Misguided Angel escrita por Katsumi Liqueur


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Onde se descobre um pouco mais sobre ela...



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Seu nome era Anna, tinha 19 anos e estava no terceiro período de psicologia. Dividia um quarto numa república com Clara e, de certa forma, com Luísa. No momento estava sentada sobre sua cama, lendo alguma coisa. Clara estava se arrumando no banheiro. Luísa estava sentada na cadeira da escrivaninha, o rosto abaixado, aparentemente fitando as unhas de sua mão com um interesse que se derivava da monotonia.

-Você está lendo alguma coisa para sua aula? – A voz de Luísa, suave e quase inexistente, interrompeu sua leitura. Anna ergueu o rosto e sorriu.

-Não, não. As aulas só começam amanhã, ainda não tenho nada para ler.

-Poderia ser algo do semestre passado...

Fez que não com a cabeça, enquanto seus olhos retornavam ao papel.

-Animada para o começo das aulas? – A garota tinha parado de olhar a própria mão, mas o rosto ainda estava abaixado, o seu longo cabelo loiro cobrindo parcialmente seu rosto.

-Na verdade, não muito... Não estou desanimada, não é isso. Mas já é o terceiro período, né? Não tem mais aquele frio na barriga, aquela ansiedade, sabe como é... – Anna logo se arrependeu de sua frase, Luísa deu um longo suspiro.

-Na verdade, eu... – Mas foi interrompida por uma Clara que saia do banheiro secando os cabelos igualmente loiros.

-Falando sozinha outra vez? – Fez uma pausa dramática. –Você podia ao menos fazer duas vozes, sabia? Os dois lados da conversa! Você é estranha!

-Clara! Todo mundo fala sozinho! – Lançou um olhar a cadeira, Luísa erguia lentamente o rosto, um sorriso triste pairava em seus lábios. Anna odiava aquela situação.

-Não generalize. E não como você.

A garota na cadeira tinha acabado de erguer a cabeça e fitava Clara. Ou parecia fitar... Anna não tinha certeza, afinal... Luísa não tinha olhos. No lugar deles, riscos intensos e pretos maculavam sua face. Anna costumava ter medo, se incomodar... Com o tempo e o convívio com eles, fantasmas, começou a abstrair esse “pequeno” detalhe. Mas não apenas isso caracterizava Luísa como alguém que deixara de viver, uma marca avermelhada ao redor de seu pescoço explicava o motivo da sua morte. Tinha morrido há muito pouco tempo, ainda não era capaz de ter uma aparência “normal”. Ela morrera enforcada... Suicido... Embora a garota tivesse dito para Anna que não havia se matado, não se lembrava do que tinha acontecido.

Na época em que se conheceram, há um ano, se Luísa tivesse pedido ajuda de Anna para descobrir porque estava presa nesse mundo, ela teria dito que ajudaria. Teria mentido, pois não estava interessada em se envolver. Mas a garota não tinha pedido, o tempo tinha passado e elas tinham se tornado amigas. Agora, Anna ajudaria de bom grado Luísa... O problema é que achava, por causa do jeito melancólico da fantasma, que a garota tinha efetivamente se suicidado. Então, para não terem muitos problemas, elas não tocavam no assunto.

-Vai sair? – Anna resolveu fazer a pergunta mais óbvia possível, para mudar de assunto.

-Sim! Vou me encontrar com o... – Revirou os olhos diante da careta da amiga e resolveu mudar o que diria. –Desculpe se meu namorado não é um pseudo-socialista igual ao seu querido estudante de história!

-É, é... Você prefere mesmo os metidos, arrogantes e insensíveis.

-Eu prefiro os que me bancam! – Deu uma risada e desviou do travesseiro lançado.

-Não é o dinheiro dele... Logo, você deveria estar com o “papaizinho querido”! Acho que ele não te daria um fora! – As duas riram. Luísa havia desaparecido enquanto elas conversavam.

-Mas eu prefiro a versão mais jovem. E aí, como estou? – Caminhou pelo quarto, exibindo-se para a amiga. Usava uma saia jeans justa, sandálias e uma bata preta com um belo decote. Seus cabelos longos e loiros estavam molhados e meio desarrumados. Seus olhos eram azuis. Clara era linda e sabia disso. Seu lado metido só aflorava com homens que gostavam disso e com mulheres que ela considerava metidas e “inferiores”. Anna não podia deixar de notar que Luísa e Clara eram parecidas fisicamente, embora ela não soubesse a cor dos olhos de uma delas...

-Maravilhosa, como sempre! Se eu fosse lésbica te agarraria agora mesmo!

-E quem disse que você não é lésbica? Você só não tem... – Esfregou os dedos indicando claramente dinheiro. – Suficiente para me bancar, ao contrário do Marcos. – Anna jogaria um travesseiro nela, mas já tinha feito isso.

-Quem escuta você falando assim, até acha que é verdade. – Fez uma pausa e encarou a amiga. –Você gosta dele?

-Ás vezes... – Falou lentamente, refletindo antes de responder. –Gosto dele na maior parte do tempo, ele é bem legal comigo. Só que tem vezes que ele simplesmente não presta. – Clara estremeceu visivelmente e desviou o olhar, usando como desculpa uma volta pelo quarto atrás de sua bolsa.

-O que quer dizer com isso? – Franziu a testa, preocupada.

-Ah, o que você mesmo falou. Metido, arrogante. Some prepotente. Vou nessa, querida. Vamos sair mais tarde ou você vai se encontrar com o seu namoradinho?

-Você sabe ser irritante. Não vou me encontrar com ele. E não mude de assunto. Parece ser bem pior que “só” ser arrogante e prepotente.

-Fui! – Mandou um beijo, pescou sua bolsa da escrivaninha com a mão e saiu do quarto. Anna suspirou e Luísa voltou, o rosto na direção da outra.

-Desculpe por antes, foi bem... Insensível... Da minha parte. – A resposta foi um sorriso triste e um discreto, quase imperceptível, dar de ombros.

-Você vai terminar com ele?

-Vou, vou. – Revirou os olhos. A outra melhorou um pouco o sorriso.

-Por quê?

-Não tenha uma razão, eu acho. Acabou.

-Eu tenho quase certeza que eu namorava quando... – Apontou o pescoço. – Isso aconteceu. Acho que ele estava de certa forma envolvido... Porque eu não consigo me lembrar do rosto ou nome dele. Só sei que existia... Estranho isso... – Suspirou.

-Nem tanto, nem tanto. Qualquer coisa que tenha a menor relação possível com... Uhnm... Isso... Desaparece da mente das pessoas. É normal com os suicidas... – Logo emendou, antes que a outra replicasse. –Ou os assassinados. Dizem...

-Tem alguém vindo para cá... – Uma pausa, Luísa parecia concentrada. –Ah, você deve imaginar quem são... Eu vou... Desaparecer... Você sabe... Não gosto muito deles... Desculpe por isso.

-Tu... – Mas Luísa sumiu antes que Anna pudesse responder. Quase que no mesmo momento dois adultos apareceram no quarto, parados aos pés da cama de Anna. Seus olhos também eram riscos pretos, mas não podia se detectar no corpo deles a maneira como tinham morrido. Estavam mortos há muito mais tempo que Luísa, há mais de dez anos. – Mãe, pai... Eu já mandei vocês pararem com isso!

-Por acaso você quer que toquemos a campainha? – A mulher começou a falar, irritada. –Podemos tentar, você sabe. Mas estamos com pressa, viemos alertá-la e é assim que você nos recebe?

-Querida, acalme-se... – O homem sorriu e apertou de leve o ombro da mulher ao seu lado que desistiu de reclamar mais. –Viemos alertá-la, não brigar com ela.

-Vieram me alertar? Até parece! Todo dia vocês vêem algum perigo no meu futuro. Querem saber de uma coisa? Nada nunca acontece! E eu realmente adoraria que vocês parassem com isso. E, de quebra, parassem de invadir o meu quarto. – Era desconcertante, para suavizar as coisas. Eles tinham morrido num acidente de carro quando ela não tinha nem seis anos. Mas estiveram mais presentes do que se estivessem vivos. Não importava quanto ela reclamava, eles não mudavam nunca! Talvez isso fosse culpa da morte, essa falta de capacidade mudar um comportamento irritante... Eles surgiam e começavam a falar, não importava onde ela estava ou o que estivesse fazendo. Já haviam interrompido uma aula. Ou, muito pior, uma noite de sexo de reconciliação com o namorado. Ela julgava que não merecia isso, porque realmente não queria ser avisada.

-Dessa vez é real! – A mulher logo emendou. –Não que das outras vezes não fosse. Mas sabemos, por fonte fidedigna, que algo muito ruim pode acontecer. – Sua voz tornou-se bem mais branda e suave. –É realmente sério. Muito preocupante...

-Envolve aqueles seres que odiamos... – Começou o pai.

-Que vocês odeiam. – Corrigiu a filha.

-Que NÓS odiamos. – Franziu a testa, esperando outra reclamação que não veio. –A maioria dos vampiros não gosta de nós... Mas tem alguns deles que não satisfeitos em nos odiar... Ou até mesmo nos matar... Gostam de nos ver sofrer e decair lentamente. Mui lentamente. E um deles localizou você.

-Foi é? – Perguntou sem o menor interesse ou aflição.

-Querida! Isso é sério! – Bufou a mãe. –Você é uma das poucas que restam! Ele sabe disso! Vai se deliciar ainda mais com o seu sofrimento. Prolongá-lo ainda mais. Nem sequer vai deixar que você se mate.

-Mãe, eu não acredito nisso... E mesmo que acreditasse. Porque ele faria algo contra mim? Eu estou tão afastada disso! Fala sério, meu único elo com isso tudo é a habilidade, muito irritante, de ver e ouvir vocês! Só!

-Anna, você não está entendo...

-Eu estou, eu estou. Aparentemente um vampirinho que odeia a nossa maldita linhagem me localizou e que me ver sofrer por algo que não é culpa minha, certo? Vocês já me avisaram, missão cumprida. Que tal irem embora agora?

Os dois se olharam em silêncio, frustrados e irritados.

-Tchauuuu, mãe. Tchauuu, pai.

-Nós avisamos, querida... Esse tempo todo estivemos presos nesse maldito limiar conhecendo pessoas e fazendo contatos para que se isso um dia acontecesse, nós pudéssemos avisá-la... Mais de dez anos presos por causa disso, mas esperando com todo nosso coração que nunca chegasse esse dia... E quando ele chega, você ignora nosso aviso e nos expulsa de sua moradia... – Não havia emoção na voz da mãe, não havia expressão em seu rosto. Apenas os olhos riscados. Nesse momento Anna sentiu medo, algo que não sentia há muito tempo.

-Eu espero que essa não tenha sido a educação que minha mãe te deu... – Viu o homem balançar a cabeça para os lados... Com pesar? –Não aborreceremos você novamente... E esperamos, apesar de todo o tratamento frio, que você seja bem sucedida contra ele...

-Também não é pra tanto, né? – Mas eles sumiram, antes de responder. –O que há de errado com esses fantasmas? Simplesmente gostam de me deixar falando sozinha?

Anna ficou triste com a reação dos pais, mas não deixou isso durar. Não é que achasse que eles mentiam, mas ela não conseguia acreditar que vampiros... Não que eles não existissem... Queriam matá-la por causa de um motivo desconhecido. Ela tentava levar uma vida normal... Estudar, namorar, trabalhar... Não era tão difícil, apesar dos fantasmas estarem constantemente próximos dela... Porém a constância de seus pais mortos em sua vida era bastante desagradável e não a deixava ignorar alguns fatos de sua vida.

-Mas acho que agora vou conseguir isso... Mesmo que da pior maneira possível, parece que eles vão me dar um tempo... – Revirou os olhos ao notar que estava falando sozinha. –Tenho mesmo que parar com isso.

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Notas finais do capítulo

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