Martin entrou primeiro na casa, o animal, que estava deitado próximo à porta numa grande almofada, mal abriu os olhos. Totalmente desinteressado, ergueu sua cabeça e a balançou suavemente para os lados. Com um bocejo, voltou a deitá-la na sua almofada.

Quando Peter entrou, o animal se dignou a seguí-lo com o olhar. Os dois vampiros tinham caminhado até a escada, um deles sentara-se num dos degraus e o outro se apoiara no corrimão. Sabendo que logo o terceiro chegaria, o animal se levantou. Caminhou alguns passos e sacudiu seu corpo, emitindo um baixo latido. Mas não era um cão, estava muito mais próximo de um lobo, embora parecesse menos selvagem. E era fêmea, fato que se tornava evidente ao observar o objeto ao redor de seu pescoço. Uma fina corrente de platina, com um pingente escrito Mariana.

            Eric entrou lendo uma carta, a quase-loba esfregou-se contente em suas pernas. Num gesto automático, ele acariciou-a atrás das orelhas e parou na frente dos outros dois. A carta foi devidamente amassada, quando abriu a mão, o papel flutuava a alguns centímetros de sua palma, queimando. Os outros dois desviaram o olhar, incomodados.

            - Alguma novidade? – Sua voz era rouca e sem emoção.

            - O que aconteceu, afinal? – Uma voz suave e feminina. O animal transformava-se rapidamente numa mulher, que logo abraçou Eric por trás. Como lobo era ordinária, como humana, magnífica. Seu cabelo moreno e ondulado caía sobre seu rosto sem cobrir seus olhos cor de mel, que fitavam com desprezo os outros dois. Embora sua aparência fizesse as pessoas lembrarem-se de ciganos, suas roupas não condiziam com os mesmos. Um short jeans e um tomara-que-caia preto, roupas que pouco cobriam seu corpo escultural. No momento, ela o pressionava contra as costas de Eric.

            - Ele achou mais alguém daquela família para brincar.

            - Você vai gostar de saber disso. – Peter deu um discreto sorriso e continuou. – Seus pais eram primos. Eles morreram num acidente de carro e ela foi criada pela avó.

            - É uma pena, porque se estivessem vivos mais pessoas sofreriam. – Sua voz era um grasnar cruel. – Por outro lado, primos?

- Sim, primos. Anna está imersa na família totalmente.

            - Ela é uma das últimas. – Mariana sorriu com malícia. – Eric, você vai conseguir exterminar todos eles.

            - A tal garota, Anna, é poderosa?

            - Não sei, Eric. Não há registros dela usando algum tipo de poder. Mas se ela é filha de duas pessoas da família, deve ser.

            - Os grandes e poderosos caem de uma maneira mais interessante, não? – Tocou no braço de Mariana, fazendo com que ela o soltasse. – Se descobrirem mais alguma coisa, me contem imediatamente. – Ele terminou de subir as escadas e sumiu da vista dos outros dois, sendo seguido pela mulher.

            - Desculpe minha ignorância, Peter. Por que ele os odeia tanto assim? – Martin levantara-se e encarava o outro confuso. – Eu entendo não gostar deles. São humanos e poderosos demais! E aquele cheiro... Inebriante. O sangue dela deve ser tão bom. Mas não entendo Eric perder seu tempo a destruindo quando podia simplesmente nos mandar fazer isso.

            - Ele não é um qualquer como nós, Martin. Simplesmente mordidos por aí. Ele é nobre. O que significa que seu sangue é muito mais poderoso que o nosso, como você bem sabe. E os nobres odeiam aquela família, pois eles foram usados para que ela se tornasse tão poderosa.

            - Mas usados? Como? Você acredita mesmo nisso, Peter? Como a ralé humana conseguiria apoderar-se de um vampiro tão poderoso como Eric?

            - Métodos estranhos devem ter sido usados, ninguém sabe ao certo. Não só acredito, eu sei. Não tem outra explicação plausível.

            - Por que não tem outra explicação plausível, essa explicação estranha tem que ser a certa? – Ao ver o olhar reprovador do outro, suspirou e mudou de assunto. – Ah, deixa. Tô saindo outra vez, tenho fome. Você vem comigo?

            Aliviado por ter aquele assunto tão polêmico encerrado, Peter sorriu e concordou.

            - E quando eu não vou com você?

            Mariana havia seguido Eric até a porta de seu quarto, os dois haviam caminhado calados. Ela, feliz por ele não estar reclamando. Ele, pensando em outra coisa para se dar ao trabalho de expulsá-la. Mas quando abriu a porta e ela continuou indo atrás dele, voltou-se para olhá-la.

            - Por que está me seguindo, Mariana? – Havia irritação em sua voz.

            - Nah, por que eu não poderia fazer isso? Não precisa ser tão frio comigo.

            - Não preciso e não estou sendo. Mas você sabe como eu detesto esse tipo de comportamento.

            - Você o detesta, até que cede completamente para ele. E eu devo lembrar que está cedendo cada vez mais constantemente.

            - Posso ser um vampiro, mas ainda gosto de sexo. Não entendo como você se contenta só com isso.

            - Ah, algum dia eu pareci me contentar só com isso? – Ela jogou seus braços sobre os ombros dele e aproximou as duas bocas. – Nunca, meu amor. Eu quero tudo que você pode me dar. Eu só me contento com tudo.

            - Mariana, Mariana. – Ele deu um sorriso irônico e mordeu os lábios dela, sem machucá-la – Sabe que não oferecerei isso para você.

            - Mas eu tenho tempo. – Beijou-o com vontade, colando seu corpo no dele. – E sou insistente.  Enquanto você não me oferece o que eu realmente quero, eu vou sobrevivendo com o “pouco” que você me dá.

            - A escolha é sua. Eu já deixei bem claro, várias vezes, como são as coisas. Se quiser continuar tentado, o problema é seu.

            - Sabe, o que não me deixa desistir são os momentos como esse. Que você realmente parece se importar comigo.

            - Só pareço. – Sorriu ao dizer isso.

            - Não adianta, você já deixou bem claro que se importa. Vamos logo com isso, sim? – Puxou-o novamente para um beijo, enquanto deixava seu corpo ser guiado para a cama.