dirige ao oficial: —_Capitão, por gentileza, poderia providenciar para que estes tres jovens alunos da Academia fossem acomodados em um local apropriado, no Palácio, de onde pudessem presenciar a recepção do Rei aos dignitários estrangeiros?

—_Pois não, Mestre Trimegis. Responde Baxter.—_Providenciarei isto agora mesmo.

—_Obrigado, Capitão. Diz Trimegis. Então se volta para os tres jovens amigos:—_Até logo, jovens. Espero que gostem da recepção. Nesses dias que antecedem o embarque para Rookgaard, podem vir ao Palácio conviver com seus futuros colegas de Academia que aqui ficarão hospedados. Qualquer problema no Portão, digam aos guardas para me chamarem. E você, Genevieve, gostaria que conhecesse minha filha, Tânia. Ela também vai para Rookgaard. Gostaria também que se tornassem boas amigas. Ela pode te dar algumas dicas sobre a manipulação do mana. Óbviamente, por ser minha filha, já tem alguns conhecimentos, ainda que básicos.

—_Claro, Mestre Trimegis. Gostaria muito de conhecê-la. Diz Genevieve.

—_Obrigado por trazer-nos para dentro do Palacio, Mestre Trimegis. Diz Addae.

—_Valeu mesmo, Mestre. Complementa Cadi.

Eclesius diz aos tres jovens:—_Não toquem nem se apoiem em qualquer objeto lá dentro do Palácio. O Rei é apegado às armaduras, escudos, estátuas e outros objetos decorativos espalhados pelos corredores, galerias, escadas e aposentos. Uma vez eu fui me encostar em uma armadura exposta, o negócio desabou, fez um barulho dos infernos. O Rei ficou possesso, queria saber quem tinha feito aquilo. Mas eu me tornei invisível e ele nunca descobriu o autor da façanha, ihihihi. Então se dirige diretamente a Genevieve:—_Meu anjo, quando você chegar a Rookgaard, procure o Mestre Hyacinth. Diga que foi o Mestre Eclesius quem te recomendou. Não se preocupe com essa história de que ele não é mais professor da Academia. Procure ele mesmo assim. Sabe muito. Vai por mim. Em seguida, segura o braço do atônito Trimegis, que assim ficou após ouvir o que Eclesius acabara de falar aos jovens, e o puxa, para que, juntos, se dirijam à porta oeste, que conduz ao interior do Palácio.

—_Aahaha, esse Mestre Eclesius é muito doido. Diz Cadi, para Addae.

—_Uma figuraça. Diz Addae.

—_Eu gostei dele. Diz Genevieve.

O Capitão Baxter fica estupefato ao ouvir a confissão de Eclesius. Enquanto o observa e a Trimegis se afastarem, diz em tom baixo, como se quisesse falar consigo mesmo: —_Não é possível...então foi Mestre Eclesius quem derrubou aquela armadura. O Rei praticamente conduziu um inquérito para descobrir quem fizera aquilo...

Os tres jovens conseguem ouvir o que Baxter diz e se esforçam para conter o riso.

O Capitão Baxter se recompõe e chama por um Tenente que está próximo aos elfos, ajudando-os com suas montarias: —_Tenente Bressi!

Cadi, ao ouvir o nome do Tenente, reage: —_O Tenente Bressi está aqui? Ele serve ou servia sob as ordens do meu pai no Portão Leste.

O Tenente dá instruções a uns soldados, para que continuem ajudando os elfos, e vem na direção do Capitão Baxter:—_Sim, Capitão!

—_Tenente...Diz Baxter. __Leve estes tres cadetes da Academia para a Alameda Interna oeste, do Palácio. Aloje-os em um local de onde possam ter uma boa visão do Salão do Trono, durante a cerimônia de recepção.

—_Claro, Senhor. Então se volta para os tres amigos: —_Sigam-me, cadetes.

Os jovens se despedem e agradecem ao Capitão Baxter.

Neste instante o Tenente nota a presença de Cadi, no trio:—_Cadi! Como está? Eu soube de sua inscrição em Rookgaard. Parabéns. Aproveite sua estada lá para se aperfeiçoar.

—_Claro que sim, Tenente, vou tentar aproveitar ao máximo. Responde Cadi. Em seguida pergunta: —_O senhor também foi transferido para o Palácio, como o Tenente Leroy?

—_Não, não. Responde Bressi.—_Seu pai me requisitou para ajudar nos trabalhos de recepção às delegaçoes estrangeiras, tão logo ele fora requisitado, por sua vez, pelo General Bloodblade. Mas ainda estou lotado no Portão Leste. O Leroy sim está lotado agora aqui no Palácio. Quando terminarem as negociações e as delegações forem embora, seu pai e eu voltaremos para a Guarnição Leste. Quer dizer...eu, pelo menos...porque não sei se você está a par...mas correm boatos na Guarda que seu pai será promovido a Major. Se assim for, ele será designado para outra função. Tradicionalmente apenas capitães comandam as guarnições dos portões de Thais. É assim também em Venore. O que para mim seria uma pena. Gosto muito de servir sob as ordens do Capitão Tim.

Ao ouvir isso, Cadi mais uma vez se recorda do que seu pai dissera outro dia, que pretendia dar baixa do Exército ainda no posto de capitão. E novamente, como quando conversava com o Tenente Leroy no Cais, prefere não comentar sobre o fato. Apenas diz:—_Tenente , estes são meus amigos, Addae e Genevieve.

—_Prazer, cadetes. Desejo-lhes o mesmo que a Cadi. Que façam bom proveito do tempo em que ficarão em Rookgaard. Diz Bressi.

—_O prazer é nosso, Tenente. Responde Addae.

—_Muito prazer, senhor. Diz, por sua vez, Genevieve.

O grupo se aproxima da Porta Norte do Palácio, onde estão as montarias dos elfos,e alguns elfos e soldados cuidando delas.

Genevieve, encantada, observa os cavalos e cervos dos cavaleiros de Ab'Dendriel. E mais encantanda ainda, olha para os guerreiros elfos, que ali cuidam de seus animais.

Um dos elfos, que escova os pelos de um enorme e imponente cervo branco, olha de soslaio para a jovem de Greenshore. Parece exibir um sorriso no canto da boca, como se percebesse o interesse de Genevieve nos elfos ali presentes.

Genevieve nota e desvia o olhar, um pouco ruborizada.

Assim que o grupo entra pela Porta Norte, para o interior do Palácio, Genevieve diz: —_Ai, como são bonitos esses elfos... não sei, tem uma expressão de anjos, traços delicados...ao mesmo tempo são fortes e esbeltos...

—_Ihhh...o Tatius não vai gostar nada dessa história...Brinca Cadi.

Slap! Genevieve dá um leve tapa no braço de Cadi:—_Como é bobo esse menino! Diz em um tom de brincadeira.

—_Shhhh!!! Addae leva o dedo aos lábios, pedindo aos dois que se comportem, temendo a reação do Tenente Bressi e das pessoas que circulam no corredor do Palácio por onde o grupo avança.

Mas o Tenente apenas ri.

Addae, Cadi e Genevieve ficam impressionados com a movimentação no interior do Palácio. Funcionários da Corte e militares transitam de lado a lado pelos corredores, que tem pavimento em madeira bem encerada e brilhante. Nas paredes, de escuras pedras, há vários escudos e armas penduradas, armaduras montadas e expostas, gualhardetes e flâmulas com símbolos da heráldica thaiana, entremeados por tochas que iluminam os ambientes do grande complexo.

Addae diz, em um tom baixo, para Cadi:—_Vendo essas armaduras me lembro do que o Mestre Eclesius contou...

—_Eu também. Responde Cadi.—_Me dá vontade de rir novamente.

O Tenente Bressi conduz os jovens até o início de uma escada em caracol, na parte oeste do Palácio. Enquanto sobem o oficial pergunta aos jovens:—_Impressionante o Palácio, não?

—_Muito impressionante. Responde Addae.—_Devem haver muitos quartos e salões.

—_Cento e quarenta quartos e mais de trinta salões e salas menores. Responde Bressi.

—_Nossa! Surprende-se Genevieve.—_E onde estão hospedadas as delegações estrangeiras??

—_Bem, a Rainha Eloise e suas amazonas estão na Ala Norte, no terceiro andar. Responde Bressi. E continua: —_Os elfos estão na mesma Ala Norte, só que no segundo andar. Os anões foram alojados na Ala Leste, no quarto andar.

—_E os alunos da Academia, que vão pela Coroa e não são de Thais? Pergunta Cadi.

—_Os cadetes estão na Ala Sul, no segundo andar. Responde o Tenente.—_E vocês, caso queiram, podem visitar o Palácio outras vezes, antes de embarcarem. Isto é permitido aos cadetes inscritos na Academia, e que residam em Thais. Basta que peçam a um dos soldados da guarnição da ponte que chame um oficial, para servir de guia. Falem que estão inscritos em Rookgaard. Vocês de certa forma já estão sob o comando da Guarda.

—_A gente podia trazer o Tatius aqui, um outro dia. Diz Genevieve.

—_Isso se o Senhor Frodo liberá-lo do serviço. Tem muito trabalho duro naquela estalagem e na taberna. Ele tira o couro do sobrinho. Responde Addae.—_O Struggle provavelmente também gostaria de conhecer o Palácio, mas o problema é que parece que ele já está escalado por aquele senhor Luke para trabalhar no Porto por esses dias...

—_A gente tenta ver um dia no qual eles possam vir, sei lá, falar com o Senhor Frodo e com esse tal de Luke aí, administrador do Porto....quem sabe na parte da manhã... Diz Cadi.

—_É...vamos ver... Responde Addae.

Cadi então pergunta ao Tenente:—_Tenente...o senhor reparou que as guerreiras da Eloise são bonitonas, né?

Bressi se surpreende com a pergunta mas depois ri:—_Hehehe...é verdade, Cadi. Difícil não reparar. São muito bonitas, sim. Eloise provavelmente seleciona suas amazonas levando em conta, além de outros requisitos, a beleza. É compreensível. Um exército com boa aparência e presença sempre causa uma boa impressão.

Finalmente Bressi e os garotos chegam a uma espécie de galeria, no fim da escada. De um lado, uma parede coberta de objetos militares decorativos, bustos e estátuas. Do outro, vãos abertos em forma de arcos alternados com robustas colunas que, além da função estrutural, tem em suas faces belas esculturas em pedras representando seres de aspecto angelical. Os vãos abertos dão uma ampla visão do Salão do Trono, lá embaixo e são protegidos por grossas sacadas, escoradas por pequenas pilastras que também exibem delicadas e bonitas figuras esculpidas em pedra. A galeria já está cheia de funcionários da corte e militares, aguardando ansiosamente o início da cerimônia de recepção aos dignitários estrangeiros.

—_Não esperava que já estivesse tão cheia. Diz Bressi, surpreso.—_Praticamente não há mais lugar perto das sacadas, de onde se pode ver o Salão do Trono. O Tenente olha para o fim do corredor e diz:—_Vamos mais lá para o fim da galeria. Pode ser que encontremos um local mais vazio.

O grupo vai se esgueirando entre as pessoas que lotam a galeria a medida que o Tenente Bressi pede licença e passagem. Quando já estão quase no fim do corredor o Tenente nota um vão ocupado por duas amazonas que acompanham tres jovens, adolescentes, que trajam vestimentas ao estilo das guerreiras de Carlin: botas e uma espécie de túnica comprida aberta nos lados, mostrando parte das pernas. Não utilizam, no entanto, armaduras, como as guerreiras, mas apenas uma camisa sobre a túnica. O vão, ao lado das amazonas, ainda tem lugar para o Tenente e os tres jovens por ele conduzidos.

O Tenente Bressi pede educamente licença às duas guerreiras de Carlin que, no entanto, não lhe respondem, apenas lhe dirigem o olhar e se afastam um pouco, junto com as outras tres amazonas mais jovens, para dar mais espaço para o Tenente e os tres cadetes.

Ao se aproximarem da sacada da galeria e observarem, lá embaixo, o Salão do Trono, Addae e seus dois amigos ficam deslumbrados. À esquerda do Salão, de quem observa da galeria elevada onde estão Addae e os demais, está o imponente Trono de Tibanus. Alguns altos funcionários conversam e andam nervosamente pelo Salão, finalizando os preparativos para que o Rei e os soberanos estrangeiros possam adentrar o recinto.

Genevieve interpela Addae discretamente, para que as amazonas ao lado não ouçam:—_Onde estavam essas tres garotas amazonas aí do lado? Eu não as vi no cortejo da Rainha Eloise.

—_Ué, provavelmente dentro da carruagem com a Rainha. Responde Addae.

—_Ah é. Complementa Genevieve.—_As cortinas estavam arriadas, não dava para ver lá dentro. Cabe muita gente naquela carruagem.

Cadi observa a galeria elevada oposta à que ele e seus amigos estavam, no outro lado do salão. Também está bem cheia. Ele nota que os demais alunos que vão pela Coroa estão nas sacadas, acompanhados pelo Tenente Leroy. Cadi também percebe que em um ponto da sacada oposta, bem diante de onde ele e os demais estão, está de pé um guerreiro anão. E, junto a ele,tres jovens anões ainda mais baixos, sem barba.

—_Olha lá, Addae. Diz Cadi.—_Anões adolescentes. Que engraçados.

—_Ih, é mesmo. Que interessante. Deviam estar na carruagem junto com o Imperador Kruzak. Responde Addae.

Genevieve diz: —_Olhem lá na outra ponta da galeria oposta. No canto direito, lá longe. Estão vendo??

Addae e Cadi se esforçam para enxergar o que Genevieve lhes indica.

Addae então diz:—_Ih, são elfos...dois elfos adultos e tres mais jovens...adolescentes também...na verdade um dos elfos mais jovens parece ser uma elfa...uma elfinha hehehe.

—_Cara, a Gê tem uma capacidade pra ver elfo, que eu vou te contar....Brinca Cadi.

Slap! Genevieve dá um pequeno tapa, de brincadeira, no braço de Cadi.

O Tenente Bressi, ao ouvir os comentários dos tres jovens, intervem na conversa:—_Cadetes...acho que não há problema eu contar-lhes algo a respeito de sua turma na Academia...Sua Majestade, nosso amado Rei, ao enviar mensagens aos soberanos de Carlin, Ab'Dendriel e Kazordoon, propondo negociações e a assinatura de um tratado de mútua defesa...ofereceu, como um gesto de boa vontade e gentileza, vagas em Rookgaard para jovens desses tres reinos...até tres vagas, caso quisessem...na verdade o Rei achava que provavelmente não aceitariam a oferta. No entanto, como podem ver, a oferta foi plenamente aceita...o que quero dizer, cadetes...é que vocês terão, como colegas, em Rookgaard, anões, amazonas e elfos...pela primeira vez, em seus mais de 500 anos de existência, a Academia Real de Rookgaard terá alunos estrangeiros...e justamente na turma de vocês...

Addae, Cadi e Genevieve, surpresos com o que o Tenente acabara de dizer, não sabem, incialmente, o que responder.

Então Genevieve diz, em um tom de alegria:—_Gente...vamos ter colegas elfos em Rook!

—_Ih...começou... Brinca Cadi.

Addae pergunta discretamente ao Tenente Bressi, tentando evitar que as amazonas próximas ouvissem:—_Tenente...então essas garotas de Carlin aí ao lado...

—_Vão para Rook, também. Completa o Tenente.

—_Caramba... Diz Cadi.—_Acho que nem meu pai sabia disso. Deve ter ficado ao par depois da chegada das delegações. Incrível...alunos de Kazoordon, Ab'Dendriel e Carlin em Rook...quem poderia imaginar uma coisa dessas?

—_Sinto inveja de vocês, cadetes. Além de pertencerem a uma turma grande e diversificada, o que não é usual, ainda terão alunos de outros reinos e nacionalidades. Minha turma em Rookgaard foi pequena. Vocês viverão um momento histórico e original dentro da longa tradição secular de Rookgaard.

—_Quando o senhor se formou em Rookgaard, Tenente? Indaga Addae.

—_Foi há cinco anos. A minha turma foi a seguinte à turma do Leroy. Responde Bressi.

—_Geralmente os oficiais e mesmo os membros de guildas falam de Rook com saudade. A ilha fica mesmo na mente e nos corações dos ex-alunos. Diz Addae.

—_Ninguém passa por Rookgaard “impunemente”. Responde o Tenente.—_Vocês entenderão isso, quando lá estiverem. E depois, quando partirem.

Nisso, Genevieve toca o braço de Cadi e, apontando para baixo, para o Salão do Trono, diz:—_Veja Cadi, aquele oficial não é o seu pai?

Cadi olha para baixo e vê o Capitão Tim conversando com o Capitão Chester Kahs, em um local próximo ao Trono. Logo em seguida, Trimegis entra no Salão, vindo por uma porta situada na parede atrás do Trono. Aproxima-se dos dois oficiais e começa a conversar com eles.

—_É meu pai sim, Gê. Responde Cadi.—_Deve estar ajudando nos preparativos para a cerimônia.

—_Mestre Trimegis está com eles. Complementa Genevieve.

Logo o mago e os oficiais saem do Salão, através da porta por onde Trimegis entrara.

Os funcionários da Corte dão os arranjos finais no recinto. Estendem um largo tapete vermelho desde as escadas frontais que dão acesso ao Salão até o próprio Trono. Colocam dois grupos de tres robustas e altas cadeiras cada um ladeando o tapete à esquerda do Trono e mais um grupo no lado direito. Ao lado dos grupos de cadeiras posicionam pequenas e delicadas mesas. Mais para perto do Trono são colocadas dez cadeiras, cinco de cada lado formando semicírculos.

Outros funcionários acomodam tronos menores ao lado do Trono de Tibianus. Um trono um pouco menor do que o Trono do Rei, à sua esquerda. Um outro ainda menor à esquerda do segundo trono. E dois do mesmo tamanho do menor, à direita do Trono do Rei. Entre o Trono do Rei e o mais próximo, à esquerda, uma pequena e delicada mesa sustenta tres belas caixas de madeira, decoradas com brilhantes e entalhes.

—_Nossa, para quê tanto trono??? Pergunta Genevieve.

—_Bem, o trono logo à esquerda do Trono Real é para a Rainha Isabel. Responde Bressi.—_Os demais são para a Princesa Sasha, para o Príncipe Tibianus e para o Príncipe Pedro. Estarão todos presentes na recepção aos soberanos estraneiros.

—_O Rei já teve outra esposa, não? Que já faleceu. Me lembro de minha professora ter dito isso lá em Greenshore. Diz Genevieve.

—_Sim. Responde Bressi.—_A Rainha Isabel é sua segunda esposa. E mãe do Príncipe Pedro. A finada e saudosa Rainha Margarida é, ou foi, mãe dos Príncipes Tibianus e Sasha.

—_A Rainha Isabel é bem mais jovem do que o Rei, não? Pergunta Addae.

—_Ah, sim. Nossa amada rainha tem hoje apenas 32 anos. Uma jovem rainha. Sua Alteza Real, o Rei Tibanus, tem 57 anos. Se a Rainha Margarida fosse viva, teria hoje 55 anos. Responde Bressi.

—_Malandro o velho Tiba. Diz Cadi, discretamente, cutucando Addae.

Addae ri. —_É...deve ser bom ser rei, hehe.

—_A Princesa Sasha é a mais velha de todos os filhos, não é? Pergunta Genevieve.

—_Sim. Responde Bressi.—_A princesa Sasha tem 36 anos. É mais velha inclusive que sua madrasta, a Rainha Isabel.

—_Quando o Rei morrer ela que será a Rainha, não? Indaga Genevieve.

—_Er...na verdade, não. Responde Bressi, falando em um tom baixo, para que as amazonas ao lado não ouçam.—_Na verdade, desde que Carlin tornou-se independente e tomou como regra o fato de que apenas mulheres poderiam efetivamente reinar por lá, Thais determinou que apenas homens poderiam ser Reis de verdade, por aqui. Apenas homens governariam. As rainhas em Thais são apenas esposas dos reis e mães das proles reais, mas não têm qualquer poder político ou administrativo. Portanto, na linha sucessória, a Coroa irá para o Príncipe Tibianus que, após o passamento de seu pai, assumirá o Trono Real sob o título de Tibianus IV.

—_Hum...não gostei dessa regra. Queixa-se Genevieve.

—_Tem que ser assim mesmo. Diz Cadi, brincando, para mexer com Genevieve.—_Mulher no comando, confusão na certa.

Slap! Um leve tapa estala no braço direito de Cadi.

Neste momento, todos das galerias tem suas atenções voltadas para a entrada principal do Salão do Trono, por onde um grupo de 12 soldados, trajando uniformes de gala e segurando compridas trombetas douradas, adentra o Salão.

—_Epa. Parece que a cerimônia vai começar. Diz Addae.

Os soldados se dividem em quatro grupos de tres. Dois dos grupos se posicionam cada um em um lado da entrada principal, perto da escadaria que dá acesso ao Salão. Os outros dois grupos se colocam mais para o meio do Salão, um em cada lado do grande tapete vermelho.

Em seguida, adentra o Salão, vindo de uma das portas posteriores ao Trono, um homem trajando uma bela túnica, com elementos decorativos nas cores da Casa Real de Thais. Ele porta um comprido bastão metálico prateado, com bonitos detalhes decorativos, esculpidos ao longo de todo o comprimento, que ultrapassa a altura do homem.

—_Quem é este? Pergunta Genevieve.

—_Este é Bizo...o principal mestre de cerimônias da Corte. Responde o Tenente Bressi.—_É irmão de Bozo, o bobo da Corte titular de Sua Majestade.

—_Caras, eu já vi algumas apresentações do Bozo, abertas ao público, diante do Palácio. A gente se escangalha de rir. Diz Cadi.

—_Sim, ele é muito engraçado. Completa Bressi.—_Deve-se inclusive tomar cuidado com o que se fala diante dele. Qualquer frase com sentido dúbio ele já aproveita e faz uma piada. Às vezes deixa a gente constrangido, hehe.

Então, lá embaixo, no Salão, Bizo bate fortemente com o bastão no assoalho, como a chamar a atenção dos presentes nas galerias.

Faz-se silêncio no recinto. Alguns fazem o famoso “shhhh”, pedindo aos demais que fiquem quietos.

Bizo então diz, demonstrando ter uma potente voz:—_Prezados súditos de Sua Majestade, cidadãos de Thais aqui presentes, tem início agora a cerimônia de recepção aos nobres soberanos e dignitários dos Reinos de Kazordoon, Ab'Dendriel e Carlin.

Os soldados que portam as trombetas tocam-nas a todo pulmão, produzindo uma impressionante sinfonia, que chega a fazer vibrarem as estruturas do Salão. Muitos dos presentes levam as maos aos ouvidos, tal a magnitude do volume de som produzido.

Após o soldados pararem de tocar, Bizo continua, com sua potente voz: —_Recebamos agora, com respeito e afeto, a nosso mui amado Soberano, Sua Majestade Real, Senhor das terras de Thais, de Venore, de Edron, Port Hope, Liberty Bay e arredores, Rei Tibianus III, como também sua adorável esposa, a Rainha Isabel!!! E os príncipes Tibianus e Pedro!!! E a princesa Sasha!!!

Novamente o som das trombetas ecoa fortemente pelo Salão.

Então, de uma das portas posteriores ao Trono, saem, em fila, o General Bloodblade, dois oficiais que, pelas insignias que portam, demonstram ser de alta patente, seguidos pelos capitães Tim e Chester Kahs, estes por sua vez, seguidos por Trimegis.

O grupo se posiciona, de pé, no lado esquerdo do Trono, segundo a visão de quem entra pela porta principal, bem abaixo da galeria onde estão Addae e os demais.

—_Aqueles dois oficiais ali são o Coronel Leonidas e o Major Templeton, não? Pergunta Cadi, discretamente, ao Tenente Bressi.

—_Exato, Cadi, São eles mesmos. Responde Bressi.

Em seguida, através da outra porta posterior ao Trono, saem, também em fila, vários sábios, que vão se posicionando diante das cadeiras que formam dois semicírculos, nos dois lados do Trono. Addae e seus amigos identificam, entre os sábios, Eclesius, Lynda e o monge Quentin.

—_Este é o Conselho Real de magos e druidas, não, Tenente? Pergunta Addae.

—_Isso mesmo. Responde Bressi.—_Há ainda outros membros que residem em cidades e localidades distantes, o que tornaria a presença deles, nesta recepção, muito difícil. Mas alguns deles ainda podem chegar a Thais, para as negociações com vistas ao tratado, que podem se estender por vários dias...

As pessoas das galerias são tomadas por uma súbita excitação, quando soldados trajando reluzentes armaduras douradas saem pelas duas portas posteriores ao Trono Real e pisam forte causando sons metálicos de passos. De cada porta saem seis guerreiros dourados. Dois deles se posicionam dos dois lados do conjunto de tronos, e os dez restantes se dividem em dois grupos de cinco, posicionando-se cada grupo em um lado do grande tapete vermelho, em fila, formando um corredor dourado desde o pé dos degraus que levam aos tronos até quase o meio do Salão.Os soldados empunham escudos e lanças douradas e usam elmos tambem dourados. Capas brancas caem-lhes desde os ombros até quase os calcanhares.

—_Uau...a Guarda Dourada...que espetáculo! Diz Cadi.

—_Impressionante. Diz, por sua vez, Addae.

—_Quem são esses guerreiros dourados?? Indaga, deslumbrada, Genevive.

—_São a Guarda Pessoal de Sua Majestade. Diz o Tenente Bressi.—_Um grupo de elite do Exército que faz a proteção pessoal da Famílla Real, a Guarda Dourada. Os dois guerreiros posicionados próximos aos tronos são os coronéis Stutch e Harsky. Nas duas filas, nos dois lados do tapete há um major, um capitão e tres tenentes do Exército. A Guarda é inteiramente composta por oficiais, portanto. Responde e é diretamente subordinada ao General Bloodblade. Na ponta da fila do outro lado do tapete, está o Tenente Geoffrey, um grande amigo meu e colega de turma em Rookgaard.

Em seguida, vindo pela porta por onde entraram o General Bloodblade, Trimegis e os demais oficiais, um homem adulto, alto, muito bem apessoado, com cabelos compridos negros, bem cuidaos e penteados, cavanhaque e bigode bem cortados, também negros, usando uma belíssima túnica de tecido brilhante e viscoso, em tons brancos e dourados, e ainda uma pequena coroa prateada sobre a cabeça, se dirige ao trono mais próximo ao do Rei, dentre os dois posicionados à direita.

Os membros do Conselho Real de magos e druidas, como também Trimegis, os oficiais, Bizo e os soldados com as trombetas, se linclinam respeitosamente diante da presença do homem, que se senta no trono imediatamente à direita do Trono Real. Algumas pessoas presentes nas galerias também fazem gestos de respeito e devoção. A Guarda Dourada se perfila e bate uma das botas no chão.

—_Principe Tibianus. Diz Cadi, para Addae e Genevieve.

—_Nossa...que homem bonito...que presença. Diz Genevieve.

Então um jovem, também muito bem apessoado, de cabelos castanhos claros cortados pouco abaixo das orelhas, trajando uma túnica de tons negro e azul bem claro, igualmente com uma pequena coroa prateada na cabeça, vem pela mesma porta e se dirige ao trono do lado daquele ocupado pelo Príncipe Tibianus, um pouco mais distante do Trono Real. O jovem parece ter a idade de Addae e de seus dois amigos.

—_Principe Pedro. Diz Cadi, meio que narrando a cerimônia para seus dois amigos.

Os presentes no Salão novamente se inclinam respeitosamente, em consideração ao jovem príncipe.

Ato contínuo, através da porta por onde sairam os membros do Conselho de Magos e Druidas, entra uma mulher belíssima, de cabelos negros, presos por um coque na parte de trás, pele muito alva, usando também uma pequena coroa prateada e um longo e elegante vestido negro com motivos estampados brancos e prateados. Ela ocupa o menor dos dois tronos situados à esquerda do Trono Real.

Os presentes inclinam-se diante da mulher.

—_Princesa Sasha. Continua Cadi com sua narração.

—_Céus...Diz Genevive. __Como a Família Real Thaiana é linda...

—_Também, né... Rebate Cadi —_Tibianus só escolhe mulherão pra casar...

—_Pois é. Diz Addae.—_A mulherada do reino quase toda gostaria de se casar com o Rei. Ou com os príncipes. Mas tem que ser de família nobre.

—_Os príncipes Tibianus e Sasha são casados? Pergunta Genevieve.

—_São sim, Gê. Responde Addae.—_Sua professora em Greenshore não ensinou isso a vocês, lá?

—_Ah, Addae...a gente lá só tinha aula de matemática e de Língua Thaiana...isso quando tinha...era difícil conseguir professor para a escola de Greenshore...Responde Genevieve.

O Tenente Bressi então diz a Genevieve: —_O Príncipe Tibianus é casado com uma jovem da Família Ducal de Edron...e a Princesa Sasha com o filho do Conde de Fibula...

—_Ah tá....Diz Genevieve —_E o Príncipe Pedro...tem namorada?

—_Errr...não que se saiba, oficialmente. Responde Bressi. —_Parece ser assim, muito amigo da filha de Meste Trimegis, Tânia, que vive aqui no Palácio...mas, nada indica que sejam namorados. Ademais, apesar do grande prestígio que Mestre Trimegis tem na Corte, por ser o Presidente do Conselho Real de Magos e Druidas e Mago Supremo do Rei, ele e sua filha não são de linhagem nobre. Dificilmente o Rei permitiria um relacionamento assim, digamos, além da amizade...

—_Viu Gê, o que o Tenente Bressi disse? Diz Cadi, brincando com Geneveve. —_Pode tirar seu cavalinho da chuva...plebeias não tem chances com o Príncipe Pedro.

Genevieve faz uma careta para Cadi, em resposta.

Addae e o Tenente Bressi riem.

As amazonas ao lado e as jovens que as acompanham parecem ficar interessadas no dialogo , e curiosas em relação às risadas e brincadeiras. Mas mantém expressões sérias.

Então, um burburinho maior parece tomar conta do recinto e, vindo pela mesma porta por onde entrara a Princesa Sasha, surge o Rei Tibianus. Um homem alto e corpulento, de quase dois metros de altura, com longas e espessas cabeleira e barba brancas, expressão severa. Usa uma bela túnica azul com motivos decorativos dourados e um longo manto vermelho feito da pele de algum animal raro, caindo-lhe sobre as costas. Na cabeça, uma alta e deslumbrante coroa dourada, cravejada de pedras preciosas. Vem de mãos dadas com a Rainha Isabel, uma mulher muito bonita, de aparência jovial, cabelos castanhos claros presos atrás por um coque. Na cabeça uma coroa dourada, menor que a do Rei, mas igualmente cravejada de brilhantes. Usa um vestido vermelho com estampas e motivos decorativos de cor negra.

Todos os presentes no Salão, inclusive muitos dos que assistem das sacadas, fazem uma reverência mais longa e respeitosa do que a feita para os príncipes, tocando um dos joelhos no chão, em sinal de devoção ao Casal Real. Mesmo os príncipes fazem reverências ao Rei e à Rainha. A Guarda Dourada mais uma vez perfila-se, bate com força as lanças e uma das bota no chão e volta a face e o olhar para o Rei.

Tibianus leva sua esposa, pela mão, até o menor dos dois tronos principais e, após a Rainha se sentar, ele se senta no Grande Trono Real.

O Rei faz um sinal para que Bizo prossiga com a cerimônia.

O Mestre de Cerimônia bate novamente com seu bastão contra o assoalho e diz:—_Prezados súditos de sua Majestade, cidadãos de Thais, recebamos com respeito e sincera hospitalidade sua Alteza Imperial, Soberano de Kazoordon, Imperador Kruzak!!!

As trombetas ecoam pelo Salão.

Então, sobem pelas escadas da entrada principal tres guerreiros anões. O do meio vem desarmado, carregando uma bela caixa metálica decorada com pedras preciosas. Os dois da ponta trazem escudos e lanças. Em seguida, surge o Imperador Kruzak, ladeado por dois sábios anões, que seguram cajados com pedras azuladas nas extremidades. Após o imperador, mais dois guerreiros anões com escudos e lanças, fechando a pequena escolta.

Bizo vai na direção do guerreiro anão que segura a caixa metálica. Recebe dele a caixa e a deposita aos pés do Trono Real, no último dos degraus que conduzem ao Trono. Levanta a tampa e exibe o conteúdo para o Rei, que balança a cabeça em sinal de aprovação. Em seguida, Bizo pega uma das caixas de madeira, em cima da mesa entre os tronos do Rei e da Rainha, e leva até diante do Imperador Kruzak. Levanta a tampa e mostra o conteúdo ao Imperador. Kruzak balança a cabeça positivamente e faz um gesto de agradecimento, com as mãos, ao Rei, que devolve o gesto. O anão que trazia a caixa metálica, pega a caixa de madeira e a coloca em cima da mesa, ao lado do grupo de tres cadeiras mais próximo do Trono Real, entre os dois que se situam na borda do tapete vermelho, à direta de quem entra pela porta principal. Em seguida, Bizo convida o Imperador a se sentar na cadeira do meio. Ele se senta, seguido pelos dois sábios anões, que se sentam nas duas cadeiras, ao lado do Imperador. Os guerreiros anões assumem posições ao redor das tres cadeiras.

—_O que tem naquelas caixas??? Pergunta Genevive.

—_São presentes, como jóias, perfumes e tecidos de qualidade. Responde o Tenente Bressi. __Se usa trocar presentes, em visitas ou reuniões com dignitários, como sinal de boa vontade e de intenção de se manter boas relações diplomáticas.

—_Hum, naquelas caixas de madeira ao lado do Rei devem haver algumas jóias da loja do Senhor Augustus. Ele disse hoje de manhã, lá em casa, que funcionários do Palácio compraram algumas jóias dele. Diz Addae.

—_Devem ser tão bonitas quanto esse colar que ele me deu. Diz Genevieve, segurando o belo pingente nos dedos.

Novamente, Bizo bate com seu bastão ou báculo contra o assoalho e diz:—_Prezados súditos de Sua Majestade, cidadãos de Thais, recebamos com respeito e hospitalidade suas Excelências Venerandas, Soberanos de Ab'Dendriel, os Patriarcas Eroth, Elathriel e Faluae.

Subindo pelas escadarias da entrada principal, surgem tres elfos. O elfo do centro, trajando roupas verdes com motivos da flora e desenhos geométricos, traz em suas mãos uma bonita caixa de madeira, com desenhos talhados, também representando a flora e belas encrustrações de madeira, de uma cor mais clara em relação à cor da madeira da caixa. Dos dois lados do elfo que leva a caixa, dois elfos arqueiros com vestimentas vermelhas, também com motivos da flora e desenhos geométricos. Os arcos que carregam tem belos motivos decorativos, como também os recipientes para as flechas que levam pendurados nas costas. Logo atrás da primeira fila, aparecem os tres patriarcas elfos, Eroth, Elathriel e Faluae, que representam, respectivamente, as tres castas que convivem em Ab'Dendriel, os Cenath, os Kuridai e os Deraisin. Vestem elegantes túnicas brancas decoradas com estampas vermelhas e complementos dourados. Fechando o cortejo, mais dois elfos arqueiros, vestidos da mesma maneira que os elfos arqueiros que caminham à frente dos patriarcas.

Da mesma forma como em relação aos anões, Bizo pega a caixa trazida pelos elfos e a coloca aos pés do Trono do Rei. Abre cudadosamente a tampa e apresenta o conteúdo ao monarca, que faz uma expressão de aprovação. Bizo pega mais uma caixa, das que estão sobre a mesa entre os dois tronos reais, e a leva até diante dos tres patriarcas elfos, mostrando-lhes os objetos contidos pelo recipiente. Os tres patriarcas conversam entre si e fazem, como Tibianus, expressões de aprovação.Trocam com o Rei gestos de cumprimento e agradecimento.

O elfo que trazia a caixa dada como presente ao Rei, pega a caixa thaiana e a deposita sobre a mesa colocada ao lado das tres cadeiras situadas à esquerda do tapete vermelho, segundo o ponto de vista de quem entra no Salão do Trono, pela porta principal.

Bizo convida os Patriarcas a se sentarem nas tres cadeiras. Eles assim o fazem. Os elfos que os acompanham ficam ao redor das cadeiras, de pé.

—_Ai...ai...eles são perfeitos...Diz Genevieve, colocando os cotovelos na sacada e apoiando o queixo nas mãos.

—_É...reconheço que eles tem estilo...aqueles arcos deles, que desenho maneiro... Diz Cadi.

—_E agora...é a vez de Eloise entrar no Salão. Diz Addae.

—_Ah...Eloise. Diz Genevieve.—_Finalmente vou poder vê-la.

O burburinho aumenta a medida que se aproxima o momento de Eloise entrar no recinto. O nome da Rainha de Carlin é pronunciado, aqui e ali, em tom de sussurro, nas galerias: —_Eloise...Eloise...

As amazonas e as jovens que as acompanham, ao lado do grupo de Addae, conversam intensamente ante a iminência da entrada de Eloise.

Então, lá embaixo, no Salão, Bizo bate mais uma vez com seu bastão no assoalho e diz, em alta voz:—_ Prezados súditos de Sua Majestade, cidadãos de Thais, recebamos com respeito e hospitalidade sua Alteza Real, Soberana de Carlin...a Rainha Eloise!

Assim que um trio de amazonas aparece na entrada principal, o nível de excitação aumenta. Pela primeira vez, em cerca de 500 anos de independência de Carlin, uma soberana da antiga colônia thaiana pisa em Thais.

Como no caso dos anões e dos elfos, uma amazona vem trazendo um recipiente contendo presentes para Tibianus. Uma bela caixa feita de um material parecido com madrepérola, com desenhos encrustados, de motivos florais. Duas guerreiras portanto escudos, com as espadas embainhadas, escoltam a amazona do meio.

Então, na sequência, sobe as escadas para o Salão, através da entrada principal, uma dama trajando um vestido longo vermelho, com detalhes amarelos e brancos. Usa um manto rosa caindo sobre as costas. Seus cabelos ruivos são presos em coques laterais e posteriores. Impressiona sua beleza. Traços delicadíssimos; que expressam serenidade e confiança; e que podem ser notados mesmo pelas pessoas que se encontram nas galerias. A pele, alvíssima, em um formoso contraste com os cabelos e o vestido. O Salão reverbera os comentários admirados, mesmo encantados, com a formosa figura da soberana.

—_Gente...como ela é linda! A pele...parece de porcelana... Diz, admirada, Genevieve.

—_É...a Elioise ainda dá um caldo. Completa Cadi.

—_Quantos anos tem a Rainha? Pergunta Addae ao Tenente Bressi.

—_Ela tem, segundo as informações de que dispomos, a mesma idade da Rainha Isabel, ou seja, 32 anos. Responde Bressi.

—_Ela é casada? Pergunta Genevieve.

—_Não. Responde o Tenente.—_A Rainha Eloise ainda é solteira. Sabemos que há vários pretendentes na Corte de Carlin, mas ela ainda não escolheu seu Príncipe ou Rei Consorte.

Ladeando Eloise, duas mulheres trajando espécies de túnicas, como a indicarem que seriam magas ou druidezas.

Por fim, duas guerreiras entram no Salão, alguns passos atras da Rainha, fechando a escolta e o pequeno cortejo.

Bizo, uma vez mais, recolhe a caixa de presentes, agora de Carlin, e a leva até ao pé das escadas que conduzem ao Trono de Tibianus. Abre vagarosamente o recipiente e exibe seu conteúdo ao Rei. O soberano faz um movimento com a cabeça, como que aceitando as dádivas de Eloise, e indica a Bizo a última das caixas sobre a mesa, ao lado do Trono. O Mestre de Cerimônias leva o presente thaiano até a Rainha Eloise, abrindo a caixa dante dela. A Rainha faz um gesto de aceitação e acena para o Rei de Thais. Mas, diferentemente de Kruzak e dos Patriarcas Elfos, que trocaram com Tibianus expressões de simpatia, quase alegres, os semblantes de Tibianus e de Eloise se mostram sérios, tensos.

—_Nossa...como o Rei está com uma expressão emburrada. Ele não estava assim com o Imperador e com os Patriarcas...Nota Genevieve.

—_Você não lembra do que o Mestre Gregor disse, lá na Arena dos Cavaleiros? Indaga Addae a Genevieve.—_Tibianus na verdade nem queria que Eloise viesse.... Addae procura falar baixo, para que as amazonas ao lado não ouçam.

—_Que absurdo...nosso Rei devia parar com essa política de má vontade em relação a Eloise e a Carlin... Diz Genevieve, também em tom baixo, desta vez para que o Tenente Bressi não ouça.

Lá embaixo, no Salão, alguns funcionários reais, sob o comando e instruções de Bizo, pegam as tres cadeiras que estavam colocadas ao lado do tapete vermelho, perto das cadeiras usadas por Kruzak e sua comitiva, mas um pouco mais próximas da entrada princpal, e as colocam sobre o tapete, voltadas para o Trono Real, de modo que Eloise fique de frente para o Rei, com os elfos e anões sentados de frente uns para os outros, nas laterais do tapete, formando todos os soberanos presentes uma espécie de quadrilátero.

Eloise, antes de se sentar, faz respeitosas reverências a Kruzak e aos Patriarcas Elfos que, em resposta, se levantam e também cumprimentam respeitosamente a Rainha.

Eloise se senta em sua cadeira, e as duas sábias que a acompanham tomam os dois assentos ao lado da Rainha. As guerreiras que as escoltam ficam de pé ao redor das cadeiras.

Então Bizo, dirigindo-se às pessoas que ocupam as galerias, diz, em voz alta: —_Prezados súditos de Sua Majestade, cidadãos de Thais...retiremo-nos agora do Salão e das galerias, para que suas altezas possam almoçar e em seguida iniciarem conversações com vistas à assinatura do histórico e tão amejado tratado...solicito aos oficiais da Guarda presentes nas galerias que procedam à retirada ordeira dos cidadãos e convidados.

Pela entrada principal, um grupo de dez funcionários da Corte traz uma enorme e robusta mesa de madeira, onde Tibianus e os dignitários estrangeros almoçarão.

O Tenente Bressi se dirige aos tres jovens: —_Vamos cadetes, vamos nos retirar devagar, junto com esta multidão presente nas galerias. Sem pressa e ordeiramente...

O Tenente e os tres amigos vão caminhando devagar, no fim de uma extensa fila, já que estavam posicionados longe da porta de saída da galeria, que conduz à escada por onde subiram.

As pessoas que estão nas galerias vão se retirando ao mesmo tempo que observam a movimentação e os preparativos para o almoço e as negociações, lá embaixo, no Salão.

Os sábios membros do Conselho Real de Magos e Druidas se levantam e se dividem entre conversar com o Rei e com os dignatários estrangeiros e seus acompanhantes, com o intuito de deixá-los mais à vontade, para o banquete e para as conversações. A enorme mesa é colocada no centro do quadrilátero imaginário formado pelo Trono Real e pelos tres conjuntos de cadeiras ocupados pelos soberanos convidados.

Addae olha para a outra galeria, no lado oposto do Salão, e vê o Tenente Leroy conduzindo a retirada dos cadetes hospedados no Palácio. Procura localizar também os jovens anões e elfos que, segundo o Tenente Bressi, também irão para Rookgaard.

Cadi percebe que seu pai, no Salão, observa lá de baixo a retirada das pessoas das galerias. Quando o olhar do Capitão Tim se direciona ao local onde ele e seus amgos estão, Cadi acena tentando chamar a atenção de seu pai. O Capitão Tim percebe então a presença de Cadi e de Addae na galeria, faz uma expressão de surpresa e em seguida abre um largo sorriso, acenando lá de baixo para os dois amigos.

—_Agora meu pai sabe que nós presenciamos a cerimônia, hehe. Diz Cadi.

—_É...e devemos isso ao prestígio que nossa amiga aqui tem com o Mestre Trimegis. Responde Addae, afagando levemente os cabelos de Genevieve.

—_Ah, que isso meninos...foi um prazer poder colocar a gente para dentro do Palácio. Responde Genevieve em tom de brincadeira.

O final da fila vai se aproximando da porta de saída da galeria. Bem à frente do grupo formado pelo Tenente Bressi e pelos tres jovens amigos, vão as amazonas e as jovens que elas escoltam. As pessoas mais à frente da fila procuram disfarçar, mas olham curiosas, e de soslaio, para as guerreiras de Carlin ali presentes. Quando todos começam a descer a escadaria em caracol, muito funcionários da Corte vão saindo por portas localizadas ao longo da escada, antes de chegarem ao térreo ou ao final das escadas. Quando passam diante de uma dessas portas, as amazonas, através dela, deixam as escadas. Neste momento, uma das jovens amazonas dirige o olhar para o grupo de Addae, que vinha logo atrás. Seu ohar encontra o de Cadi. Os dois adolescentes se observam por alguns segundos. A jovem, como o padrão das amazonas que visitam Thais, neste momento histórico, é muito bonita. Tem cabelos castanhos longos ladeados por algumas tranças presas por pequenos apliques. Olhos castanhos, também. A amazona dolescente se refaz, assume uma expressão séria e desvia o olhar de Cadi. Segue com as demais amazonas por um corredor comprido, para onde a porta conduz. Cadi observa o grupo de amazonas se afastar no corredor.

Addae percebe o ocorrido e diz, discretamente, para Cadi:—_Bonita, não? Aliás como as demais amazonas que vieram a Thais com Eloise.

—_Rapaz... Responde Cadi.—_O Exército de Carlin deve ser o exército mais bonito de todo o Tibia.

Genevieve que, para a surpresa dos dois amigos, ouvira o diálogo, intervém:—_O exército mais bonito do Mundo é o de Ab'Dendriel.

O Tenente Bressi ri das afirmações e diz, por sua vez: —_Beleza não vence batalhas, cadetes. Treinamento intenso, companheirismo e coragem, sim.

—_Tá certo, Tenente. Mas já que Thais vai se aliar oficialmente a Carlin, pelo menos é o que se espera, bem que eu gostaria de lutar ao lado dessas amazonas da Eloise aí. Diz Cadi.—_Seria um incentvo a mais para o meu companheirismo e coragem.

Todos riem do que Cadi acaba de dizer.

Genevieve, além isso, lhe dá um pequeno tapa no braço.

O grupo chega ao final das escadas, no andar térreo do Palácio. Logo depois, estão de volta ao pátio externo frontal. Genevieve e os outros ainda conseguem ver alguns poucos anões e elfos cuidando das respectivas montarias. Soldados e oficiais thaianos se dividem em pequenos grupos esparsos pelo pátio.

Cadi se dirige ao Tenente Bressi: —_Muito origado, Tenente, por nos conduzir pelo Palácio. Foi um privilégio poder testemunhar aquela cerimônia.

—_Não há de quê, Cadi...e cadetes. Na verdade vocês devem agradecer ao Mestre Trimegis e indiretamente, à cadete Genevieve aqui, hehe. Sem eles vocês dificilmente conseguiriam entrar no Palácio em uma situação como essa, de tumulto e correria. Responde Bressi.

—_Caramba, que horas são? Indaga Addae olhando para o relógio dado por Augustus.

—_Ihhh...quase uma hora da tarde. O pai da Gê vai tirar o nosso couro. Estamos bem atrasados. Diz Cadi.

—_Ai, gente, meu pai vai ter que entender que nós fomos “convidados” para assistir a cerimônia aqui no Palácio. Diz Genevieve.

—_Então se apressem, cadetes. Diz Bressi.—_Caso não nos vejamos até o embarque, desejo-lhes uma boa viagem e que aproveitem bem tudo que aprenderão em Rookgaard. E que, uma vez incorporados às forças de Sua Majestade, honrem as cores e a bandeira de nosso amado Reino.

—_Muito obrigado, Tenente. Responde Cadi. —_Agradeça ao Capitão Baxter por nós.

—_Obrigado por tudo, Tenente. Diz, por sua vez, Addae.

—_Obrigada, Tenente Bressi. Foi ótimo conhecer o senhor. Diz Genevieve.

Após as despedidas, os tres amigos andam apressados na direção do Portão Principal do Palácio. Os guardas do destacamento no Portão os deixam sair. Os jovens alcançam a ponte e também são liberados pelos guardas postados no acesso.

Finalmente ganham a Royal Avenue. Ainda há bastante gente nas imediações do Palácio e circulando ao redor. Alcançam a esquina da Temple e descem na direção da esquina com a Main.

Cadi aponta para a loja de Sam e diz: —_Veja, Addae, seu pai está saindo da loja e fechando as portas.

—_Ele deve estar indo para a estalagem do Senhor Frodo. Hoje eu acho que ele vai almoçar lá. E eu também, hehe. Espero que a Hanna tenha avisado a ele que nós fomos ver a cerimônia no Palácio. Diz Addae.

Os tres jovens se aproximam de Sam, que, ao avistá-los, diz:—_Oh, finalmente, meninos. Eu já estava indo almoçar lá no Frodo. Se quiserem me acompanhar, estão convidados.

—_A Hanna disse ao senhor que nós entramos no Palácio, pai? Indaga Addae.

—_Sim, filho, Hanna e Augustus passaram por aqui há pouco e me disseram que viram vocês sendo escoltados por guardas, para dentro do Palácio. Cheguei a pensar que tinham sido presos, hehe. Responde Sam.

—_O senhor sabe se a Hanna foi na estalagem do Senhor Frodo avisar ao pai da Genevieve ou a alguém por lá que ela estava no Palácio? Pergunta Addae.

Genevieve intervem e diz:—_A Hanna não conhece meu pai, Addae. E talvez nem tenha conseguido ouvir direito quando você gritou para ela, de dentro daquela escolta. Eu mesma vou ter que me explicar com ele, por causa do atraso.

—_Pode deixar que eu e o Cadi falamos com ele, e explicamos que nós fomos ver a cerimônia no Palácio. Diz Addae.

—_Deixa com a gente, Gê. A gente fala com ele. Não dava para você recusar um convite como aquele, do Mestre Trimegis. Diz Cadi.

—_Não. Vocês só me dão apoio, mas deixem que eu falo com ele. Diz Genevieve.

—_Vamos almoçar e eu tambem participo do time de apoio à Genevieve, para ela falar com seu pai, hehe. Diz Sam, em tom de brincadeira.

Os meninos relaxam um pouco ao ouvirem o que Sam acabara de dizer e riem.

Nisso, Sam repara no belo colar usado por Genevieve: —_Que belo colar, Genevieve. Não tinha prestado atenção nele quando você veio à loja, mais cedo...é muito bonito.

—Ah, o colar...bem, eu não estava usando quando eu vim na loja, mais cedo. Eu o ganhei depois, do senhor Augustus, na joalheria onde sua filha trabalha... Responde Genevieve.

—_Augustus lhe deu o colar? Espanta-se Sam. —_Muita generosidade da parte dele...é uma joia que parece ser bem cara...

—_E não foi só isso, pai. Olha só. Diz Addae, mostrando o pulso e segurando o braço esquerdo de Cadi, para que Sam veja os relogios recebidos de presente.

—_É...estou surpreso com esse desprendimento do Augustus, dando presentes que pelo menos não são baratos, para vocês...enfim...talvez eu selecione algumas armas de bom nível de minha loja e lhes dê de presente...talvez...hehe.

—_Opa, bem que eu gostaria de ter aquela “Estrela da Manhã” que os Falcões venderam para o senhor, hoje mais cedo, senhor Sam. Diz Cadi.

—_Calma, Cadi. Não de tão bom nível assim. Responde Sam em tom de brincadeira.

Addae e Genevieve riem.

Os quatro se dirigem à estalagem de Frodo.

A Temple ainda se encontra cheia de gente, indo de um lado a outro, devido à chegada das delegações. Mas há um clima alegre na cidade, um ar de novidade, como se novos tempos tivessem chegado à capital, com a presença dos soberanos estrangeiros.

Sam e os garotos chegam à estalagem. Frodo, do balcão, já os avista e grita:—_Sam! Aquela mesa ali no canto já está reservada para você!

Sam faz um gesto com o polegar, como que respondendo positivamente e se dirige à mesa, com os meninos. Todos se sentam à mesa e Frodo vem atendê-los.

—_Olá, Sam. Olá meninos. E então, como foi o passeio? Indaga Frodo.

—_Foi ótimo, senhor Frodo, Inesquecível. Vi tanta coisa maravilhosa. Se adianta Genevieve. Mas em seguida, pergunta, um pouco apreensiva: —_Meu pai está no quarto?

—_Seu pai saiu cedo para tratar de uns assuntos pela cidade, mas até agora não voltou, Genevieve. Responde Frodo.

Genevieve faz uma expressão de alívio e diz, para Addae e para Cadi, discretamente:—_Ufa...ainda bem que ele se atrasou...

Cadi respode: —_Beleza....então ao inves dele brigar com você pelo seu atraso, você briga com ele por causa do atraso dele...

Genevieve e Addae riem.

Neste exato momento, Tokel adentra a estalagem, esbaforido e apressado. Vê Genevieve e os outros sentados à mesa, no canto, e se aproxima.

—_Uff...oi filha...me desculpe o atraso...uff...estava em uma negociação com a dona de um hotel perto do Portão Sul...mas felizmente fechei um acordo para fornecer alimentos...uff...e como foi o passeio? Diz, ofegante, Tokel.

—_Foi maravilhoso, pai. Conheci os templos de Thais, as arenas...e até o Palácio Real! Responde Genevieve.

Frodo diz a Tokel:—_Senhor Tokel, conhece o armeiro Sam, pai do Addae, aqui?

Sam se levanta e estende a mão para Tokel:—_Muito prazer, senhor...

Tokel também estende a mão, mas ao olhar para o rosto de Sam, fica como que paralisado, observando. Então, diz, balbuciando: —_M-muito prazer.

—_O senhor é o pai da Genevieve, não? Indaga Sam.

—_S-sim... Responde Tokel.—_Mas...diga-me, o senhor já esteve alguma vez em Greenshore?

—_Bem. Completa Sam.—_Apenas uma vez...foi há treze anos atrás...fiz parte do batalhão que foi levantar o cerco à cidade...e resgatar os habitantes e a guarnição, que estavam sitiados....

—_Eu sabia...nunca me esqueci de suas feições... Diz Tokel. —_Do soldado que se colocou entre a minha casa e um grupo de orcs...com dois machados nas mãos...e salvou a minha família...

Sam faz uma expressão de espanto. Seu olhar como se enxergasse longe, tentando se lembrar ou visualizar algo. Então diz:—_O senhor...é aquele pai de família, que tentava impedir que os orcs...invadissem sua casa...

—_Senhor...depois que o Exército nos trouxe para Thais, eu sempre quis encontrá-lo novamente, para mais uma vez agradecer. Diz Tokel, apertando, com as duas mãos, a mão direita de Sam.

Genevieve se levanta e diz:—_Senhor Sam. O senhor é aquele soldado. De quem meu pai sempre nos falou. O soldado que salvou a vida de nossa família.

Addae, surpreso, diz:—_Pai...que episódio foi esse??? Eu sempre acabo sabendo dessas coisas por outras pessoas. O senhor nunca conta nada!

—_Eu contarei! Diz Tokel, com um olhar distante, como se tentasse lembrar ou visualizar uma cena distante no tempo: —_Os orcs conseguiram romper a defesa em alguns pontos. Grupos de orcs tentaram invadir várias casas de Greenshore. Ao perceber isso eu corri do ponto da muralha onde estava para ver se tudo estava bem em minha casa, onde estavam minha esposa e minhas quatro filhas. Genevieve era apenas um bebê de colo. Era uma noite escura e chuvosa. Quando chego percebo um grupo de cinco orcs se aproximando de minha casa. Eu me coloquei entre eles e a porta de entrada. Eram todos muito fortes, musculosos, assustadores, com quase dois metros de altura. Eu estava com um escudo de madeira e uma clava. Queria gritar para que minha esposa e as crianças fugissem por alguma janela lateral ou traseira. Mas nem para isso tive tempo. Um dos orcs investiu contra mim. Com um halbert partiu meu escudo em dois e quase quebrou meu braço. Caí no chão com o impacto. Pensei que era o meu fim e o de minha família. Nisso o orc que me atingira emitiu um enorme urro de dor. O orc tentava alcançar aguma coisa nas suas costas, mas acaba caindo agonizante. Um guerreiro thaiano pula entre os orcs e eu, ao mesmo tempo em que segura e arranca um machado que estava encravado nas costas do orc morto. Esse guerreiro empunhava então dois machados e os movia em uma velocidade na qual eu mal conseguia enxergar seus movimentos. Atingia e se desviava dos orcs com uma agilidade descomunal. Sangue orc era projetado no ar, em todas as direções. Mais dois dos monstros caem inermes. Neste momento eu me arrasto, com dificuldade, para dentro de minha casa. Minha esposa e as crianças estavam encolhidas em um canto da sala, aterrorizadas com os grunhidos dos orcs e os ruídos de luta lá fora. Súbitamente os ruídos cessam. A porta da frente se move, fazendo um rangido que pareceu durar um século. Todos ficamos sem respirar naquele momento. O coração saindo pela boca. Um vulto aparece na porta e a luz da tocha acessa na sala ilumina seu rosto. Era o guerreiro thaiano, com a armadura e os machados manchados com sangue orc. Nunca me esqueci da fisionomia do soldado. Os anos se passaram mas eu sei que aquele guerreiro é este homem que está de pé diante de mim, aqui e agora.

—_Bem, senhor. Diz Sam, um pouco encabulado com a situação. —_Era minha obrigação. Fomos à Greenshore resgatar e salvar vidas. As que pudéssemos salvar. Felizmente pude ajudar a salvar sua vida e de sua família. Isso já me deixou imensamente feliz. E na verdade não fui eu quem abateu aqueles dois últimos orcs. Eu já estava cansado e apenas me defendia. Foram companheiros meus, arqueiros da Guarda, que chegaram em seguida e transformaram os dois orcs em paliteiros, de tantas flechas que os atingiram.

—_Poxa, senhor Sam. Diz Cadi. —_O senhor tem que sentar com a gente um dia e contar suas aventuras, quando servia na Guarda Real.

—_É só dar uma boa caneca de cerveja que ele começa a contar tudo, ahahahaha. Diz Frodo, em tom de brincadeira.

Sam também ri do que Frodo acabara de dizer.

Genevieve então, subitamente, dá um terno abraço em Sam, que se surpreende.

—_Senhor Sam. Diz Genevieve.—_Eu gostei muito de conhecer o senhor, quando Addae me levou na sua loja. Agora que sei que o senhor é aquele guerreiro que salvou a vida de meu pai, de minha mãe, de minhas irmãs e a minha vida também, gosto mais ainda do senhor.

Sam, um pouco encabulado, toca o ombro de Genevieve, como que correspondendo ao abraço da jovem, e diz: —_Como eu disse a seu pai, Genevieve, não há nada a agradecer. Cumpri com o meu dever, como Oficial da Guarda, como soldado do Exército Thaiano. Só o fato de terem sobrevivido, me basta. E me faz feliz.

—_Deixa de modéstia, Sam. Diz Frodo. —_Muitos companheiros seus de armas já contaram, nessas mesas aqui, na minha taverna, seus feitos como soldado do Rei.

Tokel então diz: —_Estalajadeiro, arranje mais uma mesa e a junte a esta aqui. Hoje o almoço do senhor Sam é por minha conta. E dos meninos aqui também. Tokel se volta para Sam.—_Espero que aceite a minha companhia para o almoço, Senhor. Isso me faria muito feliz. Seria para mim uma honra.

—_M-mas é claro, senhor Tokel. F-ficaria feliz com a sua companhia. Mas por favor, não precisa pagar o almoço de todos. O meu e dos meninos aqui eu mesmo pago. Responde Sam, um pouco sem jeito.

—_Eu faço questão, senhor. Rebate Tokel.—_Seria um privilégio para mim

—_Oba...boca livre. Diz Cadi, em um tom baixo, quase para si mesmo.

—_Tatius!!!! Berra Frodo para Tatius, que está no outro lado do salão, servindo outros clientes, em outras mesas. __Pegue mais uma mesa no depósito e traga aqui!!!

Como das outras vezes, Addae, Cadi e até mesmo Genevieve, levam as mãos aos ouvidos para se protegerem dos berros de Frodo.

Tokel se dirige a sua filha: —_Genevieve...onde você arranjou este colar que está usando???

—_Ganhei de presente, pai. Do dono da loja onde a irmã do Addae trabalha...Responde Genevieve.

—_Mas essa joia é cara, Genevieve. Responde Tokel. —_Vou passar nessa loja e pagar por esse negócio aí.

—_Nós também ganhamos presentes, senhor Tokel. Diz Cadi, enquanto mostra o relógio novo no pulso.

Addae também mostra o seu relógio.

—_O gerente da loja onde minha filha trabalha aparentemente quis presentear os meninos, em função deles irem para Rookgaard. Diz Sam. —_Eu também fiquei um pouco surpreso com a generosidade dele.

—_Deixa, senhor Tokel. Uma “lembrancinha” para comemorar o início de uma nova etapa na vida de sua filha. E dos meninos aqui. Diz Frodo, dando uns tapinhas nas costas de Tokel.

—_Lembrancinha? Indaga Tokel coçando a cabeça. —_Bom, tudo bem. Não vou fazer a desfeita de pagar ou fazer Genevieve devolver...se ele quis presentear...

Addae toca no ombro de Cadi e aponta para a entrada da Taverna:—_Veja, Cadi, veja quem acaba de chegar.

Cadi olha para a entrada e vê Arturos e René adentrando o recinto.

Addae acena para eles e grita:—_Mestre Arturos!!! Senhor René!!!

Os dois guildanos, ao perceberem Addae e os outros no canto do salão, vêm em direção à mesa de Sam.

—_Olá meninos....armeiro...senhor Tokel.... Diz Arturos, cumprimentando todos ali.

René, igualmente, cumprimenta a todos.

Arturos Olha para Addae e diz:—_Já acomodamos nossos novatos no apartamento que Turvy alugou. Ela e Topsy já providenciaram almoço para eles. Agora eu e René vamos providenciar o nosso almoço, hehe. Digam-me jovens, conseguiram ver a entrada das delegações dos elfos e dos anões na cidade?

—_Não só vimos a entrada das delegações, Mestre Arturos. Também estivemos presentes à cerimônia de recepção aos dignatários estrangeiros. Vimos tudo das galerias que dão para o Salão do Trono, no Palácio. Responde Addae, orgulhoso.

—_Não me digam. Espanta-se Arturos.—_Bem que eu gostaria de ter levado os alunos de minha guilda para ver esta recepção. Mas como não se sabia ao certo o dia da chegada das delegações, ou mesmo se viriam, e uma autorização real para entrar com os jovens guildanos no Palácio costuma demorar meses, não me foi possível levá-los à recepção. Devido ao tumulto nas ruas achei melhor nem tentar ver as delegações dos elfos e dos anões entrando na cidade. Mas isso evidentemente não impede que vocês me contem tudo o que viram na recepção. Estou curioso...

—_Claro, Mestre Arturos. Contaremos tudo. Responde Addae.

—_Pai. Diz Geneveve, para Tokel. __Mestre Arturos nos mostrou a Arena dos Cavaleiros, bem como a Arena dos Paladinos. E ainda nos levou ao Porto, para vermos a chegada dos alunos das guildas. E outros alunos do Exército, também.

—_Mesmo? Indaga Tokel.—_Bem, senhor Arturos, ficaríamos felizes se se juntassem a nós para o almoço. Tudo por minha conta!

—_Que isso, senhor Tokel. Rebate Arturos.—_Não quero abusar de sua generosidade....

—_Pois eu faço questão. Fechei alguns bons negócios hoje em Thais. Considere isso uma espécie de comemoração. Por favor, junte-se a nós. Insiste Tokel.

—_Bem, se for assim....Diz Arturos.

—_Tatius!!!! Mais uma mesa!!!! Grita Frodo em direção a uma das portas do fundo.

Tatius vem trazendo, esbaforido, uma mesa e duas cadeiras. Junta a nova mesa àquela onde Sam se encontra. Acomoda as cadeiras que trouxera. Troca alguns olhares e sorrisos com Genevieve e se prepara para buscar mais uma mesa.

—_Eu te ajudo a trazer mais uma mesa e algumas cadeiras, Tatius. Diz Addae.

—_Ufa...valeu, Addae. Responde Tatius.—_Você trazendo as cadeiras já me ajuda muito, Deixa a mesa comigo...

Quando os dois jovens trazem e acomodam a mesa e as cadeiras restantes, todos, fora Frodo e Tatius, se sentam e formam um alegre e faminto grupo.

René lança alguns olhares para a porta da cozinha, na esperança de ver Lana.

Arturos se dirige a Sam: —_Armeiro....o General Gregor falou a seu respeito. De quando você servia como oficial da Guarda. Pediu a seu filho aqui que lhe dirigisse desculpas da parte dele, Gregor. Devido às palavras que usou para tentar demovê-lo da idéia de deixar o Exército. Na verdade ele se referiu a você como um soldado valoroso. Por isso não queria que desse baixa da Guarda.

—_Humpft.... Reage Sam.—_Gregor nunca me enganou com aquela atitude. Eu bem sabia o que ele pretendia. Tentava atingir meus brios, para que eu não deixasse a Guarda. Mas eu já estava decidido. E sou muito feliz hoje em dia com a minha arte e com o meu ofício diante da forja.

—_E posso atestar a qualidade das armas que produz. Complementa Arturos.—_Todas de excelente nível. Se o Exército Real perdeu um grande guerreiro, Thais ganhou um excelente armeiro.

—_Obrigado pelas palavras, senhor Belloc. Responde Sam.—_É bom saber que o produto que sai de minhas mãos agrada aos meus clientes e fregueses.

—_Mestre Arturos também já foi da Guarda Real, pai. Diz Addae.—_Lutou no último conflito em Plains of Havoc, quando o Exército barrou a marcha dos monstros até Thais. Ele hoje é Mestre da Guilda “A Adaga”.

—_Bem, parece que o senhor também tem histórias para contar, senhor Belloc. Diz Sam.

—_Hehe...é...tenho algumas. Responde Arturos.—_Prometi contá-las aos meninos durante a viagem para Rookgaard.

—_Algumas são até difíceis de acreditar. Intervém René.—_Mas podem crer...são verdadeiras.

—_Como assim, viagem para Rookgaard??? Indaga Tokel. —_Dizem que o Rei não permite que, fora os alunos e pessoas envolvidas com a Academia, viajantes de um modo geral possam ir à Ilha.

—_Bem, senhor Tokel. Sam responde por Arturos.—_É possível sim ir a Rookgaard. Desde que se consiga uma autorização real. Deve ser pedida com antecedência de meses e está submetida á discricionariedade do Rei. Ou seja, ele pode ou não conceder, dependendo de seu humor. O senhor Belloc aqui conseguiu uma autorização para comercializar armas em Rookgaard.

—_Vou pedir uma autorização para comercializar alimentos por lá. Diz Tokel.—_Assim posso visitar Genevieve na Academia.

—_Não quero desanimá-lo, senhor Tokel. Intervém René.—_Mas se souberem que o senhor é pai de uma aluna da Academia, dificilmente o Rei vai conceder uma autorização. Mestre Arturos aqui pediu sua autorização meses antes de inscrever seu filho na Academia. Por isso conseguiu. Se tivesse pedido depois, seria quase impossível ter uma resposta positiva.

—_Mas vou pedir assim mesmo. Rebate Tokel.—_E senhor Sam, se o senhor quiser eu mesmo esfrego na cara desse tal de General Gregor umas verdades. Eu mesmo conto a ele como o senhor salvou a vida de minha família, na Última Guerra.

—_Hehe, não é necessário Senhor Tokel. Responde Sam.—_São águas passadas. E ele conhece esse episódio. Vamos torcer e rezar para que Genevieve, Addae e os demais meninos façam um bom curso em Rookgaard. Que sejam felizes e se realizem neste caminho que começam a trilhar.

—_Belas palavras para um brinde, armeiro! Entusiasma-se Arturos.

Ao ouvir isso, Tokel diz a Frodo:—_Estalajadeiro! Não ouviu o senhor Belloc, aqui? Queremos brindar! Traga vinho e cerveja, refrescos para os meninos aqui. E o melhor que tiver preparado para o almoço! Quero esta mesa aqui sempre cheia e bem servida!

—_Mas é claro, senhor Tokel! Agora mesmo! Responde Frodo.—_Tatius. Traga cerveja e abra aquela garrafa de vinho O da safra de antes da Guerra. E diga a Lana para preparar as travessas com o leitão e os frangos assados. Dê prioridade a esta mesa aqui. Eu cuido das outras.

—_Claro, tio. Diz Tatius se dirigindo rápido à cozinha.

Genevieve, sentada entre Addae e Cadi, puxa os dois amigos para mais perto de si com os braços, como a abraçá-los e diz: —_Addae e Cadi...nunca vou me esquecer desse dia maravilhoso....de tudo o que vi na cidade...a Torre...os Templos...as Arenas...o Porto...as amazonas, os elfos, os anões...as pessoas que conheci...a Recepção no Palácio...foi um dia de sonhos! Obrigada por tudo!

Addae e Cadi ficam um pouco encabulados com a cena, mas não escondem a alegria pela felicidade da jovem.

—_É...parece que teremos muito assunto para comentar neste almoço. Diz Sam, em tom de brincadeira.

—_Minha cara, faço questão que você narre para nós tudo o que viu naquela recepção. E mesmo antes de eu encontrá-los na Arena. Diz Arturos a Genevieve.

—_Claro Mestre Arturos. Contarei tudo! Responde a jovem.

E na mesa do alegre grupo, servida fartamente por Tatius, que aproveita para ouvir também a narração de Genevieve, a conversa e os risos fluem animadamente, avançando pela tarde de mais um dia que passa. Tornando mais próximo o momento da partida. Da partida para Rookgaard.


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