POV Cris

Duda e eu decidimos ir ao parque perto da pracinha, onde tinha um lago, pipoqueiros, sorveteiros, etc. Enfim, a vida estava lá. Conversamos sobre vários assuntos, como ler revistas não recomendadas para menores, sobre idiotices do dia a dia, sobre minha volta a SP, e sobre quando nos conhecemos.

Flash Back ON

– Mili, esse é seu primo? - perguntei. Eu tinha 5 anos. - Ele é muito fofo!

– Sim, Duda, exa é a Clis, exe é o Duda - sim, a Mili errava as palavras às vezes. Eu simplesmente abracei ele e beijei sua bochecha, depois saí correndo e nunca mais falei com ele. Voltei a falar quando cheguei aqui. Pois é #mico.

Flash Back OFF

Quando o Flash Back terminou, nós rimos do que eu fiz e ele comprou um sorvete pra mim.

– Um sorvete pra celebrar nosso primeiro encontro! - ele me deu um e brindou nossos sorvetes.

– Que encontro o quê?! Tá ruim da cabeça! - dei um tapa atrás da cabeça dele.

– Ai! Cara de Sorvete, vai ser seu novo apelido! - ele riu e olhou pra mim.

– Por quê? - nós paramos um em frente do outro. Ele foi se aproximando, aproximando... quando estávamos quase pra se beijar, sentindo a respiração um do outro, adivinha? Ele jogou o sorvete na minha cara e saiu correndo:

– Nem me pega, nem me pega! - esse cara tem sérios problemas.

– Idiota! - ri e sai correndo atrás dele. Prendi ele contra uma árvore e o cabelo dele ficou totalmente branco: era um cabelo de baunilha com casquinha de chocolate branco. Meu Senhor! Um velho quase me beijou!

– Ta, ta, parei. Mas eu prometo que vou parar de verdade só com uma coisa - foi passando mais sorvete em mim, aos poucos.

– É só isso? - sorri de leve.

– Não... antes eu quero realizar um sonho que eu sempre quis que acontecesse na vida real... - não tive chance de perguntar o que era. - Eu queria beijar alguém com sorvete na boca, e você foi a escolhida - não falei mais nada, ele só me beijou. O beijo foi calmo, sereno... devagar. Apreciei cada momento daquele gostinho. É, realmente, um velho me beijou.

De noite - POV Bia

Eu estava na casa de Janjão. Tinha ido dormir lá, e a gente ia vê uns filmes e comer pipoca. Mas, é claro, filmes de terror. Depois que eu descobri que a Marian era órfã, ela sumiu e não falou mais comigo. Não vejo ela desde de manhã quando falei com Carol. Eu estava sozinha na sala, enquanto Janjão tinha ido preparar mais pipocas. Pra assustá-lo, resolvi me esconder atrás de um estante. Antes desliguei a TV e espalhei pipoca e ketchup pelo sofá e pela sala. Então dei um grito abafado, esses gritos de quando um assassino coloca um tampão na sua boca.

Teve o resultado que eu queria: Janjão saiu correndo da cozinha e foi até a sala. Quando chegou, ficou que nem um bobão perguntando cadê o amor da vida dele (kkk), viu o ketchup no chão e gritou "nãããão", "Bia, cadê você", então ele começou a chorar. Então, pra assombrá-lo, falei:

– Estou aqui. Estou aqui! ESTOU AQUI. ESTOU AQUI!!

– Onde?! - perguntou desesperado.

– Aqui, bobão - e saí de trás da estante.

– Que droga, Bia! Eu já falei pra você parar com essas coisas! Eu te amo muito e eu não gosto quando você brinca com isso. Quem faz isso, acaba acontecendo coisas de verdade com a pessoa, sabia?! Se você me assustar desse jeito de novo, eu juro que vou explodir e...

– Calma, seu doido. Foi só uma brincadeirinha! - ri me sentando no sofá e religando a TV.

– De muito mal gosto! Sai daqui agora! A porta tá bem ali, sai daqui! Sai! - ele gritou apontando pra porta e chorando ao mesmo tempo.

Fiquei sem entender. Sempre faço esse tipo de brincadeira, ele sempre cai e fica chorando, um minuto depois a gente já tá se beijando de novo. Sem escolhas, saí pela porta o mais rápido possível, com cara de raiva, mas eu to sensível. Não acredito nisso! Acabei de estragar com os sentimentos da melhor pessoa que eu já conheci na minha vida.

Cheguei no orfanato, não falei com ninguém na sala e passei direto: fui para o porão. Eu me sentia a garota perfeita naquele lugar. Descobri ele com 4 anos, e ninguém mais sabe. Me sentia bem, muito bem. Mas desta vez não funcionou. Me deitei no sofá mofado e chorei e acabei dormindo.

Acordei apenas 3h da manhã. Me assustei e fui subindo as escadas correndo. Todos estavam na sala me procurando.

– BIA! Onde você tava menina?! - perguntou Mili assustada, se levantando do sofá. Quanta falsidade.

– Eu tava na casa do Janjão, só voltei aqui pra pegar uma coisa naquela hora, e voltei já pra ficar aqui. Boa noite meninas! - sorri e subi rápido, antes que fizessem mais perguntas. Dormi em uma boa cama.