Além Do Fraternal escrita por Gey Scodelario


Capítulo 4
Quando o ciúme fala mais alto...


Notas iniciais do capítulo

Hey! novamente muito obrigada pelos Reviews divos, isso motiva muito. Vocês são demais! Boa leitura a todos :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530136/chapter/4

No dia seguinte, Karina tratou de imaginar que tudo o que sentira no dia anterior foi fruto de um delírio causado por uma febre momentânea. E confirmou sua teoria quando, logo pela manhã, encontrou o irmão sentado à mesa fazendo desenhos na torrada com o mel. “Tão infantil.”, ela pensou.

_ Apressem-se meninos, _ disse Dandara, entrando na cozinha apressada._ hoje o pai de vocês vai levar vocês. Quero que se informem, na escola, se tem algum ônibus escolar que passa por aqui.

Os dois disseram que sim e continuaram o desjejum o mais rápido possível.

Não podiam negar: estavam nervosos quanto ao primeiro dia e, à medida que se aproximavam da escola, ficavam mais ansiosos ainda. Parecia como nos filmes de besteirol: aquela aglomeração de alunos, se dirigindo para o mesmo lugar. Todos conversando animadamente, se abraçando depois de um tempo sem se verem devido às férias. Gael estacionou à poucos metros do colégio.

_Tenham um bom dia. _ ele disse sorridente.

Os dois não perderam mais tempo. Desceram do carro e foram em direção à nova escola, de mãos dadas. Caminharam a passos firmes até a entrada do colégio e não puderam deixar de notar que, naquele instante, a maioria dos olhares estava sobre eles. Inclusive o de uma morena, que veio correndo e, eles não sabem como, entrou na frente deles bruscamente, dizendo:

_Olá! Sou Jade e faço parte do Comitê de Recepção aos Novos Alunos da Ribalta. Ficaria honrada se me permitissem apresentar a nossa escola.

Os dois trocaram olhares confusos, até que Karina disse:

_Tudo bem, mas não queremos nos atrasar para nossas aulas.

_Ah claro que não! Levo vocês até a sala se quiserem. Mas, antes, por favor, se apresentem.

_Bom... Me chamo Pedro e essa é minha irmã, Karina.

_Irmã?_Jade pareceu surpresa._Me desculpem, é que vocês não se parecem e ainda chegaram de mãos dadas, achei que fossem um... Casal. Enfim, vamos?

Os dois seguiram a jovem que os apresentou ao refeitório, aos laboratórios, à biblioteca e, por fim, a quadra e o campo de educação física.

_Ah, vejam!_ ela apontou para um grupo de rapazes um pouco distante de onde eles estavam no campo._ Vou lhes apresentar meu irmão... LÍRIO!

Um rapaz com os cabelos bagunçados voltou sua atenção para Jade. Ele se despediu dos amigos e foi até ela.

_O que é Jade?_ Lírio parecia um pouco irritado.

_Quero que você conheça os novos colegas. Esse é o Pedro e essa é a Karina. Serão da sua sala.

Lírio não conseguiu esconder o seu encanto quando foi apresentado à Karina e Pedro percebeu. Por isso, pegou a mão dela mais uma vez e deu um aperto de mão firme, como se dissesse: “Fica longe, otário!”.

_JADE! JADE!

Um grupo de garotas corria até Jade. Quando chegaram perto, não conseguiam disfarçar o interesse evidente por Pedro.

_Não vai nos apresentar seus novos amigos?_ uma garota loira disse.

_Ahn... Claro meninas. Esses são os irmãos Pedro e Karina.

Para Karina elas apenas deram um “Oi!”, mas para Pedro elas fizeram questão de dar os “três beijinhos”. Lírio não estava gostando nada daquilo. Até alguns minutos atrás, todas morriam por causa dele e agora elas se derretiam por Pedro, e nem disfarçavam. Karina, por sua vez, rogou uma praga para cada uma ali.

_Já chega meninas!_ Jade interrompeu as apresentações._ Está na hora da aula, se quiserem posso acompanhá-los até a sala.

_Não será necessário._ disse Pedro, ainda segurando a mão de Karina.

_È, você já fez de mais por hoje, estamos muito agradecidos._ Karina tentava não fuzilar uma por uma com o olhar.

_Está bem, mas faço questão que se sentem conosco no intervalo ok? Beijinhos.

Os dois caminharam juntos até a sala. Karina estava se segurando para não falar nada a respeito do assédio daquelas garotas, mas não teve escolha quando ele disparou:

_Aquele idiota... Te comia com os olhos!

_Está falando do irmão da Jade?

_E de quem mais?

Ela o observou impressionada e parou de andar, soltando sua mão da dele bruscamente.

_E o que dizer daquelas garotas? Se pudessem teriam te agarrado ali mesmo!

_Ah Karina, você não está querendo comparar uma coisa com a outra não é? Elas são apenas meninas! Já ele...

_Já ele o que? É um rapaz da minha idade, bonito e atraente e se interessou por mim e acho que posso dizer que foi recíproco.

A reação de Pedro, a seguir, foi inesperada: ele agarrou a outra pelos ombros e a trouxe para mais próximo de si. Estavam cara a cara, poucos centímetros separavam os seus rostos. Ambos estavam bufando de raiva e ciúmes.

_Nunca mais diga isso, por favor._ ele sussurrou.

_Di-Dizer o que?_ ela gaguejou, assustada.

_Que se interessou por outro homem.

_Mas Pedro...

_Por favor! Pelo menos não na minha frente. Isso... Me mata por dentro...

Ele a soltou e encostou-se na parede atrás dele. Fechou os olhos, sentindo-se confuso. Karina permaneceu estática, no mesmo lugar. Procurou as palavras certas para dizer:

_Pedro... Eu cresci. Não sou mais aquela menininha que você protegia dos meninos maus. Agora eu sei me proteger, eu sei reconhecer quem é bom e quem é ruim para mim. Você precisa me deixar viver, precisa me deixar livre para que eu possa me apaixonar e me casar! Mas, como você me disse um dia, você é eterno.

Um sorriso brincou nos lábios dele e ele abriu os olhos. Ela se aproximou e o abraçou forte.

_Prometo que assim que eu encontrar alguém, a primeira pessoa que irá conhecê-lo é você.

_Te digo o mesmo.

Seguiram, juntos, para a sala de aula. O primeiro horário era Matemática. Para a sorte de ambos, a matéria acompanhava o que eles esperavam ver na outra escola.

No intervalo, como combinado, sentaram-se na mesa em que Jade estava. Era uma mesa grande e, curiosamente, no centro do refeitório. Karina se segurava para não jogar o copo com suco na cara daquelas meninas, que rodeavam Pedro, impedindo-a de se sentar ao lado do irmão. Ele tentava de tudo para se afastar delas, mas não conseguia. Queria se sentar ao lado dela, principalmente agora que Lírio se acomodava perto dela.

_Então..._ Jade chamou a atenção para si e dirigindo-se aos irmãos._ Suponho que sejam gêmeos, por terem a mesma idade?

_Sim._ foi Karina quem respondeu._ Nascemos no mesmo dia.

_Mas não são gêmeos idênticos..._ uma das garotas que rodeavam Pedro disse.

_È... O médico na época do nascimento disse que provavelmente não seríamos gêmeos idênticos por que não éramos univitelinos.

_AH! Mas que assunto chato!_ Lírio se intrometeu._ Por que não falamos de algo mais interessante, tipo... Karina, você deixou alguém na cidade onde morava?

Um “uuuuu” uníssono correu pela mesa. Pedro queria se levantar e dar um soco na cara daquele idiota. Mas o olhar de Karina, como se dissesse “Fica quieto aí com suas admiradoras.” o manteve estático.

_Bom..._ ela começou._ Não.

Risadinhas afetadas invadiram o ambiente. Estava na cara as intenções de Lírio.

_Lírio!_ Jade disse._ Não vamos deixar a novata assustada.

Karina não pode deixar de sentir um tom sarcástico na voz da garota.

_Para, Jade!_ outra garota do “fã clube Pedro” disse._ Acho que o Lírio está mais que certo em fazer essa pergunta e digo mais, vou dirigir a mesma pergunta ao Pedro.

As risadinhas afetadas encheram mais uma vez o ambiente. Jade ficou extremamente interessada na resposta que ele iria dar.

_Eu também não deixei ninguém em São Paulo.

“Oba!” exclamou uma garota, fazendo os outros rirem.

O sinal soou interrompendo a conversa deles. A próxima aula era de Química, logo, seguiram direto para o laboratório. Obrigatoriamente, as aulas no laboratório eram feitas em duplas. Karina achou que iria sentar-se com seu irmão, mas uma garota correu até ele, o segurou pelo braço e disse:

_Oi, me chamo Pri. Gostaria de fazer dupla comigo? Não aceito não como resposta.

Mas era essa resposta que ela iria ouvir, se não fosse um certo rapaz segurando as mãos de sua irmã e dizendo:

_Me dê a honra de sentar-se comigo?

Karina sentiu um gostinho de vingança invadindo-lhe a boca. Pelo canto do olho via que a atenção de Pedro estava totalmente voltada para a resposta dela. E ela disse bem alto e claramente:

_Mas é claro! A honra é minha.

E se assim o fez, para total desgosto de Pedro.


_Então... Pedro?_ Pri tentava puxar conversa enquanto faziam o balanceamento das substâncias para o experimento._ Esta gostando do Rio?

_Sim, é bem aconchegante._ os olhos dele estavam grudados duas mesas à frente, em Karina.

Ela, por sua vez, tentava ouvir qualquer som vindo da mesa número 5, a última de sua fileira.

_Olha, Karina,_ Lírio tentava chamar a atenção dela._eu sei que é cedo e que acabamos de nos conhecer, mas eu queria muito convidar você para sair um dia desses.

A palavra “sair” chamou a atenção da jovem, que o observou encantada.

_É claro! Podemos combinar algo sim.


_ERRADO, VOCÊ NÃO VAI SAIR COM ELE.

Pedro parecia que iria explodir de raiva a qualquer momento. Estavam voltando para na casa, o ônibus os tinha deixado à poucos metros do seu lar.

_Ah não? Quero ver quem vai me impedir.

Entravam em casa discutindo, chamando a atenção de Dandara, que veio ao encontro deles, no rol de entrada.

_Não acredito nisso, mal chegaram e já estão brigando?

_A culpa é do Pedro mamãe! Ele não me deixa viver a minha vida!

Dandara interrompeu Pedro, que iria protestar, e disse:

_Os dois, na cozinha. Agora.

Obedeceram a ordem e foram até a cozinha. Dandara mandou que eles se sentassem à mesa, um de cada lado. Ela ficou no meio, como intermediadora.

_Karina, o que aconteceu?

_Conheci um rapaz muito interessante na escola hoje mãe e ele me chamou para sair!

Dandara soltou um gritinho de felicidade e abraçou a filha. Começou a pedir por detalhes, até que Pedro pigarreou alto e disse:

_Será que alguém pode me ouvir? Hein alguém?_ o olhar dele pousou em Dandara, que se recompôs e prosseguiu e discussão.

_E por que, minha filha, você disse que o Pedro não te deixa viver sua vida?

_Porque ele está se intrometendo mamãe! Dizendo que não vai me deixar sair com o Lírio.

_Ah o nome dele é Lírio?_ mais uma vez, a feminilidade falou mais alto e Dandara desviou o assunto pela segunda vez seguida._ E como ele é?

Karina ia responder, mas Pedro, mais uma vez, se impôs:

_Eu ainda estou aqui!

Dandara enfim entendeu o que estava acontecendo e disse para a filha:

_Querida, vá trocar-se. Quero sua ajuda no almoço, enfim seu pai tem um emprego que o permite almoçar em casa sempre que quiser.

Karina saiu, deixando mãe e filho sozinhos.

_Então,_ foi Dandara quem quebrou o silêncio._ quer conversar sobre o que está sentindo?

_Mãe, a K sempre foi bobinha, ela não sabe se cuidar, precisa de mim para defendê-la.

_Pedro você precisa parar com esse ciúme bobo e deixar isso para o seu pai, não acha?

_Não é ciúme mãe, é... Preocupação.

Dandara o olhou carinhosamente e tocou seu rosto com carinho. Ali estava aquele bebê que um dia a encantou no parque. Perguntava-se, às vezes, como seria a mãe dele? Será que ele tinha alguns traços dela? A personalidade, os olhos, o cabelo... Sabia que o cabelo não era de Gael, pois os de Pedro eram totalmente castanhos e rebeldes. mais a personalidade sim, era do pai. Mas, e aqueles olhos castanhos? Dandara também tinha olhos castanhos, mas os dele eram de um castanho claro brilhante !

_Mãe? Tá tudo bem?

A voz dele a trouxe de volta à realidade. Ela disfarçou a distração, dizendo que estava pensando no que dizer à ele.

_Meu filho, tudo o que posso lhe dizer e pedir é para que não se preocupe tanto com sua irmã. Ela já está crescida e eu e seu pai confiamos nela, confiamos na educação que demos a vocês dois. Na base cristã pela qual nos apoiamos e sempre dissemos para você seguirem. È claro que você continuará a cuidar dela, mas irá apoiá-la e aconselhá-la acima de tudo. É isso que eu espero do meu príncipe!

Pedro sorriu e deu um beijo estalado na mãe.


O dia correu normalmente. Karina preparava-se para deitar-se, quando o celular tocou. Era um número desconhecido, mas ela atendeu por curiosidade.

_Oi Karina! É a Jade, tudo bem?

Jade? Ah sim, agora ela se lembrava que, no fim da aula, Jade havia pedido seu telefone e o de Pedro.

_Lembra de mim não é?_ Jade insistiu.

_Claro Jade! Aliás, quero agradecer mais uma vez por tudo o que fez por nós hoje.

_Não precisa agradecer, foi um prazer! Amo conhecer pessoas novas e você e o Pedro são especiais, com certeza! Mas, então, o meu irmão estava muito cantarolante hoje... Algum motivo especial?

Karina riu e contou para a jovem o que tinha acontecido naquele dia. Ficaram até tarde conversando. Jade era uma pessoa maravilhosa! Uma amiga e tanto e Karina agradecia muito aos céus por ter encontrado ela.

Jade, por sua vez, só tinha uma coisa em mente: Pedro. Gostava muito de Karina, sem dúvida, mas precisaria muito da ajuda dela para se aproximar dele e sabia que, uma vez amigas, Karina não hesitaria em falar com o irmão sobre ela. Não estava sendo uma “falsa amiga”, não! Longe disso. Queria realmente ter Karina como amiga, só que, ao contrário das outras, ser amiga de Karina tinha um bônus especial: estar próxima de Pedro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!