Além Do Fraternal escrita por Gey Scodelario


Capítulo 8
Quando tudo está confuso...


Notas iniciais do capítulo

Oie! os Reviews do capitulo passado, Meu Deus, Divônicos como sempre! Sejam Bem-Vindos os novos leitores, espero que o enredo da história agrade a todos vocês! :D Boa Leitura!



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_Eu estive pensando, acho que está na hora de eu arrumar um emprego... O que acha?

A voz de Pedro ecoou na mente de Karina, fazendo-a olhá-lo com raiva por ter desviado sua atenção.

Estavam sentados na sala de jantar, estudando. Normalmente, estudariam cada um em um quarto separado, mas perceberam que sempre tinha algo que lhes desviava a atenção. Já estava chegando a primeira remessa de provas, o que fazia com os nervos de todos se alterassem.

_Pergunta para sua namorada._ ela respondeu, voltando sua atenção ao livro.

_Não... Posso._ ele pareceu um pouco sem graça e desviou seu olhar para o caderno.

Karina estranhou a reação do irmão.

Já fazia um mês desde que Jade tinha se tornado sua cunhada e Karina ainda não tinha se acostumado com a história. Todos os fins de semana, lá estavam os dois, sentados na sala ou no quarto dele (com a porta aberta, é claro), trocando carícias e declarações.

Dandara estava achando tudo aquilo muito fofo e Gael sempre dizia “esse é o meu garoto” quando Pedro retornava da casa dela. Por falar na casa dela, a cada dia que passava estava mais próximo o almoço de “confraternização entre as famílias”... Ou foi assim que Jade batizou o dia que seus pais conheceriam os de Pedro. O que Karina achava disso? “Precipitado e ridículo! Vocês não estão se casando”, foi o que ela respondeu quando Pedro pediu a opinião dela sobre o assunto.

Pedro... Como tudo tinha mudado desde o dia em que Jade tinha vindo para aquele almoço. Já não conseguiam conversar abertamente, trocar confidências, se abraçar, dar beijos estalados no rosto, eram como dois estranhos. Só se dirigiam um ao outro para pedir opinião sobre futilidades ou para falar algo inútil. Se ambos estavam gostando daquilo? Não. Pedro todos os dias perdia horas de sono pensando em Karina e vice-versa.

É claro que Dandara e Gael perceberam a mudança dos filhos, até tentaram conversar, mas a resposta que receberam foi: “Estamos bem, não se preocupem”.

Agora estavam ali, a poucos centímetros de distância um do outro, fingindo que nada tinha acontecido, que ele nunca beijou o canto da boca da irmã, que ela nunca chorou por vê-lo com outra. Tentavam ser civilizados.

_Por que você não pode perguntar para a Jade?_ Karina perguntou.

_Por que ela quer que eu trabalhe na loja do pai dela._ ele respondeu enquanto fazia algumas contas na calculadora.

_Hum, seria uma boa..._ ele a olhou imediatamente, fazendo-a repensar o que havia dito._ Não?

_Claro que não K, eu não quero trabalhar para o meu sogro! Que coisa mais... Humilhante.

Karina riu e voltou a estudar, mas Pedro pareceu estar gostando de finalmente manterem um diálogo por mais de um minuto e continuou:

_Além disso, eu quero trabalhar com computação. Lembra daquele curso que eu fiz? Então, quero colocar o que eu aprendi em prática.

_Faz muito bem._ ela respondeu simplesmente.

O silêncio caiu mais uma vez, mas nenhum dos dois estava estudando. Karina o olhava ás vezes pelo canto do olho, admirando cada traço dele.

_Você conseguiu resolver a... O que foi?_ ele perguntou sorridente, quando percebeu que estava sob o olhar atento dela.

_Nada. Qual você quer?

O fim da tarde foi tranquilo naquele dia, talvez o primeiro que conseguiram passar 3 horas seguidas sem discutirem, para a surpresa de Dandara, que a todo momento levava um lanche para os dois.

Aliás, ambos percebiam que Dandara já estava cansada de ficar em casa. Todos os dias ela parecia um pouco perdida, sem saber mais o que fazer afinal todo o serviço doméstico já estava pronto.

Uma noite, foi inevitável ouvir uma discussão vinda do quarto do casal. Pedro e Karina até chegaram a sair de seus aposentos para ver se estava tudo bem e, como ainda fazia pouco tempo desde a bendita tarde de domingo, quando se viram sozinhos ficaram extremamente desconcertados e correram cada um para seu quarto.

Agora sabiam que Dandara procurava um emprego na área que sempre trabalhou e, mais uma vez, Karina voltaria a ser a dona de casa.

_Acho que ela consegue um emprego fácil, outro dia eu estava olhando o currículo dela no computador, a mamãe tem muita experiência._ Pedro disse, enquanto juntavam os materiais para irem dormir._ Aliás, sabia que ela já trabalhou no Rio Grande Do Sul?

Karina parou o que estava fazendo e olhou para o rapaz estupefata.

_Estranho, ela nunca comentou isso conosco...

_Quem nunca comentou o que?

A chegada repentina de Dandara fez os dois se sobressaltarem. Foi Pedro quem respondeu:

_A senhora nunca nos contou que trabalhou no Rio Grande Do Sul, como foi lá?

Dandara parou imediatamente o ato de recolher as louças de cima da mesa. Ela ficou estática por um minuto até que conseguiu pensar em uma resposta rápida:

_Ah, foi uma época rápida em que eu tive que fazer um intercâmbio para lá... Enfim, _ ela se apressou para sair dali._ Nada de mais. Por que não vão descansar um pouco?

Ela saiu sem permitir que os dois respondessem ou que perguntassem mais coisas, o que os deixou intrigados.

Mais tarde, quando se aprontavam para dormir, Dandara contou o ocorrido para Gael, que imediatamente sentou-se na cama lívido.

_Você acha que eles acreditaram na sua resposta?_ ele perguntou, observando-a se trocar.

_Não sei, acho que sim.

_Por falar nisso, recebi notícias do Nando hoje.

_Verdade?_ Dandara se sentou ao lado dele e recostou-se na cabeceira.

_Sim, parece que ele arrumou uma namorada. Ele me mandou um email contando... Diz que quer vir nos visitar, você vê algum problema?

_Não, Pedro e Karina já o conhecem e gostam dele, por mim tudo bem.

Gael sorriu e se deitou, mas Dandara ainda parecia estar preocupada e permaneceu no mesmo lugar.

_Ei,_ ele disse, tocando na mão dela._ Vai ficar tudo bem.

_Eu sei... Na verdade não era bem nisso que eu tava pensando._ ela o olhou seriamente.

_Então...?

Dandara pensou muito antes de dizer o que queria. Respirou fundo várias vezes e se deitou, virando-se de lado para ficar de frente para ele.

_O que você acha..._ ela começou a falar, acariciando o rosto dele._ De termos um filho... Nosso?

O rosto de Gael se iluminou e ele não pensou duas vezes antes de dar um beijo apaixonado na esposa, que ria de felicidade.

No dia seguinte, Karina mais uma vez evitou ficar próxima de Pedro e da namorada, isso já era até comum. Como vinha fazendo há um tempo, foi direto para o campo e, como sempre, lá estava Cobra sentando no mesmo banco.

Desde que ficara sabendo sobre a história dele e de Jade, Karina tentava arrancar do rapaz a verdade, mas ele se recusava a contá-la, dizendo que não valia a pena mexer no passado. Para espanto dele, ela não acreditava que a história que a cunhada contava era verdadeira.

_Oi você._ ele disse, sem tirar os olhos do livro que lia.

_Oi, tá lendo o que?_ ela perguntou, sentando-se ao lado dele.

_Um livro que o meu pai me emprestou sobre softwares._ ele fechou o livro e o guardou na mochila._ Então, estudou muito?

_O suficiente.

_Gostei da resposta.

O sorriso dele a encantou de tal maneira, que a jovem foi obrigada a desviar seu olhar para o outro lado campo e se surpreendeu ao ver Jade conversando com outro rapaz. Os dois riam muito e ela parecia muito íntima dele.

_Sabe quem é ele?_ Karina perguntou, apontando para o casal.

_Nicolas, capitão do time de futebol e sim, ele já namorou a Jade.

Pelo visto não tinha um cara bonito naquela escola que não tivesse ficado com Jade. Mas Karina preferiu não se intrometer naquilo e resolveu prestar atenção em outra coisa. Sentia-se sem motivação para a maratona de provas que teriam naquela semana. Precisava de algo que a estimulasse a seguir em frente. E foi Cobra quem lhe deu o chá de ânimo.

_Eu vou dar uma festa nesse fim de semana... Quer ir?_ ele perguntou de repente.

_Eu adoraria._ ela respondeu mais animada.

O sinal soou e em um minuto não tinha mais ninguém no campo. Karina chegou apressada na sala, sentando-se na frente de Pedro e sob o olhar enciumado de Lírio, ao seu lado.

_Onde você estava? Não combinamos que iríamos rever algumas coisas antes da prova?_ Pedro bradou baixinho.

_Ah, então era por isso que a sua namorada estava de papo com o ex no campo? _ ela sussurrou maldosamente.

_A Jade o que?_ ele perguntou um pouco alto de mais, chamando a atenção do professor que já distribuía as avaliações.

_Senhores, silêncio por favor._ ele bradou.

Karina sorriu intimamente: pelo visto Pedro não tinha ideia do que sua namoradinha fazia quando estava sozinha. E essa questão foi levantada no intervalo, quando se sentaram à mesa do refeitório.

_Jade, com quem você estava conversando enquanto eu estudava antes das aulas começarem?_ Pedro tentou fingir desinteresse. E estava conseguindo.

_Com um amigo...

_Amigo ou ex?_ Karina a interrompeu, atraindo os olhares de todos à mesa._ Olha, achocolatado!_ ela começou a tomar a bebida desesperadamente, esperando que atenção voltasse para o casal o mais rápido possível.

_Bom... Sim, eu já fiquei com ele, não nego isso._ ela fuzilou Karina com o olhar, depois voltou-se para Pedro._ Mas eu garanto, meu amor, que hoje somos apenas bons amigos.

_Hum..._ Pedro murmurou e depois voltou-se para Karina._ E você? Onde e com quem estava antes das provas?

_Eu estava no campo...

_Conversando com o Cobra._ agora, foi a vez de Jade sentir o gostinho de entregar alguém. Assim como Karina, ela imediatamente fingiu-se muito interessada no próprio sanduíche.

Mas, ao contrário dela, Karina respondeu, simplesmente:

_Sim. E daí?

A ira no olhar de Pedro era visível a todos, inclusive à Jade, que percebeu que ele estava com mais ciúmes de Karina do que dela. Ela tentou reverter a situação dizendo:

_Sabe, Nicolas foi sem dúvida nenhuma um dos melhores namorados que eu já tive, ainda gosto muito dele... Como amiga, claro.

Pedro estava tão atordoado com o fato de sua irmã estar tão apegada à Cobra que simplesmente ignorou o que a namorada estava dizendo.

_Pedro, por favor, somos apenas amigos._ Karina sussurrou, não queria chamar a atenção dos outros à mesa, já que estes estavam entretidos em seus próprios assuntos.

_Não gosto dele K._ ele respondeu no mesmo tom.

_Mas eu gosto, por favor, respeite minhas escolhas.

_O quanto você gosta dele?

A pergunta dele a despertou para esse fato: estaria gostando de Cobra mais do que deveria e poderia?

_Me responda. _ o rapaz insistiu, ainda sussurrando.

_Eu... Não sei..._ ela balbuciou, seu olhar fixo na própria bandeja.

Pedro não insistiu na conversa, para alívio de Karina.

Após o término das provas, que resultou em uma saída mais cedo, a maioria dos alunos se dirigiu ou para as quadras ou para o campo, onde uma turma já treinava.

Como não se sentia com ânimo, Karina sentou-se mais afastada na arquibancada e começou a ler um livro qualquer. Acabou se distraindo e não percebeu quando Lírio sentou-se ao seu lado.

_Atrapalho?_ ele perguntou baixinho, temendo assustá-la.

_Hã? Ah, oi... Claro que não._ ela fechou o livro e o guardou na bolsa.

_Então... Como você acha que foi nas provas?_ ele perguntou.

_Não sei, eu tenho a terrível mania de nunca saber como eu me saio nas provas e o pior: eu sempre esqueço tudo o que eu fiz.

_Como assim?_ ele riu.

_Você pode me perguntar o que eu respondi na questão 5, por exemplo, que eu não saberia responder. Simplesmente não me lembro.

_Memória ruim?

_Não, acho que é mais uma forma que minha mente arrumou para não me deixar preocupada, tipo, o que está feito, está feito, não tem como reverter e discutir o ocorrido é perda de tempo.

Lírio devia realmente estar muito apaixonado, por que estava totalmente hipnotizado com a garota à sua frente. A forma como as palavras dela eram articuladas, o tom de voz suave, a sinceridade nas palavras. Ela era perfeita.

_O que foi?_ ela perguntou assustada, pela forma como ele a olhava.

_Me desculpe, eu...

Nesse momento, eles ouviram vaias vindas das arquibancadas e, quando olharam para o campo, viram um motinho se formando a redor de dois rapazes.

_PEDRO!

Karina fez menção de ir até lá, mas Lírio a segurou e disse:

_É perigoso, eu vou ver o que está acontecendo. Fique aqui.

Karina o assistiu descendo as escadas correndo e ela foi ao encontro de Jade, que parecia estar se divertindo com aquilo.

_Jade, o que está acontecendo?_ ela perguntou, se aproximando da morena.

_Parece que o Pedro e o Cobra estão discutindo.

_Por quê?

_Por que, não, por quem! Por mim!

Karina a olhou com desprezo e continuou:

_Como você sabe que é por você?

_A Mari estava lá, chegou aqui dizendo que ouviu meu nome no meio da discussão.

Karina preferiu não insistir naquela conversa, não acreditava que o mané do seu irmão estava brigando por causa daquela garota fútil.

No campo, Pedro e Cobra se encaravam com fúria nos olhos. Lírio se aproximou do amigo e tentou acalmá-lo, mas Pedro não lhe deu atenção.

_Fique longe dela, estou avisando._ Pedro bradou.

_Por que você não pede para ela ficar longe de mim? Ah, eu sei por que, você é só o irmão, não é o pai.

_Estão brigando por causa de Karina?_ Lírio perguntou a um rapaz que estava assistindo a discussão.

_Sim, parece que o Cobra falou algo sobre a Karina ir a uma festa na casa dele nesse fim de semana e o Pedro não gostou nada, aí o Cobra falou para ele ir cuidar da namorada dele e deixar a irmã em paz, aí o Pedro partiu para cima dele e... Virou isso aí.

Lírio achava que o motivo da briga seria Jade, mas se enganou completamente. Ele pensou em ir até Pedro novamente e o arrastar para longe dali, mas alguém já empurrava os rapazes e se colocava entre os dois. Era Karina.

_Já chega Pedro, para já com essa briga idiota!_ ela colocava a mão no peito do irmão e tentava acalmá-lo.

Por um momento, o olhar suplicante dela até o amoleceu, mas ao ver Cobra atrás dela, rindo, a ira lhe subiu como um vulcão em erupção e ele disse, tirando a mão dela de seu peito.

_Por que você não me disse que iria a uma festa na casa dele?_ ele perguntou, segurando o braço dela.

_O que? Como... Espere um momento... É por isso que vocês estão brigando?_ ela olhou para Cobra curiosa_ Por causa de uma festa?

_Olha Karina, ele veio para cima de mim, falando que eu queria seduzir você, que era para eu ficar longe de você..._ Cobra tentou se justificar.

_Ah, e vem me dizer que não era isso que você estava falando para seus amigos?_ Pedro disse, furioso.

_Claro que não! Eles sabem que eu gosto da Karina e era isso que eu estava falando para eles, que estava feliz por que a tinha convidado para a festa, você é paranoico?

Karina ficou surpresa com a revelação de Cobra, mas não tinha tempo para pensar nisso agora. Virou-se para Pedro e segurou o rosto dele, o forçando a olhá-la.

_Vamos embora, em casa conversamos. Por favor!

Ele não teve como recusar e ia se dirigindo para fora do campo, quando ouviu uma gargalhada e uma voz debochada dizendo:

_Eis aí, meus caros, um típico exemplo de um pau mandado!

O que aconteceu a seguir foi muito rápido para a compreensão de qualquer um: Pedro se soltou de Karina, que segurava o braço dele, e partiu para cima de Cobra.

_Nessa idade... Eu não acredito até agora que A DIRETORIA ME LIGOU PARA IR BUSCAR VOCÊS POR QUE VOCÊS ESTAVAM BRIGANDO NA ESCOLA! PELO AMOR DE DEUS! VOCÊS JÁ ESTÃO BEM GRANDINHOS PARA ESSAS COISAS!

O sermão de Dandara parecia não ter fim. Pedro e Karina apenas escutavam, ele deitado na sua cama, em seu quarto, e ela sentada ao lado dele.

_Fiquem aqui, eu vou até a farmácia comprar uns curativos, alguns analgésicos, por que já vi que sua noite, mocinho, vai ser longa!

Dandara saiu do quarto e bateu a porta ao fechá-la. Karina o olhou e se assustou: o irmão tinha um olho muito roxo, vários hematomas pelo corpo, a boca cortada.

_Acho que eu não vou te perguntar como você está, por que estou vendo.

Ele sorriu, mas logo seu sorriso se transformou em uma expressão de dor. A jovem riu e acariciou o rosto do rapaz, que fechou os olhos ao sentir aquele toque.

_Por que você não me contou sobre a festa?_ ele perguntou, num sussurro.

_Por que eu acho que você não tem nada a ver com isso._ ela respondeu, ainda o acariciando.

Pedro se sentou com dificuldade na cama, ficando da mesma altura que ela.

_Karina, eu não gosto daquele Cobra, e acho que ele não é uma boa companhia para você.

_Pedro, ninguém aos seus olhos é uma boa companhia para mim.

_Não é isso._ ele se irritou.

_Claro que sim! Me responda por que?

_POR QUE EU TE AMO!

Ela o encarou estupefata, as mãos, que antes acariciavam o rosto dele, caíram trêmulas no seu colo.

_Ah... Q-Quero dizer..._ ele balbuciou, desviando seu olhar._ Como irmão... Claro.

_Eu também te amo._ ela o olhou, séria._ Como... Irmã.

Os corações batiam acelerados, as mãos frias se uniram em um aperto desesperado. Não sabiam o que queriam passar um para o outro: confiança, carinho, companheirismo... Amor. Pedro levou a mão dela aos lábios e depositou ali um beijo, que ardeu ao entrar em contato a pele delicada da jovem. Ela fechou os olhos, uma lágrima escorrendo silenciosamente pela sua face, como se quisesse lavar todo aquele sentimento mundano que nascia dentro dela e irradiava como uma chama.

_Eu te amo..._ ela sussurrou._ Pedro eu te amo...

Sem mais, ele a beijou delicadamente. Seus lábios tocando os dela, como se estes fossem um artefato muito frágil e proibido. Karina queria sair correndo, queria se afastar, mas o beijo dele era como um ímã que a mantinha estática, sem mover um músculo.

O barulho de buzina os trouxe de volta à realidade. Ela se levantou imediatamente, chorando compulsivamente. Pedro se levantou, as dores no corpo pareciam ter sumido.

_O que... Meu Deus... O que..._ ela gaguejava, tocando seus lábios assustada.

_Karina... Eu não..._ Pedro foi até ela, mas não tinha coragem de tocá-la.

_Sai... De perto de mim..._ ela sussurrou, o olhando com desprezo.

_Você me disse... Que me amava... Eu..._ ele tentava falar algo, mas as palavras eram inúteis ante o desespero que brotava em ambos.

_E você acha que eu queria que isso tivesse acontecido?_ Ela gritou, desesperada.

_Karina, por favor!_ tentava acalmá-la, mas ele mesmo estava atordoado com o ocorrido.

Ela o olhou com nojo, e saiu do quarto. Pedro não tentou impedir, pelo contrário. Seu coração batia forte e o arrependimento o arrebatou, fazendo-o cair na cama, de costas, chorando de forma descontrolada.

Karina não queria permanecer naquele lugar. Pegou um casaco e saiu, debaixo de uma chuva que ela nem sabia quando tinha começado. Parou na porta de casa e deixou a chuva cair sobre si, na esperança que levasse embora tudo o que sentia, mas seus lábios ainda guardavam o calor dos lábios dele.

Ouviu um barulho de carro que a alertou. Era Jade, que corria para se esconder da chuva.

_Tá fazendo o que na chuva sua louca?_ ela perguntou, abrindo a porta da frente da casa e entrando, sem cerimônia.

_Eu... Ia dar uma volta e a chuva me pegou.

_Hum... O Pedro, onde está?_ a morena indagou.

_No quarto...

Jade não esperou o fim da resposta, subiu correndo as escadas. Bateu à porta delicadamente e ouviu um “Entre.” abafado. Entrou cuidadosamente e tomou o cuidado de deixar a porta aberta.

Pedro estava deitado de costas para a cama, seu olhar fixo em algum lugar no teto.

_Oi amor... Vim ver como você está?_ ela perguntou, tomando cuidado ao se sentar na beirada da cama, ao lado dele.

_Estou ótimo._ ele respondeu, seu olhar fixo no mesmo lugar.

_Claro... Aconteceu alguma coisa?_ ela reparou no nariz avermelhado e nos olhos inchados devido às lágrimas que com certeza ele tinha derramado.

_Tive uma discussão com a Karina, acabamos brigando feio e... Você sabe..._ ele enxugou uma lágrima que escorria._ Não gosto de brigar com ela.

_Vai ficar tudo bem, tenho certeza._ ela respondeu.

Pedro a olhou pela primeira vez. Percebeu que a tinha traído e isso agora pesava na sua consciência também.

_Então... Brigou por causa dela não foi?

Ele balançou a cabeça positivamente. Ela prosseguiu:

_E ela ainda briga com você? Nossa, a Karina não tem coração mesmo.

_Não fale isso dela._ ele retrucou.

Jade não falou mais nada, percebeu que por mais que ela tentasse mostrar como Karina era ingrata, ele iria defender a irmã a todo momento.

Enquanto isso, Karina mantinha seus planos de sair, mas deparou-se com Lírio. Estava encharcado também, e parecia não se importar em se molhar mais um pouco.

_Aonde vai nesse temporal?

_Não sei._ ela foi sincera.

_Posso te fazer companhia?_ ele se aproximou, afastando uma pequena mecha loira de cabelo molhado que pendia na testa dela. A chuva continuava.

_Não._ ela respondeu, mal humorada.

_Tem certeza?_ ele parecia estar se divertindo ao vê-la encharcada.

_Lírio, acho que está na hora de deixar algumas coisas claras. _ ela alterou a voz, tanto por causa da chuva, quanto por causa da raiva que sentia naquele momento._ Eu não estou a fim de você, e eu não pretendo ter um relacionamento amoroso com você.

Lírio ficou em silêncio. Queria que um buraco se abrisse sob seus pés, para que ele pudesse se enfiar, devido a vergonha que sentia. Karina o olhava decidida e segura. Apenas naquele momento, ele percebia como os olhos dela estavam vermelhos devido à lágrimas recentes.

_Aconteceu alguma coisa?_ ele perguntou, preocupado.

_Não, apenas acho que está na hora de parar de fingir que não percebo seu interesse por mim, acredite, fico lisonjeada, mas infelizmente devo deixar claro que não quero nada mais que uma amizade sincera com você. Só isso._ ela disse isso tudo automaticamente, na verdade seus pensamentos insistiam em estar com Pedro e o ocorrido.

_Então... Acho que confundi as coisas?_ ele disse, a olhando decepcionado.

_Eu sinto muito._ ela finalizou, a chuva os inundando a cada segundo daquela dolorosa conversa.

_Diga à Jade que arrume um táxi para voltar para casa... Obrigado pela sinceridade.

Ele se dirigiu ao seu carro cabisbaixo. Nesse momento, um outro carro estacionava na garagem da casa. Eram Gael e Dandara.

_Minha filha, você enlouqueceu?_ Gael correu para cobrir Karina com o guarda chuva._ Venha, vá tomar um banho quente.

Ela foi automaticamente. Entrou em baixo do chuveiro, sentindo a água quente escorrer pelo seu corpo. Encostou-se na parede e fechou os olhos e imediatamente as lágrimas começarem a escorrer entre as gotas do chuveiro.

Ela se sentia suja, se sentia a maior de todas as pecadoras! Como podia ter beijado seu próprio irmão? Como, Deus, como?

Em um gesto de desespero, Karina pegou a esponja de banho e começou a esfregá-la com força por todo o corpo, inclusive nos lábios. Queria se lavar de qualquer paixão... De qualquer fruto do mal que insistia em nascer nela.

O jantar estava pronto e Dandara convidou Jade para ficar, mas esta não aceitou por que ainda tinha que chamar um táxi para levá-la para casa.

Pedro e Karina não quiseram descer para jantar. Ela preferiu ficar no seu quarto, sentia-se mais segura ali. Ele não tinha fome, seu estômago revirava toda vez que se lembrava do beijo. Não era nojo, de forma alguma, não tinha nojo de algo foi tão maravilhoso. Sentia uma mistura de medo, repulsa por si mesmo pelo o que tinha feito.

Ambos pensavam em como seria o dia seguinte, como se encarariam. Teriam coragem para tanto?

Não, e isso ficou provado no dia seguinte, quando Karina desceu as escadas e simplesmente deu um bom dia para sua mãe, fingindo que Pedro nem estava na cozinha.

_Bom dia minha querida... Ei? Não vai tomar café?_ Dandara perguntou ao vê-la sair correndo pela porta da cozinha.

_Não, quero chegar mais cedo. Tchau!

Ela saiu sem dizer mais nada. Dandara olhou para Pedro buscando uma resposta, mas este respondeu, em um tom de voz amargurado:

_Sinto muito mãe, mas ela não me disse nada. Eu vou indo também.

Ele se levantou, deu um beijo na mãe e saiu. Conseguiu pegar o ônibus e percebeu que Karina não estava nele. Não pôde evitar uma preocupação surgindo em seu peito, mas preferiu ignorá-la, o que foi impossível. Ao chegar à escola percebeu que a irmã ainda não tinha chegado.

_Oi amor! Como se sente?

Jade tinha acabado de chegar e o encontrou na porta da escola, procurando a irmã com o olhar no meio daquele monte de alunos.

_Jade, que bom que chegou. Precisamos conversar.

Eles foram até a quadra de esportes e se sentaram na arquibancada, que estava vazia. Pedro procurava as melhores palavras para dizer o que queria, mas sentia que não importava o que dissesse, Jade não iria aceitar facilmente.

_Olha... Eu preciso te contar uma coisa._ ele começou, com o tom de voz ameno e calmo.

_Pode falar._ ela respondeu sorridente.

_Jade... Eu..._ ele respirou fundo e passou as mãos no cabelo, em um puro sinal de desconforto._ Eu traí você.

O silêncio mortal, seguido pela expressão de espanto da garota, piorou a situação. Parecia que a qualquer momento ela iria explodir. Pedro a olhava implorando para que ela falasse algo, mas esta ficou calada, em choque. Apenas depois de muito tempo, foi que ela disse:

_Quem é ela? Quando foi isso?

_Foi... Há um tempo atrás e quem é ela, acho que não convém dizer, o caso é que eu não quero pedir você para me perdoar e nem para continuar o namoro. Eu quero terminar...

_Cala a boca!_ ela bradou, em um tom de voz assustador._ Você é um estúpido, arrogante! E quer saber? Eu te traí também, pois é. E não foi apenas uma vez.

_Ótimo, mais um motivo para terminamos.

Pedro se levantou e ia descendo as escadas da arquibancada, quando a ouviu dizendo:

_Você está acabado Pedro! Você não me conhece!

Ele estacou e virou-se para ela, o rosto incrivelmente calmo.

_Estou conhecendo agora e sinceramente não estou gostando nada. Adeus Jade.

E continuou seu caminho, ignorando os barulhos de choro vindo de algum lugar acima de sua cabeça. Quando se viu fora da quadra, começou a procurar por Karina desesperadamente, mas nem sinal da jovem.

O dia estava ensolarado. Era incrível como o céu caprichava no dia seguinte após uma noite chuvosa. Karina tomava um sorvete, sentada em um banco de uma praça qualquer. Sentia os primeiros raios de sol tocando seu rosto e fechou os olhos para senti-los melhor. De longe, Cobra a observava encantado. O contraste dos raios dourados no seu cabelo loiro era incrível! Ela parecia uma menininha com aquele sorvete na mão e fechando os olhos ao sentir o contado do sol com sua pele. Pagou o sorveteiro e juntou-se à ela.

_Aproveitando o Sol?_ ele perguntou sorrindo.

_Ai!_ ela suspirou e abriu os olhos._ É maravilhoso! Parece que me revigora, amo isso!

_Podemos fazer isso todos os dias, se quiser._ ele perguntou, fingindo muito interesse no próprio sorvete.

_Eu adoraria, mas hoje é um dia típico. Eu precisava disso, dessa fuga. Que bom que você apareceu aquela hora.

_Sim, agora você me explica por que estava indo para a escola a pé? É bem longe sabia?

Karina não respondeu de imediato. Antes experimentou seu sorvete de morango (divino!) com toda a calma do mundo.

_Então?_ Cobra insistiu.

_Eu tive uma briga em casa e não estava aguentando mais ficar lá. Resolvi sair mais cedo e ir caminhando... Na verdade nem me lembrei o quão a escola é longe de casa. Só queria sair.

Cobra não queria se envolver muito nos problemas dela, na verdade já se sentia envolvido de mais com ela. Preferiu mudar o rumo do assunto.

_Como está seu irmão?

_Melhor. E você? Seu rosto está intacto!_ ela o analisou.

_Pois é... Mas garanto que do pescoço para baixo é uma cena de terror, hematomas por todos os lados.

Os dois começaram a rir. Ela se sentia um pouco culpada estando ali, com o rapaz que quase acabou com seu irmão, mas se sentia tão bem com ele que não queria que aquele passeio acabasse tão cedo. Estava ciente de que estava perdendo aula, mas não queria ver Pedro tão cedo. Não sabia se teria forças para ficar sozinha com ele, se teria forças para trocar alguma palavra com ele. Pedro era o fruto proibido, o pecado em pessoa. Era insano tudo o que sentia quando estava perto dele e sabia que aquilo tinha que acabar. E diria isso a ele assim que tivesse uma oportunidade. De onde tiraria forças? Não tinha ideia.

_Ei? Quer dar mais algumas voltas, essa praça é bem grande, tem várias flores._ Cobra a despertou de seus pensamentos.

Karina assentiu e o acompanhou. O rapaz não tinha mentido, a praça era bem arborizada, com lindos canteiros de flores. Alguns velhinhos liam jornais embaixo dessas árvores, algumas pessoas faziam caminhada, outras apenas passavam o tempo. Cobra mostrava cada canto com muito entusiasmado, estava disposto a fazer Karina esquecer qualquer problema e estava conseguindo. Pararam ao lado de um lago, com carpas lindas.

_Cobra, esse lugar é lindo!_ ela disse encantada.

_Que bom que gostou.

Ele a olhava muito sério agora. Estavam de frente um para o outro e a distância entre ambos era mínima. O sorriso de Karina foi se dissipando ao ver como ele estava sério.

_Você é tão linda._ ele disse num sussurro, enquanto tocava seu rosto.

_Obrigado._ ela respondeu no mesmo tom.

O rapaz se aproximou mais, sendo possível, agora, sentir o hálito quente dele tocando seus lábios devagar e sedutoramente. Instintivamente Karina fechou os olhos e inclinou-se na direção dele, mas logo recuou e disse:

_Não acho que podemos..._ ela começou a falar, mas ele levou o indicador aos lábios dela, calando-a.

_Não só podemos como devemos.

Com um movimento rápido e forte, ele a enlaçou pela cintura e a beijou. A beijou como se nunca mais tivesse oportunidade para tanto. Karina se surpreendeu com o que estava sentindo, em como Cobra tinha efeito sobre si. Os lábios dele eram delicados e insinuantes ao mesmo tempo e a cada toque macio da língua dele, ela sentia arrepios em lugares que nem sabia que poderia sentir algo.

Quando se separaram, não emitiram som algum. Apenas os olhares revelavam tal cumplicidade. Por fim ele disse, num sussurro sedutor, ao pé do ouvido dela:

_Você... É incrível Karina... Nossa...

A abraçou forte e ela retribuiu. Até que se lembrou de Pedro e de como o simples toque dos lábios dele, um roçar de lábios apenas, a levou para um lugar novo, com sensações novas. Ficou pensando se o beijo fosse mais aprofundado, o que sentiria?

Pedro chegou em casa e, para sua surpresa, Karina ainda não tinha chegado. Preferiu não comentar nada com Dandara.

_Onde está sua irmã?_ ela perguntou.

_Está chegando._ ele respondeu, indo direto para seu quarto.

E realmente, minutos depois, o carro de Cobra estacionava na frente da casa de Karina. Pedro a olhava pela janela e cerrou os punhos quando viu o beijo de despedida que eles trocaram. Pensou em ir até lá e arrancá-la daquele carro, mas seu bom senso o alertou: ela é sua irmã. Nada além disso.

Retornou cabisbaixo para sua cama e deitou-se, até que a porta abriu com um estrondo forte. Karina entrou no quarto e imediatamente fechou a porta. Virou-se para Pedro, respirou fundo e disse:

_Precisamos conversar.

Pedro, que permaneceu deitado na sua cama, a olhou com a expressão calma. Estava sem camisa, o que dificultava as coisas para Karina, que evitava olhá-lo.

_Eu cheguei a uma conclusão hoje. Quero dizer..._ ela pigarreou e continuou, sem olhá-lo._ Eu pensei muito e cheguei a uma conclusão.

_Ah é?_ ele ironizou, seu sorriso encantando ainda mais a garota._ E como chegou a essa conclusão? Na boca do Cobra?

Karina o olhou com desprezo e decidiu entrar no jogo dele:

_Sim, e acredite eu amei encontrar a resposta que eu precisava lá. E procurarei várias vezes...

Pedro a olhou e começou a rir descontroladamente. Ok, ela tinha contato alguma piada sem perceber? Tinha algo de engraçado em ouvir que ela tinha beijado outro homem e que pretendia repetir o ato?

_Tá bom... Já chega... Esse jeito de menina atirada não combina com você K._ ele disse, recuperando o fôlego.

Karina acabou achando engraçado também e se sentou ao lado dele, recostando-se na cabeceira. Ficaram em silêncio por um tempo, olhando para a parede oposta à cama. Foi Pedro quem quebrou o silêncio:

_Vocês estão namorando?

_Não.

_Então... O que queria me dizer?

Karina ponderou várias vezes o que queria dizer, até que percebeu que não tinha mais jeito, tinha que falar, por mais que fosse difícil.

_Eu estive pensando... Acho que não dá mais para mantermos essa situação._ ela se endireitou e virou-se para ele, que a olhava com pesar nos olhos._ Pedro o que aconteceu aquele dia, não pode acontecer mais! É errado... Acho que...

Ela se calou de repente. Percebeu que não tinha argumentos contra o que sentiam. Pedro continuou a analisando e ela daria de tudo para saber o que ele estava pensando.

Era estranho estarem ali, tão próximos um do outro, nem parecia que há pouco tempo atrás ela tinha se levantado durante a noite e ido para a cama dele, por medo da chuva. Agora, mal conseguiam se olhar.

_Acho que eu vou indo... Eu esqueci o que eu ia te dizer._ ela disse, se levantando.

Pedro a observou caminhando até a porta e a viu parar, com a mão na maçaneta. Foi aí que ele percebeu que tinha que dizer algo, fazer algo!

_Karina, espera._ ele se levantou e caminhou até ela, parando a poucos centímetros de distância. Ela permaneceu na mesma posição._ Eu sinceramente sinto muito pelo o que aconteceu, mas me recuso a dizer que me arrependo, por que, por mais insano que possa parecer, e eu sei que é; eu não me arrependo. Não sei o que está acontecendo e adoraria saber, acredite eu também estou muito confuso. Tanto que... Terminei com a Jade hoje.

Karina virou-se para ele de imediato. Não pôde conter um sorriso tímido que brotou em seus lábios.

_Sério? Por quê?_ ela perguntou.

_Bom, de uma forma ou de outra, eu a traí e me senti muito mal por isso. Então, resolvi terminar.

O sorriso da jovem se alargou e ela o abraçou forte. Por um momento se esqueceram de tudo o que tinha acontecido, do que haviam dito um para o outro.

Parecia estranho mas, depois dessa conversa, Pedro e Karina enfim puderam voltar às boas. Brincavam, conversavam, trocavam confidências, carinhos. È claro que algo nesses carinhos tinha mudado, um já não olhava o outro da mesma forma, e, mesmo quando trocavam um simples beijo no rosto de bom dia, percebiam como esses beijos se tornaram mais demorados e com o acréscimo de um abraço.

Karina estava tão feliz, que tinha até se esquecido de Cobra. Já fazia três semanas que não o via, por que, assim que chegava ao colégio, não se desgrudava de Pedro, além de irem embora juntos.

_Acho que você não fica muito bem de camisa branca... Tipo, você já é branco, então... Sei lá.

Agora, ela estava no quarto dele, o ajudando a escolher o que usaria para sair com os amigos. Seus pais estavam fora, tinham tirado um dia para curtirem um romance e anunciaram que só voltariam no dia seguinte. Como Pedro já tinha marcado essa saída com os amigos antes do anuncio da saída dos pais, Karina insistiu para que ele fosse. “Vou dormir cedo, fica tranquilo.”, ela disse quando ele insistiu em ficar.

_Seria bom se você desse uma opinião também._ ela se irritou, ao vê-lo deitado na cama, com apenas uma toalha na cintura o cobrindo.

_Ah não, você insistiu para que eu fosse então, você escolhe a roupa._ ele respondeu rindo.

_Posso escolher qualquer roupa então?_ ela retrucou, maliciosa.

_Olha, não me mande ir nu que as garotas não me deixaram em paz hein?

Os dois riram e ele, enfim, levantou-se. Parou ao lado dela e começou a analisar o próprio closet.

_Que tal... Essa camisa..._ ele pegou uma camisa pólo azul marinho._ e essa calça._ depois pegou uma calça jeans preta.

Karina o observou, com o dedo no queixo, o que a deixou muito engraçadinha.

_Então?_ ele insistiu.

_Tá lindo._ ela sorriu, satisfeita.

_Ok, então agora, se a senhorita me der licença, eu tenho que me trocar._ ele apontou para a porta do quarto.

Ela concordou e ia saindo, quando um barulho de carro estacionando os alertou. Ambos correram para a janela e viram Jade descer correndo de um táxi e indo até a porta da frente. Segundos depois ouviram a campainha. Eles se entreolharam confusos.

_Você não tinha terminado com ela?_ Karina disse, se afastando da janela.

_E terminei, sinceramente não sei o que ela está fazendo aqui.

Mais uma vez a campainha soou, acompanhada de um “PEDRO!”.

_E o que você vai fazer?_ Karina perguntou a um Pedro lívido.

_Eu não sei... Não posso deixá-la lá, não é?

_Não?

Pedro a olhou como se a repreendesse, fazendo-a recuar.

_Vai se trocar, eu vou atender a porta._Karina sentiu-se vencida.

Ela ia saindo, quando ele a segurou pelo braço, fazendo-a retroceder e parar bem próxima a ele.

_Eu juro que terminei com ela._ ele sussurrou, acariciando o rosto dela.

_Eu acredito em você.

Pedro sorriu e uniu sua testa à dela. Ambos fecharam os olhos e se esqueceram de tudo por um minuto, inclusive que eram irmãos. Ele acariciava seu cabelo, fazendo-a sentir-se em outro planeta. Quando os lábios dele se direcionaram aos dela, a campainha soou mais uma vez, fazendo Karina o empurrar bruscamente e sair correndo do quarto.

Ela desceu as escadas o mais rápido que pôde e abriu a porta da mesma maneira, assustando Jade.

_Oi..._ a morena cumprimentou, se recuperando._ O Pedro...

_Está se arrumando, mas entre e sente-se._ Karina a interrompeu.

Jade seguiu o conselho da jovem e se sentou em uma poltrona, enquanto Karina sentava-se em outra, de frente para ela. O silencio durou enquanto Pedro não desceu as escadas.

_Oi Jade. O que faz aqui?_ ele evitava olhar para Karina.

_Pedro, precisamos conversar..._ ela se levantou e olhou para Karina, que entendeu o recado e disse:

_Por que não a leva para seu quarto Pedro? Só não demorem... Vocês sabem...

Jade agradeceu e olhou para Pedro, mas este tinha o olhar fixo na irmã. Parecia que ela queria que os dois ficassem sozinhos, ou algo do tipo. Sem o que dizer, ele subiu para seu quarto, acompanhado da ex. Karina permaneceu no mesmo lugar, pensando no que tinha acontecido há alguns segundo atrás. Fechou os olhos e pôde visualizar cada traço dele, os lábios dele, o peito nu, as mãos firmes, o cabelo molhado e as costas com algumas gotas de água que caiam deste.

_Deus!_ ela suspirou, se levantando e indo até a cozinha.

Pegou um copo com água e a bebeu. Ficou um tempo com o copo na mão, recostada na pia, pensando no que faria a respeito de Pedro. Foi quando sentiu uma curiosidade nascendo e crescendo rapidamente em seu peito. Decidiu subir e ir ver, ou ouvir, o que estava acontecendo.

Subiu o primeiro degrau e parou. “Melhor deixar isso para lá”, ela pensou, mas seus pés já estavam subindo o segundo, o terceiro, o quarto... Quando chegou ao sexto, estacou.

Naquele momento, o corredor que se estendia parecia enorme e o silêncio que pairava no local era atormentador. A cada passo que dava, travava uma batalha interna: e se estivessem se beijando? Mas também podiam estar brigando e feio. Pedro poderia ter dito algo horrível e Jade estava agora sentada na cama, chorando descontroladamente, enquanto ele passava as mãos pelo cabelo, nervoso.

Se aproximou do quarto dele, mais dois passos e estaria na porta. Mas que silêncio era aquele? Karina já deveria estar ouvindo choro, berros, palavrões, xingamentos... “Amassos?”

Ela ficou estática, na porta do quarto. O que via era horrível e orava muito que fosse tudo um pesadelo, que sua ida para o Rio De Janeiro tivesse sido um pesadelo, que Jade fosse uma ilusão! Mas não, era tudo real e estava ali, na sua frente: Pedro deitado em cima de Jade, a beijando com paixão, as mãos, que antes acariciaram seus cabelos de forma doce, agora tentavam arrancar a blusa da morena, que também não ficava atrás e levantava a blusa dele de forma possessiva.

Karina ficou sem fala, sentindo as pernas bambas. As lágrimas já rolavam sem restrições. Foi impossível conter um soluço, que alertou o casal. Pedro imediatamente pulou para fora da cama, olhando de Jade, que sorria maldosa, para Karina, que chorava.

_Ka-Karina..._ ele tentava se explicar.

Karina limpou as lágrimas com força nas mãos e desceu as escadas correndo, sendo seguida por Pedro.

_KARINA ESPERA! ME DEIXA EXPLICAR!_ ele descia correndo, ajeitando a camisa.

Ela não olhou para trás, muito menos respondeu algo. Saiu e fez questão de bater a porta.


Seus passos ecoavam pela rua deserta. Nem tinha percebido que estava apenas de tênis, calça jeans surrada e uma blusa de manga comprida fina. Se assustou quando um farol forte a iluminou e percebeu que era um táxi. Sem pensar, Karina praticamente pulou na frente dele, fazendo o motorista frear e os pneus cantarem no asfalto.

_Tá maluca?_ ele gritou, colocando a cabeça para fora do carro.

_Me... Me desculpe. Pode me levar á casa dos Ferreira?_ela perguntou, cruzando os braços de frio.

_Sim, entre.

Karina correu e entrou no táxi. Apalpou o bolso e deu sorte por encontrar algum dinheiro neste, era uma mania de comprar as coisas e guardar o troco nos bolsos das calças e esquecer de retirá-los de lá em seguida.

As ruas do Rio estavam tranquilas para uma noite de sábado. O tempo foi mudando aos poucos e uma chuva fina começou a cair. Karina tentava pensar em outra coisa mas a imagem de Pedro e Jade não saía da sua cabeça. Perdeu-se em pensamentos, até que percebeu que o carro estava parando. Olhou para a o lado de fora e viu uma mansão surgir à sua frente. A noite dava um ar sombrio ao local.

Ela pagou o motorista e saiu do carro. Caminhou em direção ao portão principal e parou. Não tinha ninguém que pudesse anunciá-la, mas percebeu o interfone em uma coluna de pedra ao lado.

Cobra estava na sala mexendo em seu smartphone, quando ouviu a campainha do interfone soar.

_Valentina, atenda por favor?_ ele disse, mas não obteve resposta, apenas mais um chamado do interfone._ Ok, pode deixar que eu atendo.

Ele foi até cozinha e atendeu ao interfone e se surpreendeu ao ouvir a voz do outro lado, que dizia:

_Oi... É que tá chovendo muito aqui fora... Me deixe entrar, por favor?

Cobra sentiu seu coração disparar. Liberou a entrada dela e a aguardou na porta principal. O que ela estava fazendo ali?

Karina viu o portão se abrindo e permitindo sua entrada. Sem esperar, ela correu para dentro, seguindo o caminho de pedras que ia até uma grande porta de carvalho. Parou em frente desta e deu três batidas leves.

Cobra abriu a porta e a olhou espantado. Estava toda molhada, tinha o rosto pálido e inchado devido às lágrimas.

_Oi..._ ele disse, enfim.

Karina começou a chorar e o abraçou.


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