The 69th: For What I Believe In escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 31
Holograma Azul


Notas iniciais do capítulo

Gente, chegamos ao capítulo 31!! É incrível como em 68th a história acabava aqui. Maaaaaaas, tem tanta coisa pela frente em 69th, vocês nem imaginam...
Mais um POV do Gerwin pra trazer treta às humildes residências de vocês! Espero que gostem (:



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(POV Gerwin)

Entre tantos momentos possíveis, a maldita luz verde escolhe começar a piscar enquanto estou no Centro em companhia de antigos colegas de trabalho. Ignorei o aviso duas vezes e só na terceira percebi do que se tratava: é o dispositivo entregue a mim pelas mãos do Presidente Snow. Eu não sabia que poderia, além de realizar, receber chamadas da Capital; afinal, por que raios o homem mais poderoso de Panem se daria ao trabalho de contatar um mero habitante do Distrito 6?

Talvez seja porque eu deveria tê-lo contatado sabe-se lá quantas vezes até agora. Se o fiz? Não; mal considerei a possibilidade.

É certo que venho espionando June Haylon, ou melhor, tentando realizar a tarefa que me foi dada sem importar-me em ter feito um trabalho tosco até agora. Mas a questão é que eu não me lembrava da aflição e do desespero que Coriolanus Snow é capaz de transmitir até sentir o pequeno retângulo preto vibrando em meu bolso pela terceira vez.

– Se me dão licença - digo para o grupo de homens de família ligeiramente bêbados ao meu lado antes de afastar-me. O Distrito 6 é certamente um distrito responsável, não?

Corro o mais rápido que posso em direção a um canto vazio do estabelecimento e encaro o botão verde à minha frente. Porém, a lembrança de uma fala de Snow quanto àquela bolinha colorida me faz perceber que qualquer lugar, mesmo que remotamente rodeado por pessoas, não seria uma boa ideia.

Dois cliques no mesmo bastam para avisar-me de que há algo que você precisa dizer. A partir disso, habilitarei hologramas…”

Eu definitivamente não acionaria nada do tipo enquanto estivesse no Centro. Só de imaginar a reação das pessoas frente a um holograma do Presidente Snow rechaço qualquer dúvida que tinha a respeito de correr e atropelar todos à minha volta, sem olhar para trás.

A quarta sessão de bipes incessantes já está em progresso quando encosto o corpo em uma árvore no meio da floresta que rodeia a multidão. Olho em volta para ter certeza de que ninguém me observa e, assim que fica claro que estou sozinho, aperto finalmente o botão no dispositivo. Uma espécie de radiação azulada dispara e cambaleio até cair na grama frente à explosão luminosa na floresta. Tenho tempo de me levantar e aprontar-me - com uma tentativa falha de desamassar as roupas amarrotadas e sujas de terra - até reconhecer um Snow enfurecido, com os punhos cerrados e apoiados em seu quadril.

Ou melhor, a figura se parece exatamente com Snow, exceto que, pessoalmente, o presidente não é azul.

– Vejo que o senhor arranjou um espaço em sua agenda agitada, Robertsen. - A ironia de Snow me faz estremecer. É certo que não quero me submeter a ele e fazê-lo pensar que pode me controlar - apesar de saber que pode e o está fazendo nesse momento. Mas vê-lo ali pessoalmente, olhando em meus olhos, me lembra do momento em que deixou clara uma ameaça a mim e à minha família.

Só que o presidente não está realmente em minha frente e não são exatamente seus olhos que fuzilam os meus. Posso tirar proveito disso, não?

Não que isso me encoraje a provocá-lo; só ganho força suficiente para impedir que eu me desculpe, por exemplo.

– Precisa de alguma coisa, Presidente Snow? - pergunto sem que haja um porquê das minhas palavras. Na verdade, nenhum porquê fora a necessidade de dizer algo que não fosse um pedido de desculpas.

– Ah, não acho que precise… - diz com um tom primeiramente doce, então interrompe a si mesmo. - É claro que sim, Robertsen! Preciso de informações a respeito de June Haylon, preciso saber por que diabos não recebo nada em semanas! Te dei quase um mês inteiro, e agora só me resta perguntar-lhe uma coisa: vai provar-se incompetente pelo resto da vida ou fazer algo realmente útil? Porque, caso escolha a primeira opção como a melhor, fique sabendo que eu, sim, farei coisas bastante úteis!

Sei exatamente do que ele está falando, e não me resta nada a não ser engolir em seco. Não é a primeira vez que Snow realça ter Burton na palma da mão. E eu não posso arriscar deixá-lo ir mais longe do que fazer ameaças não mais que verbais.

– Vou ficar com a segunda opção, Senhor Presidente.

– Ótimo. - Snow abandona o olhar desafiador e assume, em vez disso, um sorriso superficial e suficientemente amigável, além de uma atitude cordial novamente. - Agora, já que foi necessário que eu sacrificasse meu tempo para buscar informações, o que tem a me dizer a respeito de June Haylon?

Sei que colocou os irmãos na escola mas, quanto a ela mesma, abandonou os estudos de vez. Sei que June não passa um dia sequer sem visitar Constance e que de alguma forma as duas retornam com quilos de alimento nos braços; nunca descobri como fazem para conseguir tanta comida, porém. Sei que Burton a leva para conhecer o distrito vez ou outra, mas não sei até onde foram. Sei que June ontem conheceu a Vitoriosa morfinácea, apesar de que não faço a mínima ideia do porquê disso interessá-la.

E, além de todos as lacunas de informações que não fui capaz de preencher, não consigo de dizer nada do pouco que sei a Snow quando ele me pergunta.

É, eu sou o pior espião de todos os tempos.

– Mas que dificuldade de fazer as coisas com prontidão! - Ouço Snow exclamar, impaciente, pois larguei-o aguardando uma resposta esse tempo todo, percebo. - Diga alguma coisa, pelo amor de Deus!

Respiro fundo e acabo descobrindo ser possível mencionar algumas informações.

– June… - hesito, pensando no que valeria a pena dizer. - Bom, ela parou de estudar, mas seus irmãos, Mathew e Daniel, vão à escola todos os dias. E ontem ela conheceu a outra Vitoriosa do 6.

Depois de um mês coletando informações, é isso o que conto a Snow. Esforcei-me demais para não construir qualquer relação com June - apesar da frequência impressionante com que ela aparece em minha casa -, e por isso não me importo em revelar qualquer coisa a seu respeito. Contudo, a loirinha conseguiu envolver tanto a irmã de Saya quanto meu próprio filho em suas ações, e eu certamente não deduraria nenhum dos dois nem que me pagassem. O resultado disso? Apesar de ter escolhido a segunda opção proposta pelo presidente há poucos minutos, acabo provando-me nada mais do que incompetente.

– Ah, mas que notícias ótimas! - Snow exclama, e a ironia é, mais uma vez, gritante em sua fala. - Quem sabe agora eu possa escrever a biografia de June Haylon.

Congelo. Sei que não fui útil o bastante para Snow e tenho certeza de que pagarei por isso, ainda mais depois do que disse. Só não faço ideia de como ele fará com que eu me arrependa de tudo o que fiz - ou, nesse caso, do que não fiz. Penso em deixar todo o orgulho de lado e, quem sabe, implorar para que não toque em Saya, Burton ou até em Constance. Não sei como é o arrependimento de quando suas ações prejudicam quem você ama, mas não vi os melhores exemplos disso até agora e, por Deus, não quero aprender por experiência. June Haylon na televisão ao lado de meu filho semana passada me fez ter certeza disso.

Acabo notando que Snow não disse nada durante esse tempo que passei em silêncio e que agora massageia as pontes do nariz, também pensativo.

– Sabe, senhor Robertsen, eu não sou fã de segundas chances. - É agora, penso, apavorado. Entretanto, o que segue não é nem de longe o que eu esperava que Snow diria. - Por outro lado, espero que saiba que, se eu quisesse acertar as contas com June Haylon pessoalmente, já teria tratado de fazê-lo. E é por esse motivo, o verdadeiro porquê de tudo o que te pedi até agora, que estou te dando mais uma semana. Uma - ele faz questão de enfatizar o numeral - semana apenas, Gerwin, e espero gostar do que ouvir até então.

Faço que sim com a cabeça inúmeras vezes, não conseguindo expressar minha gratidão.

– Muito, muito, muito obrigado, Senhor Presidente! Não vou desapontá-lo.

Snow também assente, mas mantém a postura imponente enquanto o faz.

– Acredite, não quer.

O holograma então desaparece com mais uma explosão azul. Ofegante, levanto-me do chão e encaro o horizonte pensando que, se isso significa manter Snow longe de minha família, June Haylon teria mais companhia do que o normal a partir de hoje.


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Notas finais do capítulo

Qual será o objetivo de Snow, minha gente? E como será pra June ser vigiada 24/7? Descubra amanhã, no Globo Repórter (ou no capítulo 32 de 69th, vocês escolhem). Quero saber o que estão achando, comentem e preencham meu vazio! (Um quê poético mixuruca pra comover vocês, rs)



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